terça-feira, 31 de março de 2020

HISTÓRIA - OS AMIGOS HOLANDESES

Este artigo, longo mas MUITO INTERESSANTE, chegou-me "por mão amiga" e considerei ser de interesse para toda a população, ou pelo menos aqueles que se interessam pelo passado que afecta o presente.

FORÇA! amigos. Agarrem-se  e leiam, que a cultura faz bem


Assunto: Fwd: FW: Não esquecer a história....com a Holanda

Não esquecer a história....com a Holanda



A não deixar de ler o histórico holandês! Não mudaram! Quando o
Ministro Holandês das Finanças se mostra um canalha, nada como uma
«Lição de História»

A GUERRA IBERO-HOLANDESA

Não vou discutir a questão dos Eurobonds, que já é velha e em que a
posição dos diversos países europeus não mudou. O que me ocorre
comentar é o acinte do ministro holandês para com a Espanha.

Porquê em especial a Espanha?

Há coisas da História que ficam na memória coletiva dos povos, não
tanto enquanto memória dos factos, mas como memória emocional, em
ódios e estimas. E o facto é que há na Holanda um ressentimento
secular contra Espanha e também contra Portugal, como se constata em
blogs e ciber-grupos quando se fala dos Descobrimentos ibéricos. Donde
vem isso?

É que a Espanha e a Holanda travaram uma guerra durante 80 anos, entre
1568 e 1648! A qual acabou com a vitória holandesa na Europa, mas a
derrota no Ultramar espanhol. É uma longa história, que não vou
desenvolver, mas referir apenas que, sem justificação, a Holanda
alargou essa guerra a Portugal, no que foi sem dúvida a primeira
guerra imperialista moderna da História europeia.

Por cá é pouco conhecida, como tudo o que respeita à História do nosso
império ultramarino, mas essa guerra foi a guerra mais longa que
Portugal travou na sua História, a seguir à guerra contra os mouros.

Basicamente, a Holanda procurou roubar a Portugal o seu império
ultramarino. Começou por piratear sistematicamente os nossos galeões e
caravelas, e no Oriente tirou-nos tudo o que pôde - Ceilão, as Molucas
(atual Indonésia, de que só nos deixou Timor) , o comércio com o
Japão, e só não nos tirou Macau por que o imperador chinês nos
protegeu, ao contrário do imperador japonês.

Na África tirou-nos o Cabo, não conseguiu tirar Moçambique, mas tentou
também tirar-nos o Brasil e as colónias da África atlântica. Que foi
onde a guerra foi mais acesa e longa.

A guerra no Brasil foi pela apropriação das plantações de açúcar, e
durou 65 anos. Foram os próprios brasileiros quem derrotou e expulsou
os holandeses, embora estes tenham depois ido plantar açúcar na
Guiana. Como o açúcar brasileiro (que todos os outros depois copiaram
no Haiti, em Cuba, etc.) era uma agroindústria inviável sem os
escravos africanos, a Holanda tomou-nos São Tomé e Príncipe, a Mina na
costa da Guiné, e em 1640, quando já não éramos súbditos dos espanhóis
e, portanto, sem desculpa, Luanda. Mas apenas Luanda, nunca
conseguindo desalojar os portugueses das suas posições no interior,
graças aos nossos aliados africanos e também à ajuda brasileira.

Também no Brasil, como em Angola, os holandeses nunca conseguiram
passar de algumas cidades costeiras para o interior. No interior
dominaram sempre os portugueses, os luso-brasileiros, e em Angola os
luso-africanos. No Brasil os luso-brasileiros mantiveram cercadas as
cidades costeiras sob domínio holandês, desbaratando-os quando
tentavam penetrar no interior. E foram os brasileiros quem financiou,
construiu e equipou a armada que foi a Luanda e a São Tomé recuperar
aquelas fontes de escravos para as plantações de açúcar. A
historiografia brasileira oficial considera que foi nessa guerra que
se forjou a sua nacionalidade, com a luta combinada de destacamentos
luso-brasileiros brancos, tropas índias, e tropas negras formadas por
ex-escravos. Todos juntos contra os holandeses.

A questão religiosa foi importante, neste desfecho da guerra
luso-holandesa. A aversão calvinista dos holandeses aos ícones
religiosos católicos, aos santinhos e aos andores com a Nossa Senhora,
às relíquias sagradas e ao Papa, não colhia apoio entre africanos e
índios cristianizados pelos estimados jesuítas. Pelo contrário,
escandalizava-os.

A Holanda perdeu essa guerra no Atlântico, portanto, mas ficou ressentida.

Nota: a Holanda era a parte norte de uma nação mais vasta, os "países
baixos", cuja parte sul acabou por ficar do lado espanhol. Não só com
a maioria católica do sul que não se revia no Calvinismo holandês,
como de parte dos próprios protestantes de outras igrejas, dada a
intolerância Calvinista. Essa parte sul acabou por conseguir a sua
independência em 1830 e é desde então a Bélgica. Com quem Portugal
sempre se deu bem.

A História tem muita força...





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MEDITAÇÕES – Tristezas não pagam dívidas



A MACHADADA MORTAL

Apesar de que a invasão, anormal, do turismo já tinha provocado notórias alterações na estrutura e diversidade do comercio tradicional, não só nos centros das cidades e vilas mas até em vilas pequenas, se bem que nestes casos o factor que mais deve ter contribuído à quebra dos pequenos negócios foi a implantação e cativação dos clientes que aconteceu com os Centros Comerciais. Desapareceram, quase que totalmente, muitas lojas que serviram os cidadãos com bom surtido de artigos, em geral dentro de uma gama própria do seu ramo, e foram sendo substituídos por apelativos locais de alimentação e bebidas.

A Lisboa pombalina é o exemplo mais evidente de como a modernidade, tão gira e apelativa, conseguiu eliminar a tradição gremial que se tinha mantido desde a idade média. Curiosamente muitas artérias mantiveram os nomes das profissões e comércios que ali estavam reunidos, como são correeiros, sapateiros, bacalhoeiros, douradores, fanqueiros e outros, mas os profissionais e comerciantes destes ramos … nem vê-los.

Podemos aceitar esta “evolução irresistível do mercado” com tristeza e até desorientação, pois deixamos de poder contar com uma quase garantia de poder resolver um problema, uma falta de peças ou reparações. Desapareceram, mas os problemas que sub-sanavam não desapareceram. Estamos estagnados no esquema de avariado<' Deitar fora! E comprar outro! uma carência específica.

Mas a machadada final chegou agora. A que faltava para liquidar totalmente aqueles pequenos comércios que iam resistindo, com muita dificuldade mas confiando com a fidelidade de um lote de clientes veteranos: a ordem de encerramento “provisional” que se emitiu por razões de prevenção em evitar contágio, e sem que não se possa avançar uma data certa para a autorização de reabertura, conduziu, como era de prever. Muitos pequenos negócios, e não só lojas de porta aberta na rua, não tinham base de tesouraria para aguentar as despesas fixas que estão subjacentes, ao não poder contar com as entradas de caixa através das vendas.

As medidas de apoio que progressivamente são anunciadas terão, como é evidente, que obedecer a uma série de regras e compromissos. E ao estar a máquina produtiva e comercial quase que congelada o Estado tampouco recebe o fluxo habitual de abastecimento monetário, não só pelo imposto de consumo, mas por muitas outras imposições fiscais que dificilmente serão satisfeitas com os negócios fechados.

