terça-feira, 26 de novembro de 2019

MEDITAÇÕES – Evitar os - ismos


MEDITAÇÕES – Evitar os -ismos

Todos os favoritismos são obsessivos e condicionantes.

É muito difícil escapar dos extremismos, que tarde ou cedo derivam para fanatismos que limitam a capacidade crítica das pessoas e, pior ainda, a isenção que nos é crucial para poder valorizar qualquer assunto. O cair num -ismo comporta ficar com a nossa visão mental reduzida a um espaço restrito e preconceito.

O lote de temas que nos podem incitar a desprezar a análise fria e tanto quanto possível livre de preconceitos é muito ampla. Abrange tal quantidade de assuntos que provavelmente são poucas as pessoas que estão cientes de quão limitada é a sua liberdade mental e até onde o seu comportamento e diálogo com os outros cidadãos está condicionado por ideias e conceitos pré-determinadas. Estas baias mentais tanto podem ter sido fruto de livre criação do mesmo indivíduo, como sucede em muitos casos, ou por transferências familiares ou de grupo. Seja qual for a génese das “verdades” inquestionáveis o que podemos afirmar, com conhecimento directo, é que podem ter ficado tão fixas na mente que só com um grande esforço de vontade é que nos podemos livrar.

Os temas propensos a se tornarem obsessões, e por isso adquirirem o estatuto de -ismos é amplo e variado. Sem ter a pretensão de um inventário exaustivo referirei os de índole religiosa ou para-religiosa; os que nos tornam obsessivos patriotas ou bairristas; os que renegam das pronúncias e terminologias locais ou regionais. Estes puristas obsessivos tem um poderoso aliado nas redes de televisão, que, em todos os países, induzem os seguidores a utilizar a dita “linguagem padrão”, sem captar que com esta uni-formatação linguística perde-se uma parte importante da riqueza cultural do povo.

Capítulo próprio são os fanatismos de cariz político e clubístico. Apesar de que a experiência nos mostra que são bastante numerosos aqueles que se deslocaram de um credo para outro; mesmo nas antípodas do precedente, temos que admitir que a fidelidade fanática no campo dos clubes desportivos é muito mais rígida do que nos da política, nomeadamente quando a mudança de partido pode implicar benefícios económicos ou estatutários.

É semelhante a dificuldade de isenção que se sente, pelo menos no reflexo do instintivo sobre o racional, no campo do racismo ou estratificação semelhante, como podem ser o classicismo, estirpe, casta, estatuto social ou económico, etc. Cada pessoa recebe indícios visuais sobre algumas características que, por serem exactamente as nossas, o pode impulsar para duas situações opostas. Por um lado é plausível que instintivamente nos afastemos ou qualifiquemos o outro com um termo que, sem dúvida, nos pode dar a noção de ser racista. E na margem oposta sentir a vontade de “saltar o muro” e poder integrar-se naquele sector social que nos estava vedado inicialmente.

sábado, 23 de novembro de 2019

MEDITAÇÕES – No topo da pirâmide




É DESEJÁVEL UMA CERTA RESERVA?

Seja qual for o cariz do governo vigente num país, ou mesmo num clube privado, sempre se encontra uma pessoa que fica colocada no tipo da pirâmide, não só representando o comando do grupo como, maiormente, de toda a população. Estar situado neste topo, num equilíbrio muitas vezes precário, mesmo numa monarquia fortemente sedimentada, implica que o ali instalado tenha um comportamento, uma atitude, que não inspire críticas desnecessárias. Dentro destes cuidados de imagem certamente que se deve ponderar evitar um excesso de exposição.

Se nas ditaduras, com um indivíduo no topo da hierarquia, a manutenção da imagem depende, essencialmente, da capacidade de propaganda do seu sistema de apoio, paralelamente com o cuidado extremo e fiel da censura e guarda-costas, mais a repressão política, a quem lhes está determinado que, por todos os meios disponíveis, procurem ter a seu “cabeça de cartaz” protegido, não só fisicamente como das opiniões que o pretendem desprestigiar e depois derrubar o esquema que aguenta o poder, já nos regimes democráticos esta pressão ou mais propriamente ameaça de repressão, tantas vezes efectiva e cruel, não é aceite.

Tomando o exemplo das notas de banco, seja qual for o seu valor e país onde circulam, as entidades que emitem este papel-moeda sabem que o manuseamento de certas cédulas (um termo mais usado no Brasil do que em Portugal) implica a sua degradação física. Que não é o mesmo do que a diminuição do seu poder de compra, por inflacção. Daí que mesmo que o valor real da moeda se mantenha quase que inalterável, a entidade emissora se encarrega de mandar recolher as notas deterioradas e as substituir por novas impressões. É assim que funciona, em todos os países.

A similitude que se pode encontrar entre um excesso de reserva ou, pelo contrário, uma ininterrupta exposição à população, pode levar a considerar que é pertinente manter uma dose de restrição. NEM OITO NEM OITENTA. Aceitar o meio termo é mais propício. Que todos os extremos podem ser prejudiciais.

Para exemplificar temos a referência histórica da clausura em que a casa imperial japonesa se mantinha até o desastre da segunda guerra mundial. Hoje já é mais frequente a exposição dos membros da realeza japonesa, não só entre os seus cidadãos como até fora do seu País. Mesmo assim, não imaginamos que um cidadão nipónico receie encontrar o seu imperador quando abre a porta de um armário, ou sentado na sua sanita. Pouco nos falta!

Aqui, onde vivemos, já começamos a duvidar do critério do Presidente da República em quando e donde se entende seria aconselhável aparecer, para receber o bafo da multidão, distribuir beijinhos protocolares (?) e aceitar ser fotografado face-a-face com ilustres desconhecidos, mesmo que cidadãos com todos os direitos que a constituição lhes garantem.

Algumas pessoas, e desconheço se são muitas ou poucas, entendem que o Presidente da República é uma figura a respeitar, sem necessidade de dar-lhe os famosos chi-coração da popularidade destravada, mais próprios para as estrelas cadentes da fama social.

