Dizem
“os livros”, especialmente os de receitas culinárias, que há
cem maneiras de cozinhar bacalhau. Desconfio que nem todas
conseguem disfarçar as características especiais deste peixe seco,
muitas vezes fibroso e em muito dependente dos temperos que lhe sejam
adicionados a fim de o tornar apetecível. E não refiro como gosta, o dito cadáver mumificado, em se intrometer nos espaços
interdentais do sacrificado comensal. Certo que deve ser um dos que
não se atrevem a ferir os cânones sociais vigentes. Ou seja, o da
obrigação de manifestar a sua preferência por este “petisco, que
conjuntamente com o “cozido *a portuguesa” e a sempre bem louvada
“calçada portuguesa”, constituem uma terna de orgulho nacional.
Estes três ícones competem com o outro, também clássico, dos três
FFF.
Mas
este não era o tema em vista para hoje. Escrevi sobre o bacalhau
devido a uma tabela seca com outro conceito radicado no léxico popular, e que, pouco mais ou menos diz: Há muitas maneiras de
apanhar moscas; ou pulgas.
E,
por extensão, afirmo, convictamente, que Existem
muitos esquemas para conseguir boas críticas e bons lugares nas
muitas classificações que, constantemente, nos são colocadas à
frente dos olhos.
Os
indivíduos que se dedicam a criar boa imagem a pedido do
interessado, são, na sua imensa maioria, uns jornalistas entre a plêiade dos que podem apresentar uma carteira dita de
profissional. Tanto podem ser novatos como com nome já
feito. Mas sempre dispostos a dizer bem duma pessoa determinada, de
um lugar ou de um evento (prefiro “invento”, tal como se
falava, em “inventonas”) ou “noticiar” que numa escala,
mais ou menos inventada mas sempre inócua, lhe foi atribuído o
primeiro lugar.
Esta
proliferação de boas notícias, constantemente referidas sobre o
mesmo “cliente” nos deve levar a recordar como funciona tanto os
promotores e interessados, como os servidores. Por pouco tempo que
dediquemos a pensar neste fétido assunto, é fatal que surjam
algumas perguntas. As respostas são imediatas, pois que o
discernimento, tantas vezes em estado letárgico, só
pergunta aquilo de que julga conhecer a resposta. Ou que tal como o
pobre perante uma esmola choruda, desconfia. Neste caso o
cidadão, em estado de meditação transcendental, suspeita da
existência de tramoia.
Eis
algumas destas questões:
- Estas
opiniões, em geral muito favoráveis, as podemos considerar como
válidas?
- Existe
isenção e merecem credibilidade?
- Aceitamos
que de uma parte e da outra houve honestidade?
- Somos
incrivelmente tolos ao aceitar estes embustes potenciais?
Aceitando
a possibilidade, mesmo que remota ou de baixa intensidade, de que
existam alguns fazedores de opinião verdadeiramente honestos,
a experiência nos diz que a maioria aceitam o encargo por uma fraca
recompensa. Inclusive, num excesso de boa vontade, podemos admitir
que existem algumas borlas. Tal como uma acompanhante de luxo, das
que levam coiro e cabelo para atender o tolo endinheirado, é capaz
de dar uma borla a um sujeito que lhes caiu no goto.
Lamentamos
que a experiência de vida nos elucida acerca da existência de
personagens, sem préstimo de nenhuma espécie, a não ser a de serem
capazes de enganar os seus iguais, mas que conseguem manter
as bolas no ar, como um malabarista de casino, até o dia em
que um espirro irresistível as faz cair todas de uma vez. Logo surge
outro esperto, que aplicando as mesmas tretas toma o lugar vago. Não
terá grandes problemas em actuar frente ao mesmo público.
Um
público que se imagina muito actualizado e sabido, mas que caiu no
conto do vigário com suma facilidade. Hoje até servem as aldrabices em muitos programas de televisão. Alguns inclusive afirmam que
entregaram prémios de muitos euros a uns felizardos. Posteriormente ficamos
a saber que o agraciado nunca vê a cor deste dinheiro. O mais que
recebem são talões de compras de artigos sem préstimo, previamente
seleccionados e com preços inflacionados, que só se podem levantar
em lojas de patrocinadores. E as pessoas continuam a cair!
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