quinta-feira, 30 de agosto de 2018

MEDITAÇÕES – 16 - Jogar a feijões



Como no volei de praia

É penoso meditar sobre a situação social que existe sob o clima de perfeita normalidade que se instalou na mente das pessoas. Temos que reconhecer que a ideia de governar em cama compartilhada, numa espécie de albergue espanhol, onde, para ser correctos, o principal sócio pelo menos sob o ponto de vista histórico, insiste em permanecer fora da carroça (e faz muito bem, sob o ponto de vista meramente táctico) e o PS consegue manter-se à tona de água consentindo em algumas das exigências do seu sócio mais afoito.

Claro que só cede a uma gritaria de cada vez, e nem sempre consente em tudo o que exigem. Antes procura entregar aquilo que não temos, mas com algumas restricções. Para que não se diga que está de pernas abertas. O que é espantoso é que, como a aritmética não pode enganar-se, que contas são contas, aquilo que dá -mesmo com restricções- tem que se ir buscar a outro lado. E apesar dos aumentos de taxas e preços, mais ou menos dissimulados, o facto é que a dívida nacional continua sendo enorme. Os optimistas imaginam que chegará o dia em que os credores nos perdoarão aquilo que foi pedido emprestado. Um “sucesso” brilhante que só contecerá, se for e mesmo neste caso só parcialmente, quando aceitarmos vender mais algum dedo, pois que os anéis já se foram.

Este negrume de pensamento apareceu quando a chuva de fim de Agosto, a que estávamos habituados, não fez acto de presença. Em vez dela temos uma enorme nube negra com o estado de degradação a que chegou a estrutura da CP, tanto no material de tracção como no circulante e, ainda, em muitas linhas que tiveram promessas de recuperação ou de melhoria mas que, como era de prever dada a falta permanente de recursos na tesouraria, foram e continuar a ficar na gaveta das promessas.

Quando daqui a poucos dias terminar o pino do período de férias e as pessoas tenham que retomar os transportes, particulares e colectivos, para acudir ao seu local de trabalho e depois regressarem aos seus lares, vai ser a hecatombe do costume, mas até ampliada. Brinca-se com a realidade como se estivessemos num desafio entre amigos num volei de praia, ninguêm se aleija, e se a bola bate no chão ou sai fora, é só pontuar e seguir em frente.

Todos sabem os dois vectores que complicaram a vida dos assalariados e os empurrou para os subúrbios. Por um lado a dificuldade em conseguir uma habitação na cidade a um preço compatível com os seus ingressos, o desemprego entre os membros do aglomerado familiar e a mais recente pressão para desalojar os habitantes dos bairros populares mais centrais a fim de promover o aluguer estilo taxímetro.

Como, em vez de encarar este problema da deslocação da residência longe do local de trabalho da mesma forma como se fez nos países do centro da Europa, a rede de transportes colectivos que une os bairros periféricos às estações de caminho de ferro é insuficiênte e indutora a que o cidadão se veja empurrado a usar uma viatura própria, com um custo por hora e quilómetro muito superior ao do comboio. Sem falar na poluição gerada e nos engarrafamentos de trãnsito.

Para complicar ainda mais a situação temos um parque ferroviário degradado, em que muitas composições já ultrapassaram os tempos de uso recomendado. Os problemas que possam surgir na via férrea fatalmente se agravarão. E não se resolvem pela anulação de composições, antes pelo contrário. Toda uma situação que é consequência dos compromissos tomados pelos sucessivos governos.

Quando foi noticiado que, fossem quais fossem as razões invocadas, iriam fechar as instalações da Sorefame, tanto na Amadora como em Sines, não se atendeu ao que, fatalmente e como se está a verificar, o não ter uma base nacional para apoio dos caminhos de ferro, cumulativamente ao aplicar todos os meios económicos próprios, mais os vindos da Uniâo Europeia, à rede de auto-estradas, o cidadão ficou satisfeito com as possibiloidades de adquirir, com o recurso ao crédito, não só uma residência fora dos limites da grande urbe como também um automóvel, ou mais do que um em muitos casos, que lhe desse a ilusão de ter subido na vida.

Mais uma vez, e tal como aconteceu com os aeroportos, a electricidade, a saúde e os correios, a solução mágica que propõe os governantes, sejam eles quais forem, é a de “privatizar” a CP, e assim conseguir matar dois coelhos de uma só cajadada. Por um lado safar-se de compromissos que eles mesmo avolumaram, e por outro garantir bons lugares e algumas gratificações, que estão sempre agarradas ás privatizações, como as rêmoras que acompanham os tubarões e outros animais marítimos de porte mediano e grande. A voz da caserna, que em geral acerta, avisa de que os privados que se mostram interessados na exploração da rede ferroviária só querem ficar com as linhas que sabem podem ser rentáveis. Depois de as maquilharem e subir os preços, que deixarão de ser sociais, como acontece com os combustíveis e a electricidade.

E assim se conseguirá amainar o temporal por uns meses. À imagem do que faziam os heroicos caçadores de baleias do alto mar quando os seu barcos veleiros enfrentavam terríveis tempestades. Deitavam o óleo ao mar na tentativa de diminuir a força das vagas. As tentativas de recurso, por não ser sólidas, preparadas para durar e resolver problemas, não passam de adesivos e tintura. Não resolvem nada.

quarta-feira, 29 de agosto de 2018

FORA DA SÉRIE

Proponho que leiam o conteúdo. E insisto que não sou adepto de nenhum partido político.


A conversão ferroviária de Cristas e Companhia

A causa da conversão de Cristas e Companhia do CDS à ferrovia, aos comboios e linhas de caminho-de-ferro  tem uma causa e um nome pagãos: PLANO DE INVESTIMENTOS EM INFRAESTRUTURAS – FERROVIA 2020.

terça-feira, 28 de agosto de 2018

MEDITAÇÕES - 15 O teatro trágico



Será que no seu íntimo mudaram?

Antes de tentar expor aquilo que nem sequer está bem estruturado na minha cabeça, penso que pode ser útil, a modo de introdução, que o seguidor faça o esforço de recordar a anedota do marido que, para satisfazer umdesejo da esposa, anda seca e meca á procura de um papagaio e termina sendo enganado por um astuto comerciante, que o convence de que um mocho é, na realidade, um loro exótico, mas com a característica muito particular que, antes de se decidir a falar, quer ganhar uma ampla bagagem linguística, como irá mostrar inequívocamente ao manter os olhos sempre bem abertos com uma atenção incomum.

Ou então socorram-se da fábula bem antiga do lacrau e a rã.

Qualquer das duas pistas nos ilustram de como é difícil, se não impossível, mudar os sentimentos das pessoas, uma vez que entendermos que o recurso a animais é só um estratagema para não ferir excessivamente as pessoas.

