Durante
uns longos anos fiz a representação pictórica, fosse sobre tela
ou sobre azulejos cozidos a alta temperatura, e sempre a pedido “de
várias famílias” o esquema de famílias onde deviam figurar tanto
os antepassados como os descendentes. A fim de ser mais vistosa esta
representação tudo se organizava na copa de uma árvore, mais
alta ou baixa, frondosa ou esquálida consoante os elementos de
trabalho que me forneciam. Colocava o casal em activo, em lugar destacado, sempre no meio do tronco. Por vezes, quando as personagens que me indicavam eram poucas, e com o propósito de encher o espaço, recorria a meter pássaros, animais e flores, Assim melhorava o ramalhete, tal como as floristas fazem quando o/a cliente escolhe poucas flores.
Sempre
tentei seguir a norma de que se albarde o dono à vontade do burro.
Mas,
ainda hoje, depois de me deixar desta actividade tão concreta e
directamente dirigida a uma série de indivíduos concretos, não
estou convencido da primazia entre as duas soluções possíveis. Eu optava, quase sempre, pela que dava prioridade às raízes. A
não ser que o cliente, se teimoso e insistente, preferisse a outra solução. Possivelmente influenciado pelo que via representado quando se organizavam as personagens de uma casa reinante. Ou seja, o colocar os defuntos os que deixaram de estar no activo, no topo da pirâmide, E daí para baixo
até chegar aos mais jovens, às crianças. Tudo flutuando no ar. Sem que pudesse, a meu entender, ter cabimento desenhar uma pretensa árvore de família Para mim era como começar a casa pelo telhado.
Apesar
de saber, com desgosto meu, que os gostos não se discutem, insisto
em que, por uma questão de cronologia biológica, já que da terra viemos e para a
terra voltaremos, prefiro representar a chamada árvore de família
precisamente bem presa ao chão, e sob a linha que delimita este e o
espaço aéreo, colocar os ascendentes falecidos, em patamares tão
profundos quanto recordem os que encomendaram o trabalho. Neste caso Iniciar pelas raízes.
Gostaria
de referir situações curiosas, embora frequentes. Em geral eram o resultado de
separações, divórcios, segundos casamentos, filhos fora do
casamento, mas reconhecidos pela mãe e pela família dela; algumas vezes, poucas, inclusive pelo cônjuge actual ou pelo faltoso. Procurei resolver com bom senso alguns problemas bicudos que me colocaram.
Um
dos factores em que insisti foi o sentimento (meu) de que deviam ser bem tratados todos os casos já tão frequentes. Concretamente,
a situação que uma criança poderia ficar quando, ao estar graficamente exposta aos comentários dos seus familiares coevos,
estivesse destacado como não tendo pai(?). Insistia com os adultos presentes que as crianças são sumamente cruéis e que não atendem aos silêncios respeitosos que a convivência exige, ou recomenda. Conseguí, quase sempre,
que a família da mãe (os pais fogem com o cú à seringa,
olimpicamente) cedesse nomeando como pai, putativo, aquele que mais desejavam ter sido o
inseminador oculto. Conseguia que a família, atendendo às minhas explicações sobre a situação comparativa da criança, ficasse mais feliz do que quando iniciaram a nomeação das personagens.
Sem comentários:
Enviar um comentário