Mesmo que chegue um dia em que se possa comunicar que o pior dos perigos de contagio passou à história, e sem esquecer que nem todas as linhas de produção podem arrancar em pleno com um simples ligar o interruptor, podemos apostar, sem intuito de ganhar, que serão muitos os encerramentos definitivos.

E se o turismo de massas não regressar, coisa muito provável, pelo menos naquela dimensão dos últimos 12/16 meses, os problemas sociais e económicos serão de grande vulto.

Um dos sectores que não nos atrevemos a predizer sobre qual será o seu futuro é o da aviação comercial, especialmente a de viagens de turismo. Hoje os aviões parados já tem dificuldade em encontrar um aeroporto com vagas do parque. É muito provável que muitos destes aparelhos retomarão o serviço activo. Mas haverá passageiros para eles de imediato? Ou teremos aviões parados por períodos indefinidos? Se as companhias podem entrar em risco de falência, e se virem obrigados a reduzir as frotas, colocando parte ou a totalidade, dos seus aparelhos, incluindo os que estavam sob regime de leasing, à venda, a preços de saldo, quem os comprará? Só se forem os países que absorveram a produção com custos inferiores dos que seriam possíveis no ocidente. Com a China à cabeça. E se houver licitação será com preço e com as condições que ela, como comprador, decidirá.

Fazer de futurólogo, orientado para o pior cenário, não é agradável. Mas estamos metidos num lamaçal que é pior do que uma guerra militar, e nos capítulos que descrevi o que se pode prever é que está a chover sobre terreno já enlameado. E o sol ainda demora! Falta ver que cartas tem na mão o governo dos EUA, e se eles conseguirão aguentar a maré desgastante que está-se aproximando. A Europa está rodeada, cercada, de inimigos, aos que se juntam as levas de migrantes oriundos do terceiro mundo, para quem alguns países da Europa, que não todos, são a sua esperança de melhor vida.

segunda-feira, 30 de março de 2020

CONEXÕES – A partir do Antigo Testamento



A PASSAGEM DO MAR VERMELHO


Já faz algum tempo que entendi ser necessário ter uma mente aberta e especulativa, quando lêssemos o Antigo Testamento, procurando adaptar o que se conhecia quando se iniciaram os relatos -passarem a escritos em documentos foi bastante mais tarde- às diferentes fontes de conhecimento que hoje temos à nossa disposição. Ou, por outras palavras, avaliar aqueles textos, tão copiados e manipulados ao longo de séculos e que foram escritos para um público de gente rude e inculta, e entender que, nos tempos em que vivemos, e até a partir do séc. XIX, as mentes estão -ou deveriam estar- mais propensas a procurar explicações naturais para muitos feitos, que anteriormente a maioria das pessoas nem sequer se atrevia a ponderar.

Lendo um relato de como Napoleão, na derradeira década do século XVIII, levou o seu exército para o Egipto com o propósito de neste território encontrar a chave para o Médio Oriente -uma visão pessoal do corso na tentativa de emular os feitos de Alexandre o Grande- rumou em direcção à Palestina, concretamente quando estava prestes a tentar conquistar a fortaleza de São João de Acre.

Dos feitos, aventuras e desventuras de Napoleão no Egipto não me estenderei aqui, mas quero citar a passagem do golfo de Suez, a pé firme, aproveitando uma extraordinária maré que fez recuar as águas do Mar Vermelho. Hoje podemos deduzir que aquele recuo, e o consequente avanço tumultuoso das águas logo a seguir, devem ter sido consequência de algum terramoto ou maremoto. Semelhante ao que assolou Lisboa em 1755.

E agora vamos à Bíblia, ou Antigo Testamento:

No ÊXODO, versículo 15,16 e seguintes podemos ler:

-Então disse o Senhor a Moisés...
E tu levanta a tua vara, e estende a tua mão sobre o mar, e fende-o, para que os filhos de Israel passem pelo meio do mar, em seco.
21 – Então Moisés estendeu a sua mão sobre o mar, e o Senhor fez recuar o mar por um forte vento oriental, toda aquela noite; e o mar tornou-se em seco, e as águas foram partidas.
22 - E os filhos de Israel entraram pelo meio do mar, em seco: e as águas foram-lhes como muro, à sua direita e à sua esquerda.
23 - E os egípcios seguiram-nos, e entraram atrás deles todos os cavalos do Faraó, os seus carros e os seus cavaleiros, até o meio do mar.
26 - E disse o Senhor a Moisés: estende a tua mão sobre o mar, para que as águas tornem sobre os egípcios, sobre os seus carros e sobre os seus cavaleiros.
27 - Então Moisés estendeu a sua mão sobre o mar, e o mar retomou a sua força ao amanhecer, e os egípcios fugiram ao seu encontro: e o Senhor derrubou os egípcios no meio do mar.

Neste tema, como em outros que se encontram relatados na Bíblia, nomeadamente no Antigo Testamento, como feitos miraculosos, se esgravatarmos um pouco podemos chegar à conclusão de que, além de ignorarem muitas coisas acerca da geologia e meteorologia, os relatores e depois os transcritores -já bastantes séculos mais tarde- tinham que seguir, tanto quanto possível -digamos à letra- o que e para quem se queria relatar. Não se podem negar totalmente, em absoluto; em geral surgem dados noutras fontes que nos dão relatos fisicamente coincidentes, sem o recurso de forças sobrenaturais de deuses ou diabos.

O mais curioso é que, nos nossos tempos, bem dentro do séc XXII, existam pessoas que se podem valorizar como letrados, não ignorantes, mas que rejeitem a actualização. O poder explicar certos acontecimentos até então confusos e daí com possibilidades de serem qualificados como miraculosos. O modernizar não deveria entender-se como uma falta ou desprestigiante, mas optar por entender que cada época tinha as suas próprias ferramentas e disponibilidades para raciocinar.

Quando estudamos textos antigos é pertinente situar a nossa mente numa amplitude de horizontes, incluídos os do passado, sem que o nefasto orgulho do conhecimento actual nos leve a denegrir o que os antepassados nos legaram. Sem as suas aportações, que erraram por desconhecimento, não teríamos chegado aos níveis actuais.



Já faz algum tempo que entendi ser necessário ter uma mente aberta e especulativa, quando lêssemos o Antigo Testamento, procurando adaptar o que se conhecia quando se iniciaram os relatos -passarem a escritos em documentos foi bastante mais tarde- às diferentes fontes de conhecimento que hoje temos à nossa disposição. Ou, por outras palavras, avaliar aqueles textos, tão copiados e manipulados ao longo de séculos e que foram escritos para um público de gente rude e inculta, e entender que, nos tempos em que vivemos, e até a partir do séc. XIX, as mentes estão -ou deveriam estar- mais propensas a procurar explicações naturais para muitos feitos, que anteriormente a maioria das pessoas nem sequer se atrevia a ponderar.

Lendo um relato de como Napoleão, na derradeira década do século XVIII, levou o seu exército para o Egipto com o propósito de neste território encontrar a chave para o Médio Oriente -uma visão pessoal do corso na tentativa de emular os feitos de Alexandre o Grande- rumou em direcção à Palestina, concretamente quando estava prestes a tentar conquistar a fortaleza de São João de Acre.

