sexta-feira, 30 de junho de 2017

CRÓNICAS DO VALE cap 3

(este capítulo já foi corrigido)

Onde se referem os arrazoados de uma convocatória

Ainda não eram dez horas da manhã e o funcionário da Junta andava pela aldeia à procura do Zé Maravilhas. Trazia na mão um papelinho, dobrado e metido num envelope de cor amarelo velho, que o Senhor Presidente lhe incumbiu que entregasse, pessoalmente, em mão própria, a quem estava endereçado.

Localizou o indagado na sua horta, já finalizando a rega recomendada para refrescar as hortaliças que sempre cuidou com esmero. Ao abrir o sobrescrito viu que só continha uma linha de texto: Solicita-se ao Senhor JOSÉ SOUSA MARAGATO para se apresentar, logo que possível, no gabinete do Senhor Presidente da Junta de Freguesia. Nada mais.

Vendo que, desde que o Zé tem memória, o ser referido pelo seu nome oficial raramente, por não dizer nunca, era corrente na aldeia, pensou, sem hesitar, que já tinha rebentado a bomba que tão detalhadamente preparara. Uma daquelas premonições que os que gastam mentes pensantes recebem, como se enviadas pelo Santíssimo. Salvo seja!

Este encontro, que certamente não será para me pedir em casamento pois que as mais recentes modas levam décadas a chegar nestes lugares recônditos do Portugalito profundo, e eu não estou afim de me juntar a um macho. Dando o benefício da dúvida à masculinidade de presidente, a falta de sintomas que me levassem a duvidar. Entendo que me devo fardar com requintes de malvadez. Não sendo eu membro de nada que implique ter uma vestimenta oficial, seja pelo menos de bombeiro ou músico da banda, vou envergar o fato dos enterros. Nada mais indicado, pois prevejo um funeral mandado, como os bailes mandados.

Posso entrar? Estava à sua espera, senhor Maragato. Se me permite, o seu cuidado para desta vez não se me dirigir pela alcunha com que sempre me tratou, e procurar o nome na minha ficha, que sendo um apelido nada frequênte, antes muito estranho, por estes lados, sinto-me incitado a lhe esclarecer que não passa, tal como o adquirido de Maravilhas, de ser também uma alcunha, herdada do meu avô Paco, com o meu pai Ricardo de intermediário. O meu avô chegou a Portugal já crescido, viajando desde o Reino de Leão das Espanhas (uma classificação de Reino que só fica nalguns documentos oficiais e nos livros de história). Mas, ainda hoje, existe uma zona que se chama de Maragateria e os seus naturais são, todos, maragatos.

Peço desculpa por esta intromissão mixta de história e linguagem, e que difícilmente lhe pode interessar. Não resisti! « Então, Senhor Presidente, qual é a novidade tão urgente?

De entrada digo que gostei de saber de onde vem o seu apelido, coisa que desconhecia por completo (não admira, sendo ele burro encartado!). Tenho o propósito, a partir de hoje, de esquecer a merecida alcunha de Maravilhas, apesar de reconhecer que da sua voz surgem, com frequência, mostras de conhecimento que não são habituais entre esta gente pacata e laboriosa (o homem quer ficar de boa imagem com estes louvores gerais aos seus rústicos súbditos) Mas ontem, já noite cerrada, quase coincidindo com as badaladas da meia, chamou para casa o Presidente da Câmara (agora deveria acrescentar: Que Deus o guarde de saúde por muitos anos) com nervosismo evidente, ordenando que travasse de imediato o seu projecto, irreverente, ignominioso e provocador, ofensivo dos bons costumes. 

Deu a entender que teve pressões desde a cúpula partidária, eclesiástica, com o secretário do Bispo da diocese incluído, que referiu o insulto ter chegado ao Patriarcado! E até do comando provincial da GNR. Todos eles em consonância no sentido de matar esta iniciativa antes que se tornasse conhecida nos tabloides que educam, no melhor e no pior, a nossa fiel população.

Pode acreditar, Senhor Maragato, que eu estava encantado com a sua proposta, apesar de que encontrei a minha senhora estava feita uma fera, quando eu cheguei a casa depois da última reunião na junta. Não sei como ela soube tão depressa. Ali ouve bufos. Eu não! (pois não, seu velhaco. Imagino que mal nos viste sair pela porta fora fostes meter tudo no cu do Presidente da Câmara. Quem não te conheça, que te compre!) Mas juro que lamento ter que lhe transmitir estas ordens superiores. (tu o que sonhavas era em poder ver muitas vaginas e poder saborear alguma chuva doirada! Ficaste com as ganas! Ou pensavas que aquilo ia pelo sério?)

Senhor Presidente, não se apoquente, pois eu de si sei que não tenho razões de queixa e que ouviu atentamente aquilo que ia expondo, e até vi que ia tomando apontamentos (Toma e engole, pensavas que, estando eu virado para a assistência, não reparei? Eram para fazer o relatóri que enviastes aos teus chefes e apoiantes. Tu, que és o bufo maior desta terrinha de caca, graças ao teu empenho em nos manter no fim da fila) Agora, que já cumpriu com as ordens emanadas lá de cima, se tiver tempo para me ouvir, gostaria de fazer uns comentários à situação. Mas mesmo que tenha que ser um diálogo reservado, de preferência neste seu gabinete, penso que seria pertinente que os dois, sem ser de braço dado pois não é coisa para exageros, fossemos tomar um café ali no bar em frente e dar azo a que a clientela veja, e depois distribua, que não andamos à pancada. O que lhe parece, Senhor Presidente? 

Estou perfeitamente de acordo com a sua proposta, Senhor Maragato. Vou deixar recado, pelo telefone interno, à secretaria de que estarei ausente por um bocado e que não me demoro. Vamos? (podes ser, e és, velhaco, mas sou mais astuto do que tu. É mais fácil dar-te a volta do que ao meu neto que mal sabe falar. A minha filha diz que quem sai aos seus não é de Genebra!)


Continuará? Só o bracarense é que deu ânimos.

quinta-feira, 29 de junho de 2017

CRÓNICAS DO VALE Cap. 2

(texto corrigido e com tentativa de eliminar gralhas)

Sendo eu o Presidente da Assembleia Municipal fui forçado, por pressões de âmbito reservado, vindas oralmente de residentes na aldeia, para convocar esta sessão, de cariz extraordinário, destinada a dar seguimento ao tema do FESTIVAL DA CHUVA doirada. Admitindo que nenhum dos presentes se vai opor, entrego a palavra ao companheiro e amigo Zé Maravilhas, com o qual, antes de abrir a sessão, combinamos que manterá via de diálogo aberto com qualquer um dos presentes, esteja de acordo ou se oponha, com argumentos ponderáveis Vos deixo entregues ao Zé.

Amigos e vizinhos. Ao longo destas horas pude meditar, interrompido em diversas ocasiões, por amigos que desejavam esclarecimentos sobre a estrutura e funcionamento deste Festival da chuva doirada. Por enquanto estamos na fase de gestação, só existem apontamentos soltos, que devem ser ponderados e ordenados. Mas o que me foi dado avaliar é que existe um número, já numeroso, de conterrâneos interessados em que algo de novo, e espectacular pela originalidade mediática, tenha lugar neste canto de Portugal. Também chegaram até os meus ouvidos zun-zuns de que o assunto em causa criou um certo mal estar, nomeadamente entre os mais castos. Castos, e respeitadores dos preceitos emanados do púlpito, mas só apariência. De facto são tão devassos na intimidade quanto possam ser os que aderiram fervorasamente à ideia. Sem esquecer que inclusive aqueles retraídos que não se atreveram a dar rédea solta aos seus instintos certamente que pecaram em pensamento. E na doutrina me ensinaram que pode-se pecar tanto em pensamento como em obra.

De entrada posso afirmar que na sessão anterior não me sentia minimamente motivado. Mas quando um dos presentes propôs umas festas invocatórias de chuva senti que uma coisa se disparou na minha mente. É provável que, inconscientemente, fizesse uma ligação entre a proposta e o nome da nossa aldeia.