Nesta época em que, durante muitos anos, temos sido manobrados por uma longa série de personagens que comportando-se ao contrário em relação as suas afirmações e promessas, creio que muitos de nós já sentimos aquele desânimo do Diógenes, que circulava por Atenas levando uma candeia acesa, mesmo em pleno dia, a fim de que esta luz extra o ajudasse a encontrar um homem efectivamente honesto.

Por razões evidentes não pretendo qualifificar ninguém em concreto de deshonesto, mentiroso, vigarista ou qualquer outro epíteto ao estilo. Simplesmente sinto que devemos dar crédito ao que recordamos do passado de certas personagens. E eles são tantos os que por aí andam vendendo a banha da cobra que, para acautelar a nssa saúde mental, recomendo que nos limitemos a uns exemplos entre os que nestes dias estão nas primeiras páginas.

O historial exemplar do tal “menino reguila”, que chorava no berço quando lhe tiravam a chucha, e que, agindo sempre como o penetra insistente, já ocupou tantos lugares e deu tantas barracas que só lhe falta ser mestre da banda de Quadrasais, bispo de uma diocese rica (pode ser de Fátima) ou Presidente da República. O curioso deste caso é que sempre consegue arregimentar uns comparsas que o aplaudam, possívelmente uns que se sentem, ou são sem darem por isso, uns desenganados da vida e imaginam que ao acompanhar este elemento, incombustível, poderão ter uma oportunidade de singrar no meio dos que mamam da teta.

Como é tradicional, este cavalheiro, discursa prometendo o novo maná, um renascer farto e honesto, umas mudanças de paradigma (?) que deixarão os programas dos outros ao nível da cartilha maternal. Será possível que os cidadãos tenham esquecido o seu passado e o carreguem às costas, tal como a râ fez com o lacrau?

A outra personagem de topo actualmente é, sem dúvida, o famoso Professor Marcelo Rebelo de Sousa, nesta ocasião eleito para exercer o cargo de Presidente desta República. No meio das outras cartas do baralho que se apresentaram às eleições, sem dúvida que foi escolhido limpamente. E agora são bastantes os que já enjeitam aquilo que consideram ser excessos de populismo, de beijinhos, abraços, fotografias e meiguices. Tantas que mais se assemelha a um patriarca de uma igreja da treta do que o respeitável representante da nação.

M.R.de S. foi sempre um vocacionado falador e não desmerece das suas origens, apesar do esforço que constantemente faz para parecer “um de nós”. Não é um de nós! Não se encaixa convictamente com as camadas mais desfavorecidas nem tampouco entre as diferentes camadas da tal colasse média, que fermentou e levedou após ser arrumado o PCP num canto. Nem se podia esperar que o fizesse, pois o seu estatuto é mais de símbolo do que de actuante.

Isso não o tem impedido de, com a habilidade que lhe é característica, dar picadelas no executivo, dando o aspecto de que ele tem poderes para orientar e decidir, apesar de que a Constituição da República em vigor o limita especificamente. Os maldosos, que sempre os há, dizem que tem dois alvos na mira. Por um lado manter uma popularidade que lhe ofereça um segundo mandato e, na outra mão, proteger subrepticiamente o seu partido.

Tanto um como o outro, assim como muitos mais, fazem o seu papel neste teatro, que de facto éuma tragi-comédia, mesmo que muitos não sintam esta realidade ou, para evitar cortes de digestão e AVCs prefiram olhar para o lado, deixando andar.

segunda-feira, 27 de agosto de 2018

MEDITAÇÕES – 14 - Sonhar



Ao acordar perdemos sem recuperar

Sei que, como é normal acontecer e os estudos científicos efectuados sobre o sono dos humanos mostraram, practicamente sonho todas as noites. A testemunha que me acompanha no tálamo conjugal refere que muitas noites passo por fantasias inconsciêntes, involuntárias, tão agitadas que chega a temer pela sua integridade física, dado que é sumamente exagerado e violento é o entusiasmo com que esbracejo. Felizmente, até hoje, parece que tivemos sorte ou ela é sumamente hábil em esquivar os meus golpes de karaté.

A intensidade mental dos meus sonhos não tem, que eu possa apreciar, uns periodos concretos dentro do horário dedicado ao descanso nocturno. Mas é provável que siga os periodos que se identificaram com os voluntários que se pretaram a ser estudaos. Assim sendo devo ser Não sei mais activo nas fases REM, que dizem acontecerem por mais do que uma vez aolongo do sono, do que nas fases NaoREM, que os encefalogramas mostram ser mais tranquilas. Acordo em muitas ocasiões e naquelas alturas ainda mantenho os acontecimentos oníricos bastante presentes, se bem que dispersam-se no esquecimento com rapidez.

Mesmo assim, não é infrequente que um acordar, repentino, na madrugada, sinta o tema da última sessão muito vigente, e quando o assunto do sonho é do mau agrado fecho os olhos com uma intensa vontade de recuperar o fio da meada; de conseguir empalmar a cena interrompida e poder continuar numa linha de ficção que me satisfazia.

Hoje foi um destes dias. E conseguí manter na memória parte dos sucessos que estavam presentes naquela fantasia. Uma fantasia que, como é normal, ou usual, estava baseada em factos vividos anteriormente, mesmo que modificados com a inclusão de personagens inventadas e sem seguir uma cronologia que respeitasse, mínimanete, o que podia estar na origem daquela compexidade ficcional.

Recordo que as cenas estavam situadas num cenário que pretendia ser o retrato dos locais e ambientes que vivi na primeira fase da minha vida profissional. Mas nem todas as personagens eram reconhecíveis. Por exemplo, uma das cenas acontecia numa reunião de profissionais, todos eles desconhecidos, onde se deviam debater assuntos técnicos. Esta cena terminou rápidamente, e foi subsituída por outra personificada por uma senhora, elegante, educada e de excelente trato, com idade mais perto dos 40 do que dos 35, que se apresentou como sendo a delegada para as relações públicas. Mostrou ser de uma perspicácia e intuição pouco habituais, que deu azo a umas conversas a duo cheias de subentendidos, de trocadilhos levemente picantes, que me entusiamou de tal modo que, acordando súbitamente, fiz um esforço, tremendo, mas improficuo, para retomar o sono. Curioso o facto de que esta dama não correspondia, pelo menos não a fixei como identificável a nenhuma pessoa conhecida na vida real. Aceitei a perda com uma tristeza tal que me levou a recordar esta cena, o que raramente me sucede. Sentia que aquele diálogo, estilo Sit-com estava predestinado a dar pano para mangas.

domingo, 26 de agosto de 2018

MEDITAÇÕES - 13 - Reagir



Ficar Parados ?