Dos feitos, aventuras e desventuras de Napoleão no Egipto não me estenderei aqui, mas quero citar a passagem do golfo de Suez, a pé firme, aproveitando uma extraordinária maré que fez recuar as águas do Mar Vermelho. Hoje podemos deduzir que aquele recuo, e o consequente avanço tumultuoso das águas logo a seguir, devem ter sido consequência de algum terramoto ou maremoto. Semelhante ao que assolou Lisboa em 1755.

E agora vamos à Bíblia, ou Antigo Testamento:

No ÊXODO, versículo 15,16 e seguintes podemos ler:

-Então disse o Senhor a Moisés...
E tu levanta a tua vara, e estende a tua mão sobre o mar, e fende-o, para que os filhos de Israel passem pelo meio do mar, em seco.
21 – Então Moisés estendeu a sua mão sobre o mar, e o Senhor fez recuar o mar por um forte vento oriental, toda aquela noite; e o mar tornou-se em seco, e as águas foram partidas.
22 - E os filhos de Israel entraram pelo meio do mar, em seco: e as águas foram-lhes como muro, à sua direita e à sua esquerda.
23 - E os egípcios seguiram-nos, e entraram atrás deles todos os cavalos do Faraó, os seus carros e os seus cavaleiros, até o meio do mar.
26 - E disse o Senhor a Moisés: estende a tua mão sobre o mar, para que as águas tornem sobre os egípcios, sobre os seus carros e sobre os seus cavaleiros.
27 - Então Moisés estendeu a sua mão sobre o mar, e o mar retomou a sua força ao amanhecer, e os egípcios fugiram ao seu encontro: e o Senhor derrubou os egípcios no meio do mar.

Neste tema, como em outros que se encontram relatados na Bíblia, nomeadamente no Antigo Testamento, como feitos miraculosos, se esgravatarmos um pouco podemos chegar à conclusão de que, além de ignorarem muitas coisas acerca da geologia e meteorologia, os relatores e depois os transcritores -já bastantes séculos mais tarde- tinham que seguir, tanto quanto possível -digamos à letra- o que e para quem se queria relatar. Não se podem negar totalmente, em absoluto; em geral surgem dados noutras fontes que nos dão relatos fisicamente coincidentes, sem o recurso de forças sobrenaturais de deuses ou diabos.

O mais curioso é que, nos nossos tempos, bem dentro do séc XXII, existam pessoas que se podem valorizar como letrados, não ignorantes, mas que rejeitem a actualização. O poder explicar certos acontecimentos até então confusos e daí com possibilidades de serem qualificados como miraculosos. O modernizar não deveria entender-se como uma falta ou desprestigiante, mas optar por entender que cada época tinha as suas próprias ferramentas e disponibilidades para raciocinar.

Quando estudamos textos antigos é pertinente situar a nossa mente numa amplitude de horizontes, incluídos os do passado, sem que o nefasto orgulho do conhecimento actual nos leve a denegrir o que os antepassados nos legaram. Sem as suas aportações, que erraram por desconhecimento, não teríamos chegado aos níveis actuais.

UM ACRESCENTO DE ÚLTIMA HORA
Recordei que no relato do ÉXODO refere que as águas se separaram devido a um forte vento, E, por sinal, as grandes maré de Veneza ocorrem não só pelo efeito da lua mas pelo vento suão que sopre fortemente naqueles dias, de sul para norte, ao longo do Adriático e empurrando as águas, salgadas, para o Cul de Sac onde está erguida, sobre estacas, a cidade lacustre de Veneza.

MEDITAÇÕES – Como as prostitutas



NÃO SE RESPEITARAM AS REGRAS

Diz-se, ou dizia-se, que as prostitutas conscientes das suas obrigações, depois de cada serviço não só se lavavam na zona de trabalho, tanto exteriormente como interiormente, como algumas até rezavam uma oração apropriada dirigida à sua protectora, que se afirma ser a Santa Maria Madalena, originária de Mandala (daí o cognome) e íntima amiga (sem especificar qual o grau de intimidade existente)do profeta Jesus.

Este desrespeitoso pensamento surgiu-me, espontaneamente, quando lia e relia as várias notícias e comentários de como se tinha sentido MUITO OFENDIDO, como português e como Primeiro Ministro António Costa, depois de ouvir a declaração do ministro das finanças holandês Wopke Hoekstra onde repelia a ideia de lançar Eurobonds que permitissem ajudar os países do sul da União Europeia (nomeadamente Portugal, Espanha e Itália) a evitar o derrube, económico, que se seguirá à epidemia em curso.

Cá por casa dizemos Quem não se sente não é filho de boa gente, mas é pertinente que a boa imagem que se pretende defender exista de facto. E aí que que entram as dúvidas, sérias dúvidas, de que o comportamento de Portugal perante as exigência e “ajudas” vindas da UE tenham sido “exemplares”.

Não podemos esquecer as pressões, internas e externas, que nos empurraram para solicitar a entrada no clube da União Europeia, e nas envenenadas “ofertas de ajuda” que nos levaram a desmantelar as já obsoletas frotas marítimas comerciais e pesqueiras, e depois nos imporem compromissos vários que, no fundo, eram coletes de forças impossíveis de abrir.

As prometidas ajudas vieram. Ah se vieram! Compraram para melhorar algumas indústrias já rentáveis e empurraram para o fecho as que não podiam competir com os preços dos seus “parceiros”. Foi um excelente negócio! Para os ricos da UE e para os urubus nacionais que conseguiram um bocado de bolo (para os seus bolsos, ou contas no exterior)

Se na agricultura conhecem-se desvios importantes das verbas comunitárias, muitas em projectos que só eram ilusoriamente viáveis no papel e que, felizmente, nunca chegaram a ser postos no terreno. Mas onde o regabofe foi notável pela maioria dos cidadãos anónimos, foi nas muitas verbas que se sumiram, sem dar os resultados propostos, na área do ensino e formação profissional.

Com os fundos europeus geraram-se boas fortunas, sem esforço, entre a cidadania nacional.

Com toda esta argumentação, (não apresentada por aquilo de que a cautela é boa conselheira) o nosso primeiro ministro pode fazer um papel de virgem (num dos ouvidos) humilhada e ofendida. A partir deste bater o pé as coisas mudarão e os representantes dos países ricos, com certeza, decidirão como e em que condições abrirão os cordões da bolsa. Será que ainda temos algumas coisas de valor que se possam vender ou hipotecar?



domingo, 29 de março de 2020

MEDITAÇÕES – Castelos de cartas



QUANDO AS TORRES GÉMEAS CAÍRAM

No dia 11 de Setembro do 2001, em que se deu terrível e inesperado ataque terrorista às Torres Gémeas de Nova Iorque, eu estava, casualmente na Praça de Bocage em Setúbal. O meu telemóvel (naquele tempo um “tijolo”) chamou. Era o meu filho segundo que me noticiava que, naquele momento, as televisões de todo o mundo estavam transmitindo, em directo, um avião que se estampara, propositadamente, sobre uma das torres gémeas. Desde o primeiro momento deduziu-se que aquilo não era um acidente fortuito, posto que aquela zona estava totalmente interdita para ser sobrevoada. Aquilo não era um acidente, era um atentado terrorista, que não demoraram a confirmar os mandantes da Al Keda.