Há quem opine que este comportamento, fingidamente tão aberto e popularucho é uma táctica, bem pensada e melhor seguida, para lavar o seu passado, comprometido com o regime ditatorial anterior. O evoluir da sociedade vai deslindar esta, e outras, dúvidas. Ou até pode ser que tudo se aceite com bonomia e desportivismo. Não daquele vergonhoso das claques de futebol. Que já se está espalhando noutras modalidades.

É tão fácil e atractivo tentar a popularidade desmedida...



quinta-feira, 21 de novembro de 2019

MEDITAÇÕES . Agradecimento




è devido agradecer, mesmo que anonimamente, a todos os que se dignaram enviar comentários aos meus mais recentes escritos. Este todos incluem não só aqueles que mostram apoio, por estarem mais ou menos de acordo, como aos que não só rebatem as minhas ideias como até insultam e denigram.
Tenham um bom-fim-de-semana, com castanhas sem bicho e bem assadas, acompanhadas não digo de agua-pé, que é uma mixórdia de outra época, mas de um bom moscatel.

Abraços- ou À braços, ao murro e ao pontapé, pois que na Vinha do Senhor cabe tudo, como diria o meu amigo Maximino.

terça-feira, 19 de novembro de 2019

MEDITAÇÕES – Temos duas mãos



 A DIREITA MAIS A ESQUERDA COMPLEMENTAM-SE

Penso que só um doente mental, em estado crítico, pode sentir a infeliz ideia de amputar uma das suas mãos. Talvez por entender que uma delas não tem o seu agrado, e daí que mais vale a deitar fora. Como se faz, habitualmente, com os jornais depois de os ler. E por vezes mesmo antes de os abrir e folhear. Coisas... que acontecem.

Se atendermos às frases feitas que utilizamos com alguma frequência, uma delas nos valoriza a utilidade de ambas mãos, sem se parar em considerações sobre se o utente destes membros é destro ou canhoto. Quando dizemos que UMA MÃO LAVA A OUTRA, o mais normal é que a mensagem tenha um alcance muito mais ampla do que o simples valorizar das nossas próprias extremidades superiores.

E o incitamento para debater esta diferença entre as mãos direita e esquerda surgiu, como é de prever, quando estava lendo assuntos de política que implicavam exclusão ou obsessão. Uma situação em incremento em algumas fases da vida comunitária. Se no caso de atacar um quantitativo pouco representativo da sociedade não nos causa engulhos, o mesmo não se pode dizer quando os ânimos se inflamam e, por motivos tantas vezes sem grande importância, as discussões originam incompatibilidades que, caso não se deitar água na fervura, podem originar conflitos armados, locais, nacionais ou até entre países e zonas geográficas.

Um assunto que imagino não é considerado como potencialmente perigoso pela maioria dos cidadãos, mas que se deve observar com atenção é a proliferação dos movimentos de contestação violenta e, simultaneamente, o ressurgir dos partidos de direita com características de neo-fascismo. Curiosamente o sector de extrema esquerda não tem tido um crescimento equiparável. Reconhecem-se as razões deste declínio.

Podemos deduzir que, para a população que se auto considera a-política, ainda está mais condicionada pelos relatos em que denunciam barbaridades cometidas por governos de esquerda, desde socialistas, mais ou menos puros, até comunistas Estalinista ou Maoista, do que das memórias, já pouco expostas, dos crimes cometidos por governos de extrema direita.

Parece que a população ocidental, depois de aderir plenamente à chamada Sociedade de Consumo (por não ter outra solução factível) se acomodou numa visão de “paz e trabalho”, e que o resto vai-se vendo ao longo dos dias. É uma versão actualizada da histórica paz romana, identificada pela táctica de PÃO E CIRCO, que não é tão estável e satisfatória como se pode imaginar, porque não abrange, com as mesmas facilidades, todas as a camadas da sociedade. E daí que os há que se sentem discriminados, com razões de peso. São estes descontentes o alvo procurado pelos demagogos que desejam ver romper a sociedade actualmente sossegada, e ir aos conflitos sangrentos. Os mais astutos entre estes promotores sabem que, caso tiverem sucesso nos seus propósitos, nada lhes acontecerá pessoalmente, a não ser o conseguirem entrar em algum dos muitos negócios chorudos que sempre acompanham os problemas sociais de vulto.

Muitos de nós, admitindo que o meu modo de pensar tem alguma possibilidade de se igualar ao de um lote de cidadãos tranquilos, estamos descrentes de um reviver do comunismo, seja de tipo Marxista ou Maoista, não tememos, nem desejamos, este retorno. Mas deixamos de dar importância à insistência de espertar as chamas do fascismo. E os pirómanos existem, estão por aí! Desta feita agarram em temas de actualidade, manipulando as situações de modo a que se vejam perigos graves em factos que não são novos na história e que na maioria das vezes se resolveram por adaptação e assimilação.

Temos, como exemplo, a questão do declínio da população no ocidente da Europa, nomeadamente de a substituição dos mortos e reformados por novos elementos que entrem na vida produtiva. Não é a desejada, entre outras razões porque surgem mais empregos mal pagos enquanto que as novas gerações se sentem preparadas (estão de facto? Todos?) para escalões com remunerações mais elevadas.

Na maioria das nações europeias o deficit de activos humanos acentuou-se. A solução mais imediata, e que se utilizou em muitas fases da vida europeia, foi a de aceitar e integrar gentes vindas de outras zonas do globo. E nem sempre a assimilação dos forasteiros foi total, embora deixasse de preocupar nalguns casos. O exemplo mais imediato é o da chegada, já no séc XVIII de levas de ciganos, vindos inicialmente do industão, mas depois deslocados dos países europeus mais a leste onde se instalaram, alternando o seu ancestral nomadismo com o sedentarismo, enquanto os indígenas os aturassem sem os rejeitar.