Tenho estado a pensar acerca do que editei ontem, e na possibilidade de que fosse interpretado como um incitamento a ficar parados, a negar a possibilidade de manter os avanços científicos. Não era este o meu ponto de vista, mas, antes pelo contrário, manifestar o desejo pessoal, que a meu entender deveria ser comum à maioria dos humanos, para que se reagisse rápida e eficazmente contra a maré de poluição que se instalou sobre o planeta que nos acolhe.

Não parece que as alertas que diariamente nos são enviadas consigam alterar. Nem sequer minimamente, a progressão da poluição irreversível em que TODOS, mesmo que contrariados ou inconscientemente, colaboramos. Espantam-nos com o real incremento de gases poluentes na atmosfera e das consequências nefastas que daí derivam, não só no clima e nas alterações do ambiente como inclusive nas agressões para o nosso corpo que através dos muitos aditivos incorporados nos alimentos manipulados, aceitamos sem rejeitar. A evolução do mercado abastecedor nos oferece poucas alternativas para fugir dos produtos químicos perniciosos.

Inclusive os vegetais, que deveriam constituir uma boa parte da nossa alimentação omnívora, passaram a ser produzidos em regime intensivo, em condições muito diferentes das que a natureza proporciona. Os produtos de síntese que se incorporam logo nas sementes para garantir a sua germinação rentável, vão entrando numa progressão constante até o momento em que ingerimos estes vegetais, sejam tubérculos, frutas ou verdes. Inclusive devemos desconfiar dos tais produtos biológicos; não porque os seus criadores nos enganem conscientemente mas por ser muito difícil, quase impossível, escapar dos problemas sem o recurso a materiais estranhos.

Esta agressão alimentar é a menos perceptível para a cidadania, precisamente por ser quotidiana e as alternativas absolutistas devem ser muito poucas. Só aqueles que se refugiam nas zonas mais isoladas e profundas do País e optarem por um regime naturista, “retrógrado” é que podem ter algúm êxito. Mas nunca total.

O que mais nos alarma, pela sua dimensão visível e as consequências macroscópicas e microscópicas que se detectaram e publicitaram, é a utilização desmedida dos plásticos como recipientes e invólucros. Hoje é quase impossível comprar um lápis, uma triste esferográfica, ou umas peças de fruta sem que o produto não venha embalado de origem dentro de um invólucro, fechado, de plástico; ou, quando seleccionado a granel, nos exijam que o coloquemos num saco de plástico. E isso repete-se em quase tudo aquilo que é comercializado. E qual o destino destas embalagens, a maior parte sem reutilização ou que por serem tantas nem temos capacidade de as guardar ou utilizar? Evidentemente o lixo, seja urbano ou descontrolado pelo ambiente. E, por mais tentativas que se apresentem, o fluxo de desperdícios não degradáveis é de tal magnitude que não é possível “digerir”. Inclusive a queima com o propósito de gerar energia eléctrica é totalmente inócua. Muitos gases da combustão são de composição potencialmente perigosa. E restam os subprodutos. Sejam cinzas ou condensados, que constituem um novo problema a tentar resolver.

Uma das soluções que foram apresentadas, já com o problema em andamento, era o dos plástico degradáveis. De facto aquilo que acontece com estes materiais é que se desfazem em pequenas partículas, sem que a sua composição química se tenha alterado. Daí que terminam entrando na cadeia alimentar através dos animais marinhos.

E deixamos por referir, para não ser excessivamente maçadores, muitos outros produtos manufacturados, como os pneus dos veículos, que apesar de se lhes procurar aplicações, são de tal magnitude que se acumulam em perigosos aterros, sejam legais ou clandestinos.

De facto, o Homem está, despreocupadamente, cavando a sua própria sepultura.



sábado, 25 de agosto de 2018

MEDITAÇÕES - 12 . Escolheram



Fizeram-se as melhores escolhas ?

Os membros da humanidade sempre se destacaram por ser muito curiosos, adeptos e ambiciosos. Meter o nariz no desconhecido ou em coisas que não entendiam foi sempre o caminho precursor do progresso, desde o conseguir acender uma fogueira até as invenções mais complexas.

O tema surgiu-me ao recordar as notícias recentes de que se enviou uma nave, não tripulada, recheada de instrumentos de precisão a fim de fazer medições diversas mais próximo da superfície do sol do que jamais se tinha conseguido. E, obviamente, enviar para a Terra os parametros que daí possam ter medido. Outras naves viajam, em trajectos que durarão anos terrestres para pesquisar Marte, Saturno e Júpiter, assim como algumas luas satélites destes planetas. Sempre iniciativas justificadas pela necessidade de conhecer melhor o que nos é difícil de entender. E estas pesquisas já não se resolvem por simples meditação acurada, nem sequer com o recurso de lapis e papel, ou outros meios de ajuda relativamente simples e fáceis de conseguir.

Estas e outras viagens planetárias consomem não só avultadas verbas, em geral concedidas como sendo imprescindíveis para o progresso da humanidade, como a concentração de meios humanos de primeira ordem. Tudo se iniciou com o ímpeto nascido após o terminus da segunda guerra mundial e a entrada na guerra fria, com o imediato despique entre o ocidente, liderado pelos USA e o bloco soviético, que implicou um progressivo incremento do poder militar, agora já com o recurso ao misseis balísticos intercontinentais.

Todavia estes financiamentos, fabulosos, tinham que se feitos de uma forma encoberta, dando-lhe o aspecto de pesquisas científicas, civis, a fim de não criar anticorpos com a sociedade que ainda estava numa fase de penúria. Preparou-se o ambiente mental para fazer passar como de importância inegável a tal NASA, de que tanto nos falaram e que hoje, dizem ,está com carência, parcial, de fundos.

Depois, como prémio de consolação, alguns dos logros tecnológicos conseguidos poderam ser aplicados na evolução dos artefactos disponíveis para a população com capacidade para os usufruir. Não deve ser fácil quantificar a percentagem de custos, tanto em materiais como em dedicação de humanos, que foi repercutindo, e continua a ser, na redução das verbas que se desejava fossem canalizadas para melhorar a vida normal da cidadania em geral, e qual o total que se terá consumido “a fundo perdido” com a absolescência consequente dos sucessivos projectos.

Os cientistas de hoje estão, social e económicamente, muito longe das condições com que trabalhavam os pioneiros anteriores. Um recuo temporal que não necesita ir até Copérnico ou Leonardo da Vinci. Hoje são batalhões de sábios, empregados e pagos pelo erário público, mais instalações e equipamentos sofisticados que implicam custos importantes, e tudo isto, e mais, para ser dedicado a inúmeras pesquisas que parecem ter sido inspiradas pelos cadernos de banda desenhada do séc XX, e anteriormente pelo visionário Julio Verne. O financiamento, jamais tornado público por serem Razões de Estado, e aquela ficção de que os Estados somos nós, os cidadãos não identificados, não passa de ser uma treta para nos manter calados.