Confesso, envergonhado, que naquele instante a minha reacção visceral foi considerar que já era altura de que os habitantes dos EUA sentissem, na própria pele, e em sua casa, aquilo que eles se dedicavam a fazer a outros povos! Obviamente, não tardei a sentir a realidade que caiu sobre as pessoas que estavam, naquela altura, no interior do edifício. Certamente que nenhum dos que foram apanhados tinha a mínima culpa para merecer um fim tão terrível. ;as... sabemos que, em tempo de guerra, é habitual que os civis levem com as culpas dos que se mantêm resguardados nos seus gabinetes, comandando desde longe.


Não tardou que outro avião fosse, propositadamente também, embater contra a segunda torre. Aquilo foi dantesco, terrível, além de espectacular, por estar centrado na zona de negócio mais importante da cidade símbolo dos USA. Não se tratava de uma operação de guerra entre países em conflito. Nem sequer se tratava duma acção pontual segundo as regras dos bombardeamentos massivos, como os que se fizeram durante a segunda guerra mundial.

Nem se podia comparar a duas bofetadas na face do seu inimigo, ou mesmo a serem, figuradamente, dois fortes murros. Os alvos foram estudados e atingidos com saber estrutural. Quem preparou esta operação suicida sabia, muito bem, donde deviam atacar para conseguir derrubar, totalmente, aqueles magnos edifícios.

Confirmaram-se, sem qualquer dúvida, os meus rudes receios de que todos aqueles estudos técnicos, com a composição de vectores e anulação dos esforços, que justificavam estas estruturas, não podiam corresponder à realidade, apesar de que cada vez se erguem edifícios mais altos mais arrojados, que contrariam os meus receios. Continuo convencido de que, de facto, estamos brincando com castelos de cartas, e podemos ter a certeza de que outras torres ruirão sem necessidade de terroristas que saibam em que ponto lhes dar a marretada.

Pensamento pessoal – Tentar enganar a força da gravidade é arriscado, e vai contra o desprezado senso comum.



sábado, 28 de março de 2020

MEDITAÇÕES – Olhando para trás



DO ALTO DO ESCADOTE

Sem pretender resolver a crise que está anexa à epidemia do Vírus a situação política-económica-social e sanitária em que nos encontramos recomenda-se que tentemos ver as conexões que a actualidade pode ter com o passado, mais ou menos recente.

Uma das situações, perigosas por desestabilizar o que se tinha conseguido, é a campanha de descrédito em marcha, para abater o que resta da União Europeia. Uma erosão propositadamente comandada pelos dois paladinos anglófonos com costas banhadas pelo Atlântico. Começando pelo disparatado Boris Johnson que agarrou nos seus concidadãos queixosos. Que carregam umas viseiras que os orientam, erradamente, para um inimigo “continental” a quem atribuem os males que os afligem sem atender que foram os seus governos anteriores aqueles que decidiram acompanhar os novos ventos da história, fechando minas e fábricas não competitivas na economia global. Da qual não se encontra forma de escapar!

Em parceria temos os EUA, com o seu ambicioso e inculto actual presidente. Apesar das loucuras que Trump faz, continuadamente, para agradar os seus também incultos e zangados apoiantes, entendo que devemos recuar até a década de '40 do século passado, e estudar a evolução dos EUA perante a Europa.

Numa análise muito primária podemos avaliar os habitantes dos USA como sendo, na sua maioria (1) europeus, emigrantes, muitos forçados pelas circunstâncias, da Europa, onde a sua vida estava em risco elevado.

Além de eliminarem, quase que radicalmente, os habitantes indígenas, criaram uma colónia onde a maioria dos seus elementos tinha que lutar duramente para sobreviver, uns à força do seu trabalho e outros sem grandes preocupações éticas. Pelo caminho deixaram de sentir a miragem de regressar aos seus países de origem; criaram um sentimento de nação totalmente a partir de zero, contando, porém, com amplos horizonte de terra disponível e de possibilidades de progredir, economicamente, a quem tivesse unhas para tal.

Era fatal que, entre muita miséria, germinasse a classe dos economicamente poderosos. Que rapidamente tomou o leme do novo País, vindo a tornar-se, progressivamente, uma potência ansiosa de disputar o primeiro lugar, igualando e ultrapassando a Europa. No emergir das ditaduras europeias, de tipo fascista (2), os governos dos EUA, astutamente decidiram colocar-se neutrais nos conflitos bélicos que grassaram na velha Europa. O que não os impediu de se preparar na produção de armamento, tanto terrestre como marítimo e aéreo, não só para sua possível defesa mas, também para se financiar através de vendas aos beligerantes.

Quando a progressão dos conflitos deu sinais de que seria previsível que se quebrassem os pactos de não agressão, e aproveitando uns erros de previsão por parte das tropas alemãs, corrigiram o rumo e colocaram as suas forças, e armamento em quantidades e modernidade, para colaborar com os exércitos europeus que estavam ameaçados e até invadidos pelas forças do Eixo.

Foi mais uma jogada muito astuta: colocaram material, a facturar mais adiante como dívida de guerra, e pessoal humano (que as famílias se encarregariam de colmatar, em conjunto com o êxodo desde a Europa em guerra e invadida) numa quantidade que, sem dúvida, possibilitou a derrota do Eixo no Ocidente. E sempre longe dos seus USA!

Entretanto, na frente Oriental, (que também recebeu fornecimentos bélicos dos USA) as forças comunistas travaram a progressão “imparável” das forças alemãs, e dado que o número de russos, e assimilados, apesar da mortandade sofrida, era de respeito, quando o conflito já estava prestes a terminar, entendeu-se, e bem, que do Leste vinha outro inimigo invasor. Ou seja, os europeus “aliados”, devedores convictos dos EUA, sentiram-se ameaçados por uma nova vaga de exércitos, estes com bandeiras vermelhas.

Sendo um conglomerado, não homogéneo, mas controlado pelo espirito capitalista, e estando os europeus ocidentais exaustos, com os seus equipamentos fabris obsoletos ou destruídos, tiveram que agarrar, com os braços ansiosos, o famoso Plano Marshall, de “ajuda benemérita”. Sempre procurando que a guerra não chegasse aos seus EUA e, simultaneamente, fazer o possível para que o conflito bélico que se previa poderia surgir com a URSS, aliada temporal contra o Eixo, mas sempre com a vontade, também imperialista, da Rússia de chegar às costas atlânticas frente às americanas, a Europa foi ficando rapidamente devedora do capital sediado nos USA (3) Esta situação gerou a chamada Cortina de Ferro e a Aliança Atlântica NATO, esta comandada, sem discussão, pelos USA e deixando umas cadeiras para se sentarem e poder imaginar que “são gente” alguns dos continentais.

Saltando para a actualidade, os governos americanos (todos eles) sempre fingiram que apoiavam a velha Europa, mas seleccionando os migrantes a quem abriam as portas e, nunca perdendo o fito de se apoderarem da economia europeia, fosse qual fosse a táctica e o método a seguir. O exemplo mais evidente é a forma reptante como Trump, habilidoso e velhaco negociador em proveito próprio, manobra o iluminado e sonhador primeiro ministro inglês.

Desta vez os USA (os que manobram de igual modo, seja qual for o seu partido) não temem a Rússia e pensam que conseguirão enrolar a China, sacrificando o velho continente, que muitos “mericanos” visitam como se fosse uma Disneylândia “quase tão autêntica” como as que na sua terra proliferam.

CONCLUSÃO: Seja por complexos de génese mitológica, ou simplesmente para abjurar das suas origens, os EUA são, foram e serão, sempre um falso amigo da Europa. Só querem dinheiro e poder, que são equivalentes.


