sábado, 18 de fevereiro de 2017

ESTUDOS AFRICANOS



Por um daqueles acasos que a vida nos proporciona conheci, já bastantes semanas atrás, uma jovem que não me importava mesmo nada fosse minha neta. A idade de ambos estão dentro da faixa das possibilidades, embora remotas. Os modos, a educação que mostra sem artifícios, o seu visual, mais a sua atenção e o sorriso com que sempre inicia o árido diálogo profissional, tocou-me humanamente.

Intuí que era estudante e que estava ali fazendo umas horas cuja remuneração -certamente que pouco avultada- a ajudasse nas suas despesas pessoais. Atrevi-me a perguntar onde estava estudando e me respondeu que num curso de estudos africanos. Até aqui chegaram e possivelmente terminaram as nossas conversas e conhecimento pessoal.

Sucede que esta orientação profissional da novel estudante ligou, por mais uma casualidade, com a carreira do meu filho mais velho, que após se licenciar em direito (socialmente seria um dos muitos doutores que por aí anda, dos quais existe uma boa porção que não tem licenciatura alguma e muito menos um doutoramento) dirigiu os seus passos para a carreira diplomática.

Hoje é embaixador num país africano e antes disso ocupou outros lugares na escala, optando sempre, entre os destinos disponíveis, para países dos chamados em via de desenvolvimento. Concretamente na América do Sul e em África. É um conhecedor das características dos naturais desta zona do globo. Mas leva o seu trabalho tão seriamente que raramente, por não dizer jamais em tempo algum, se descai para relatar aquilo que conhece de perto. É sábio e prudente, para meu penar, pois eu gostaria de saber mais do que aquilo que posso encontrar em jornais e noticiários.

Das poucas observações que, num momento de fraqueza, me fez foi que, infelizmente, nem todas as organizações civis que se incluem nas conhecidas ONGs têm um comportamento ético merecedor de respeito; alguns são mesmo uns trafulhas. E é pena.

Entretanto, puxando um fio aqui e outro acolá, é pertinente que uma pessoa, carregada de boas intenções como parece ser aquela desconhecida jovem, saiba o que vai encontrar caso, de facto, rumar para os Países Africanos.

Do estreito de Gibraltar para sul o que existe é uma sociedade ainda no estágio tribal, comandada por uma “elite” onde proliferam todos os vícios das elites dos europeus, e mais algumas próprias dos seus hábitos e costumes ancestrais. Pretender, seja com ajudas de qualquer tipo, com boa vontade, com missionários e tudo aquilo que os forasteiros imaginarem, que seja factível colocar aqueles povos no século XXI é uma fantasia sem pés nem cabeça. Os seus naturais (devia escrever indígenas, pois a palavra corresponde a todo o cidadão que se identifica com o seu lugar de origem e de vida, mas é uma das muitas palavras que se tornou irreverente) que atingiram o poder, seja qual for o método utilizado para lá chegar, incorporam, quando lhes interessa, as roupas ocidentais, os seus costumes sociais, o gosto por automóveis e aviões, casas luxuosas e tudo aquilo que possa parecer que os integram um mundo que não é o seu.

Se por cá já nos habituamos à existência de nepotismo e corrupção, é pertinente não esquecer que estes pecados, e muitos outros, são inerentes aos humanos. Por isso não nos deve espantar saber que, por exemplo, as doações de alimentos, medicamentos e outros bens de primeira necessidade, são desviados e comercializados mesmo antes de sair do seu país de origem, e, possivelmente, com o conhecimento dos doadores, ou organizadores de peditórios, que cinicamente desviam o olhar, porque o importante, para eles, é o ficar bem na fotografia.


Termino com um facto que é arqui-sabido: Em muitos casos, para não cair na tentação de escrever todos, quem dá seja o que for tem a intenção de receber, em contrapartida, muito mais do que aquilo que deu. Continuamos a estar num mundo cão.

Sem comentários:

Enviar um comentário