Para colaborar na ocultação do que se gasta existem, entre outras fontes de financiamento, aparentemente desligadas das despesas militares, igualmente herméticas mas hábeis na camuflagem: entre elas as fundações, que, como é sabido, agem como identidades beneméritas a troco de compensações fiscais de maior vulto do que as suas doações (o balanço contabilístico lhes é sempre favorável). Assim conseguem estar bem vistas pela cidadania despreocupada. E, pelo caminho, oferecem lugares bem remunerados a políticos em fase de defeso, além da consavida receita de Quem parte e reparte ...

Não podemos negar o interesse científico que pode existir em certos trabalhos de pesquisa, mesmo no que respeita á procura de outros planetas habitáveis, enquanto que comparativamente pouco ou nada se faz para recuperar o que se tem estragado no nosso lar terrestre. Também podemos referir outros campos de saber, dando como exemplo as avultadas verbas atribuídas para completar o conhecimento das particulas elementares, daquelas em que matéria e energia se confundem como estava já previsto desde décadas atrás. Dizem que são temas da “ciencia pura”, e que já se conseguiram aplicações benéficas. Dizem-se tantas coisas...

Chegados a este ponto e alertados pelos cada vez mais densos estudos de como os humanos somos responsáveis pela degradação do ambiente e contribuímos -mesmo que parcialmente- para o aquecimento global do planeta, nos cabe perguntar, a gritos apesar de que ninguêm ouve nem atende, se as decisões de despesas para fins não de necessidade premente é justificável. Ou seja, agora que se emporcalhou todo o planeta só podemos chorar perante o leite derramado?

E a solução que nos propóem é a de imaginar um êxodo, muito problemático, para que um selecto mini-grupo de humanos va povoar outro corpo celeste compatível com a nossa fisiologia. Nada se diz do futuro que deixariam para os muitos milhões de habitantes que restariam indefesos. Serão abandonados ao triste destino de serem imolados pelos resultados da falta de critério!

É lamentável que hoje existam mentes tão primárias que não entendam, ou que nos queiram vender como real, a história bíblica da Arca de Noé. Que obviamente não passa de uma fábula. Pode ser vista como uma mensagem de esperança para quem acredita num sumo-poder. Mesmo que, parcialmente, corresponda a relatos de inundações de facto acontecidas, apesar de não serem extensivas a todo o globo. Até podemos conceder que se refere a um derreter intenso dos gelos polares e a consequente subida do nível dos mares.

sexta-feira, 24 de agosto de 2018

MEDITAÇÕES - 11 - Futuro


UM LINDO FUTURO

As transformações em curso são tantas e tão agressivas que, sem darmos por isso, esta-se a mudar drásticamente o esquema de vida em que os mais idosos, e até os com idade acima dos 40, fomos criados e ao que nos adaptamos. A geração que está entre os 18 e os 30-35, que no dito “nosso tempo” já estava orientada no mundo do trabalho, ou preparando-se para um nível superior, hoje, a julgar pelas notícias através de terceiros e dos meios de comunicação, arrisca-se a permanecer mais uns tempos sob o amparo dos pais, inclusive quando estes já estão sem actividade profissional remunerada.

A invasão da electrónica e dos serviços prestados através do espaço electrónico está condicionando, intensamente e com uma progressão a nível mundial, a vida de muitos, em especial aos que já manipulam estas aparelhagens desde a pré-adolescência. Estas mudanças afectam muitas actividades que eram fonte de ocupação e trabalho para muitos. As mutações neste são tantas e de tal importância que a sua listagem jamais fica actualizada. Desde a redução de efectivos humanos nos balcões dos bancos até a privatização dos serviço de correio, com a consequente fecho de postos de atendimento e a consequente redução de efectivos, conduziram a uma generalização dos contratos de trabalho a termo certo, em geral de curta duração e com salários baixos e possível exigência de horários prolongados.

O motivo com que se tenta justificar esta redução de efectivos é que o crescente custo do capítuloo chamado, eufemísticamente, “recursos humanos”, é incomportável. A solução, que tem o rabo de fora, é a de contratar estas tarefas a empresas vocacionadas para servir tarefeiros indeterminados, pagos por uma factura e sem compromissos sociais posteriores. Tais empresas são muitas vezes criadas e geridas para este fim por elementos dos quadros superiores da mesma empresa onde os eventuais terão que prestar o serviço que, em muitas ocasiões, já faziam antes de ser dispensados.

As legislações do trabalho tem sido progressivamente alteradas em prejuízo do trabalhador. Quando timidamente apareceram as empresas de trabalho temporário deu-se o mote para facilitar os contratos a prazo certo, renováveis como sendo o primeiro depois de deixar o funcionário em casa uns poucos dias, e voltar à situação inicial, como num Jogo da Glória, mas desta feita brincando abusivamente com pessoas reais. As, claro, sempre dentro da lei preparada para o efeito.

Nunca o grande capital, os grandes manipuladores, tiveram uma fase de livre acção como agora. O binómio criado com o mercado livre e a mundialização, mais a capacidade de anular as forças sindicais, com artimanhas antigas de favorecer uns tantos em detrimento dos muitos, levou a que, actualmente, as classes sociais mais sacrificadas nem sequer se apercevam de como estão presos pelo crédito e enganados com o consumismo.

Chega a ser incompreensível como não tenha surgido uma nova maré de anarquismo. Que a população ocidental aceite, convictamente, que os seus inimigos são as fábricas orientais e os migrantes, sem entender que em ambos casos existe um chamariz nas acções, concertadas, dos especuladores ocidentais. Em simultâneo não se pode entender qual a vantagem real e de longo prazo, que os capitalistas de hoje possam recolher depois de derrubar o ocidente, de onde eles são originários. Mantedo-se anónimos -mais em teoria do que na practica, pois muitos estão identificados- agem como autores de um parricídio generalizado.

Aqueles que, como eu mesmo, tivemos uma doutrinação cristâ, ou católica, com todos os defeitos que nos são conhecidos, podemos ver como um exemplo a seguir a mensagem de como Jesus afugentou os cambistas do templo. Derrotar ou eliminar os exploradores desta época não é tarefa fácil. Nem consigo imaginar um roteiro que podesse servir para tal. O ser um descontente, um inconformado tenaz, não faz de mim um revolucionário capaz de liderar um movimento social libertador. Mas isso não obsta a que não consiga antever um bom futuro para aqueles que vão continuar neste planeta.

quarta-feira, 22 de agosto de 2018

MEDITAÇÕES – 10 Os diabos



FORMATADOS

É excessivo atrever-me com a afirmação de que toda a humanidade está íntimemente, e até involuntáriamente, condicionada por certas noções empíricas e sem outro fundamento do que a contínua transmissão intergeneracional. Algumas destas formatações são relativamente recentes, umas positivas e outras negativas. Uma valorização que penderá num sentido ou noutrro em função da formatação mental que o indivíduo sofreu desde criança e que, com uma dose importante de atavismo, se transmitiu (e continua a ser transmitida) ao longo de gerações.