Sempre antevi a influência de alguma picardia neste Vale do Pito, e tentei descobrir como e quando se gerou tal nome. Uma das hipóteses que me coloquei foi que se devesse às comunicações entre os pastores que acompanhavam os rebanhos de uma e outra escarpa que limitam o vale, com o recurso a apitos ou assobios modulados. Outra hipótese, com ligame ao que insinuou o anónimo bracarense, e que as duas ladeiras do vale e mais as filas de estratos verticais que se observam entre as águas da ribeira, podem dar a ideia de uma vagina, zona da anatomia feminina que a norte do Mondego é denominada, popularmente, como sendo o pito.

O que é certo e sabido é que os nortenhos, quando lhes dizemos o nome da nossa aldeia, abrem um sorriso maroto e um olhar sumamente malandro. Nunca me aborreci com isso, uma vez que fui engendrado sem artifícios de modernice e vim a este mundo sem negar o nome do Vale.

Confesso, sem vergonha, que a velocidade com que esta ideia se instalou entre nós, não me facilitou conseguir um esquema correcto e aceitável para o certame. Especialmente porque, sendo patrocinado (como espero que assim seja) pela edilidade, teremos que ser muito cuidadosos na forma em que se dê a conhecer, sem ofender os espíritos mais timoratos -esta vai para a minha lista- mas tampouco podemos escamotear um tema que deve ser do conhecimento de todos os adultos, e hoje até de alguns adolescentes.

O festival, a ser, será dependente da colaboração das senhoras, sejam elas residentes entre nós, coisa que sinto ser difícil numa primeira edição, ou de pessoas mais descontraídas, ou até profissionais nas artes da nudez exposta.

Com uma mão alçada um dos presente pergunta; E poderemos ver, ao natural e mesmo que sem tocar, mas de perto, todas estas espectaculares novidades, velhas como o mundo? Como? Pagando certamente. Haverá descontos para os idosos? Eles merecem!. Durará muitos dias? Os da terra terão direito a entrar primeiro ou terão que aguardar na fila? Quem entrar na sala só poderá ficar uns minutos contados? Tenho tantas perguntas!

Caro conterrâneo, são muitas perguntas, que ainda não posso responder, mas que proporcionam pistas de importantes pormenores que, espero, serão tratados com ponderação. Tenha, tenham, paciência e ajudem a organizar este dito “invento”.

Restringindo-nos exclusivamente à chuva doirada propriamente dita, existem vários factores a ponderar, e até a proporcionar classificações entre as concorrentes. Assim, e num balanço repentino e por isso mesmo não exaustivo, referiria em primeiro lugar, e aproveitando a colaboração do anónimo bracarense, ser merecedor de valorização a fonte donde mana a chuva. Aí temos muitas possibilidades, desde uma bica no meio de um matagal, normalmente escuro como nos contos de bruxas, mas também ser possível aparecerem selvas loiras, ruivas ou pintadas com alguma das cores psicadélicas que vemos nalgumas cabeças. Terão as pilosidades em cores a condizer? Não esquecemos a existência de montes de Vénus totalmente desprovidos de pelos, seja de seu natural ou por depilação, total ou parcial, pois de tudo podemos encontrar “na vinha do Senhor”. Recordo que a minha avó dizia, com certa frequência, que o pudor e vergonha era só mania, pois quando somos batizados fica todo o nosso corpo com isenção de pecado.

Abordando o fluxo de chuva também aqui teremos variantes, que não necessito especificar pois dou por certo que todos conhecem o que vou dizer , e que concordarão merecem ser atendidos, com o pormenor correspondente.Temos a cor da urina, desde o trnsparente e límpido, passando aos diferentes tons de amarelo doirado, até chegar a uma tonalidade mais escura; O fluxo, abundante, tumultuoso, frouxo, efémero ou, persistente. definido ou em dispersão. O aroma ou cheiro, que pode ser agradável como perfume, com fragância cativante ou odor repulsivo.

E o simpático barulho?, pergunta um dos presentes.

Tem razão, ainda podemos e devemos qualificar, dada a sua importância para quem tem o privilégio de estar presente, o som que acompanha o fluxo, que tanto pode ser pouco intenso como atingir a intensidade de um assobio. Pessoalmente aprecio uma descarga veloz, impetuosa, longa, e ruidosa.


Até aqui temos pano para mangas para dar classificações idóneas.

quarta-feira, 28 de junho de 2017

CRÓNICAS DO VALE cap 1º

(este capítulo já foi revisto, corrigido e completado)

A última reunião da Junta de Freguesia de Vale de Pito foi excepcional por longa e animada. Após os temas do dia, que eram de pura rotina e por isso pouca luta provocaram, em verdade nenhuma, surgiu, por boca do presidente um assunto que era falado pelos residentes desde faz mais de um ano, sem que se tivesse atingido o tal ponto de não retorno, entendendo por isso que era necessário agir sem mais delongas.

Disse o Presidente que a nossa aldeia, com tão espectaculares paisagens, bons produtos de horta; vinhos que vendem toda a produção, e mais se venderiam se as vinhas fosses maiores; lindas raparigas, esposas esbeltas, simpáticas, asseadas, sempre com bom humor e apetitosas, para benefício de quem a tal se habilita seguindo as regras sociais; casas limpas e repletas de flores; ruas pavimentadas; fontanários; internet gratuita em todo o perímetro urbano, e mais que sabem. E mesmo assim estamos esquecidos pelo mundo em geral. Não temos imagem de marca.

Por isso, meus estimados conterrâneos, aceito e proponho que lutemos pela ideia de criar um festival que nos coloque nas primeiras páginas dos tabloides e da televisão generalista. -Bem se nota que o presidente está à par de tudo o que educa no Correio e na Bola!-

Admito que é difícil avançar desde zero nesta temática que está gasta em tantos festivais que por aí se geraram. Apontei neste papel as ideias que me surgiram e me foram sugeridas por alguns de vós. E lamento que algumas, a maioria sendo franco, não sejam exequíveis -eu não disse que o homem é culto?- Não temos castelo, nem muralhas ou templos românicos que nos possibilitem o armar ao pingarelho de festas medievais. Não temos salas para fazer um festival de cinema. Quanto à doçaria tradicional. Fora das argolas, arroz doce, arrufadas, pasteis de grão ou de feijão, e fritos, que se encontram em qualquer lado, tampouco me parece que por aí possamos ir longe. Uma eleição de miss Vale do Pito, temos poucas moças capazes e dispostas a desfilar de tanga Penso que  não encheriamos uma plateia, nem sequer a da casa do povo.

Uma mão se levanta propondo um Festival da chuva! , que tanta falta nos faz nestes meses de extrema canícula -outro letrado!- Poderíamos organizar procissões rogativas de manhã, à tarde e à noite, acompanhadas de charanga -o nível vai bom!-, aproveitando os que tocam instrumentos de sopro na banda e nos bombeiros municipais.

Como Presidente sinto ter que rebater o interesse que os forasteiros pudessem devotar a estas procissões. É coisa ultrapassada. A tropa acredita mais, ou menos, no boletim meteorológico da televisão do que nas ajudas de santos ou mesmo do trio Deus Pai-Filho-Espírito Santo. Muitos o avaliam como uma geringonça desactualizada. A não ser que nestes cortejos, além de rezas e andores incorporássemos uns flagelantes -vamos ter que criar uma academia de linguistas!- e outros penitentes que carreguem cruzes e outros artigos de tortura.

O Zé Maravilhas levanta o braço e pede a palavra: Pois eu vejo grandes possibilidades num FESTIVAL DA CHUVA, sempre e tanto que se entre na variante da chuva doirada! -este visita a página dos anúncios com foto no Correio!-

Óh homem, por donde nos quer meter? Isto que propõe implica cavalarias altas! Nem vale a pena imaginar esta proposta. Não temos capacidade para lutar num terreiro destes. Disse o Presidente da Junta de Freguesia.

