terça-feira, 28 de fevereiro de 2017

CONTINUO PENSATIVO


Não posso dizer que preocupado porque considero que tal opção implica pensar, afincadamente e com alguma possibilidade de intervir, concisamente, com o propósito de encontrar a forma de resolver esta situação, coisa que, infelizmente, não acontece. Mas penso, como o burro que pensando morreu.

Os fortes indícios de ser este um do tais problemas que escondemos debaixo do tapete, mas que sem dúvida já bate à porta da faixa temperada do hemisfério norte. Apresenta dificuldades que são valoradas como insuperáveis. Baixamos os braços e continuamos sossegados, sem fazer o mínimo esforço para o evitar. Pelo menos se atendemos à necessidade de seguir preceitos éticos. Se deixarmos de lado os preconceitos então a música será outra. E anda-se neste sentido.

Quando surgem epidemias que prometem dizimar multidões, tais como o AIDS, o Ebola e alguma outra que não me ocorre, é provável que muitos cidadãos avaliem, cinicamente, estes flagelos como benéficos caso a maioria das vítimas mortais sejam indivíduos radicados em países do terceiro, ou quarto, mundo. Habitualmente, porém, sucede que seja por questões humanitárias ou por receio de que o perigo viaje até os nossos territórios, acontece que surgem estudos, medicamentos e equipas de intervenção que, deslocando-se até os locais com focos mais graves, procuram debelar o perigo.

Assim se fez, mesmo que depois surjam novos casos isolados que não causem alarme, com a varíola (que parece ter sido debelada totalmente), a tuberculose (a reaparecer com alguma intensidade), a lepra, o cólera, a febre amarela e outras doenças que tanto podem ter a sua causa primeira na deficiente alimentação, pobreza ou mesmo miséria absoluta, como da insalubridade do ambiente em que vivem, nomeadamente se no ambiente tropical, propício à multiplicação, mutações espontâneas e difusão de bactérias, virus e micróbios, auxiliados por vezes por animais encarregados de transmitir os agentes patogênicos.

Mas nem sempre os males que dizimam as populações autóctones são devidos a doenças, muitas migrações são provocadas por guerras provocadas ou abastecidas com armas vindas de países do primeiro mundo. As indústrias que fabricam e exportam armas, mesmo que seja uma parte do seu total, habitualmente o fazem através de circuitos labirínticos, tão pouco identificados como os da transferência de grandes somas de dinheiro.

Para o cidadão comum, entendendo por isto aqueles que não entram nestes negócios, pode parecer-lhe que a solução é simples: Proíba-se o vender armas a terroristas, facções que pretendem ocupar o poder ilegítimamente, abastecer as mafias que dominam muitas áreas do vida comunitária, etc. Impossível. Como poderiam funcionar tantas fábricas de armas e munições se não existisse um consumo constante?

E ninguêm sabe? Ninguém se apiada das vítimas inocentes? Pode ser que em momentos de fraqueza dos governantes e militares (sempre estão metidos neste comércio de armamento) lhes surja um instante de sentido ético. Depressa desaparece. Basta agitar a cabeça e apagam-se aqueles sentimentos pouco produtivos. Se for necessário (?) argumentaram que estas fábricas são indispensáveis para produzir as novas armas, e assim manterem-se na primeira linha. Tretas. O que os move é a ganância descontrolada, tal como a muitos gestores da área pública.

Caso o perigo de invasão, pacífica mas mesmo assim uma invasão, se aproximar demasiado, encontrarão uma desculpa qualquer, das tais que chamamos de esfarrapadas, para enviar tropas ou contratar terceiros que “escarmentem” estes atrevidos. E voltamos a começar.

Um sinal de que estes assuntos estão sujeitos a fortes medidas de censura está, ou deveria estar, presente na memória colectiva. Recordam a denúncia (?) de que as tropas da ONU ou de outros grupos abastecidos pelo ocidente, utilizavam balas carregadas de urânio empobrecido (o urãnio que deixa de ser útil nas centrais nucleares e que não se sabe que fazer com ele. Digamos, o perigo que espreita no tal recinto de recolha de resíduos em Almaraz). Deixou-se de falar nisso.


Mas as balas carregadas continuaram a existir e a ser usadas (a razão é que o urânio é mais pesado do que o chumbo, anteriormente usado para dar a inércia necessária ao projectil, e até são capazes de não só o oferecer sem pagar como inclusive financiar para que lhe deem seguimento). E a semana passada apareceu nos meios -só como um relâmpago pois que não voltou a ser citado- que no conflito da Síria utilizavam as tais balas com urânio “empobrecido”. Tenho quase a certeza que poucos cidadãos ligaram a esta notícia, e menos que recordam a anterior referência.

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