Os medos são a base de muitas decisões quase que instintivas, pois que uma vez ficou inculcada uma ideia que conduz a uma rejeição é necessário ter uma forte dose de cepticismo, de tratar de valorizar o seu critério pessoal se baseado na observação isenta de preconceitos e pressões sociais que, sempre, nos envolvem.

Pessoalmente posso referir aquilo que pude observar directamente e, depois, ligar através do estudo e da consulta de muitas fontes, desnecessárias e escolhidas, mas que me ajudaram no propósito de me libertar dos medos ancestrais.

Quem me conhece sabe, e confirmou visualmente, que sou bastante pragmático, dentro do possível numa mente sujeita a inúmeras influências, e a certa altura, analizando os contos e histórias com que se educaram as crianças ao longo dos tempos, procurei identificar os logros e tretas que detrás delas se esconderam, só com o propósito de criar umas adversões, uns receios, tão cimentados na mente que mesmo depois de atingir a idade adulta já é difícil neutralizar.

Os que se preocupam, e bem, com o excesso de consumo de energia e, nos mostram, com o recurso de fotografias nocturnas tiradas desde satélites artificiais, a loucura do excesso de luz artificial que proliferou no globo terrâqueo. Uma poluição lumínica que concretamente dificulta a observação astronómica. Tudo isto deve-se à dificuldade, ou ao não desejo, de refrear o receio que uma escuridão intensa nos provoca. É possível que muitos de nós nunca se dedicaram a imaginar como é que as quatro ou cinco gerações anteriores conseguiram sobrevivar em ambientes nocturnos totalmente na escuridão, a não ser em noites de lua cheia. As pessoas tentaram ter alguma luz no seu espaço familiar e até algumas tentativas de fornecer uma iluminação pública, que sendo débil dava lugar a sombras tenebrosas, que pouco sossegavam o viandante.

Por isso não nos deve admirar que a noite escura, assim como grutas ou outros locais mal iluminados, fossem considerados como locais propícios a estarem habitados por espíritos nefastos, perversos, perigosos. Somos um mamífero mal adaptado biológicamente para a visão nocturna, mas, em compensação, de fácil adesão a relatos e teorias indutoras de terror.
Como sabemos da autenticidade da máxima que nos alerta acerca de Quem conta um conto acrescenta um ponto, entendemos a forma como foram evoluíndo as mitologias em geral, entre elas as que estão na base de todos os credos. E de igual modo observamos que em todas estas criações especulativas e fantasiosas, existe uma base comum : O MEDO ao desconhecido. Um medo que é edificado, sempre, sobre factos que não se podem verificar directamente. E a partir desta base de credulidade incontestável se foram gerando temores mais ou menos concretos, mas fáceis de atribuir a seres reais, culpabilizando-os de acções inaceitáveis.

Uma das crenças mais difundidas na humanidade actual é a da existência do diabo, como ente misterioso, responsável de todos os males, é que se admite existir sem poder duvidar. E entre os seus imaginados atributos destacam a cauda e os cornos. Cornos que, lógicamente, nos causam receio se pensarmos na hipótese de estar ao alcance de um animal munido destes apéndices para ataque e defesa, e que nós, como animal desprotegido, nos sentimos vulneráveis. É automático e universal este medo, e daí se entende que todos os diabos que nasceram entre os povos do mundo tenham as suas testas povoadas de armas de ataque.

Até aí nada de estranho. Aquilo que me admirou foi o verificar que, em pleno século XXI os adultos, que manipulam tanta tecnologia; que sabem das aplicações constantes do virtual; que jogam teimosamente com uma extensa panóplia de seres ameaçadores sem que isso devesse interferir, negativamente, na sua visão sobre a realidade, depois, quando enfrentados com uma imagem física que pretende ser um revulsivo capaz de ultrapassar os atavismos ancestrais, rejeitem liminarmente o ter por perto um objecto que esteja em contra do que carrega na sua mente mais irracional.

Poderia citar situações concretas, mas, para quem me conheça, é desnecessário.

domingo, 19 de agosto de 2018

MEDITAÇÕES - 9 - Descomprometidos




 APARENTAR SER DEMÓCRATA

Neste mundo, mesmo que esta denominação a entendermos como ultrapassando a área restrita onde nos movemos, há de tudo, por isso não estranhamos da existência de pessoas que são consideradas como bem formadas e elaspróprias partilham desta convicção, e por isso inclusive podem manifestar-se como firmes demócratas. Contudo quando observamos minuciosamente o seu real comportamento em relação aos outros, nomeadamente com aqueles que, casualmente, não comungam exactamente das suas opiniões, agem como verdadeiros adeptos da ditadura mais cega.

Infelizmente verificamos, pessoalmente, que existem individuos que colocam as suas convicçes e até compromossos políticos, económicos, profissionais, ideológicos ou de outro tipo como sendo um muro instransponível. Num grau tão supremo que nem aceitam a hipótese de oferecer ao cidadão que rejeitam tenha a oportunidade de comentar, e não digo defender, as suas convicções próprias. Tal atitude pode corresponder ao íntimo receiode que os argumentos do contrário o possam demover das suas férreas convicções. Ou seja, que no fundo não está tão seguro quanto apregou e faz alarde perante os colegas. É, visceralmente indeciso.

Pode parecer um exagero aquilo que deixei esquematizado, mas qualquer um dos que leia isto já viu, ou como agem os obcecados, como se digladiam ou se ignoram os adeptos de dois clubes rivais. E se formos para o campo da política as situações não diferem muito. Mas deviam deixar de ser assim pelo menos aqueles que se autoqualificam como evoluídos, respeitadores, demócratas de fachada, mas que mostram o que de facto lhes anda por dentro quando rejeitam, desprezam, tentam silenciar com um tapa, seja real ou metafórico, aquele que opina de outra forma.