Tudo depende de como se encarar a coisa, Tem que ser com tacto e malandrice q.b. Enquanto ouvia a discursata anterior já fui montando o esquema, que poderei discriminar, caso o pedirem.

De entrada, e para não espantar a caça, embora todos estejam interessados no que a proposta induz, referiria que o adjectivo “dourado-dourada” é usado correntemente. Desde vinhas douradas, vinho dourado, fatias doradas, pasteis dourados, e tudo o mais que não recordo agora. Mas um festival da verdadeira chuva doirada, se preparado com sageza -toma! Faltava este!- teria uma procura que tomariam os das festas e mercados medievais. Eu, Senhor Presidente, até propunha que registássemos este nome antes de que os vivaços nos copiem. E tenho outra possibilidade na manga, que não adianto!

Um expontâneo interrompeu perguntando se na animação de rua não se poderia incluir uma imitação da dança da chuva dos peles vermelhas americanos, seguindo aquilo que os cineastas apresentaram em diversos filmes antigos, mesmo que aquilo fosse inventado nos miolos da cabeça dos argumentistas e produtores. O Zé Maravilhas retorquiu que lhe parecia muito oportuno e aproveitável. Era questão de trabalhar afincadamente para organizar o "invento", até disse ter a certeza de que ao longo da preparação irião aparecer capítulos interessantes. Entre o Coreeio e a Internet podem tirar o curso de espectáculos eróticos sem grandes dificuldades.


Zé Maravilhas insiste na sua: Pensem nas possibilidades! Aqui viriam stripers, acompanhadas dos seus empresários, ou chulos se preferirem, mais os comerciantes de artigos eróticos; montariam pavilhões no campo de futebol e terrenos adjacentes. Os visitantes, nacionais e estrangeiros ficariam loucos para alugar quartos por noite ou por períodos curtos... Teriamos que habilitar um espaço para campistas, de preferência ao pé do nosso ribeiro, que por enquanto não está demasiado poluído, mas que aproveito o momento de atenção para pedir que, entre todos, retiremos os plásticos, garrafas, embalagens e lixo em geral que os zelosos cidadãos, "respeitadores da natureza" largam por todo lado na maior das descontracções.

Resumindo e terminando, um festival deste género pode trazer um sem fim de possibilidades de negócio, incluídos aqueles considerados como honestos.

terça-feira, 27 de junho de 2017

SE AS PESSOAS NÃO TEM JUÍZO ...



O tema das interferências com os espaços reservados à aviação por parte de drones, potenciais causadores de uma tragédia evitável, é algo de muito grave, e que tem passado como sendo uma banalidade sem importância. Recordemos os danos que uma simples ave de médio porte, seja um pombo, uma gaivota, ou outra qualquer, já causaram ao embater num avião. Pois estes aparelhos, de uso pessoal, são mais pesados e mais perigosos do que uma ave, além de que estão sob o comando de um ser racional (coisa de que me permito duvidar)

Aquilo que começou no domínio militar directo dos governos ao preparar aviões que podem ser comandados, via rádio e comunicações por satélite, numa eficiência que nos dizem ser equivalente, ou melhor, à de ter um piloto humano, e bem treinado, aos comandos, sofreu um processo de banalização que desceu até colocar no comércio livre, aparelhos voadores cada vez mais potentes e capazes de executar tarefas que excedem a simples brincadeira de crianças.

Ao longo deste mês de Junho foram noticiados, entre nós e limitando-se ao espaço aéreo nacional, pelo menos sete ocorrências com potencial perigo de colisão, e daí o alarme pertinente. Dizem que existe legislação que restringe a altitude e as zonas donde se pode brincar com estes aparelhos. Mas o facto de terem surgido, repetidamente, muito perto das trajectórias de aeronaves comerciais, repletas de passageiros, aparelhos do tipo que genericamente se denominam como “drones”, nos alerta de que a inobservância destas regras, ou mesmo leis, portarias, diplomas ou seja la o que for, não é obedecida por aqueles que os utilizam.

Não basta dizer que são uns irresponsáveis, e potenciais criminosos. Devemos entender que estes “brinquedos” não podem ser entregues a qualquer um que tenha capacidade económica, e falta de bom senso, para os adquirir. Se analizarmos o tema com atenção, os tais drones, capazes de atingir alturas superiores a umas poucas dezenas de metros, são, de facto, equivalentes a armas de fogo, dado que podem causar a morte a inocentes. Sem referir a capacidade bem reconhecida de poderem devassar a privacidade.

Os governantes, tão ciosos de se defenderem entre si, tem a obrigação de regular e proibir, com confisco e pesadas multas, a quem comercialize, compre e utilize estes aparelhos de média e alta capacidade, sem a devida autorização e registo por parte das autoridades competentes. O mais recomendável seria banir, em absoluto, a comercialização destas perigosas aeronaves miniaturizadas.


Deixar estes aparelhos nas mãos de incompetentes é ainda mais grave do que o criar cães de luta, ou comercializar armas de fogo sem respeito às possíveis consequências a terceiros, sempre inocentes.

sábado, 24 de junho de 2017

VALERÁ A PENA ?



Após estes dias terríveis em que, mais uma vez, o fogo desbastou, queimou, matou, feriu e destruiu tanto quando quis, sem que os esforços de profissionais e voluntários, mais os ditos populares, conseguissem travar o desastre nas primeiras horas, e assim evitar o muito que sucedeu, despertou em mim um impulso irresistível para quebrar uma lança, mentalmente, pois que jamais seria promotor de uma revolta violenta.

Porém sinto que os bons propósitos, promessas e palavras de consolo só podem conduzir a que sintamos que os cidadãos que não estão em situação propícia para se poder beneficiar com a já chamada indústria do fogo, estão, novamente, a ser abusados, ou gozados com cara séria. Não é fácil, ou, mais correctamente, é impossível, acreditar nestas promessas e discursos de ocasião, recordando que ano após ano se repetem desgraças semelhantes e se ouvem, mesmo que proferidas por outras bocas, equivalentes, as mesmas histórias de encantar.

Muitos já conhecem os bons negócios que se fazem em volta dos incêndios florestais. Desde a compra de equipamentos, tantas vezes dados como obsoletos ou inadequados no ano seguinte, a compra de viaturas, de aparelhagem diversa, de compra ou aluguer de meios aéreos, alguns deles comprados com preços exorbitantes quando já estavam nos parques de sucata no Leste europeu. Etc. Uma lista infindável que implicam nomes de pessoas bem concretas. Existe um comércio de vulto à roda de um fechar de olhos à perda de bens privados e vidas humanas.

Tudo isto está extensamente escrito, com datas e valores, tanto nalguns jornais -poucos, pois que os interesses económicos não gostam que temas tão quentes se coloquem à disposição da plebe- e principalmente no circuito informal das redes sociais, onde aparecem não só denúncias e comentários correctos como, também, colocam a contra-informação que beneficia aos que lucram com a desgraça alheia.


A repetição imparável desta situação e o sentimento de impotência, dada a falta de reacção colectiva, impede-me a continuar neste tema. A revolta que sinto não a posso transferir.

sexta-feira, 23 de junho de 2017

VIDEO KILLED THE RADIO STARS


Uma composição de The Bugles que foi um êxito em 1979, pela denúncia das consequências, nefastas, que a evolução trazia na manga e que se tornavam irreversíveis.

Inicialmente tinha previsto intitular esta crónica forçando uma similitude entre o eucalipto -que mais uma vez está no foco dos sucessos e estamos cientes de que para o ano voltaremos ao mesmo- e os maravilhosos progressos da electrónica de uso corrente. Daí que tinha magicado EUCALIPTOS E ELECTRÓNICA SÃO ASSASINOS.

