quarta-feira, 15 de fevereiro de 2017

CHERCHEZ LA FAMME



Quando era jovem e necessitava de desanuviar a mente socorria-me da leitura de romances policias, concretamente dos livros de bolso da Vampiro. Uma colecção bem aceite pelo público, sem esquecer os livros franceses de capa amarela. Nas salas de cinema também nos ofereciam, filmes policiais de boa feitura, com actores de primeira escolha, entre eles recordo Humphey Bogart, Robert Mitchum, Charles Boyer, James Stewart, James Cagney e outros.

Tanto nos romances como nos filmes era frequente ver citada uma frase que se tornou clássica: cherchez la femme. Era uma época onde o machismo imperava, tal como ainda hoje, e se admitia que muitos crimes tinham como motivação, directa ou indirecta, o feitiço da mulher. Coitados dos criminosos, tão vulneráveis à sedução.

Não julgo pertinente o facto de que, ao reler o artigo de opinião escrito por Feliciano B. Duarte, em que surge uma denúncia social, ou desabafo de um desiludido socialmente, fosse reflexo de uma situação amorosa. Nada sugere esta situação, além de que não estamos perante um caso de crime e polícia. Todavia quanto mais medito no assunto, mais considero que deve existir um probleminha de fundo que levou o político, experiente e veterano, apesar de ainda jóvem, a escrever um libelo sobre a situação social no presente.

Cita um problema, que valoriza como grave. E eu estou plenamente de acordo com F. B. D. Pior é o que, implicitamente nos diz: não se sente capaz de conseguir esquematizar um processo de recuperação mental que se possa aplicar, com possibilidades de êxito, a tantos cidadãos, totalmente desligados da realidade que os envolve. Por outro lado sinto que no seu artigo transparece uma subtil crítica a muitos dos políticos da actualidade.

Numa tentativa de me elucidar sobre o Senhor Feliciano B. Duarte fiz o que nunca fiz até hoje. Procurei no Google, escrevendo o seu nome completo, as referências que, como se pode verificar lendo, foram seleccionadas e escritas por ele mesmo. Refere como ocupou lugares, com algum relevo na estrutura do seu partido, PSD, e que mereceu ser escolhido para lugares nas equipas gubernativas. Todavia sem atingir a primeiro patamar. Mas é de lei apreciar que foi subindo tenazmente e com dedicação à causa.

Mas destes elementos biográficos não surge uma explicação para o seu desânimo, e muito menos que a preocupação inerente que sugere ter tenha atingido um grau tal que o obrigue a fazer uma retirada nobre e heróica, por respeito aos seus princípios de ética social. Que não podemos duvidar que os tem.


Apesar desta minha reduzida pesquisa, certamente por não ter accesso aos corredores e às intrigas, lutas e traições, que sempre existiram entre os políticos, tenho que confessar que não encontrei um, ou uns, motivo evidente que tenha incitado a Feliciano B. Duarte no sentido de deixar, preto no branco, um balanço de como uma grande parte da cidadania está, exclusivamente, atenta a factos sem importância. Da minha lavra acrescento que os assuntos importantes sempre são de gestão e digestão difícil, e implicam um esforço comportamental que muitos não mostram estarem dispostos a fazer.

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