sexta-feira, 3 de agosto de 2018

MEDITAÇÕES - 1 Mais mitologia



Passeando pela mitologia

Aproveitei o ter deixado o folhetim num canto escuro para poder abrir a janela e viajar no tempo, o que inclui o percorrer sendas já anteriormente trilhadas.

Uma das viagens recuperadas, por um rumo já antes batido e em mais do que uma ocasião, é curiosamente uma das que os humanos tem dedicado muito tempo a congeminar. Uma vocação persistente que nos ocupou desde séculos e que ainda é contemporânea. Quando estudamos ou lemos algum texto, sério, onde se tente especular sobre alguma das culturas antigas, estruturadas com maior ou menos extensão, observamos que em todos os casos, e povos que povoaram ou ainda habitam no planeta, sempre se dedicaram, com maior ou menor interesse e sucesso, na elaboração de personagens míticas, formando famílias cada vez mais numerosas e complexas progressivamente mais complexas.

Em todas as mitologias, ou teologias, sempre se imaginam percursos e acções dos seus membros, sempre actores fantásticos, cujos feitos são análogos aos dos humanos. As suas aventuras, uniões, lutas, crimes, atrocidades, adultérios, procriações e todos os percalços possíveis retrataram a sociedade em que se baseavam. Ou seja, aquilo que podemos qualificar, um pouco levianamente, como uma doutrina teosófica, não passa de uma tentativa de retratar o que os humanos seus contemporâneos faziam e fazem.

O meu retorno actual hoje está orientado para a complexa, e labiríntica, mitologia grega. Possivelmente ainda menos misteriosa, aos nossos olhos ocidentais do que as teosofias presentes no Indostão, e aquela que nos parece mais simples que estava vigente no Antigo Egipto. Seja qual for o percurso seguido e dando como certo que existiu uma fonte comum, ou várias fontes onde irem colher ideias, o nosso percurso europeu no campo da teologia nos leva a inquirir no célebre dilema de que se foi primeiro o ovo ou a galinha. Uma questão que, actualmente, até os pré-adolescentes tem todos os elementos para responder cabalmente, dado que sabem que as aves, e todos os restantes seres vivos nossos contemporâneos, incluídos os humanos, que tão evoluídos nos consideramos, somos descendentes dos répteis e estes, por sua vez, dos peixes. Daí nos vem a teimosia em utilizar ovos, ou óvulos, para a procriação. De onde o ovo é muito anterior à galinha.

Retomando as influências nas mitologias e teosofias, os gregos, que criaram um panorama complexo unindo a natureza, desde os astros até os animais e humanos, seguiram o trilho das anteriores estruturas mitológicas de persas, hititas, mesopotâmicas, e outras civilizações que sabemos terem existido mas que ainda não conhecemos em profundidade.

Ler e estudar, sem pretender fazer um doutoramento ou um mísero máster sobre a mitologia grega, e comparativamente qualificar a teologia cristã como paupérrima é a conclusão imediata. O cristianismo, numa tentativa pífia de rejeitar a complexa ligação de deuses avulsos que os gregos engendraram, e depois de que os romano-latinos, no propósito de se adaptarem aos credos anteriormente instalados entre as diversas populações que foram incorporando no seu Império, limitaram-se a uma acomodação das capacidades das divindades anteriores com outros nomes, o cristianismo manteve estas divindades pagãs com outros nomes e com poderes limitados. Nunca num nível de primeira grandeza, que ficou reservado à tríade (nada original historicamente) e anexada mãe do Deus na Terra (tampouco original na história das religiões).

A teologia seguida no cristianismo é muito paralela à das monarquias, sem que exista a sequência temporal que as monarquias humanas comportam, dada a vida terrena ser sempre limitada. Mesmo assim não se conseguiu neutralizar a propensão das pessoas, se não todas pelo menos uma boa parte delas, de invocarem os substitutos das primitivas deidades, que com outros nomes continuam a ser considerados como entes propiciadores de favores que estão, credulamente, a sua alçada nominal. Sintomaticamente verifica-se que as datas de calendário civil em que são invocados estes antigos deuses, agora descidos para o nível de Santos Protectores ou Intermediários Referentes, mantêm-se nas posições astrológicas que foram escolhidas pelos criadores históricos das mitologias. Dito de outra forma. Não há nada de novo na visão especulativa da humanidade e da sua conexão com os astros.

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