Explicarei o porque recordei esta canção:

Esta manhã, depois de deixar o leito e iniciar o percurso caseiro, dei por mim, mais uma vez, entre as muitas com que este pensamento me surgiu, ver que a extensa colecção de molduras que albergam fotografias de antecessores, nomeadamente familiares, incluindo filhos e netas, ficou interrompida subitamente com a utilização, massiva e exclusiva, das fotografias electrónicas.

Em álbuns e caixas de arquivo insisto em manter guardados testemunhos de avós, familiares directos e colaterais, incluindo amigos e até a minha figura. Suspeito que, tal como foi acontecendo com outras peças de arquivo modernas, também esta memória actual, que os mais fervorosos adeptos colocam no arquivo do computador, ou em peças de suporte que se diz serem de fiabilidade a perpétuidade, terão a surpresa, ou nem isso, de ver que a possibilidade de aceder a estes arquivos vai desaparecer na poeira da evolução.

Se os discos de vinil, que muitos ainda continuamos a guardar, já são de reprodução difícil, e para muitos impossível, dada a carência de aparelhagens adequadas, também sabemos que o mesmo aconteceu com as fitas de música. A seguir “morreram” as vídeo cassetes e pouco falta para ficarem obsoletos os discos de computador. Quem se lembra das consolas de jogos que foram viciantes para os nossos filhos, hoje por sua vez pais de outros viciados em jogos em telemóveis, que nunca são da última geração, nem sequer a penúltima?

O que teremos para satisfazer a nossa vontade em avivar a memória visual, caseira, em disposição imediata, daqui a breves anos?


O torrente indomável do progresso electrónico, mais o das novas tecnologias vai trazer o maná para as novas gerações, ou, pelo contrário, conduzirá à deshumanização e ao caos? Espero que não tenha oportunidade para ver o que irá surgir, quando frutificar este casamento entre tecnologias de ponta e consumismo.

quarta-feira, 21 de junho de 2017

A ACTUALIDADE DESACTUALIZA-SE



Arrisco-me ao afirmar que todos, absolutamente todos, somos conscientes de que aquilo que hoje nos é apresentado como de primeira magnitude, amanhã ou poucos dias mais, será afastado da ribalta por outro tema, possivelmente de menor valia social, nacional ou internacional.

Quem conhece em profundidade a volubilidade dos cidadãos, e as técnicas para escamotear temas que incomodam, são os políticos, os mesmos que com frequência e por mérito próprio desqualificamos. Os cidadãos, practicamente anónimos, é que valorizam os seus eleitos de uma forma irreal. Não captamos que eles agem, sempre, consoante os seus objectivos, que raramente até podem coincidir com as prioridades dos cidadãos. Mas depressa darão uma machadada que nos coloque na vida real.

Uma das manobras mais usadas quando se encontram no que parece ser um beco sem saída, popularmente “com as calças na mão”, é a de fazer promessas de acções importantes, necessárias e que até já podem ter sido proferidas em ocasiões anteriores. Sempre com cara séria e mostras de virem a ser zelosos cumpridores. Consoante os temas, e as ocasiões, juntam-se uns abraços, puxa-se alguma lágrima, organizando sempre o espectáculo com a presença dos meios de comunicação, especialmente das televisões. Dá realce e brilho, mas em nada compromete, pois estes mesmos comparsas se encarregam, com zelo profissional, de arrumas o assunto na canto mais escuro da sua despensa mediática.

Só os grandes artistas, os que não se engasgam ao mentir e prometer, é que conseguem singrar na difícil tarefa de governar. Eles tem que aguentar uma larga lista de temas, alguns velhos de séculos, anos, meses ou dias, e outros que surgem de improviso.

Sabendo isso, a cidadania já caleja no azedume de ver que as promessas poucas vezes de cumprem, decidiu actualizar um dos muitos adágios que, desde séculos atrás, cristalizaram o saber e o cepticismo do tal povo que nada ordena.


Dizia-se O PROMETIDO É DEVIDO, mas a realidade vivida esclarece que O PROMETIDO É DE VIDRO, dada a facilidade com que se quebram as promessas. E mais quando elas são enviadas desde o topo, ou por alguém que se admite o representa. 

terça-feira, 20 de junho de 2017

AFINAL RECORRO A OUTRO OPINADOR

Falto à minha promessa de ser uma vez sem exemplo. O escrito que transcrevo merece ser conhecido pelos meus 3 ou 4 leitores mudos e quedos.

Apanhado da BLASFÉMIAS, que habitualmente está dedicada, em exclusividade, e malhar no governo, na troika e na esquerda em geral. UM ASCO, por serem facciosos obcedaos. Mas tal como o burro soprou na flauta e ela tocou, uma nota, por vezes escrevem arrazoados correctos.


por rui a.

Todos os anos, nos meses de Verão, Portugal arde de norte a sul, de leste a oeste. Todos os anos, depois da «época de incêndios», os políticos fazem declarações exaltadas contra quem governa ou quem governou, por não ter resolver ou não ter resolvido o problema. Todos os anos os governantes anunciam novas medida que resolverão, ou reduzirão muito, este horrível drama nacional, «já no próximo ano». Todos os anos se reclamam duras penas contra os donos de terrenos que não estejam devidamente limpos e preparados para a época incendiária. Todos os anos se pedem castigos mais severos para os responsáveis por estes crimes. Todos os anos choramos os mortos. E todos os anos exaltamos a heroicidade e a coragem dos nossos bombeiros.
Todos os anos é assim, desde que me conheço. Com excepção de alguns poucos em que o clima ajudou, todos os anos Portugal arde, de lés-a-lés, perante a impotência de todos, governantes e governados. Aí há uns dois meses, um responsável, de cujo pelouro não me lembro, teve, na TSF, um assombro de honestidade e disse o óbvio que ninguém aceita reconhecer: se chovesse um pouco mais antes do Verão, as coisas correriam melhor, porque as florestas ficariam mais húmidas e menos explosivas; caso contrário, que Deus nos ajude! Neste ano, desgraçadamente, não ajudou.
Estamos condenados a isto? Estamos, enquanto Portugal for um país pobre, pouco desenvolvido, sem riqueza privada que seja capaz de manter e preservar o que lhe pertence. Porque, apesar das proclamações de António Costa, boas para lhe serenar a consciência e não o fazer perder muitos votos em Outubro, a verdade é que, se alguém falha, ao longo de todos estes anos, é o estado português. Se bem me recordo, uma das funções do estado, de qualquer estado, a primeira razão que justifica o «contrato social» é a de prover a segurança dos seus. Para isso lhe pagamos impostos. Que, no caso português, não são baixos.
Pois bem, o problema não é um problema: são muitos e, afinal de contas, sempre o mesmo: Portugal não tem dinheiro e os portugueses não têm dinheiro. Não tem dinheiro, o estado, para mandar limpar os seus terrenos (antes de chatearem os privados verifiquem como estão as matas públicas…), para montar meios humanos e técnicos de prevenção e de fiscalização, para comprar e manter meios eficazes de combate ao flagelo dos incêndios. Não têm dinheiro, as pessoas comuns, para mandarem limpar os seus terrenos (antes de vociferarem, informem-se sobre o preço do m2 da limpeza de terrenos de mato), para os cultivarem com espécies menos perigosas para o ambiente e para os incêndios (os eucaliptos são um recurso de «tesos» e de quem não acredita no retorno de um investimento florestal a médio, longo prazo…), enfim, para manterem o que é seu. Não tendo, uns e outros dinheiro, o estado faz leis! As leis são a confissão da sua incompetência e impotência face a este problema. Os particulares procuram esquecer que são proprietários.
O problema de Portugal com os seus incêndios só se resolverá a médio, longo prazo. E se quem nos governa não apostar no empobrecimento das pessoas e se as deixar (já não digo incentivar) ganhar dinheiro e mantê-lo na sua propriedade. Tudo o mais é conversa para aliviar consciências e ganhar votos, cujo dramático resultado testemunhamos ano após ano.
rui a. | 20 Junho, 2017 às 16:36 | Categorias: Geral | URL: http://wp.me/pai

segunda-feira, 19 de junho de 2017

UMA VEZ SEM EXEMPLO

Não está nos meus hábitos ligar, sem criticar mentalmente, os escritos que aparecem nas BLASFÉMIAS. Mas desta vez entendí que as reguadas merecem ser conhecidas por mais meia dúzia de pessoas, que são as poucas que seguem este espaço.