Hoje, as migrações já não constituem novidade pois que após as duas guerras mundiais a Europa recebeu muitos indivíduos vindos de países vizinhos e outros de continentes afastados. O que utiliza a propagando de extrema-direita, sem ter que se esforçar muito, são os argumentos da cor da pele e de adeptos a religiões estruturadas não cristãs. São diferenças indissolúveis ou difíceis de mudar para conseguir uma assimilação. Estes dois conceitos são os argumentos de peso, apesar de raramente os referirem abertamente, para incitar os europeus a não aceitar as multidões de imigrantes que tentam, com riscos de vida não desprezíveis, chegar ao seu ilusionado Éden. Com esta bandeira de rejeição os movimentos de estrema-direita ganham, todos os dias, mais adeptos, e estes novos adeptos não sabem ou nem querem saber do problema onde se arriscam a meter.

Muitas vezes dizemos que NO MEIO ESTÁ A VIRTUDE, e eu acrescento: E A POUCA VERGONHA MAIS O DEBOCHE. Menos caricato mas muito mais sensato era o que o meu pai, falecido, me dizia: As pessoas que não querem entrar nos extremos levam tareia dos dois lados.

segunda-feira, 18 de novembro de 2019

MEDITAÇÕES – É muito complexo




ENTENDE-SE O QUE ACONTECE, AGORA, NAS ESPANHAS?

Penso que, para muitos portugueses, mesmo os ilustrados, seja difícil mergulhar na situação actual da política espanhola (leia-se de idioma castelhano) porque, a meu entender, seria necessário recuar mais de uma centena de anos na história vivida além da raia de Elvas/Badajoz, e das outras fronteiras terrestres com o território daquele (para mim) ofensivo dos nuestros hermanos.

Tentarei justificar esta referência despectiva que é usada com tanta frequência pelos escribas dos dois lados, mas com sentimento totalmente oposto, uns com soberba e senhoria e os outros com desprezo. Ambos estão errados.. Muito cedo, já com 12 anos, percebi que o “azar” que qualquer português sente em relação aos castelhanos, que eles mesmo teimam em procurar confundir com o genérico españoles, é de tal magnitude e presente na totalidade da população, que só um cego, imbuído da sua espanholidade ferrenha, não captaria  a primeira vez que ouvisse ou lesse -sempre entre comas- esta declaração de irmandade, o quão negativa é vista deste lado.

Para tentar entender o eterno, ou pelo menos já histórico, diferendo existente entre catalães a “espanhois=castelhanos” temos que recuar séculos e admitir a triste realidade de que os que são mais quantitativamente e agressivamente são os que procuram tirar aquilo que os perdedores consideram ser a sua individualidade. Neste caso concreto é a sua língua e, por arrastamento, o desejo de ser tratados de modo diferenciado, mas preferente, em relação aos povos que os rodeiam e “invadem”. Convêm tentar a similitude entre o sentir-se e ser português de alma e coração como um bem comum que não se quer perder, e que também existe entre os catalães de raiz. Que pela sua capacidade industrial e comercial destacam-se de outras regiões peninsulares em situação económica mais débil.

A zona de fala castelhana herdou, desde a expulsão dos muçulmanos, uma distribuição de terras “reconquistadas” muito medieval. Entregaram-se grandes espaços, mesmo enormes, aos chefes das forças, practicamente mercenárias, que lutaram contra os ocupantes. -Em muitas ocasiões tinham-se colocado, depois de ajustar o pagamento, do lado dos “infiéis” contra as tropas do Rei; mas isso são pequenos pormenores, com a sua importância relativa- Como a coroa sempre, lá e cá, estava com os cofres vazios e vivendo com empréstimos dos banqueiros judeus, para satisfazer os capitães a coroa lhes entregava a propriedade, em regime perpétuo, dos terrenos “recuperados”, incluindo a gleba que os devia trabalhar. Daí surgiram os latifundiários dos dois lados da fronteira.

E nestes latifúndios proliferaram os sem terra, os jornaleiros que eram seleccionados na praça da terra pelo Senhor ou seu representante. Enquanto persistiu o Império Espanhol nas Américas, este excedente de população, sem eira nem beira, embarcava para o novo mundo. Mas quando terminou, com a “libertação” de Cuba pelos amigos “desinteressados” dos Estados Unidos, o povo mal alimentado e pobre de pedir, teve que rumar para as zonas da península onde podia alugar os seus braços a outra espécie de exploradores.

Dado que a industrialização da dita Espanha foi muito lenta, comparativamente com a Europa ocidental, as zonas onde podiam contratar gente quase todos rústicos, mas com vontade de trabalhar, viver e criar família, estavam no Norte (Astúrias e País Vasco) e Nordeste (Catalunha).

E aqui se inicia o filme actual:

Carecendo de mão de obra intensiva em diversos sectores, entre eles a têxtil, mecânica, construção e obras públicas. O fluxo de migrantes internos foi notável, já desde início do século XIX. E como inicialmente chegaram mais homens do que mulheres, e os homens da Catalunha tinham sofrido importante desbastes das guerras de Marrocos e Cuba, havia excesso de mulheres. E começaram os matrimónios mitos -os híbridos ou mestiços como agora denominam os da VOX- Esta integração, lenta mas efectiva e tranquila, continuou até os dias de hoje. E, curiosamente, os rapazes solteiros catalães ficaram muito prendados pelas raparigas de raiz castelhana, andaluza, murciana, ou estremenha, que se mostravam mais desempoeiradas e vistosas do que as suas vizinhas. Daí que a miscigenação rumou para o outro sentido. Mas sempre entre os de origem catalã e os outros/as.

Esta convivência tácita, mesmo que não totalmente geral, foi contrariada, propositadamente ou impensadamente, pelas autoridades centralistas quando teimaram em tentar apagar a língua local (a exemplo do que fez a monarquia francesa obrigando a uma língua “franca” mas exclusiva, para todas as populações autóctones do hexágono) Só que os catalães, que nem por isso são propensos a brigas, mostraram ter um forte apego aos seus costumes e língua, incluído o direito civil que estava em vigor naquela área.