O mais difícil em sociedade é ser e manter-se imparcial, sem cair na obstinação, na falsidade julgada conveniênte, no facciosismo revoltante. O que de facto é independente, descomprometido, estará sempre livre para poder optar numa doutrina, sem que com isso renegue da anterior já que tal não existia na sua mente.

sábado, 18 de agosto de 2018

MEDITAÇÕES - 8 As convicções


AS CONVICÇÕES MUDAM

Mudar não tem nada de extraordinário. Se admitirmos que as células que constituem o nosso corpo sofrem uma substituição, paulatina certamente, que faz com que, num periodo entre seis e oito anos, tudo o que constitui a nossa pessoa é novo. Permitam-me que duvide desta totalidade, sem ter razões sérias para duvidar, mas nem que sejam as células cerebrais que nos posibilitam ter memórias bastante afastadas do momento actual.

De igual modo admito, sem provas que me avalem, que os ossos, enquanto não sofrem a descalcificação da velhice, possam ter os mesmos componentes minerais que auferem desde a idade adulta. Mas aceito que existe uma renovação de tecidos Assim como que a sábia natureza, tal como se encarrega de manter funcionais os elementos essenciais, com novas equipas de substituição, também possibilita o nascimento de tumores que não tinhamos.

Se de facto assim é tampouco nos deve causar admiração que os nossos sentimentos, os nossos ódios e querenças, convicções em geral, que consideravamos estarem fixas “a pedra e cal”, já diferem bastante do que foram na década anterior. Não será na totalidade, pois deixariamos de ser o indivíduo que os outros conheceram, mas as alterações pode que se apreciem sem esforço. Socorrendo-me de uma frase célebre mutatis mutandis o classicismo nos avisa da necessidade de mudar ou actualizar para não perder a identidade.

Uma das situações, entre muitas, que pode empurrar as pessoas a mudar de convicções está no casamento, na vida em comum de dois seres estruturalmente diferentes e competencias fisiológicas muito diferentes, apesar de complementares. No caso, hoje normal, de a selecção de conjugue ser livre e dependente do ajustamento de características individuais dos futuros esposos, a vida em comum vai evidenciar, mais cedo ou mais tarde, da existência de convicções, manias, costumes, preceitos e uma longa lista de pequenas diferenças que, se se deixam crescer em importância, podem empurrar aquele casal para uma ruptura.

Nem sempre se chega a esta situação extrema. Mas para isso sabemos que um deles, ou ambos, tem que ceder nos pontos mais propícios a se tornarem fonte de conflitos. Quem conhecia com certa profundidade algum dos dois membros vai notando, com algum espanto, como as cedências que se fazem, em especial quando são mais numerosas num deles do que no outro, os descaracteriza. Dizemos que mudou muito, que está como o dia para a noite, que é um pau mandado, dominado pela outra parte. Nem sempre esta cedência é notória, de um nível alarmante, assim como há casais em que é ela que abdica da sua personalidade e noutros sucede o inverso.

As mudanças que citei são uma entre outras tantas possíveis, e que nem sempre se atribuem a factores tão determinados. Um exemplo que me ocorreu, e que me foi referido por um popular practicamente sem ilustração, digamos analfabeto, e que verifiquei estar compilado num volume de refões, diz Não peças a quem pediu nem sirvas a quem serviu . Alerta-nos de como mudam certas pesoas quando as voltas da vida os situam bastante acima da camada de onde vieram. Também se podem avaliar as mudanças de caracter dos que abjuram de um credo para outro; ou das que mudaram de partido. Em geral o neófito faz o possível e impossível para se mostrar mais pertinaz na defesa da nova filiação do que os veteranos. Isso se refere no ditado Mudam os ventos, mudam os pensamentos.

quinta-feira, 16 de agosto de 2018

MEDITAÇÕES - 7 Quem é culpado ?

PROCURAR UM CULPADO

Quando nos surge pela frente um acontecimento que não admitimos estar influenciado pelas forças da natureza e, pelo contrário, consideramos que naquilo pode existir uma acção ou neglicência humana, a quem podemos atribuir a culpa do que.directa ou indirectamente nos afectou, ou simplesmente que nos emocionou intensamente de modo negativo, o instinto nos leva a procurar um culpado. Os meios de comunicação social, fazendo-se eco deste sentimento primário, colaboram com bastante rapidez apontando o dedo à destra ou à sinistra, ou mesmo frontalmente, ou à retaguarda. Não fica seta alguma na Rosa dos Ventos que não se procure culpar..

É uma situação clássica, que inclusive vem referida no Antigo Testamento, individualizando o pecador propício como o ainda hoje referido bode expiatório. No relato bíblico nem sequer se põe a hipótese de que o bode (era mesmo um bode, ou mais propriamente dois, pois um era sacrificado in loco e o outro ficava refém das culpa alheias) fosse culpado, nem sequer em pensamento dado que sendo um animal irracional não se lhe podiam atribuir acções reprováveis propositadas, ou seja ter cometido actos maldosos premeditadamente. Mesmo assim o bode era sacrificado a Deus para que com ele se lavassem todas as culpas que se aatribuíssem ao povo judeu.

Nestes dias em que vivemos ainda estamos sob o impacto da catástrofe ocorrida num viaducto em Génova. Já começaram a ser apresentadas hipóteses e razões para explicar como e porque aquele viaducto não aguentou a idade nem a deterioração; que não devia ter chegado aquele extremo. A partir de agora, se não começaram já as mal disfarçadas acusações pelo menos já se iniciaram as tácticas dos inquéritos. Podemos admitir que serão tantos os indiciados, além dos que  por enquanto permanecem na sombra, que pode suceder como num famoso Congresso Eucarístico em que foram tantos sacerdores, bispos, cardeais, superiores das ordens e outros que tais desejossos de oficiar uma missa que se verificou não ter suficientes altares nem acólitos disponíveis para o efeito.

Seja qual for o caminho que o inquérito siga é provável que, tal como sucede entre nós, jamais se chegue ao fim do novelo. Ou como se diz coloquialmente A culpa morrerá solteira, mesmo que sem a virgindade suposta. Por trás do pano certamente que existiram conluios, bonus, gratificações, subornos, como prefiram definir. Na Itália, apesar de que na península ibérica existem alunos distinguidos neses campos, a sua experiência dizem que é enorme, e que não há uma obra pública na qual os interesses "ocultos" não tenham comido uma boa parte do bolo. Aqui não deve ser muito diferente.

Mas, para poder resguardar as personagens de primeiro plano, que obviamente não comparecem nem querem pisar o palco, é necessário, sempre, uma vítima, mesmo que conivente e devidamente compensada em metálico, que possam apresentar como sendo o culpado. Veremos quem será o bode expiatório, ou quando ele for referido nos jornais e noticiários da Itália aqui já não seja considerado ter o valor de uma notícia. Mesmo importante, também é fundamental a apresentaçao dum bode expiatório, que represente a solução aceitável para a cidadania crédula, é ainda mais premente que este capítulo do romance seja ventilado com pompa e circunstância. Tal como se procedia ao cumprimento das sentença do Santo Ofício na Praça Pública, e se fosse em frente do Paço Real ainda melhor.

