Por
um daqueles acasos que a vida nos proporciona conheci, já bastantes
semanas atrás, uma jovem que não me importava mesmo nada fosse
minha neta. A idade de ambos estão dentro da faixa das
possibilidades, embora remotas. Os modos, a educação que mostra sem
artifícios, o seu visual, mais a sua atenção e o sorriso com que
sempre inicia o árido diálogo profissional, tocou-me humanamente.
Intuí
que era estudante e que estava ali fazendo umas horas cuja
remuneração -certamente que pouco avultada- a ajudasse nas suas
despesas pessoais. Atrevi-me a perguntar onde estava estudando e me
respondeu que num curso de estudos africanos. Até aqui
chegaram e possivelmente terminaram as nossas conversas e
conhecimento pessoal.
Sucede
que esta orientação profissional da novel estudante ligou, por mais
uma casualidade, com a carreira do meu filho mais velho, que após se
licenciar em direito (socialmente seria um dos muitos doutores que
por aí anda, dos quais existe uma boa porção que não tem
licenciatura alguma e muito menos um doutoramento) dirigiu os
seus passos para a carreira diplomática.
Hoje
é embaixador num país africano e antes disso ocupou outros lugares
na escala, optando sempre, entre os destinos disponíveis, para
países dos chamados em via de desenvolvimento. Concretamente na
América do Sul e em África. É um conhecedor das características
dos naturais desta zona do globo. Mas leva o seu trabalho tão
seriamente que raramente, por não dizer jamais em tempo algum, se
descai para relatar aquilo que conhece de perto. É sábio e
prudente, para meu penar, pois eu gostaria de saber mais do que
aquilo que posso encontrar em jornais e noticiários.
Das
poucas observações que, num momento de fraqueza, me fez foi que,
infelizmente, nem todas as organizações civis que se incluem nas
conhecidas ONGs têm um comportamento ético merecedor de respeito;
alguns são mesmo uns trafulhas. E é pena.
Entretanto,
puxando um fio aqui e outro acolá, é pertinente que uma pessoa,
carregada de boas intenções como parece ser aquela desconhecida jovem, saiba o que vai encontrar caso, de facto, rumar para os
Países Africanos.
Do
estreito de Gibraltar para sul o que existe é uma sociedade ainda no estágio tribal, comandada por uma “elite” onde proliferam todos
os vícios das elites dos europeus, e mais algumas próprias dos seus
hábitos e costumes ancestrais. Pretender, seja com ajudas de
qualquer tipo, com boa vontade, com missionários e tudo aquilo que
os forasteiros imaginarem, que seja factível colocar aqueles povos
no século XXI é uma fantasia sem pés nem cabeça. Os seus naturais
(devia escrever indígenas, pois a palavra corresponde a todo o
cidadão que se identifica com o seu lugar de origem e de vida, mas é
uma das muitas palavras que se tornou irreverente) que atingiram
o poder, seja qual for o método utilizado para lá chegar,
incorporam, quando lhes interessa, as roupas ocidentais, os seus
costumes sociais, o gosto por automóveis e aviões, casas luxuosas e
tudo aquilo que possa parecer que os integram um mundo que não é o
seu.
Se
por cá já nos habituamos à existência de nepotismo e corrupção,
é pertinente não esquecer que estes pecados, e muitos outros, são
inerentes aos humanos. Por isso não nos deve espantar saber que, por
exemplo, as doações de alimentos, medicamentos e outros bens de
primeira necessidade, são desviados e comercializados mesmo antes de
sair do seu país de origem, e, possivelmente, com o conhecimento
dos doadores, ou organizadores de peditórios, que cinicamente desviam o olhar, porque o importante, para eles, é o ficar bem na
fotografia.
Termino
com um facto que é arqui-sabido: Em
muitos casos, para não cair na tentação de escrever todos,
quem dá seja o que for tem a
intenção de receber, em contrapartida, muito mais do que aquilo que
deu. Continuamos a estar num mundo cão.
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