O mais que as sucessivas ditaduras ou governos centrais de índole monárquica conseguiram foi que a grande maioria da população da Catalunha se tornasses bi-lingue. EXCEPTO a classe dos burgueses endinheirados, que para garantir os clientes das zonas castelhanas, além das ex-colónias de ultramar, e criar ou incrementar os conhecimentos e laços com os decisores de Madrid, socializaram com todos, desde contínuos até ministros, e optaram por se castelhanizar, inclusive no seio das suas famílias, nas suas casas e escolas para descendentes.

Como o ter poder económico implica ser esperto, estes “castelhanos-novos”, tal como os judeus falsamente convertidos ao cristianismo ou catolicismo, mantinham, por trás do pano, contacto com os insubordinados catalanistas. Até hoje. Foram estes os geradores de uma quinta coluna que incitou a adversão e até ódio, dos autóctones não só para o poder central e as autoridades, sempre mais ou menos repressivas, que levaram para esta zona, mas genericamente para todos os “castelhanos”, Ah! Excepto daqueles seus conhecidos e já, em muitos casos, com laços de sangue. (Quem conviveu e convive com esta situação de calma efectiva entre co-cidadãos a qualifica, como mínimo, de curiosa e favorável)

E tão bem os burgueses manobraram e venderam o seu país natal que perduram, por trás do pano, até hoje. São eles que colocaram o Puigdemont, Torra, e anteriormente Pujol e Más, na Generalitat para “negociar” os interesses da Catalunya, misturando propositadamente e com todo o cinismo, com os seus interesses de grupo, incluídos industriais e banqueiros.

O povo, como sempre acontece, foi e continua a ser manipulado por quem sabe e tem os cordéis da comunicação social na mão. Antes eram os jornais e emissoras de radio, agora são as televisões e as redes sociais, que por se mostrarem anónimas não tira que sejam manipuladas.

E aqui deixo um excessivamente longo relato do que acontece em Espanha. Insisto em que é demasiado longo porque hoje ninguém está disposto a ler mais de seis linhas de texto sobre um tema sério.

Deixo para trás a posição ambígua dos socialistas do PSOE, que desde o pacto pós-Franco perderam o rumo histórico.

domingo, 17 de novembro de 2019

MEDITAÇÕES – O mistério das calorias


Gordos, magros ou elegantes ?

A partir do momento em que as Vénus de Rubens passaram a ser consideradas como umas gordas celulíticas, “não aptas para consumo”, e se verificou que a imensa maioria dos cidadãos com poucos recursos tinham figuras mais esbeltas, procurou-se explicar como alguns destes “pés rapados” eram gordos em excesso. Mal comidos, dietéticamente falando, como se justifica cientificamente que, apesar de tudo, atingissem um aumento exagerado das enxundias corporais. Alguma coisa comiam que engordava em excesso.

Para os humanos, que não entendiam, com profundidade, os “mistérios” da biologia, o que sim verificaram foi que os animais que hibernavam, ou seja, que passavam a temporada de frios intensos recolhidos em locais abrigados e num estado dormente ou mesmo letárgico, previamente tinham feito reservas de alimentos, que ingerido em excesso, para poder aguentar os meses difíceis de parcial ou total impossibilidade de se alimentar como de seu natural. Ursos e outros animais que hibernam, sem saber ler ou escrever nem terem frequentado estudos superiores, instintivamente sabiam que deviam acumular gordura, em quantidade bastante superior ao seu normal.

E aqui está a explicação, ou a base dela, das tais caloriais maléficas.

Após horas, dias e noites de estudo, queimando as pestanas com a luz de velas, o “homem” chegou à conclusão, muito antes da equação de Einstein, que tudo o que se movia carecia de energia. Mais adiante se concluiu que mesmo as partículas elementares, em que se confunde massa e energia, esta dualidade existe. Mais complexa do que a Santíssima Trindade.

A partir daí o progresso da humanidade passou a estar directamente ligado ao potencial e consumo de energia.

Avançando: O nosso corpo está, constantemente, consumindo energia para possibilitar o funcionamento dos órgãos internos, -como são, entre outros o coração, os pulmões e aparelho digestivo- Também carecem de uma aportação energética todos processos biológicos que comportam combinações e reacções químicas e, também, todos os movimentos e esforços físicos que em maior ou menor grau temos necessidade de fazer. A decisão mais convincente foi a de tratar tudo com o critério da energia, fosse despendida ou ingerida, e daí a necessidade de determinar a energia que se ingeria.

Em chegando a este grau de certeza o problema seguinte estava em como medir, mensurar, o potencial energético necessário para viver, mais o necessário para nos possibilitar a actividade física, e equacionar estas necessidades com o poder energético dos alimentos à nossa disposição.

Intuitivamente se ligou a gordura corporal com a ingestão excessiva de gordura vegetal ou animal. A seguir deduziu-se que certos alimentos, isentos de gordura quando no momento de ingestão, ao longo da processo de digestão e assimilação, podiam produzir moléculas de gordura que, incorporadas no fluxo sanguíneo, se acumulavam em certas zonas e órgãos do nosso corpo. Tal como lhes acontece com os animais que hibernam, já referidos atrás.

Mais coisas curiosas se foram juntando a este complexo esquema. Por exemplo, que um exercício físico pesado, violento, além do cansaço gera o suor que expelimos -para arrefecer o corpo quando a exudação se evapora- A diminuição do peso que a balança denuncia entre antes e depois do esforço, descontando o peso da água de respiração acelerada e da transpiração, é energia eliminada! Por isso se dedicam a correr pelas ruas e nas esteiras mecânicas aqueles que a sua actividade física normal não consome energia  ao nível do que ingerem.

