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Então, como vais?
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Sem intenção de contrariar, não vou. Fico, como uma lapa.
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Uma chapada? Ou uma galheta?
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Atendendo a um dos significados podemos entender que somos parceiros
inseparáveis, como a garrafinha do azeite e a do vinagre.
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É uma possibilidade. Porém tenho a ideia de que estes dois líquidos, apesar de andarem da braço dado, são incompatíveis.
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Incompatível é lucrar, por baixo da mesa, com negócios privados
quando a decisão de fazer despesas com fundos privados ou públicos
dependem da sua idoneidade moral, mais ilusória do que real.
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Não me venhas com moralidades, estando como estamos nos mínimos no
que se refere a honestidade.
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Estes valores difíceis de mensurar, mas que sentimos que podem
afectar, perniciosamente, as nossas vidas, mesmo no âmbito geral, já
estão tão maculados no quotidiano que não nos causam o impacto que
mereciam. Aceitamos toda a sem-vergonha como masoquistas sociais
irrecuperáveis. Nem sequer lhes damos importância.
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É precisamente esta apatia geral que fornece a impunidade que, nos
momentos de lucidez ou de paroxismo nos leva a praguejar.
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Aceito que estás certo. Totalmente. Mas existe um pequeno pormenor
que anula esta vontade indómita de arranjar tudo, possivelmente a
mal, pois que a bem nada se consegue.
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Entendi. Referes-te a que este momento de revolta imensa passa mais
depressa do que a chama de um fósforo.
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E tudo volta a estar na mesma Como a lesma.
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Precisamente uma noite destas meditava sobre lesmas e caracóis.
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Não me digas que encaras estas duas espécies de gastrópodes com a
visão simplista de que são a mesma coisa. Só que um deles saiu da
casca e o outro ainda consegue fechar-se na sua casinha.
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Por acaso vi, algures, referências às antigas casinhas que, poucas
décadas atrás, permitiam que o “caracol” se fechasse lá dentro
a fim de verter águas ou largar o calhau.
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Só os mais velhos recordam esta experiência. Alguém, já falecido,
me contava que num destes lugares de recolhimento activo, tinha tido
a ocasião de saber factos que ignorava.
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Como assim? Não creio que aquelas guaritas, acanhadas e pouco
arejadas, eram fontes de saber, Uma coisa parecida a algumas das
Universidades Privadas que por aí proliferaram.
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Sim e não. O conhecimento que lá se podia adquirir era muito mais
normal e evidente se tentares situar-te no ambiente, fedorento como
um gato, que lá podia encontrar o esforçado estudioso.
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A minha idade não me fornece a necessária experiência para
acompanhar o teu enevoado discurso. Explica-te, se não te causa um
excessivo esforço.
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Simples e imediato. Habitualmente no interior da cabine das
necessidades havia, cravados num prego, pedaços de jornal, bem
cortados e com dimensão practicamente homogénea. Era nos momentos
de esforços, ou relaxamento se o fedor não incomodasse, que se
podiam encontrar partes de notícias que, mesmo com a censura que
existia na época, davam pistas para ler nas entrelinhas,
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Entendi. Fica uma dúvida: se as folhas de jornal já vinham cortadas
aos quadrados, mais ou menos certos, é possível que o texto que
tanto interessava ao leitor secretário, pois que estava sentado na
secreta, ficasse interrompido na altura mais dramática. Era assim?
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Era mesmo como dizes. Em vernáculo e em conformidade com o local,
estas interrupções dos textos eram uma verdadeira merda. Apesar
disso, incitava o interessado a procurar informações
complementares, perguntando aqui e ali, sempre com cuidado para não
levantar a lebre dado que existiam ouvidos bufos, que eram os machos
das bufas. E, graças ao treino que estes interessados tinham
adquirido, ficavam a saber bastante mais do que estava escarrapachado
no jornal.
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O seja, naquele então o jornal era utilitário em diferentes
aspectos, E a sua função social terminava colaborando na limpeza do
final do aparelho digestivo.
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Mesmo que não queiras admitir, ao longo destas conversas
disparatadas acabas por aprender alguma coisa.
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