Quando eu trabalhava na fábrica de cimento era com alguma frequência que nos confrontavam com reclamações de acidentes nas obras, nomeadamente desabamentos. Aquilo que para os donos da obra e os empreiteiros seria mais fácil e conveniente era que a culpa fosse do cimento, que não prestava! E ali me deslocava para tentar ver o que, de facto, acontecera. A listagem de barbaridades era longa, apesar de a maioria das obras terem uma tabuleta com o nome do Técnico Responsável, practicamente um eterno ausente. De entre muitas asneiras posso referir a fraca dosagem do betão, o terem amassado com um grande excesso de água (ainda não era extensivo o uso de vibradores para ajudar a  assentar o betão); colocarem as armaduras ao contrário (a zona de tracção em cima e a de compressão em baixo); não respeitarem o tempo de cura do betão depois de colocado em obra, e daí desencofrar e retirar suportes antes o betão estar resistente; colocar ferro de calibre mais baixo do que estava no projecto, etc. 

Tudo se resolvia amigávelmente, sem litígio, mas com a garantia de que teriam mais cuidado. Nós, os da casa, dizíamos sempre que a culpa era do fulano que estava na betoneira. Ou seja, o mais fraco é que passa a ser o bode expiatório.

quarta-feira, 15 de agosto de 2018

MEDITAÇÕES - 6 Viver e Sonhar

VIVEMOS E SONHAMOS

Além do que de facto vivemos, do que nos envolve e no que nós envolvemos aos outros, existe um capítulo, quase sempre activo, que está povoado por aquilo que imaginamos, coisas que só podemos aceitar como válidas se as conseguirmos separar da realidade. E nem sempre é fácil !

Podemos considerar que a maior parte das invenções e descobertas, para não dizer que todas para não ser qualificados como exagerados, foram o resultado utilitário da interpretação e aplicação real de factos acontecidos casualmente. Ou de procurar materializar uma ideia nova, que estava fora da realidade do momento. Para ser condescendentes podemos qualificar estes felizes lampejos como fruto da inspiração, e, como é repetido amiúde, de muito pensar e suar.

O homem.visto com um ente bisexual, ou até multi~sexual se aderirmos às modernas aceitações sociais, tem uma variedade considerável de comportamentos individuais. E uma das classes presentes  -mas minoritária numéricamente- é propensa a encontrar problemas e procurar soluções, a ser possível enfrentando-os sob pontos de vista, ou de avaliação, diferentes da rotina habitual. É na procura de novos caminhos, de novas soluções que se cultiva a inventiva, a criatividade, pois está na  vontade ferrenha de enfrentar problemas, em geral ainda não bem definidos ou estudados em profundidade, que a humanidade progressa.

E o facto de nos depararmos com uma peada realidade, em que a famosa gravidade teve a sua presença activa, ontem ficamos espantados pelo derrube de um viaduto em Génova. Uma obra de betão armado, bastante recente, mas que desabou estando em serviço interrupto. Agora nos contam que este viaducto estava sujeito a uma pretensa vigilância ténica, que monotirizava o seu estado estrutural, e até que recentemente se fizeram trabalhos de reforço estrutural (?) 

Vai correr muita tinta antes que se digam as verdades sobre o que causou o colapso do viaduto. Mas tenho a certeza de que todos os profissionais em projecto, cálculos e seguimento de obras deste tipo devem estar pensando que ali houve um mau trabalho.

Apesar de ter visto exclusivamente as imagens que nos puseram à disposição, fica-se com a impressão de que, além de um betão pobre, mal doseado e pouco controlado, aqueles destroços mostraram uma carência acentuada do material que compensa o fraco comportamento do betão aos esforços de tracção e flexão. Dito de outra forma. As fracturas que mostram não tem a quantidade de aço a que estamos habituados. E, possívelmente, não foram aplicadas as técnicas de pre-tensão hoje consideradas indispensáveis em plataforma sujeitas a intenso tráfego pesado. Pode ser, também, que os apoios dos tabuleiros às mensulas que se encarregavam de transferir esforços ao terreno, não estivessem correctamente estudadas e executadas.

O que deixo aqui são umas observações prévias, não totalmente fundamentadas pois que não fiz uma avaliação visual no terreno, mas que tem como substrato o facto de ser reconhecido que as obras públicas rodoviárias tem sido um sector muito dominado pelas máfias italianas, e indirecatmente pelo capital, incluídos os santificados bancos. Não estou muito convencido de que alguma vez nos contem a realidade que se vai esconder detrás deste colapso e das suas vítimas.

Mais. Como esta via é considerada fundamental para o escoamento de mercadorias, seja entrando ou saído do porto e área circundante, depressa se tratará de substituir esta "obra de arte" -é assim que no meio se qualificam estes projectos de engenharia civil- por outra, que inefávelmente será adjudicada a um novo consórcio igualmente dominado por grupos de "patriotas".

A célebre frase de Shakespeare na peça Hamlet, "algo de podre cheira no reino de Dinamarca" pode aplicar-se, sem receio de difamar, em todo o mundo.

domingo, 12 de agosto de 2018

MEDITAÇÕES - 5 Conversos

CONVERSOS

Habitualmente são entendidos como Conversos os individuos que abjuram de uma religião para aderirem a outra, em geral incompatível com a anterior, mesmo que tenham raízes comuns. Mas creio que esta qualificação que peca por corresponder a uma convicção nva em relação à precedente, pode aplicar-se em outras muitas mudanças que, de um modo geral, não são vistas com agrado pela maioria da população que, sem ser exageradamente conservadora, prefere manter-se no mesmo lao da estrada da vida, pelo menos enquanto não blhe surja pela frente um somatório de razões que o impulsem a mudar.

Entrando no domínio da conversa castiça, informal, sabemos que no domínio da política, tanto rasteira como de altos voos, é corrente vir a saber que fulano ou sicrano mudou de parecer, ou melhor de partido, sem que o seu comportamento anterior, por vezes até propenso a discursos inflamados, que em nada indiciavam o propósito de filiar-se, repentinamente, num sector que, pelo que se depreende, lhe augura um futuro mais promissor, e a ser possível rentável. O cidadão comum, aquele que não muda de parecer como de camisa, não aprecia estas mudanças, e por isso há muitos anos que os qualifica como serem Vira casacas.

Existe uma característica, quase geral, dos indivíduos que súbitamente mudam de campo, seja na religião, na já referida política, no sector económico ou até no clubismo dito desportivo, e usam com gosto esta identificação com um orgulho -aparente, nem sempre credível- que nos surpreende. É o facto de se tornarem notórios pela dedicação com que, para ganhar méritos, tornam-se defensores e propagandistas intensos do novo amor.

