Passeando
pela mitologia
Aproveitei
o ter deixado o folhetim num canto escuro para poder abrir a janela e
viajar no tempo, o que inclui o percorrer sendas já anteriormente
trilhadas.
Uma
das viagens recuperadas, por um rumo já antes batido e em mais do
que uma ocasião, é curiosamente uma das que os humanos tem dedicado
muito tempo a congeminar. Uma vocação persistente que nos ocupou
desde séculos e que ainda é contemporânea. Quando estudamos ou
lemos algum texto, sério, onde se tente especular sobre alguma das
culturas antigas, estruturadas com maior ou menos extensão,
observamos que em todos os casos, e povos que povoaram ou ainda
habitam no planeta, sempre se dedicaram, com maior ou menor interesse
e sucesso, na elaboração de personagens míticas, formando
famílias cada vez mais numerosas e complexas progressivamente mais
complexas.
Em
todas as mitologias, ou teologias, sempre se imaginam percursos e
acções dos seus membros, sempre actores fantásticos, cujos feitos
são análogos aos dos humanos. As suas aventuras, uniões, lutas,
crimes, atrocidades, adultérios, procriações e todos os percalços
possíveis retrataram a sociedade em que se baseavam. Ou seja, aquilo
que podemos qualificar, um pouco levianamente, como uma doutrina
teosófica, não passa de uma tentativa de retratar o que os humanos
seus contemporâneos faziam e fazem.
O
meu retorno actual hoje está orientado para a complexa, e
labiríntica, mitologia grega. Possivelmente ainda menos misteriosa,
aos nossos olhos ocidentais do que as teosofias presentes no
Indostão, e aquela que nos parece mais simples que estava vigente no
Antigo Egipto. Seja qual for o percurso seguido e dando como certo
que existiu uma fonte comum, ou várias fontes onde irem colher
ideias, o nosso percurso europeu no campo da teologia nos leva a
inquirir no célebre dilema de que se foi primeiro o ovo ou a
galinha. Uma questão que, actualmente, até os pré-adolescentes
tem todos os elementos para responder cabalmente, dado que sabem que
as aves, e todos os restantes seres vivos nossos contemporâneos,
incluídos os humanos, que tão evoluídos nos consideramos, somos
descendentes dos répteis e estes, por sua vez, dos peixes. Daí nos
vem a teimosia em utilizar ovos, ou óvulos, para a procriação. De
onde o ovo é muito
anterior à galinha.
Retomando
as influências nas mitologias e teosofias, os gregos, que criaram um
panorama complexo unindo a natureza, desde os astros até os animais
e humanos, seguiram o trilho das anteriores estruturas mitológicas
de persas, hititas, mesopotâmicas, e outras civilizações que
sabemos terem existido mas que ainda não conhecemos em profundidade.
Ler
e estudar, sem pretender fazer um doutoramento ou um mísero máster
sobre a mitologia grega, e comparativamente qualificar a teologia
cristã como paupérrima é a conclusão imediata. O cristianismo,
numa tentativa pífia de rejeitar a complexa ligação de deuses
avulsos que os gregos engendraram, e depois de que os romano-latinos,
no propósito de se adaptarem aos credos anteriormente instalados
entre as diversas populações que foram incorporando no seu Império,
limitaram-se a uma acomodação das capacidades das divindades
anteriores com outros nomes, o cristianismo manteve estas divindades
pagãs com outros nomes e com poderes limitados. Nunca num nível de
primeira grandeza, que ficou reservado à tríade (nada original
historicamente) e anexada mãe do Deus na Terra (tampouco
original na história das religiões).
A
teologia seguida no cristianismo é muito paralela à das monarquias,
sem que exista a sequência temporal que as monarquias humanas
comportam, dada a vida terrena ser sempre limitada. Mesmo assim não
se conseguiu neutralizar a propensão das pessoas, se não todas pelo
menos uma boa parte delas, de invocarem os substitutos das primitivas
deidades, que com outros nomes continuam a ser considerados como
entes propiciadores de favores que estão, credulamente, a sua alçada
nominal. Sintomaticamente verifica-se que as datas de calendário
civil em que são invocados estes antigos deuses, agora descidos para
o nível de Santos Protectores ou Intermediários Referentes,
mantêm-se nas posições astrológicas que foram escolhidas pelos
criadores históricos das mitologias. Dito de outra forma. Não há
nada de novo na visão especulativa da humanidade e da sua conexão
com os astros.
Sem comentários:
Enviar um comentário