  1. Por um momento tentemos esquecer os descendentes dos escravos africanos, mexicanos e outras minorias.
  2. Que tiveram bastante seguidores entre a população dos USA.
  3. Se bem que nas mãos de descendentes de europeus!

quinta-feira, 26 de março de 2020

MEDITAÇÕES – De A.Virella II Menos turismo



Dinossauros e coroa-vírus -19

Enquanto estamos fechados em casa um dos temas preferidos com que nos podemos entreter,é o de especular acerca do que virá a seguir. A futurologia tem avançado com algumas hipóteses, às que daremos mais ou menos importância consoante o nosso estado de espírito no momento. Sem que nos atrever a desprezar nenhuma delas, nem que fosse por aquilo de que todas as cabeças são livres de pensar, certo ou errado, e até de expor as suas ideias e devaneios, além de que damos como possível que algumas acertem no alvo.

Num escrito anterior, recente, dissertei sobre os malefícios que nos trazem, e que mais vão trazer se continuarem, os grandes navios de transporte de turistas aos molhos. E há pouco, meditando acerca da situação actual e no que pode vir a acontecer, recordei que alguns dos que sabem muito (de tudo!) opinaram que a economia estatal da China está muito bem colocada, financeiramente e produtivamente, para adquirir muitas empresas que podem não aguentar a crise que, segundo opinam, se aproxima, depois de o vírus ter amainado.

Daí a que esta minha cabeça efervescente fizesse uma ligação entre o desaparecimento dos grandes répteis, e os diferentes factores que, cumulativamente, lhes tornaram a vida tão difícil, que os quase eliminou, nomeadamente os de maior porte. Além da mudança de temperatura, difícil de suportar para animais de sangue frio, a falta de vegetais, que eram uma parte importante da sua cadeia alimentar, os condenou a morrer de fome.

E, sem premeditação, empalmei esta história tão longínqua com a actual proliferação de navios, enormes e cada vez maiores, construídos exclusivamente para passear largas centenas de turistas, mais enganados e iluminados do que conscientes de que pagaram para estar num carrossel que gira sem parar, ou para pouco, e devem pagar outra vez para ver alguma coisa “extra”.

Suponho, sem provas, que tal como qualquer outro investimento de importância, o armador está ansioso de por o navio a funcionar, muito antes de ter pago o seu valor de construção. Seja por contrato de leasing ou de pagamento por mensalidades ou anualidades, o barco deve andar carregado, não só de passageiros, como de dívidas.

Caso a crise económica que está prevista, em que o desemprego será factor importante, atingir o nível que se receia, de repente as agências e os armadores terão sérias dificuldades para não só aguentar o negócio como, satisfazer os seus financiadores, ou seja, pagar as dívidas de vulto que lhes pesam sobre o negócio. Equivale ao faltar a alimentação aos dinossauros herbívoros, e em sequência aos carnívoros. Uma hecatombe global!

Moral da história: se os ante-diluvianos de grande porte não aguentaram a escassez, uma intensa falta de clientes podem arruinar os armadores e as agências.

E que acontecerá aos enormes navios? Ficarão à venda, numa espécie de leilão. E serão muitos! Pois os únicos capitalistas com capacidade para tomar conta do negócio, tendo não só meios económicos como multidões de humanos desejosos de partilhar passeios, mais ou menos obrigados pelas entidades que os tem agarrados no trabalho, são os chineses!

A China, já pouco comunista mas notoriamente ditatorial, não só pode dominar os sectores produtivos, económicos e comerciais do “mundo livre” como terá a oportunidade, se a quiser aproveitar, de dominar o turismo de massas.

O mundo que conhecemos e o que deixaremos para os descendentes pode vir a dar uma enorme cambalhota.

MEDITAÇÕES – do Albert Virella II - Inflacção


A INFLACÇÃO JÁ CÁ CANTA

Bom dia (termo que nos deixaram de herança os muçulmanos)Bom dia oxalá -herança dos muçulmanos- seja melhor do que os anteriores. Mas lamento opinar que será pouco provável.

Ao dar uma olhadela pelas capas dos jornais do dia, aproveitando o serviço que nos oferece a Google, vi um cabeçalho que confirmava a suspeita de que teria que aparecer mais dia menos dia. A breve dizia, mais coisa menos coisa, que os hospitais e clínicas privadas (e eu acrescento, por minha conta, os fornecedores de material e equipamentos para os hospitais) reclamam, com uma ameaça velada, que para colaborarem com as necessidades que lhes querem impor, exigem que se lhes paguem as contas congeladas.

De imediato, sendo eu um reconhecido adepto dos anexins, veio-me à mente aquele que diz: Cria o corvo, tirar-te-à os olhos. (1)

E se avançarmos nesta estrada que, sem opção, temos pela frente, se aparecerem mais exigências, justas e documentadas, para que o estado abra os cordões da bolsa, sendo que a entrada limpa de impostos tem que diminuir inevitavelmente, e se as ajudas do exterior -leia-se da UE- forem escassas e demoradas a pressão para por a impressora de notas a todo gás -a nove como nos eléctricos- será quase impossível de travar. E, sendo pessimista de nascença, a conclusão que tiro e lamento é:

A inflação está à porta !

Aliás, como argumento da escassez por parte dos fornecedores e importadores, já subiram, bastante, alguns preços de venda ao público, nomeadamente as carnes frescas, e, vergonhosamente, alguns artigos de protecção pessoal como o álcool e desinfectantes. Pessoalmente raro é que tenha que fazer as compras de reabastecimento de comestíveis, mas não me custa a imaginar que já existam mais subidas nos preços. Digamos que é fatal que tal aconteça, pois sempre foi assim e desta vez existem razões que cheguem para se aproveitar.

Hoje não vos maço mais. (por enquanto...)

(1) Pelo pouco que sabemos, as PPP, entre elas as dedicadas à saúde, tem nos seus quadros superiores pessoas que estão, directamente ou historicamente, ligadas aos governantes que facilitaram a sua introdução. E mais não digo...

quarta-feira, 25 de março de 2020

MEDITAÇÕES – Será desta?



CONFIAR NA SENSATEZ É ARRISCADO

Se desta pandemia podemos encontrar alguma coisa válida é que ela prova quão prejudicial se mostrou ser o TURISMO DE MASSAS, e os seus efeitos imediatos. SERÁ QUE OS CIDADÃOS E AS AUTORIDADES NÃO ENTENDERAM QUE ESTE CAMINHAR LEVA A UM BECO SEM SAÍDA?

Não pretendo fazer uma listagem exaustiva dos capítulos sociais que, pela avidez da economia instantânea, tem levado o globo a uma prejudicial distribuição de problemas.

Ao longo da história a humanidade teve que se defrontar com epidemias terríveis, que chegaram a despovoar regiões inteiras, e que para recuperar a sua população demoraram quase um século. E todas estas epidemias sabemos que foram disseminadas, transmitidas, não pelo vento ou as águas em exclusividade, mas, principalmente, pela deslocação dos já infectados, que foram cair em zonas ainda não contaminadas e assim espalhar a doença progressivamente.

Mas se dermos o valor que merecem os ditados populares, aceitamos a mensagem de que o homem é o único animal que tropeça duas vezes (se não mais) na mesma pedra.