Portanto era necessário medir tudo, por um processo físico coerente e credível. Já se media o poder calorífico dos combustíveis utilizados para conseguir o movimento de diversos equipamentos mecânicos. Estava tudo tabelado, desde as madeiras até a palha ao carvão vegetal e mineral, óleos e destilados do petróleo. Porque não medir o poder calorífico dos alimentos? E com o mesmo aparelho e procedimento do que uma gasolina?

Como dizia aquele que está actualmente na ONU. Agora era só fazer as contas ...

quinta-feira, 14 de novembro de 2019

MEDITAÇÕES – Frases célebres II




Dias antes referi um par de frases de uso corrente (alterna ou contínua, se bem que estas empregadas mudaram de nome e devem ser agora qualquer coisa como auxiliares de educação não tituladas) E como se diz normalmente: “por falta de esquecimento”, -que lendo bem corresponde a estar na memória activa- ficou na despensa esperando que a minha massa cerebral, em acentuado processo de degradação, se dignasse colocar à minha disposição imediata.

E a ocasião chegou !!! FINALMENTE. Nem sabem, a alegria que me invade neste momento solene. E isso parqué? Pergunto eu em vosso nome. Pois pelo motivo de que levo décadas, muitas mesmo, batalhando, ingloriamente, com uma frase que considero estar muito mal redigida, ou, pelo menos, que carrega uma grafia e vocalização errada. Que induz a uma desorientação na visão estereoscópico do nosso corpo humano, ou humana se for uma fémina.

E A FRASE EM QUESTÃO É !!!! tacham, tacham

Com as mãos atrás das costas.

Mesmo dando muitas voltas no meu eixo vertical, como um cão que quer morder a sua cauda porque alguma coisa lhe pica. Admitindo que quem deu esta ordem pretendia que se colocassem as mãos junto do nalguedo, com o propósito de as enfeitar e unir, com umas pulseiras de segurança, com chave, conhecidas como algemas. Como digo, e insisto, o que ordenam não coincide, minimamente, com o que é mandado.

A frase correcta seria: Com as mãos atrás, nas costas ou simplificando: Com as mãos atrás !

Eu sei, reconheço, que a minha observação é desentendida pelo costume da linguagem vulgar. E sei que sou um picuinhas embirrante ao pretender que se dissesse correctamente. Até podem afirmar, faltando à verdade, que sou eu que tenho um problema de audição, confundindo o que dizem NAS, com o que imagino DAS.

Tentem pronunciar a ordem tal como vos sai da memória!



MEDITAÇÕES – É difícil manter-se estático




ENTRAR NO METRO EM HORA DE PONTA

Mesmo que consideremos que mantemos intactas as nossas premissas pessoais, que não mudamos de opinião e nos colocamos tranquilamente nas antípodas do que defendíamos horas antes, ou no dia anterior, dando fé de ser um insuportável volúvel, a vida nos alerta da insensatez que seria o pretender afirmar que, apesar de maiormente nos manter no mesmo sector de pensamento, não tivemos alterações notáveis.

Para disfarçar pode-se afirmar que estas alterações não são importantes, tal como ao andar vamos mudando o pé que suporta o nosso peso. Mas andamos! E até podemos verificar que, na nova localização a que chegamos, o ambiente é diferente daquele que respirávamos anteriormente.

Gastei muita tinta”, demasiadas palavras e circunlóquios para tentar explicar uma coisa tão simples como é definida pela máxima Nunca passa duas vezes a mesma água sob a ponte. Ou seja, queiramos ou não, ao longo dos dias, meses ou anos, vamos mudando paulatinamente. O que não obsta a que, por razões de peso, as mudanças podem ser extremamente rápidas. E mal vistas.

Quando escrevi o cabeçalho tinha uma imagem bem clara do que desejava referir. Depois, como viram, perdi o fio da meada. Fiz mal, desviei do fixo e meti-me no lodo. A ideia era de referir que se entrarmos no metro em hora de ponta, e não encontrarmos lugar vago para nos sentar ou um ponto fixo onde nos agarrar, será muito difícil vencer a inércia do conjunto quando a composição muda de velocidade, ou oscila devido ao traçado da via. Se o número de pessoas por metro quadrado for do género compacto, como as sardinhas enlatadas, o mais sensato é deixar que o nosso corpo acompanhe as deslocações dos vizinhos. Mas sempre procurando não provocar susceptibilidades por contactos indesejados.

Avançando para outro aspecto da vida quotidiana, aquilo que ontem nos parecia indiscutível pode ter mudado notoriamente. Tanto por vectores externos como por mudanças de ânimo pessoal. Daí que as nossas opiniões, que gostaríamos poder afirmar que eram sempre as mesmas, podem ir ganhando matizes que não aceitávamos pouco tempo antes.

O encarregado de manter o rumo de um navio ou um avião, e que para tal conta com a sua acção sobre o leme, sabe que não se pode distrair na sua responsabilidade, e por isso, mesmo que existam automatismos que ajudem a seguir uma rota, não pode afastar-se muito dos comandos.

Depois de tão profunda reflexão sinto que devemos aceitar que somos muito mais volúveis do que pretendemos dar a entender. Que o qualificativo de vira-casacas, ou cata-vento não nos agrada? Pelo menos se nos for atribuído. Então chegamos a uma situação bastante indefinida: as nossas “oscilações de pensamento e comportamento poder ser toleráveis, pelo observador que nos avalia, dentro de uns limites socialmente aceitáveis? E quais os graus de desvio permitidos?

Na linguagem social, enquanto não incida intensamente nos campos da política, somos especialistas em diminuir uma situação desagradável. Por exemplo: quando a comida nos é servida excessivamente quente. Quando levamos a primeira colherada à boca, pode dar-nos a sensação de que arde, que aquilo é pior do que as brasas do inferno; mas se dermos com o olhar preocupado da anfitriã, disfarçaremos tanto quanto formos capazes, e, em vez de soltar uma barbaridade, afivelamos um sorriso de complacência, iniciando uma conversa banal para dar tempo a que o manjar perca algumas calorias.

