Pensar
que seja pelo esforço, pelo saber, pela sorte ou outra força
qualquer, podemos conseguir dar a volta TOTAL à nossa vida, à forma
como vemos, sentimos e analizarmos o que nos rodeia, é uma ideia com
poucas probabilidades de êxito. Mesmo quando tudo pode parecer que
estamos “no bom caminho” e que se saiu do poço (em sentido
figurado, entenda-se) e nos encontramos num novo paradigma, como
se já tivéssemos deixado para trás as origens e chegássemos a umas
páginas impolutas, prontas a serem escritas como desejarmos.
Este preâmbulo, mais confuso do que explícito, pretende abrir caminho
para a noção de que, para muitos ou poucos cidadãos, a influência
do passado é quase inexistente. Nem sequer é merecedora de um
pensamento, já não digo quantitativo mas, pelo menos, qualitativo.
Resumindo, aquilo que somos hoje implica, ou não, a herança do que
viveram as duas gerações imediatamente anteriores?.
Pensar
que as nossas liberdades e capacidades nos permitem manter no quarto
dos dejectos -da tralha abandonada e considerada como imprestável-
tudo aquilo que, gostemos ou não, nos foi transferido é um sonho,
uma fantasia. Queiramos ou não o passado familiar pesa como uma
âncora atada à cintura.
Atendendo
a que a permanência de cada geração neste mundo, mesmo que se
reconheça a existência de uma fase de sobreposição com a anterior
e a seguinte, é um facto inegável que existe um afastamento físico
progressivo, e mais geral do que em épocas anteriores, entre as
gerações sucessivas. Admito que as transferências de vivências,
pesares e alegrias -sempre
mais recordados primeiros do que os segundos-
cada vez é mais reduzida. As esporádicas reuniões familiares são,
em geral, mantidas em ambiente festivo, mas as penas sempre acabam por vir à tona.
Mesmo
assim penso que Para
conseguir uma mudança drástica, notável, vivida, sentida pelos
próprios e também (desejável)
por aqueles que
observam de fora, tem que passar três gerações, ou mais.
Para
a geração intermédia, aquela que gostaria de ver anulada a fase
que a antecedeu, é muito difícil, mesmo traumático, tentar apagar
tudo aquilo que viveu e ouviu na fase de criança e adolescência.
Isto se aplica para os que, por um factor ou outro, foram
transferidos para um meio “mais evoluído” do que aquele onde
nasceram. Para os descendentes destes, se as condições conseguidas
pela nova família se mantiverem ou até melhorarem -sempre
valorizando a posição relativa na escala social- já será mais
fácil esquecer aquilo que mal assimilaram, e até podem chegar ao
ponto de negar e repudiar o passado que não aceitam como sendo seu.
É
uma conclusão referida insistentemente que a memória das pessoas
é curta, e podemos acrescentar
que sem esforço os que nos seguem praticam uma lavagem mental que
sentem lhes é favorável.