Imediatamente temos que discorrer quantos inconvenientes e perigos comporta a loucura (comercialmente proporcionada com fúria constante) para que as pessoas sintam a “absoluta e incontrolável necessidade” de viajar, quanto mais longe melhor, sem importar se destas viagens vão conseguir aumentar a sua cultura real, que é bastante superior á considerada “cultura geral”.

Sem referir o magno problema, ao nível de desastre global, que as deslocações de massas provocam, são demasiados os capítulos em que devemos sentir que esta ânsia de ser visto com o um cidadão de primeira pelo facto de ter viajado de um lado para outro, é equivalente ao que compra livros a metro, ou até só as lombadas sem conteúdo, para encher as prateleiras de uma falsa biblioteca.

Num computo dos malefícios que o excesso de voos e deslocações sem necessidade, assim como a terrível pegada ecológica que deixam os enormes navios-cidade de cruzeiro, coloco, em primeiro e destacado lugar, o que neste momento aflige a humanidade. A disseminação de doenças. A anterior praga foi a disseminação da AIDS, ou SIDA, também facilitada pelas viagens de baixo custo.

Deixou de ser importante descobrir o foco inicial desta pandemia, assim como o deplorável apetite para comer, e até criar em cativeiro, animais exóticos. Outros focos de novas epidemias surgirão neste mundo, tal como aconteceram anteriormente.

O mais notório, neste momento, é que a disseminação foi facilitada, e até promovida por incúria e ambição de rendimentos económicos imediatos, pela massificação do turismo.

A primeira “cidade mártir, reconhecida oficialmente como tal foi Veneza. Que a publicidade turística envenenou e destruiu, sem atender a que, alguns anos, poucos, antes de vir a fechar as portas, já Murano teve que encerrar a sua famosa industria artesanal dos vidros coloridos e peças merecedoras, durante séculos, de apreço, derrotada pela importação de cópias imitações vindas do Oriente, a preços impossíveis de adoptar pelos artífices locais. Foram os retalhistas e armazenistas que, ao provocarem a massificação de compradores (incultos) colaboraram em matar a sua galinha com ovos de oiro.

Lisboa, famosa por ser velha e simultaneamente menina e moça, vai a caminho, acelerado, para ser também uma múmia repintada, caricata e abandonada como uma velhota que se mascara de pretensa rapariga. E DEPOIS?

terça-feira, 24 de março de 2020

VIVÊNCIAS – Nunca passamos por isto




O VÍRUS QUE NOS RECLUI

Não tenho referências, próprias nem através de testemunhas e relatos, de que uma ordem de recolher nas suas residências, por um período indeterminado, e em tempo de paz, fosse seguido com tanta aceitação e obediência pela maior parte da população, ou quase a totalidade. Causa admiração ou mesmo pasmo, tanta obediência.

Confesso que, como possivelmente acontece com muitas outras pessoas, estava convencido de que a fama de que os latinos, e até os tais lusitanos incapazes de se governar ou ser governados, eram pouco obedientes, desrespeitadores e rebeldes se as circunstâncias lhes fossem favoráveis, conduziriam a que uma parte notável da população não obedecesse as regras. Pelo menos enquanto não lhes fossem aplicadas penalidades. Aceito, porém, que estes desvios devem-se tão só por birra, por vontade de faltar, de provocar, sem que desejem derrubar o estatuto ou não julguem, serem válidas e correctas as normas apresentadas.

A situação de perigo que conduziu às normas inusuais justificam-se plenamente pelo facto de se estar perante um inimigo invisível e inaudível. Muito diferente seria o comportamento da população caso tivéssemos que enfrentar uma guerra com bombardeamentos, tiros, prisioneiros sem garantia de regresso, fuzilamentos, casas destruídas, vias de comunicação e transporte inoperacionais. O sermos afectados por vírus é algo normal, usual e perigoso. O que torna anormal este surto foi a rapidez e extensão global com que se instalou em pouco tempo. Isso é o que nunca tinha sucedido até hoje. 

Além disso, se pretendermos encontrar uma similitude a uma guerra mundial nos deparamos com uma diferença inusitada. É um ataque biológico extensivo!. Desta vez somos obrigados a recear os efeitos catastróficos restritos às pessoas e não a bens, com a agravante de se prever que venha a ter como consequência acrescentada uma crise económica e social de magnitude temível.

É imperioso que se respeite, tema e se ponham todos os meios científicos e sanitários para controlar e eliminar este inimigo invisível, mas muito perigoso. E durante uns tempos que se prevêem poder ser difíceis.

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Por razões de logística tive que sair “a campo descoberto”, ou seja para a rua, em duas ocasiões. Sempre com destino certo e com percursos definidos. Practicamente cruzei-me com poucas pessoas, uma de cada vez, máximo duas ou uma com cão (1). E nenhuma autoridade apareceu para nos inquirir acerca do motivo, ou desculpa por assim dizer, que nos levou a desobedecer o “recolher obrigatório” que nos foi imposto, ou requerido. Foi com satisfação e até muita estranheza, pelo raro, que poucas viaturas passaram por as vias normalmente concorridas.

A memória individual sabemos que é curta no tempo e também falsa no distorcer da realidade. Por isso o conhecimento que temos sobre as grandes epidemias, mesmo as mais recentes como foram a gripe espanhola, a tuberculose, as sezões, o tifo, a poliomelite ou a AIDS, sem referir outras mais anteriores como foram a peste bubônica, a peste negra, a febre amarela, o cólera e outras, que dizimaram populações. Mas de muitas só restam as memórias escritas.

Falta ver o que acontecerá no futuro imediato. Não se prevê um fim súbito desta ameaça. Antes pelo contrário. Admite-se que teremos, pelo menos, mais umas longas semanas de risco e recolhimento. Os alimentos necessários e as possibilidades de pagamento estarão disponíveis para toda a população?

(1) como pilheria li que alguém ansioso de sair para ar livre, e temeroso de ser punido pediu o cão do vizinho emprestado para o levar a passear, mais propriamente fazer as suas necessidades biológicas. Terá apanhado os cócós?

segunda-feira, 23 de março de 2020

UMA COLABORAÇÃO

Nestes dias em que o recolhimento é obrigatório restam-nos, para não estar totalmente isolados neste mundo tão povoado, as conexões via electrónica. normalmente limitadas às pessoas de família e algúm amigo mais decidido à partilha. São pouquíssimos !

Mas sempre surgem excepções. Felizmente. Mas ao partilhar situações e dificuldades sentimo-nos menos isolados.

De pessoa amiga recebí um relato RELATIVAMENTE LONGO (e sou consciênte de que cada dia que passa as pessoas se tornam mais avessos a longas leituras; preferem falar, falar, falar e  só raramente a escutar) . Atrevam-se a ler o que fui autorizado a editar, pois que é um exemplo de comportamento a seguir e valorizar.