Dado que as calorias que referi não são, precisamente, as tais que se indicam nas dietas para não engordar, um dia pode ser que me decida a tentar explicar porque existe esta confusão calórica. A experiência diz-me que não devo aguardar um incitamento por parte dos hipotéticos leitores.



sábado, 9 de novembro de 2019

MEDITAÇÕES - Os mitómanos são imputáveis ?



Como reage a sociedade e como os trata a lei?

Ao longo da vida e desde a infância, nos deparamos com sujeitos que são capazes de afirmar factos tão inverossímeis e numa continuidade tal que não tardamos em os qualificar como mentirosos compulsivos. A nossa reacção, defensiva, é de fazer ouvidos moucos, pois que se sabe não valer a pena argumentar com estas personagens. Estão tão treinados que escorrem como enguias. Saltam para outro tema e não tentam defender o que até o momento anterior davam como certo e seguro.

Mais difíceis de lidar são aqueles mentirosos, de capacidade inventiva e convincentes em excesso, que, sem nos encarar pessoalmente, nem por isso deixam de nos afectar. Entre estes indivíduos os com maior peso para prejudicar colectivamente os simples cidadãos, que além de não estarem preparados para enfrentar, individualmente os bem colocados, sentem-se moralmente perdidos e indefesos, vítimas a imolar e com os olhos abertos são os que sabemos serem poderosos, uns por herança cromossómica ou de capital e outros porque nasceram com a capacidade de se aproveitar dos incautos.

Estou referindo -como já devem ter captado- e de um modo geral, sem puntualizar, aos que, genericamente, os qualificamos de “peixes graúdos”, sejam eles políticos ou blindados por grandes negócios, fortunas, compadrios e influências. Não é por mania que se admite o preceito de que Deus os cria e eles agrupam-se. O estarmos conscientes de que é practicamente impossível lutar contra este tipo de gente, não obsta a que o simples cidadão não se sinta vítima, revoltada, das manobras que certos mitómanos practicam impunemente. Nomeadamente quando se verifica, sem dificuldade, que a indignação é resultado de verificar que com estas fantasias se arrebatam parcelas consideráveis dos fundos públicos, que por não existir em excesso, reflectem-se em carências que afectam à maioria dos cidadãos contribuintes e carenciados.

Ao longo duma série de anos as pessoas tem assistido, estoicamente, a estas impunidades. Mas ao mesmo tempo esperam que as sentenças legais sejam de molde a nos satisfazer. Ou seja chegar, pelo menos, ao consolador “ganhar moralmente”. E este sonho, quase uma daquelas fantásticas miragens de água na estrada com o calor, seja o corolário de algumas das sentenças já proferidas nos derradeiros tempos. Tememos que este sonho não passe de um pesadelo, que nos defraude sem mostrar que a histórica e inamovível impunidade de grupo já está a ter algumas gretas.

Sabemos, os simples cidadãos, que não podemos pensar em dar sentenças sem uma base jurídica forte. Mas os portugueses já se sentem por demais defraudados por argumentações que nem uma criança de teta poderia admitir como correctas. Há notícias de jornais e de noticiários que, para o cidadão comum, até são insultuosas, tal é a alacridade argumental que apresentam.

Como, sensatamente, não aceitamos que o marchar a pé até um santuário, rezar o terço ou outras orações estereotipadas, acender velas devotamente, ou até oferecer uma fracção do capital que tanto custou a amealhar sejam métodos eficazes para conseguir uma justiça justa (e valha o pleonasmo, que certamente entenderam) não nos resta um caminho credível para onde solicitar ajuda. Saber que podemos esperar bons resultados na actuação da justiça, correcta e célere, seria o mais produtivo para o País.

O incorrigível pessimismo não nos garante, nem um pouco, que o vento sopre de feição para corrigir alguns males, que são endémicos, pois já duram por longas gerações.

terça-feira, 5 de novembro de 2019

MEDITAÇÕES – O tempo passa...



E A CARAVANA LADRA !

E uma visita ao Convento de Odivelas
  
Esta famosa sentença, não aparece no catecismo dos dominicanos. Um falhanço, e espectacular ou especular se for olhado com aquele aparelho que serve para espreitar os interiores de dentro, que por acaso não coincidem com os interiores de fora, pelo simples facto de que estes nem sequer existem.

Difícil de observar e de entender é o interior da crusta terrestre, embora se considere provado que logo abaixo da camada onde nos, animais mamíferos, e outros parceiros nesta Arca, podemos conviver com outras espécies e plantas, -que sem dúvida são seres vivos- existe um mundo que não nos é acessível, onde as temperaturas atingem o ponto de fusão de todos os minerais e rochas. Por profundas que sejam as grutas onde os espeleólogos andam, nunca nenhum deles abriu a porta do magma. Ou se a abriu não conseguiu voltar para o  contar no convívio com os vivos. A acontecer deve ter ficado mais esturricado do que o São Lourenço, ou os modernos cadáveres deste ocidente que, à semelhança dos hindus da península indostânica, são cremados e assim reduzidos aos componentes iniciais. 

Concretamente está-se actualizando aquela máxima indiscutível de que do pó viemos (ou do barro moldável segundo reza o Antigo Testamento) e para o pó voltaremos. Esta dose de "lixo" que as funerárias entregam aos familiares, o mais normal é que algum deles se encarregue de despejar nalgum lugar  considerado "idóneo", num local onde for permitido (?), no mar, num rio, clandestinamente ou num contentor para reciclar (que seria o mais lógico, mas pouco charmoso) No norte da Itália é fácil voltar ao Pó; basta aproximar-se do dito cujo Rio e ala!, que se faz tarde. Vai navegar meu querido/a!