O meu pedido de desculpa caso não apreciem esta retransmissão em diferido.

Virella

de Há Fogo, Há Governos Incompetentes

por Cristina Miranda
A história da árvore descoberta em 24h no meio de centenas de hectares de mata no calor da noite, como "única arguida" neste processo hediondo de mortes no incêndio de Pedrógão Grande, não convence ninguém. Como sempre, sempre acontece, nas governações socialistas A CULPA É SEMPRE de alguém ou alguma coisa MENOS de quem governa. Volvidos ano e meio, APENAS de governação, esta aliança de esquerdas consegue o maior feito jamais visto em Portugal num tão curto espaço de tempo: o mérito de ter conseguido as duas maiores tragédias em área ardida e mortes em incêndios.
A verdade é só uma, doa a quem doer: os incêndios em Portugal são da responsabilidade EXCLUSIVA dos governos. Somos o único país no Mundo que "abre" todos os anos a "época de incêndios" amplamente noticiados nos média como se de uma coisa banal e perfeitamente natural se tratasse! Apesar de termos um país pequeno com florestas pouco densas,  Protecção Civil, militares, bombeiros, Kamovs, legislação, estudos mais que suficientes sobre reordenamento de território e estarmos integrados na UE, ainda conseguimos o feito de em pleno século XXI termos povoações a morrer SOZINHAS no combate às chamas!! Valha-me Santa Eugénia!!!! Mas que raio de país de bananas é este? É claro que a responsabilidade não começa e acaba neste governo. Já somos fósforos queimados desde que Salazar foi à vida. Pois claro. Alguém se lembra porque não haviam fogos nessa época? Claro que não convém lembrar... A República das Bananas esteve mais ocupada em fazer crescer as clientelas e lobbies a viver à conta do povo do que zelar por eles. Foram 43 anos a fazer crescer o Estado de forma criminosa para se servirem dele descaradamente e não para servir os cidadãos como é obrigação.  E o resultado está aqui bem à vista. A cada ano que passa as proporções do problema adensam-se. E morre cada vez mais gente. Porque dizem eles que não há dinheiro... Mas houve 18 milhões  para amigos plantarem eucaliptos!!
Mas, quando se está no poder, e não se faz nada para  impedir de todo estas tragédias, somos AINDA MAIS responsáveis que todos os anteriores. Porquê? Simplesmente porque se ignorou o passado recente. Simples. E quanto a ignorar e tomar medidas desastrosas, esta Geringonça de irresponsáveis entrou com Pedrógão Grande para o Guiness. Porque a  9 Junho 2016 a Ministra da Administração Interna reverteu a decisão do anterior Governo recusando concentrar na Força Aérea os meios aéreos do Estado para combate a incêndios e emergência médica.  Porque em 14 Agosto 2016 António Costa afirmou que as verbas para combate a incêndios seriam desviadas da Segurança Interna. Porque em 28 Agosto 2016 depois de ter sido conseguido 50 milhões da UE para a compra de aviões de combate aéreo, pelo anterior executivo, António Costa decidiu recusar esse dinheiro. Porque em Abril 2017 António Costa anunciou que os helicópteros Russos Kamov só voltariam a ser utilizados em 2018, devido aos elevados custos de manutenção. Porque a 18 Maio 2017 António Costa decreta que  bombeiros passarão a ir  de autocarro ou comboio para combater incêndios por razões de contenção de custos. Porque em 2017 para se obter o melhor défice do planeta fizeram-se cortes cegos e obscenos nos meios dos soldados da paz e suspendeu-se remunerações por falta de verbas.
E depois desculpabiliza-se a acção medíocre e irresponsável de todo um governo por via de uma trovoada seca. A sério? Então se assim foi, que respondam: como pode o raio que supostamente caiu numa árvore às 18h ter provocado um incêndio que começou às 15h com ausência total de trovoada segundo os populares? Como é possível não haver registo das horas e localizações das  descargas eléctricas desse dia no IPMA? Porque razão não se viu um único bombeiro a pé ou de carro, um único meio aéreo?  Onde estavam os 700 bombeiros que a Protecção Civil dizia ter disponibilizado e que ninguém viu? Porque razão as pessoas que tentaram fugir foram encaminhadas pela GNR a seguir para a "estrada da morte"? Porque razão às 5h com fogo por todo o lados da estrada, ela ainda não estava cortada? Porque razão só depois do fogo ter feito vítimas, foi notícia nos noticiários? Porque razão o Sr. Afectos não deu uma única palavra sobre responsabilidade do governo nesta acção? Com um fogo de 4 frentes activas porque demorou tanto o pedido de ajuda internacional?
Respondo eu, sem problemas: porque somos governados por bananas. Não há governo, há marionetas. Não há liderança, há ocupação de lugares de chefia para encher bolsos. Porque é nos momentos de crise que se vê a qualidade de quem governa na forma como acodem aos problemas e nas medidas implementadas para os resolver. E estes não resolvem nada, maquilham a realidade.
Podem guardar as romarias ao local da morte, lágrimas de crocodilo e discursos emotivos para os vossos gatos lá de casa. Quem viveu a tragédia, perdeu tudo inclusive familiares sabe bem que foi abandonado por um bando de políticos hipócritas que só aparece no fim das tragédias e antes das eleições. 
Tarde demais. Porque onde há fogo há sempre governos incompetentes culpados pela inacção. Quem paga impostos elevados como nós em Portugal devia ter um serviço público de excelência. Se não o tem é porque o desviam para outros fins. Ponto.

SE NON É VERO, É BENE TROVATO



Este escrito teve um título inicial de FÉ E RACIONALISMO, mas uma vez escrito optei por um outro (o que está como cabeçalho) que nos pode alertar para aceitar o aviso de que nem tudo o que luz é oiro. A razão desta mudança não é outra do que, mesmo que sempre circulassem notícias falsas e existisse a contra-informação, temos a impressão de que hoje atingimos a um cúmulo de informação que não deveríamos aceitar. Sendo assim é prudente desconfiar, e depois podemos lastimar que, de facto, nos enganassem.

Desta vez, caso o que vimos e ouvimos nos situam perante uma situação pouco habitual quando, já em pleno século XXI, julgávamos que a racionalidade tinha adquirido um nível de crédito que, sem dúvida, ultrapassava a habitual fé cega. Recordemos, para nos consolar, que muito tardou a Igreja Católica em aceitar que a Terra, nosso habitat, girava sobre um eixo e percorria uma órbita, não circular, em torno do sol. De onde se hoje não foi mesmo assim que as coisas foram ditas, pode ser que amanhã venham a ser confirmadas.

O actual Papa (da Igreja Católica, pois que existem outros papas em serviço activo) escolheu o nome de Francisco quando foi eleito pelo colégio, sob a orientação do Espírito Santo (creio que é assim que afirmam acontecer) na sua visita a Fátima, na data em que se celebrou o centenário da aparição da Virgem Maria aos pastorinhos ainda em estado de rusticidade acentuada.

Ao longo das notícias que se difundiram naquele dia, muitas delas sem o mínimo interesse, anunciaram que o Papa Francisco entendeu, por bem ser, afirmar que de facto o que aconteceu foram visões (mentais) e não aparições, assim como não podem ter existido diálogos ou discursos directos entre a mãe de Jesus e as crianças. Caso de facto fez estas afirmações, estaremos num momento histórico, só equiparável à anulação da sentença sobre Copérnico.