Infectada ou nem por isso

Começo como sinto: trago o SNS debaixo da pele, como sucede com as pessoas que amamos. Posto isto, passo a narrar o meu episódio Covid 19 e a experiência, em primeira mão, do terreno. Um caso é um caso, não faz escola, mas coleccionemos testemunhos e o retrato será possível.
Há duas semanas, estava ainda a trabalhar em pleno, desenvolvi uma infecção na garganta, que se revelou chatinha e pouco habitual. Como reza a história doméstica “a mãe nunca fica doente”, retorquindo eu, mau feitio, “há pessoas que não podem ficar doentes”... confiei que a maleita não perduraria além das 24 horas e... deixei andar. Três dias depois continuava aflita e muito congestionada. E comecei a tossir. Cansa enormemente, a tosse. Sexta-feita 13 já não fui ao Museu. Tinha passado a semana a maldizer o (des)governo que fechava equipamentos, mas permitia que milhares de pessoas continuassem a usar diariamente os transportes públicos, apinhados à hora de ponta, e a entregar o passe à mão ao revisor. Também já não deixei os rapazes irem à escola, pese o (des)governo de, apenas no dia anterior, ter sido decidido não a(s) fechar. E fui tossindo, tossindo. Na 2a feira passada, a tosse estava tão pegada, dia e noite, que me resolvi ao único xarope que sobrava em casa, o Atarax. Impus-me uma dose mínima e sim, não falei com ninguém, tudo auto-recriação, de resto as coisas à volta tomavam o rumo que conhecemos e não tive nenhuma esperança de que o médico de família me atendesse. 
Esta 4a feira acordei muito bem disposta por ter finalmente gozado uma noite de sono completa — vantagens do Atarax... — mas, 5a feira, tudo piorou outra vez. E tinha agora a família em peso convencida de que estaria infectada e a exigir que fosse observada. Assim, ontem, às 4 da tarde, iniciei o périplo. Na verdade, estava convencida de coisas inexistentes, por exemplo, achava que existiriam postos de rastreio/despiste ao Covid 19. Que o centro de saúde atenderia a minha chamada. Que o meu médico de família responderia ao e-mail a pedir conselho. Não tinha dado importância nenhuma a uma certa sms que, na forma e no conteúdo, parecia coisa oficial. Quando liguei, fui atendida pelo Laboratório Joaquim Chaves e sim, tinham um posto onde realizavam o teste e sim, era particular. Fossem dar uma volta. Enquanto lutava com um mar de mensagens e dúvidas, liguei para o SNS 24. Sabia que cumpriria todos os protocolos definidos, não acredito que as coisas possam ou devam funcionar noutros termos. Abreviando, foram necessárias três chamadas esgotantes: por causa dos questionários, por causa das longuíssimas esperas, porque as chamadas caem e, se isso acontece, é preciso repetir o processo todo de novo. E aconteceu. Para terem uma ideia, e é chique, a última chamada venceu o Spartacus, que desafiara o Lou a ver, pela primeira vez. O belo Kirk Douglas penava na cruz e eu penava com ele e mais penei além do genérico. Deitei-me, já sem Kirk, mas com a música e a vozinha irritante que debitava, ritmicamente, qualquer coisa sobre devermos inscrever-nos no portal da saúde. Para pessoas que estão doentes, agrava os nervos já em franja. Era meia-noite quando, finalmente, um último rastreio e uma última enfermeira simpática e paciente definiram os passos seguintes: confirmava-se que devia ser observada, “aceita que seja no Centro de Saúde?”. Naturalmente, melhor era impossível, hospital ao longe. Mas afinal, não. A brilhantíssima, que o é, Unidade de Saúde Familiar Delta está fechada ao Sábado. Pior, em Oeiras inteira não havia um Centro de Saúde aberto ao Sábado. Com uma pandemia declarada. Pareceu-me que ela estava perplexa. Se me importava de ir então a uma Urgência. Pois lá teria de ser ou poderia aguardar por 2a feira? Não, não poderia, qual o hospital...? São Francisco Xavier, definitivamente. Nisto, a chamada cai. E eu caio. Em desespero. Penso em tudo, mas foco. Okay, três horas volvidas vou ter de reiniciar tudo. E reinicio. Mas ela liga de volta. Embora no 2o telefonema, apesar de ficarem com todos os nossos dados, me terem assegurado de que não estavam a ligar de volta, ela liga. E eu abraço-a. Virtualmente, pois claro, à moda dos tempos. Diz que já me encaminhara para o hospital, se posso ir de seguida. Aí a experiência fala mais alto e sou peremptória, embora com recurso a um álibi infalível: tenho dois menores em casa e estou sozinha, só posso ir de manhã. Ela anui e deseja-me boa sorte, coisa que agradeço e devolvo, para ela também, muita sorte e energia. Um risinho e desliga. Qual. Imagina, de madrugada, para o São Francisco, para as urgências maravilhosas que conheço de gingeira. Uma coisa aprendi, fruto dos internamentos por que fui passando. Se as coisas corressem pior e se, por motivo de força maior acabasse internada, ia querer saborear a memória do último pequeno-almoço em casa. Já sei disso. Nunca conhecemos com certeza a maré e o barco, pelo que iria acordar cedinho, beber o meu pote de meio litro de café acompanhado da minha torrada de pão de Rio Maior com manteiga fresca. Daria festas à Mia. E iria passear o cão. Os filhos, já estavam avisados desde madrugada. Sem pânico algum. Apesar de tudo, há que fazer por ter mão nas catástrofes.
O dia acordou lindo, lindo e a temível bateria do meu velhote estacionado há muitos dias respondeu simpática ao rodar da chave. Num instante, corria uma marginal quase vazia, o mar e as areias batidos pela luz da manhã. Pura magia, 46 anos volvidos sobre a mesma volta. Estacionei sem problemas 10 minutos mais tarde e pensei que, sem máscara, havia o risco de ser linchada. Improvisei com um lenço de papel, pois se não há máscaras no mercado.... dei entrada de seguida, algo espantada com a facilidade de tudo aquilo. E quase vivalma. Logo no rastreio, não gostam de mim e a senhora que me deu entrada ouve uma descasca das antigas — porque é que não me tinham dado imediatamente uma máscara? Enfim, não é nada verdade que não gostam de mim, só não gostam claramente do que conto, mas sobretudo do que tusso. Mantêm boa distância e, num instante, conduzem-me ao pavilhão pré-fabricado que está a fazer as vezes de tenda de campanha de isolamento. Asseguram que terei um cadeirão só para mim e que será sempre só para mim ao longo das horas seguintes. Verdade. 