E assim, como quem diz sem dar por isso, já chegamos à alarmante previsão de que as águas vão subir de nível e certamente de preço, tanto as do cano e contador como as engarrafadas. Mas são as dos Oceanos, Mares, Lagos, Portimões, Taviras, Aveiros, Lagoas e adjacentes que nos preocupam, por subirem de nível e deixarem os terráqueos com menos área útil para estragar por decisão própria. Não está certo! A Natureza decidiu competir com a mais evoluída criatura moldada por Deus. 

E a seguir? Ficaremos, uns poucos, ao Deus Dará, recordando que este nosso Deus, que nos oferece pão quotidianamente, é famoso por dar com uma mão e tirar com a outra. A sorte nossa é que Deus não seja um cefalópode, pois com muitos braços e com muitas mãos não nos safávamos. Toda a costa vai ficar debaixo da água. Em compensação terão entrada, perpetua, na divisão de honra, no pólo aquático e natação artística sincronizada. 

Ignoro qual o vento que me soprou da urgência de referir a  famosa HONRA DO CONVENTO.  E só me ocorreu que o convento em questão deveria tratar-se, sem dúvida, do Convento de Odivelas. (**) Famoso em Portugal e parte do estrangeiro de fora pelo facto de que ali o Rei D. João V, tinha o seu Couto Real de caça às vaginas,(***) todas sempre de boas famílias, dedicadas, em princípio, a casarem em regime de poligamia com o Deus Filho (sim porque os Deus pai já não está para estas aventuras, devido a problemas com a próspera. Mas mantém um interesse científico sobre estes temas da procriação e variantes. Gosta de espreitar por um triângulo as actividades eróticas das suas criaturas humanas)

Regressando a Odivelas e seu convento de retiro monárquico, o Rei D. João V, famoso mulherengo e simultâneamente religioso, -tanto assim foi que só aceitava a freiras como suas amantes- Junto com os seus compinchas fidalgos que iam molhar a sopa, ou o seu gregório* com as freiras devotas, descalças de pé e perna ou com sandálias, fossem elas novas estreadas ou adultas em bom estado, mas nunca excessivamente velhas (pois não se faziam plásticas de rejuvenescimento naquele então) Todavia sabe-se que aquele grupo de linhagem impoluto escolhia, de preferência as noviças, com a ressalva de que estas rolas só se podiam degustar depois de servirem as primicias ao monarca, e sempre sob o estrito controle da abadessa ou madre superiora, que era a patroa daquele lupanar real.

A Madre Superiora do Convento de Odivelas, de nome Paula Teresa da Silva e Almeida, deu frutos bastardos a D. João V: D. António, D. Gaspar e D. José, para os quais mandou construir o Palácio dos Meninos da Palhava (hoje ocupado pela residência do Embaixador de Espanha). À Madre Paula concedeu uma trança anual de 210 mil réis anuais, pagos em duas prestações, por São João e no Natal. Também o pai, Adrião de Almeida, neto de um soldado alemão, e ourives de profissão, recebeu alguns dotes e prebendas, entre elas um hábito religioso honorífico (por ser pai da amante real)

O negócio do Brasil dava para tudo, mas não para todos... Sempre foi e será assim.



* Gregório: sinónimo de pénis
** Quem estiver interessado em mais pormenores sobre este tema pode procurar no Google MOSTEIRO DE ODIVELAS

***  O outro couto real de caça estava anexo ao Mosteiro de Mafra, que D. João V mandou construir como promessa de ter um filho macho da Rainha. Hoje A TAPADA DE MAFRA.

segunda-feira, 4 de novembro de 2019

MEDITAÇÕES .- Entrar em polémicas




Sem desejar terminamos caindo

Escrever é como coçar. O pior é começar. Depois só para se nos esforçarmos, mentalmente, por esquecer a comichão. No tema de hoje; ou seja das polémicas, é o impulso de responder a quem nos increpa, mesmo que não se mostre uma identificação concreta do alvo, é que nos pode incitar a entrar no debate, em geral estéril. Neste espaço, porém, tenho a sorte (?) de que ninguém está interessado em apoiar ou rebater. Nem sequer para pedir um esclarecimento. Portanto tentar criar aqui uma polémica é tempo perdido. Termino “falando para o boneco”, que é uma situação muito desmoralizadora, ou, mais seriamente, deixando o teclado sossegado durante uns tempos

Em chegando a este ponto salta a pergunta: E porque sentimos que estamos falando para o boneco? Ou o seu equivalente mais representativo, de que se deve inculpar o orador quando percebe que ninguém naquela sala, ou num dos meios de difusão actuais, não lhe está prestando um mínimo de atenção? O culpado é ele, por não ser capaz de interessar uma audiência. Se chegar a esta conclusão só tem um caminho: enrolar a trouxa e recolher a penates (1) Uma pequena história que ouvia referir ao meu pai dizia”o sinal mais potente de que deves terminar de falar é quando alguém à tua frente não só olha o relógio como até o sacuda (para ver se funciona!)

No meu caso concreto -que em português chamamos de betão- o estar ciente de que não tenho quórum é um facto comprovado desde inicio, ou quase, e se eu tivesse um mínimo de respeito por mim próprio já me tinha decidido a fechar a matraca. Todavia, quando nos entra na pele uma coceira...

E, quase que por casualidade, encontrei um poço, sem fundo, onde são muitos aqueles que não resistem a lançar a sua pedra. Ou menos violentamente será dizer: dar a sua opinião, em geral rebatendo a do outro. E se os ânimos estiverem exaltados ou a educação do indígena for fraca, então inclusive podem chegar a ser insultantes. Já estamos fartos de saber que o anonimato favorece, e muito, a predisposição de denegrir, insultar, desacreditar, aquele que por vezes não se identificou, mas que, mesmo assim, pode dar muita satisfacção derrubar. Ou pelo menos tentar prostrar, sempre e tanto que seja factível atingir este efeito recorrendo ao anonimato ou ao seu equivalente pseudónimo.

Regressando ao início: Se coçar e comer são duas actividades que consideramos anímicamente gratificantes, o polemizar deve-se juntar, sem dúvida alguma. Quantas pessoas procuram criar uma polémica geral e uma vez acesa se retiram para a zona dos espectadores anónimos para ali poder desfrutar da luta de galos, e até lançar bocas de incitamento?