Possivelmente seria a primeira vez que um Papa, na dignidade de ser o máximo dirigente da Igreja Católica, teria a “ousadia” de colocar as pretensas aparições no seu estatuto real. Mas devemos notar que preferiu não entrar na catequização que de deve ter sido efectuada sobre aquelas crianças. Esqueceu ou deixou para outra ocasião. A não ser que valorize, prudentemente, não oferecer argumentos de peso aos críticos ateus.

Insisto: a ser verdade estas declarações que se atribuem ao Papa Francisco, muito do que se faz e diz em Fátima, e que é a base de um complexo negócio multimilionário, teria que ser actualizado, limpo de fanatismos sem sentido e orientar a fé dos crentes na divindade de uma forma mais espiritual, menos materialista.

Não podemos pensar em que os humanos, ou uma boa parte deles, abdiquem da sua fé no que não e palpável. O pensar e acreditar em divindades, sejam protectoras ou castigadoras, é inato para muitos. Tentar negar a sua fé. seja ela qual for, poderia colocar muitas pessoas num estado de orfandade anímica da qual dificilmente seriam capazes de ultrapassar.

Apesar desta necessidade de apoio, de travão, ou de orientação, que é sentida por uma notável parte da humanidade, desde os tempos mais remotos, aquilo que o Papa Francisco nos disse, (insisto: caso tenha-se manifestado como se noticiou) de uma forma subliminar, nas entre-linhas, é que antes de nos entregar cegamente a certas manifestações de credibilidade duvidosa, os crentes deveriam procurar saber e entender o que realmente aconteceu, e deduzir se de facto aconteceu algo notável, surpreendente, inexplicável.


Quem é apreciador de espectáculos de ilusionismo sabe que, por trás daquelas coisas inexplicáveis, existem truques que raramente o cidadão normal e corrente pode descobrir.

JÁ NOS HABITUAMOS



Não só é percetível que a cidadania deste Portugal, tão mal tratado pelos seus irresponsáveis, já se encontra no mesmo estado anímico daquele que foi sujeito a maus tratos desde a mais tenra infância. Ficou tão calejado que mais pancada ou menos pancada pouco o incomoda.

Apesar do alarido, do impacto visual e do sentimento de impotência junto à solidariedade, o facto de que TODOS OS ANOS, se assista à mesma cena e se oiçam não só choros e lamentos, relatos de terror e morte, mas também alguns comentários coerentes e sensatos com a situação sócio-económica e, por reflexo, de abandono dos campos, que se instalou, como uma praga, que de facto é, no Pais. O mais triste, se avaliarmos o futuro imediato, é que pouco (ou, se calhar, nada) se fez para retirar a espada que pende sobre as cabeças, e seus bens, dos que ainda estão radicados nas zonas “florestais” que restam.

É unânime, entre aqueles que não estão comprometidos com os “altos interesses da Nação” que a plantação intensiva de árvores com interesse industrial -para as celuloses- constitui um perigo não só potencial como efectivo para as populações e o País em geral. Disso creio que os cidadãos estão todos cientes e clamam, nem que se mantenham calados, como é costume, no sentido de que se deveriam tomar medidas efectivas e não só retóricas.

Insisto em que este sentimento está restrito aos que não estão comprometidos, pois estes fazem ouvidos moucos e só tentam compensar com reacções pontuais, mais visitas de condolências, abraços, beijinhos a granel (dos quais, dada a sua profusão constante já deixaram de ser valorizados) e regressar para os seus ninhos, com o sentimento de terem cumprido o seu dever cívico, ou mais propriamente cínico.

Mas olhemos para o lado dos afectados:

O interior do País, que hoje começa numa paralela afastada do mar a poucas dezenas de quilómetros, está já practicamente desabitado, a não ser os núcleos urbanos com alguma importância. Em muitos casos só resistem idosos ou famílias que conseguiram criar algum rendimento que lhes permita insistir na teimosia de não abandonar aquele terreno, que é seu!

Mas aqui entra a bruxa má do conto de Branca de Neves (e os quarenta ladrões de outra história. Se bem que são muitos mais do que as quatro dezenas) Desta feita o visitante, com artes de convicção, não vem mascarado de bruxa de nariz ganchudo e verruga preta no topo deste pedúnculo.

Habitualmente é alguém que está ligado com a indústria da celulose, e que apresentando-se aos residentes isolados, com as boas maneiras de preceito, lhes diz que traz o maná, pois ele entende as suas necessidade e verifica ser uma lástima terem aqueles terrenos em pousio, improdutivos, abandonados, ermos. Ele pode “ajuda-los”, sem custos, para poderem ter um rendimento periódico, quase que perpétuo (?), se aceitarem que ali se plantem eucaliptos. E mais o blá-blá-blá que trazem engatilhado. E quem diz eucaliptos pode dizer pinheiros bravos, pois o que interessa é garantir madeira como matéria prima.

De nada vale que os estudiosos insistam nos malefícios destas duas culturas florestais intensivas. Podem esganiçar-se, escrever, apresentar estudos académicos, ouvem mas viram a cara, e a cabeça, para outro lado. O único efeito visível ó o de lhes mostrarem caras sisudas, querendo demonstrar que os entendem e que lhes querem dar todo o apoio que merecem. Mas nada de positivo. Nem sequer os comovem os relatórios de que o eucalipto não deixa crescer a flora baixa normal das florestas, que “envenena” as terras, além de que seca os aquíferos, pois não se cresce com aquela rapidez sem consumir água, que, com as suas raízes, procurará ansiosamente. Até os caçadores sabem que estas florestas não acolhem animais selvagens. Nada disso interessa.

Então pergunta-se: Se todos estão cientes destes perigos, porque se insiste, impunemente, em deixar não só plantar estas espécies de risco, como em as promover descaradamente?

É fácil de entender.

Por um lado o proprietário decide optar pela promessa de rendimento por não ter outra alternativa, e menos com apoio. Mas a razão principal está nos grupos de pressão, sumamente efectivos, que estão instalados nos departamentos oficiais que podem travar esta invasão e não o fazem. Se formos beatíficos e carregados de boa vontade, aceitaremos o argumento, sempre presente, de que esta indústria da celulose é uma das que proporciona maiores ingressos ao tesouro público; que é um exportador de primeira ordem, e que tem que ser protegida, promovida, nem que seja de uma forma pouco clara, PARA BEM DA NAÇÃO.

Quem for excessivamente maldoso é capaz de imaginar a existência de compensações pessoais que justifiquem esta continuidade. Longe de mim pensar estas velhacarias, nunca provadas.


E para o ano haverá mais incêndios, caso ao longo de 2017 não tenham queimado o resto. Mais vítimas, mais desgraças e mais beijinhos e abraços, nem que seja por outras motivações. Estamos numa de carinhos.

sexta-feira, 16 de junho de 2017

O POVO É QUEM MAIS ORDENA


Podemos acreditar, piamente, nesta que foi palavra de ordem quando a revolta dos capitães, e depois verificar como e em que sentido foi agarrada pelos extremistas da esquerda? E como os conservadores, aparentemente vencidos, mas nunca convencidos, reagiram com ajudas camufladas, mas evidentes, e com a colaboração do deus socialista, que bem soube amordaçar aos que o incomodavam ou criticavam.

Será que o tal povo que se entusiasmou não passava de um grupo de exaltados, alguns deles perigosos, mas na sua maior parte a raiar no lirismo, por desconhecerem a impossibilidade de que o tal dito “povo” conseguisse ser capaz de arrumar as suas ideias, caso sejam de facto suas, engendradas nas suas cabeças, em geral ocupadas com temas muito mais imediatos do que o governar um território, e, após esta, hipotética, arrumação poder enfrentar a marcha do País?

Para complicar tudo, antes de começar, é imperioso entender que não estamos isolados numa pequena ilha da Polinésia, ou numa área esquecida nas profundidades das selvas da Amazónia ou da Papuasia. A realidade, é que não podemos fugir. Tudo nos recorda que estamos inseridos num mundo ocidental, muito complexo, e que pouco nos resta de liberdade decisória, pelo menos nos temas que se imaginava que o tal “povo” nos poderia orientar.