A partir deste momento não sou mais eu, mas a soldada que conhece os cantos à casa e sabe bem demais como tudo pode correr sobre rodas se soubermos agir em conformidade. De contrário, podemos estar a comprar o inferno. Sei que acabaram os melindres, as estranhezas, a surpresa perante a diferença e perante o Outro, seja ele um companheiro de infortúnio, um auxiliar, um enfermeiro, um médico, um segurança. As instalações ou a falta delas. Ter presente: aquele pessoal está a trabalhar há muitas horas, horas demais, já viu e ouviu de tudo, estão, eles sim, com a paciência testada ao limite e, claramente, não têm meios. Escolho a poltrona certeira, num ápice: ao lado do vidro, só tenho companheiros para a direita, controlo a porta, o exterior e uma parte dos amigos. Tenho duas filas para trás, pelo que terei de usar o ouvido. Curiosamente, são os mais tranquilos, os alunos da fila de trás que aproveitam para uma soneca. Verifico que há gel e toalhetes, mais não preciso. A poltrona é fantástica, tipo as de dentista. Apesar dos comparsas ficarem a direito, escolho quase deitar-me. Se puder passar pelas brasas, é o que farei. A temperatura é quente, óptima para quem nasceu nas Áfricas; a televisão está a (des)funcionar, a imagem desfocada é a inevitável, até ali: gente vária debita variedades a respeito do Covid 19. Um dos auxiliares há-de esmerar-se por melhorar a imagem, passa a ser possível ler vagamente os números da exaustão. É cedo, há sete pessoas na sala. Presumivelmente, as casas de banho terão sido lavadas há pouco, opto por inspeccionar e não guardar xixis. Ninguém fala, o atmosfera só não é tensa porque há espaço, as pessoas estão bem instaladas, os vidros com cortinas descidas permitem, ainda assim, experimentar o dia bonito. Toda a gente tosse, mais, menos, alguns ataques pontuais. Sei que, se acaso não estivesse infectada, sairei dali infectada. Mas tudo bem, nunca achei que pudesse escapar, o que andamos é a querer evitar que calhe a todos ao mesmo tempo. Ao longo das horas, cerca de seis horas, serei chamada a fazer análises ao sangue, um RX, medições e questionários. Gosto sempre de fazer perguntas, mas percebo que não me vão dar folga. Penso que deverão ter orientações nesse sentido. De resto, topa-se o desconforto imenso daquelas fardas um quê de nada pouco credíveis. Máscara, óculos, touca, avental, luvas nas mãos e pés. Não é que não estejam protegidos, só me atrevo a pensar que o material parece frágil e mole. Nos intermezzos vou dedicar-me a consultar as redes, a pescar leituras aqui e ali, a ousar um desenho, mas, sobretudo, a observar em redor. Só vou guardar memória de quatro personagens: o velhote ao meu lado, que deita amiúde o olho na minha direcção, mas creio que com alguma curiosidade pelos rabiscos que vou imprimindo no bloco e um certo desconcerto pelas posições de pernas que vou variando, à medida do meu conforto e não de alguma ética de sala de espera hospitalar. Penso “amigo, habitua-te, vamos estar horas nisto, descontrai” e ele até que descontrai. Tanto que, já próximo do final daquela saga, terei tido direito a vê-lo em mangas de camisa, o braço fino exposto à seringa e depois ao soro, a conhecer a música do seu telemóvel que me lembrou os novos-velhos Modern Talking, a vê-lo comer sem gosto, a ir à casa de banho fazer xixi para um frasquinho plástico diminuto e a ficar de pé, no meio da sala, sem saber onde pousá-lo. Essa altura há-de coincidir com a minha desgustação de uma pêra cozida e tudo bem, fluidos são fluidos. Claramente, parece ser um dos pacientes que mais oferece cuidados. Mas é tranquilo, os Modern Talking é que é pior, é com certeza surdo. Depois há uma jovem com ar ligeiramente empertigado. A minha impressão irá conferir com o primeiro entendimento que fiz da sua postura, tendo pensado “estás tramada”. Aguenta hora e meia em pé, junto à porta que ora abre e fecha, sempre com a cabeça virada para fora. Vê-se que não é como as outras senhoras do povo lá para trás, mas, outra vez, “estás tramada”... acaba por ceder a um cadeirão, por acaso um que estivera ocupado e ainda não tinha sido desinfectado, penso que não ouviu o que explicaram de início; a menina experimentará três cadeirões pois, de cada vez que regressa de um dos exames, senta-se como se pela primeira vez. Está visivelmente incomodada connosco, que tossimos. Ela, de facto, não tosse, mas parece que terá tido febre. Reage mal quando vêm tirar-lhe sangue “aqui, neste sítio?”... a enfermeira “este sítio?” e procede como se ela não tivesse falado. Teve sorte, a menina, ainda pensei que lhe calhasse uma picada dolorosa. E depois, teve azar. Como estava “distraída” não percebeu que acabou sentada ao lado da mulher que está em piores condições, não tem sossego e acaba por ser a personagem mais perturbadora na sala... arrasta os pés e anda curvada embora seja alta e não tenha peso a mais. Bufa, diz “ai, Jesus” e passa gel nas mãos e puxa dos toalhetes do tabuleiro do pessoal de enfermagem e auxiliar. É a única que parece ter dificuldade respiratória, mas não estou segura porque percebo que é também uma grande fiteira. Acabam por pô-la a soro. Está sempre a deixar cair coisas ao chão, que depois apanha. Vai olhar-me de esguelha quando os seus reflexos de sobrevivência falharem: só depois das duas da tarde trazem alguma coisa que se coma (já me tinha levantado e perguntado se podia ir comer a algum lado, na brincadeira)... sopas, um prato principal e sobremesa. De início, quase ninguém quer nada; eu quero tudo. Só há quatro doses principais e eu aceito sem saber do que se trata. Quem quis ficar a par do menu e das escolhas, como se as houvesse, perdeu o lugar. Fui a única que saboreou a sopa de legumes aguada e insossa, o peixe e legumes congelados e duros e a pêra mergulhada num líquido sem espessura ou cor de cozedura como se tivesse ido ao Tavares Rico. Limpei tudinho e despertei olhares, vamos lá, interrogatórios. “Queridos”, pensei, “... o dia ainda vai a meio e podemos sair daqui à meia-noite ou até não sair.” Fim-de-semana, mudanças de turno, possíveis falhas no abastecimento às cozinhas, cuidem-se e não sejais esquisitos. Sempre achei que meio caminho para a cura passa pela alimentação. Quanto à qualidade da cozinha, reduzo-a a uma questão mental. E a verdade é que me soube tão bem que me achei no direito de pedir prognósticos temporais... coisa que eu sei irritar soberanamente quem está a trabalhar há 12 horas e, com jeitinho, prepara-se para trabalhar mais 12. Aludo à questão dos filhos e é verdade. No limite tenho de saber como orientá-los. Creio que comecei a ser uma chata dispensável. Pelas três e picos fui chamada e ouvi sem perplexidade, mas dúvida que julgo credível relativamente à contenção desta crise:
Não, as análises não incluem nenhum teste ao Covid 19, não há kits suficientes, não estamos na Coreia do Sul. Aproveito para sacar a confirmação de que nem sequer há kits para os médicos. É claro que nos casos objectivamente graves, fazem o teste, mas apenas nesses. As minhas análises estão óptimas, o RX limpo qb, é certo que a sintomatologia cansa, mas é tratar como se fosse uma gripe. Mas, então, não sei se estou infectada? Assumimos que está, sim, pelo que deverá ficar em quarentena e se agravar os sintomas, voltar. Voltar? Passando pelo SNS 24? Sim, de preferência. Caramba! Que iludida estava, primeiro achei que existiam pontos de rastreio, depois entendi que ao menos no hospital... a soldado que há em mim sacudiu os ombros, perguntou se podia levar o cão à rua, agradeceu muito a simpatia, a disponibilidade e a eficácia e rodou nos calcanhares dali para fora. Só arriscou se não lhe arranjavam mais uma máscara? Peça ao enfermeiro, boa sorte. O enfermeiro apressou-se a levar-me para a rua, desapareceu no edifício e regressou com duas mascarilhas de atilhos. Melhor que nada. Melhor, mesmo, é impossível. Porque se pertence ao corpo médico e hospitalar tratar e, desejavelmente, curar a doença, definitivamente não lhes cabe o milagre da multiplicação das máscaras e dos testes ao Covid 19. 
No regresso a casa através de uma marginal cheia de trânsito ecoa-me, na cabeça, o nome do rapaz muito negro sentado na linha do fundo da sala: Mamoud. Fico com a nota de poesia contida num nome assim, Mamoud.

Gisela Miravent, 21.03.2020