Um dos campos onde facilmente se pode iniciar uma polémica, ou meter um pé dentro se já está em cartaz, é o da política nacional. É ali onde se podem referir e comentar os problemas que atingem a cada um de nós, ou pelo menos aqueles temas que se sabe de antemão que podem incitar outros tontos sem nada melhor para fazer. Mas, este campo de temático torna-se sumamente tedioso quando se volta no dia seguinte. Chega-se à conclusão, imediata, que equivale ao discutir o sexo dos anjos. Situação que não se esclareceu totalmente quando os artistas imaginaram estes seres com um tímido pirilau, no caso de pretenderem representar anjos do sexo masculino, pois que as “anjas” com o corte característico, mesmo que cuidadosamente depilado, não deviam ser aceites pelo cliente quando chegava o momento de receber os honorários da encomenda. Voltavam a surgir aqueles panos esvoaçantes, que não se descobre onde se seguravam, mas que censuravam os anseios dos mirones.


(1) Penates corresponde ao lar paterno, a casa. Também se diria “fechar a loja”

sábado, 2 de novembro de 2019

MEDITAÇÕES - Vamos andando


E OUTRAS FRASES IMPRECISAS

Tantas vezes me apontaram que era um sujeito, essencialmente e persistentemente, embirrante, que não tive outra solução do que aceitar o facto. Este caminho, que obviamente, abdica de uma tentativa credível de emenda é algo que posso considerar irreparável. Corresponde ao dilema do lacrau quando montava sobre a rã, que gentilmente e parvamente, aceitou o pedido de o levar para outra margem, acreditando na palavra do insecto peçonhento em como, desta vez, não o picaria.

Outra história com igual mensagem é aquela em que se conta da saturação de um marido em relação com a sua amada esposa. Esta, sem atender a que a cabeça do esposo tinha menos cabelo do que uma bola de bilhar, passava o dia insultando-o de ser piolhoso. O homem, por mais que tentasse resistir a este contínuo vexame, estava tão saturado, farto, nervoso e mesmo furioso que um dia, ao atravessarem um rio, aproveitando uma ponte que lá estava para este fim, virou-se para a sua querida (?) companheira, que não parava com a lenga lenga de “piolhoso-piolhoso-piolhoso”, com um valente empurrão a enviou para as águas turbulentas. Enquanto ela caia não parou de vociferar, e mesmo depois de já practicamente submersa tinha as duas mãos à superfície e fazia com as unhas dos polegares como se esmagasse e matasse assim os obcecantes parasitas.

Pois, recordei que noutro escrito “memorável”, destes que ofereço gratuitamente aos leitores ausentes, referi o costume, actualmente em vigor -como o leite em pacote- de quando nos perguntam pela saúde, em vez de referir toda lista de achaques e problemas corporais, beatíficamente nos limitamos a dizer “vamos andando”. Daí o pessoalmente tirar a conclusão de que Portugal está cheio de andarilhos incansáveis, sempre andando, nem que seja a manquejar.

Sendo eu novo, coisa que fica lá muito para trás, lembro que se dizia que os europeus continentais, entre eles os da Lusitânia de Viriato (que chegava até Toledo e grande parte da Estremadura e Andaluzia actualmente espanhola) eram propensos a relatar as suas maleitas, fossem reais ou imaginárias. Enquanto isso os naturais do Reino Unido desviavam pela tangente, convictos que o relatar doenças e achaques era de mau tom, coisa a evitar. Conclusão: parece que a educação britânica ganhou força e nos incitou a andar, com benefícios para a circulação pedonal e sanguínea.

A meditação não pode terminar aqui, atendendo à admitida vocação para ser embirrante. São várias as frases habituais que dizem uma coisa mas pretendem dizer outra bastante diferente. Uma delas é frequente quando pretendemos pagar com numerário -situação cada dia menos habitual- Como raramente a conta a saldar inclui, exclusivamente, unidades certas da moeda em vigor, digamos que aparecem uns restos, em cêntimos, que devem mudar de proprietário. Uma das frases habituais que nos dizem é: Pode arranjar 37 cêntimos? (Ou outra importância que corresponda à soma a liquidar).

Sendo eu, como confesso, um embirrante, quando não resisto digo: de me as moedas estragadas que tentarei arranjar! Se a pessoa à minha frente não ficar espumando pela boca, esclareço: É que esta é umas das frases em que aquilo que se diz não corresponde, literalmente, ao que se pretende dizer. Nesta ocasião a pergunta deveria ser: terá, por acaso, essas moedas para fechar a conta? Ou outra equivalente.

Retrocedendo na idade, mais uma vez, recordo que dei muitas gargalhadas quando via uma vinheta ilustrando um homem caído na rua e com um facalhão espetado no peito. Um passante perguntava-lhe, muito compungido: Isto dói-lhe? E o visado respondia, invariavelmente, “só quando rio”. E esta fraca anedota, gráfica, aparecia com frequência. A conhecia de cor. Mas mesmo assim reagia como se fosse a primeira vez.

Dias atrás, andando confiado no piso que tinha pela frente, coisa que nem sempre podemos valorizar assim dadas as características da muito famosa e estimada calçada portuguesa, dei de pantanas no chão. Bati com a cabeça, com a testa propriamente dita, fazendo um barulho notável (dado que estava oca, não admira..) Prontamente surgiram seis ou mais pessoas, algumas com telemóveis prontas a tirar testemunhos gráficos, e perguntavam (em coro desafinado) dói muito? Por acaso não sangrava nem apresentava um "galo" e por isso limitei-me a responder, erguendo-me (com ajuda),NEM POR ISSO, SEMPRE TIVE A CABEÇA MUITO DURA... E é verdade!

E fui andando... como pertence responder e agir.

Saúde e boas castanhas, é o meu desejo.