Sabemos que podemos decidir ser sócio ou adepto de um clube determinado. Assim como podemos escolher entre ir ver as marchas de Lisboa, inventadas pelo Estado Novo e que tanto agarraram as querenças do tal “povo”, ou escolher entre sardinhas assadas e febras de porco grelhadas. Existem bastantes mais opções para que o povo se entretenha. Entre elas imaginamos a de guerrear com o vizinho, matar a mulher, o amante responsável dos chifres, ou bater com a porta e partir para outra, pois o que por aí não falta são mulheres.

São muitos os caminhos que estão abertos a este “povo” que mais ordena. Mas desconfio que com estas pessoas não teríamos muitas possibilidades de sair da cepa torta. Quiçá nos afundaríamos mais depressa e mais profundamente do que com esta elite que, em principio, escolhemos, e que está mais preocupada com o trabalho de encher os seus bolsos do que em servir a população, que tanto ordena (?)

Ou seja, se a tal jangada de pedra nos colocasse num local isolado, onde nem sequer os satélites bisbilhoteiros, ou mirones inveterados, nos descobrissem, então podíamos inclusive nos dedicar à antropofagia e a miniaturização das cabeças dos nossos vizinhos, entre outras agradáveis actividades.

Infelizmente e sem tentar descortinar as forças e preconceitos, uns visíveis e outros ocultos, subjacentes, que continuam a prevalecer nas decisões sociais em que a população em geral, ou seja, incluído o povo e as elites, votam sem saber bem o que é que os espera. Havendo festas e bola, comezainas e facebook nada mais importa neste reino. Nem vale a pena tentar avisar que entre o dizer e o fazer muita coisa há meter. Eles, eleitores activos ou abstencionistas, já ouviram falar da cruel realidade, mas preferem virar a cara e não se ralar, pelo menos no dia de escolher, pois que no dia seguinte raro será o elemento que não se lamente.


Não esquecemos que é obrigatório não perder de vista os astutos, vivaços, desavergonhados e anexos que sabem perfeitamente aquilo que desejam. Os outros, os que sem pensar, lhes abriram a porta, deveria estar cientes de que estes desejos não incluem o se preocupar pelas necessidades mais prementes e convenientes para o tal “povo que mais ordena”

UMBERTO ECO

UMBERTO (1)

Sou leitor compulsivo de livros, e deixei de adquirir jornais dado o pouco respeito que merecem. Alem de que na internet consigo resumos que me satisfazem. A pedido da minha esposa mantenho uma excepção com o semanário Expresso, apesar de saber que nele existe uma filtragem, compreensível, apesar de que, com o intuito de dar uma colherada de mel aos desagradados, de vez quando colocam notícias e alguns comentários, poucos, que possam agradar a quem não comunga de olhos fechados, ou embebecidos, com a empresa proprietária.

Desde umas semanas a esta data leio, com muito agrado, uma compilação de crónicas assinadas e publicadas em revistas e jornais, da autoria de Umberto Eco antes de falecer (1932-2016) Muitas destas crónicas deram azo a polêmicas interessantes, e noutras ele entrou em lutas -verbais- já iniciadas por outros. Não tem desperdídio, é um regalo poder ler esta compilação. Foram impressas e distribuídas num volume com 497 páginas já após ter deixado este mundo. Chegou este livro até mim enviado pela minha filha Marta, sabedora que eu escrevo crónicas na areia molhada.

O académico pisou muitos palcos, desde a sociologia, filosofia, política nacional (italiana) e mundial, literatura, etc. Sempre de uma forma correcta e educativa. As múltiplas referências que fez induz a que nos envergonhemos da nossa ignorância e o respeitemos como de facto mereceu e merece post mortem.

É evidente que não tenho os conhecimentos nem a capacidade de síntese deste autor (2), merecidamente galardoado, e por isso não me posso lamentar de não ter seguidores. Cada um chega até onde pode e temos que aceitar o facto de que os nossos pensamentos e opiniões são daqueles que se afirma não interessam nem ao menino Jesus. (3)


1 - Respeito a grafia do seu idioma materno.
2 – Se bem que algumas das suas crónicas são extensas que mais se encaixam na classificação de ensaios.
3 – Esta frase continua a me desconcertar, pois que na doutrina católica, apostólica e romana com que fui catequizado, ou pelo menos tentaram, fiquei com a ideia, certamente que errada, que o Deus-homem ou Homem-Deus, ou simplesmente um Profeta, afirmava que ele seria o apoio de todos os desprezados. Com algumas variantes léxicas, mas sempre com a mesma mensagem, fosse dirigindo-se a doentes considerados incuráveis, pobres miseráveis, injustiçados ou qualquer outro desfavorecido. Não entendo. Sou burro de dar coices no ar.


quarta-feira, 14 de junho de 2017

OBSERVAR E APRENDER




É fundamental estudar atentamente o percurso do “inimigo”. Meditar e aprender, tanto no que foram êxitos como no que escondem por ser fracassos.

QUANDO DEVEMOS APOSTAR?



Só é aconselhável quando se conheçam as características do universo de votantes. E, além disso, saber que para ganhar votantes, tanto no campo oposto como nos abstencionistas, é necessário tempo e empenho.

ESTAR NA OPOSIÇÃO DESORIENTA



Seriam melhores orientadores os sociólogos do que os políticos? Mesmo no nível mais inferior da escala representativa?

terça-feira, 13 de junho de 2017

HAJA FESTAS E DINHEIRO EMPRESTADO



Tal como em ocasiões anteriores os escassos, mas bons, seguidores são capazes de imaginar o texto que propositadamente não coloco.

domingo, 11 de junho de 2017

VENDER A ALMA AO DIABO



Inicialmente pensei colocar um resumo ou umas frases soltas, tiradas do texto completo. Voltei em mim e continuei a entender que não valia a pena. Penas tem os índios da Amazónia.

quarta-feira, 7 de junho de 2017

terça-feira, 6 de junho de 2017

O MONTEPIO, A SANTA CASA E AS MISERIC+ORDIAS

O MONTEPIO, A SANTA CASA E AS MISERICÓRDIAS


Um tema que ...

JUDAISMO, CRISTIANISMO E ISLAMISMO




Por estes lados confundimos Cristianismo com Catolicismo

domingo, 4 de junho de 2017

MAIS LENHA À FOGUEIRA



O tema dos carros eléctricos, excluídos os que chocam provocando o gáudio dos ocupantes nas pistas das festas locais, ainda dará bastante pano para mangas. As mangas serão tantas que muitos coletes vão ser transformados em novas peças de vestuário.

Recordemos que foi para substituir a tracção de sangue, identificada pelas mulas, que se electrificaram os anteriores “americanos” também conhecidos, na época, como “choras”. Foi um progresso nas deslocações citadinas, que posteriormente tratou de eliminar a sujeição ao traçado de carris de ferro, embutidos no pavimento, usando uma dupla linha eléctrica, uma com corrente e outra para fazer a ligação à terra. Eram os chamados trólei-bus, com rodados de borracha. Mesmo com esta evolução permanecia a imposição de um percurso fixo e a impossibilidade de poder ultrapassar um veículo avariado por outro funcional.

Ou seja, que as tentativas de reduzir a emissão de gases poluentes originados na combustão dos motores dos veículos, já se tinha ensaiado mais de um século atrás. Mas a evolução da sociedade não parou e as exigências dos cidadãos incluíram o poder usar um veículo próprio.

A solução a muitos dos problemas técnicos que retraiam a introdução massiva de automóveis movidos pela energia eléctrica estavam centrados no peso das baterias necessárias para garantir a potência desejada, e também na recarga das mesmas quando deixavam de responder. Progressos técnicos nas baterias conseguiram reduzir, em parte, os inconvenientes sentidos pelo utente.

