sexta-feira, 17 de fevereiro de 2017

DISPERSOS OU CONCENTRADOS



Podemos admitir que qualquer pessoa que medita, nem que seja por poucos minutos ao longo de um mês -e não estou a pedir muito...- já gerou as suas noções do porque a população de um determinado espaço tem tendência a se radicar isoladamente ou de uma forma coesa, compacta.

Há razões de ordem histórica, climatológica, laborais, de oportunidades, e das afinidades sociais, ou carência delas, que motivaram a reunião de habitantes em núcleos progressivamente maiores, a até que fossem abandonados quando desapareceram as motivações mais intensas. Podemos apresentar como exemplo o de algumas povoações sitas no Alto Alentejo e na Beira Interior, como Sortelha e Castelo Mendo, entre outras, que por razões militares foram cercadas com altas muralhas num espaço reduzido, com o propósito de que naquele recinto se pudessem abrigar, sem receios, os habitantes. Ao se alterarem as condições políticas e territoriais, os constrangimentos inerentes a viver e conviver apertadamente induziram os habitantes a procurar espaços mais amplos.

Outras razões se conjugaram para manter reunidos os habitantes de uma zona determinada, como sucede no Alentejo. Sendo um espaço aberto, que desde a substituição do poder muçulmano pelos cristãos, e antes disso já durante a ocupação do Império Romano, foi terra de amplos latifúndios, os habitantes sem terra própria tinham que se agrupar nas povoações aguardando a oportunidade de ser escolhidos e conseguir umas jornas (mal) pagas. Pelo contrário, em zonas com pluviosidade frequente e com terras aptas à agricultura diversificada, propiciou o minifúndio. A tendência lógica de muitos pequenos proprietários tem sido a de se radicar, com armas e bagagens, no seu terreno, mais ou menos afastado do núcleo administrativo a que pertence.

Este assunto surgiu-me quando especulei, mentalmente, sobre os custos que a descentralização residencial implica, pelo menos no que respeita à exigência para que sejam atendidas as "regalias básicas" que todos os habitantes de um concelho entendem, e bem, ue tem direito, independentemente de onde estiver a sua residência. Ou seja, que é pertinente garantir todos os serviços públicos que se consideram indispensáveis. 

Instalar redes e as manter funcionais em toda a área onde se radicaram munícipes, nomeadamente no abastecimento de água potável, energia eléctrica, telefones, iluminação pública, vias de trânsito, escolas ou transporte escolar quando se optou em fechar pequenas escolas e centralizar em complexos de maior dimensão, etc. implica, forçosamente, custos superiores aos que se se verificam existir em centros urbanos, preferentemente quando compactos.

Todavia a realidade factual indicia que não existe uma visão diáfana no que se refere à gestão de custos e benefícios. Suspeita-se, com demasiada frequência e por indícios poucas vezes documentados, que os custos, tanto de um esquema como do outro, não são expressos com clareza. Existem demasiados pontos negros na gestão para que o cidadão comum possa apostar, convictamente, em nada do que se decide em gabinetes fechados.


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