Aqueles
que usam a cabeça para outros mesteres do que aqueles que estão
ligados ao seu exterior, e que aproveitam com esmero os sinais recebidos
através dos órgãos dos sentidos, visão, olfato, audição, tacto e
paladar (aos que se junta a entrada para o aparelho digestivo, que é
a nossa caldeira motriz), é possível que consigam algumas ligações
entre aquilo que ve e ouve e o seu arquivo de conhecimentos, sejam
próprios ou adquiridos.
Das
definições que encontramos, escritas e avaliadas, dos dois termos
que coloquei como cabeçalho, (ver notas a pé de página) tiramos a conclusão imediata de que
existe um risco elevado de incompatibilidade entre ambas.
Para
evitar polémicas estéreis (ou "estorís" como eu, jocosamente,
prefiro usar) desta vez prefiro
deixar de lado todos aqueles assuntos que encaixam no foro das
religiões. Tal como se tornou famosa uma frase que Cervantes colocou
numa das aventuras do imaginado cavaleiro andante, desencontrado do tempo em que vivía, mas que o escritor utilizou para criticar a sociedade da sua época.
Quando Dom Quixote, numa das suas aventuras nocturnas
andava, mais o seu companheiro Sancho Panza, visto por ele como sendo um escudeiro, perdidos na escuridão
mais negra, chegaram a uma pequena aldeia e decidiram bater a alguma
porta para pedir acolhimento. Sancho assim fez. Bateu num grande
portão e o silêncio ecoou dentro. Alonso Quijano, -que era seu nome no
BI, que não existia naquela época- podia ser louco, fantasioso, mas
não era burro, e pelo eco deduziu o que era aquela casa. De imediato
chamou Sancho dizendo, Vamos embora pois esbarramos com a Igreja. Cervantes tinha s suas razões.
São
muitos os temas nos que o cidadão pode cair em comportamentos pouco
racionais, e em vez disso age com cega fé, com tanta intensidade e
convicção que pode chegar com outro fiel, mas com diferente opção,
não só verbalmente como a murro e pontapé. Por alguma razão se
diz que A fé pode mover
montanhas. Só
como aperitivo deixo um par de tópicos que servem de orientação:
clubes desportivos e partidos políticos.
O que hoje me incitou a escrever
foram alguns artigos de opinião, nomeadamente aqueles que vinham
assinados por pessoas credíveis, onde se escalpeliza a situação
social que se vive actualmente nos EUA. Está em curso uma separação
da população entre dois grupos de pessoas, quase que tão forte
como a ue deu origem à sua guerra de secessão, mas com
características muito diferentes. Criaram-se dois bandos de momento
irreconciliáveis, e, com uma deriva muito acirrada que, pelo menos
nesta altura, esqueceu as origens do descontentamento social.
Aquilo
que é merece mais atenção por parte dos estudiosos é que os
adeptos às opções e declarações do seu actual presidente o são
com uma fé cega, não tão só à pessoa em si, mas especialmente ao
que as pessoas se habituaram a considerar como fontes merecedores de
crédito.
Os
meios de difusão electrónica, que são o pão para a boca dos
entusiastas, e pão para as carteiras dos patrocinadores ou
exploradores, além das palermices ue os utentes colocam a fim de
serem “mundialmente” conhecidos, são o melhor veículo que
dispõem aqueles que desejam distribuir notícias falsas. Os EUA,
onde se geraram estes monstros de captar mentalidades, têm um
presidente que, além de utilizar a rede twitter como meio primordial
para governar o seu País, e por tabela desorganizar o resto do
globo, confessa ue estas redes e os noticiários da FOX (considerados
como lixo em todo o globo, por estarem viciados em notícias falsas e
condicionar a opinião pública, pelo menos entre os seus seguidores)
em detrimento aos seus conselheiros políticos, ue sempre foram uma
base de debate interno na Casa Branca.
Esta orientação para a fé cega que
se espalhou na população dos EUA adquiriu o estatuto de um problema
com difícil erradicação. Não é uma fé que se satisfaça com
cantar salmos ou participar em cerimónias religiosas. Está
organizada, como a seu tempo fizeram Mussolini e Hitler para
governar os Estados Unidos a seu bel prazer, provocando a maior
desunião social de que há memória. Para mais desgraça as zonas onde residem, com maioria, os adeptos deste populista coincidem, quase que milimetricamente, com as dos sulistas, que ainda hoje não conseguiram aceitar a sua derrota.
O
problema maior, e quase insolúvel, reside em que os fanáticos de
uma fé, seja ela ual for, fechar os seus ouvidos aos argumentos
cordatos que interferem com a sua crendice. Constroem um muro intransponível, mais alto e eficaz do que aquele que, mesmo ue
parcialmente, já existe entre os EUA e o México. E ser gobernados
por egolatras
nunca nos pode levar a um bom fim.
- CORDURA qualidade de cordato; bom senso; prudência
- CORDATO prudente; circunspecto; sisudo. Do latim cordatu.
- EGOLATRA egoísta; orgulhoso; presunçoso; vaidoso.
- ESCALPELIZAR figurativamente criticar; analisar minuciosamente
- FÉ crença absoluta na existência de certo facto; convicção íntima; lealdade.
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