O que impulsou a introdução destas viaturas, quase autónomas, foi não só o sentimento de respeitar o ambiente e o receio de contribuir ao temido aquecimento global, mas algumas decisões, mais prosaicas, que os governantes tomaram. Por um lado a instalação de um número de centros de recarga das baterias que equivalesse à actual rede de venda de combustíveis, o que ainda não está plenamente conseguido, mesmo com o recurso à “carga rápida”. Um aumento de veículos deste tipo, se activos, obrigará a colocar mais postos de recarga, evitando assim as enervantes filas de espera.

Outro factor exógeno foi o de os governos arcarem numa fracção, importante, do preço de venda destes veículos, no intuito de os tornar mais apetecíveis ao comprador. Neste momento já se fala em eliminar este subsídio, o que seria uma série machadada nos países em que a decisão se torne efectiva.

Olhando para o transito actual, maioritário com motores de combustão interna, podemos imaginar que os carros eléctricos podem ser uma parte da solução para os fluxos pendulares de entrada e saída das cidades e distribuição dos cidadãos para os seus lares, muitos deles sitos em locais relativamente distantes e onde a rigidez dos transportes colectivos não os satisfazem. Será possível instalar postos de recarga em locais e número equivalente aos actuais postos de combustíveis?

Com mais ou menos esforço, e com uma revisão profunda da rede de transportes colectivos, os veículos com motor eléctrico podem ser parte da solução para os urbanitas. Mas onde a porca torce o rabo será nas zonas maiormente agrícolas, dos tractores e veículos de carga. Muitos residentes fora dos núcleos urbanos, incluindo vilas, possuem viaturas “clássicas”, que usam esporadicamente e, em muitas ocasiões, para percursos curtos. Estes cidadãos não é provável que se decidam por juntar um carro eléctrico à sua frota.

Independente destes raciocínios especulativos é pertinente recordar que existem poderosos interesses económicos que pressionam num ou noutro sentido, nem sempre opostos, mas cada um puxando a brasa para a sua sardinha. E entretanto planeta continua a girar, em mais um ciclo de aquecimento/arrefecimento, desta vez com a colaboração teimosa e insensata do homem.


NOTA: ao citar homem não aponto ao Trump, mas ao bípede geral que nos representa, incluindo mulheres e variantes.

sexta-feira, 2 de junho de 2017

SOBRE O AQUECIMENTO GLOBAL



A notícia do dia é, sem dúvida, o anúncio do presidente ELEITO americano, de que cumpria uma das suas promessas eleitorais, retirando os EUA dos Acordos de Paris. Depois, de imediato, quis modular este abandono caso aceitassem as suas novas propostas, ainda não definidas.

Independentemente das políticas, dos jornais, dos comentaristas que empurram ou puxam, e que nem sempre dominam a visão abrangente do problema, sinto que este tema comporta factores importantes que, sistematicamente, são pouco referidos.

É indiscutível que o progresso tecnológico iniciado no séc XIX com a possibilidade de complementar as energias eólicas e hidráulicas, então não poluentes no seu funcionamento, pelas máquinas de vapor, deu-se início a uma progressiva necessidade de muita energia activa, socorrendo-se da energia potencial existente nas matérias combustíveis, dando uso à energia libertada neste processo químico, tão quotidiano desde que nos abrigava-mos em cavernas e aquecíamos com fogueiras.

Simplificando. O que está sucedendo é que a sociedade em geral não deixa de consumir, cada vez mais, energia fóssil, dado que o recurso ás energias renováveis, não poluentes no funcionamento, não deixam de ser contribuintes ao aquecimento global na sua geração como máquinas ou barragens. Outro tanto poderíamos dizer sobre as centrais foto-voltaicas, cujos painéis e acessórios não surgem da terra como as ervas silvestres.

Entre um moinho artesanal, farinheiro, e uma série de turbinas eólicas de grande porte, existe uma ingente diferença de consumo energético. Não me parece que seja necessário explicar como se obtêm os componentes, tão “limpos”, nem as redes de cabos eléctricos. Entre uma azenha e uma barragem existe, também, uma disparidade enorme de consumo de energia e consequente poluição ambiental. Habituam o cidadão a imaginar que os kWh produzidos nas turbinas, sejam movidas pelo vento ou pela energia potencial da água armazenada, caso tiver uma cota suficiente, são equivalentes aos métodos antigos. FALSO.

Deixemos de lado a utilização da energia atómica, que teve a sua fase de prometedora fonte inesgotável, e não poluidora, mas que dadas as sucessivas catástrofes está desacreditada.

Incidindo sobre os Acordos de Quioto e Paris, e não esquecendo a contínua necessidade de energia que a sociedade actual impõe, o que de facto se comprometeram foi transferir a poluição para outro lado. Para debaixo do tapete. E assim poder descer uns pontos, poucos, nas suas emissões de gases poluentes e libertação de calor, com a consequente colaboração ao aquecimento global.

Mas continuamos a fabricar, ou transferir as fábricas poluentes, para países que aceitam esta poluição. Conseguir uma tonelada de aço, ou de outro metal qualquer, indispensável, assim como de produtos manufacturados como seja o vidro, matérias plásticas, transístores, ou seja o que for, inclusive cozer o pão, carece de uma quantidade determinada de energia. Extrair minérios, seleccionar o mineral da ganga, aplicar toda a série de manipulações indispensáveis, e sempre poluentes, é mal visto quando é feita na nossa casa. O melhor é transferir estas tarefas para países do terceiro mundo.

É semelhante o que sucede com os resíduos tóxicos de difícil e dispendiosa neutralização. Não é aceitável que os guardemos, mais ou menos escondidos, no nosso território. A solução que se adopta, procurando que não seja conhecida, é a de enviar estas matérias,indesejáveis, para países que as aceitem, desprezando os perigos que comportam. E aceitam isto por uma bagatela de dinheiro.

Todos vimos reportagens de como o desmantelamento de navios obsoletos passou para portos asiáticos. Tal como a recuperação de componentes metálicos, valiosos e escassos, das aparelhagens electrónicas. Tarefa que é feita de forma primitiva. Sem cuidados de protecção, e estragando o ambiente local, mais a saúde dos desgraçados que aceitam este trabalho em opção à fome.

Apesar da visão mirífica que se quer dar aos benefícios dos carros eléctricos, não se pensa que a totalidade das viaturas, incluídos os de transporte de mercadorias, possam ser movidos com recurso a baterias. E estas baterias, tanto na sua construção, desde a mineração até ao fabrico de componentes e, posteriormente, à sua reciclagem, não poluem nada? Não consomem energia? Ou são o milagre de chegar ao movimento contínuo sem consumir? Isso deixando na gaveta a poluição do ar a que contribui o desgaste dos pneus de milhões de viaturas circulando, travando e acelerando.

Portanto, o que fez o presidente Trump foi dar um sopro de esperança aos seus votantes de “colarinho azul”, que ficaram desempregados ao fechar as minas e as siderurgias, mais as fábricas de automóveis e outras indústrias com custos de mão-de-obra “exagerdos”. Será que, de facto, vai reabrir estas instalações ou não passa de uma manobra?

Os magnatas do petróleo e das suas refinarias não aceitarão de bom grado fechar estas instalações, poluentes, pois ficariam nas mãos dos que as mantivessem activas noutros países. Mesmo que os texanos comprem as refinarias radicadas fora dos USA sempre existirá o perigo de que, um dia, pensado mas não concretizado, surja uma decisão local de as nacionalizar pela força.


A quem não podemos enganar com manobras de política é ao planeta. Seja qual for o local onde se localize a fonte de poluição, os efeitos serão sempre globais. E mudar os hábitos de consumo energético, que incluem acções tão banais como ir às compras ao hiper, usando o automóvel, e onde encontramos produtos que foram levados até lá por um batalhão de camionetes de transporte, e recuando sempre chegamos às minas de carvão e minérios metálicos, não é natural que voltemos ao burrinho e à carroça. Por enquanto...