segunda-feira, 13 de fevereiro de 2017

COMPRAR BOAS CRÍTICAS


Dizem “os livros”, especialmente os de receitas culinárias, que há cem maneiras de cozinhar bacalhau. Desconfio que nem todas conseguem disfarçar as características especiais deste peixe seco, muitas vezes fibroso e em muito dependente dos temperos que lhe sejam adicionados a fim de o tornar apetecível. E não refiro como gosta, o dito cadáver mumificado, em se intrometer nos espaços interdentais do sacrificado comensal. Certo que deve ser um dos que não se atrevem a ferir os cânones sociais vigentes. Ou seja, o da obrigação de manifestar a sua preferência por este “petisco, que conjuntamente com o “cozido *a portuguesa” e a sempre bem louvada “calçada portuguesa”, constituem uma terna de orgulho nacional. Estes três ícones competem com o outro, também clássico, dos três FFF.

Mas este não era o tema em vista para hoje. Escrevi sobre o bacalhau devido a uma tabela seca com outro conceito radicado no léxico popular, e que, pouco mais ou menos diz: Há muitas maneiras de apanhar moscas; ou pulgas.

E, por extensão, afirmo, convictamente, que Existem muitos esquemas para conseguir boas críticas e bons lugares nas muitas classificações que, constantemente, nos são colocadas à frente dos olhos.

Os indivíduos que se dedicam a criar boa imagem a pedido do interessado, são, na sua imensa maioria, uns jornalistas entre a plêiade dos que podem apresentar uma carteira dita de profissional. Tanto podem ser novatos como com nome já feito. Mas sempre dispostos a dizer bem duma pessoa determinada, de um lugar ou de um evento (prefiro “invento”, tal como se falava, em “inventonas”) ou “noticiar” que numa escala, mais ou menos inventada mas sempre inócua, lhe foi atribuído o primeiro lugar.

Esta proliferação de boas notícias, constantemente referidas sobre o mesmo “cliente” nos deve levar a recordar como funciona tanto os promotores e interessados, como os servidores. Por pouco tempo que dediquemos a pensar neste fétido assunto, é fatal que surjam algumas perguntas. As respostas são imediatas, pois que o discernimento, tantas vezes em estado letárgico, só pergunta aquilo de que julga conhecer a resposta. Ou que tal como o pobre perante uma esmola choruda, desconfia. Neste caso o cidadão, em estado de meditação transcendental, suspeita da existência de tramoia.

Eis algumas destas questões:
- Estas opiniões, em geral muito favoráveis, as podemos considerar como válidas?
Existe isenção e merecem credibilidade?
- Aceitamos que de uma parte e da outra houve honestidade?
- Somos incrivelmente tolos ao aceitar estes embustes potenciais?

Aceitando a possibilidade, mesmo que remota ou de baixa intensidade, de que existam alguns fazedores de opinião verdadeiramente honestos, a experiência nos diz que a maioria aceitam o encargo por uma fraca recompensa. Inclusive, num excesso de boa vontade, podemos admitir que existem algumas borlas. Tal como uma acompanhante de luxo, das que levam coiro e cabelo para atender o tolo endinheirado, é capaz de dar uma borla a um sujeito que lhes caiu no goto.

Lamentamos que a experiência de vida nos elucida acerca da existência de personagens, sem préstimo de nenhuma espécie, a não ser a de serem capazes de enganar os seus iguais, mas que conseguem manter as bolas no ar, como um malabarista de casino, até o dia em que um espirro irresistível as faz cair todas de uma vez. Logo surge outro esperto, que aplicando as mesmas tretas toma o lugar vago. Não terá grandes problemas em actuar frente ao mesmo público.


Um público que se imagina muito actualizado e sabido, mas que caiu no conto do vigário com suma facilidade. Hoje até servem as aldrabices em muitos programas de televisão. Alguns inclusive afirmam que entregaram prémios de muitos euros a uns felizardos. Posteriormente ficamos a saber que o agraciado nunca vê a cor deste dinheiro. O mais que recebem são talões de compras de artigos sem préstimo, previamente seleccionados e com preços inflacionados, que só se podem levantar em lojas de patrocinadores. E as pessoas continuam a cair!

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