Um exemplo actual, que só atinge a política lateralmente, é o nos relatarem como alguns dos terroristas que se arvoram intensas motivações islãmicas, nem sempre são originários de famílais que praticam esta fé. Alguns dos que se imolam para poder atingir uma quantidade de vítimas entre a população civil que, para eles, serão inimigos do Islão, mas que de facto pode corresponder a pessoas desconhecidas, inocentes,.Muitos destes mártires tem na sua ficha o facto de se terem convertido ao Islão recentemente, e decidirem mostrar a sua fé intensa imolando-se por uma causa que passou a ser sua pouco tempo atrás.

Sem ser necesário tornarem-se bombistas suicidas, o querer destaque perante os novos parceiros, após a sua recente incorporação ao grupo, os leva a  comportarem-se de modo semelhante ao daqueles que qualificamos como mais papistas que o Papa.

Uma situação que não é nova entre conversos, especialmente entre os que renegaram do judaismo para se incorporar na fé católica, e passarem á qualificação social de cristãos novos ou marranos (um sinónimo de porcos) encontramo-lo nalgumas biografias, pouco divulgadas, de santos e santas que, sendo cristãos novos, se tornaram estudiosos e especuladores teológicos do catolicismo.

terça-feira, 7 de agosto de 2018

MEDITAÇÕES - 4 Transplantes



A colocação de órgãos usados

A partir de l967, data em que o Dr. Christian Barnard fez a habilidade de substituir um coração humano, com falhas de funcionamento consideradas como irrecuperáveis, entramos na era da substituição de peças biológicas defeituosas por outras usadas mas consideradas como em bom estado. Um pouco levianamente compara-se ao mecânico atrevido que para reparar um carro já com bastantes quilómetros de vida e, portanto, já fora das garantias, vai procurar uma peça usada num sucateiro de “salvados”.

A partir da abertura da caça nas substituições já se abriram alguns caminhos diferentes, desde a incorporação de válvulas de suíno, às tentativas de abastecer entre alguns primatas -sem grande resultado- até a implantação de órgãos artificiais, fabricados com materiais não rejeitáveis e com força motriz de pilhas galvânicas.

Os avanços e recuos deram incentivos para que os investigadores desbravassem os problemas. E aquilo que hoje já está no conhecimento da maioria dos cidadãos, é que antes de se tentar uma substituição é indispensável fazer um estudo de compatibilidade, a fim de reduzir o perigo de rejeição do órgão “de segundo corpo”, sem que todavia se tenha conseguido eliminar este problema por completo, apesar dos fármacos que o indivíduo receptor tem que ir ingerindo para manter aquilo que não nasceu com ele.

Todos temos notícia de que se substituem corações, pulmões, rins,  bocados de fígado, veias e artérias. Que se conseguem reimplantar, sob certas condições, componentes de membros amputados. E até nos contaram da colocação de uma face completa de um cadáver num indivíduo que ficara desfigurado num incêndio.

O que não ficou esclarecido é como se distribuirão as peças no dia do juízo final... Mas como esta situação não sabemos quando ocorrerá, optamos por não nos preocupar. Mesmo assim a nossa estabilidade mental continua dependente do que a maioritária Igreja Católica, apostólica e romana, nos devia esclarecer.

E é precisamente aqui, neste tema tão actual, que entre nós foi badalado a propósito do vencedor do festival das cantigas do ano passado, que vou fazer referência a quem podemos considerar serem os mais importantes precursores, destas técnicas de transplantes entre humanos. Vamos recuar alguns séculos:

Santos Cosme e Damião (1)

Os Santos Cosme e Damião, irmãos gêmeos, morreram por volta de 300 d.C. Crê-se que foram médicos, e sua santidade é atribuída pelo motivo de haverem exercido a medicina sem cobrar por isso. Devotados à fé. São considerados patronos dos médicos cirurgiões. Mas em geral é referido só o São Cosme.


Na Igreja Católica sua festa é celebrada no dia 26 de setembro, de acordo com o atual Calendário Litúrgico Romano do Rito Ordinário, e no dia 27 de setembro, pelo Calendário Litúrgico Romano do Rito Extraordinário. Na Igreja Ortodoxa são celebrados no dia 1 de novembro e também em 1 de julho pelos ortodoxos gregos. 

O milagre atribuído a SS. Cosme e Damião e que lhes abriu a possibilidade de santificação consistiu no seguinte: um sacristão tinha uma perna gangrenada num estado tão avançado que estava ás portas da morte. Nem sequer a amputação era garantia de sobrevivência. Tendo sido chamados os irmãos beneméritos e sabedores, estes, enquanto o doente dormia, amputaram-lhe a perna doente e substituíram-na pela de um etíope recém sepultado, curando-o. Foi uma enxertia atrevida mas bem lograda.

Após encontrar esta referência senti uma certa estranheza pelo facto de terem utilizado um membro originalmente de um indivíduo de pele escura e implanta-lo, sem problemas de tipo social, num indivíduo que se admite ser de tez clara. Hoje, esta miscigenação não causa pruridos quando se trata de substituir órgãos internos. Mas, não recordo ser citado, modernamente, uma operação semelhante à que Cosme e Damião, à desgarrada, fizeram com o membro do etíope e o sacristão. Especulando sem bases posso imaginar que o Dr. Menguele (célebre médico nazi, pioneiro em operações de novo cunho -na época- com seres humanos) não deixaria de tentar progressos neste campo da cirurgia.

(1) os elementos que se seguem foram transcritos (+ ou -) de um site da Wikipédia

domingo, 5 de agosto de 2018

MEDITAÇÕES - 3 Galileu abjurou


E PUR SI MUOVE (1)

Neste caso damos como fixo o facto de que tanto a terra como o sol, como as galáxias e todo o conjunto de corpos celeste se movem. Mas aquilo que queria tratar é o facto, que sempre aconteceu desde o homem das cavernas, é que a sociedade em que vivemos tem sofrido importantes mudanças, que ainda não terminaram. E que raramente estamos conscientes de como a nossa vida se alterou, nem que seja comparativamente com aquilo que vivemos pessoalmente.

De facto acontece que a maioria das pessoas vivem ao momento, acertam o seu relógio pelos impulsos que recebem do seu entorno. Só aqueles poucos que restam, vivendo ainda em lugares isolados, sem a influência da televisão e muito menos das chamadas -impropriamente- de “redes sociais” que, de facto, só proporcionam imaginárias companhias, é que se pode considerar que ainda estão imunes aos fortes vírus da sociedade moderna.

Pode parecer uma mudança sem importância, mas de facto alterou quase que por completo a socialização com participação física de quase toda a cidadania, especialmente a dos residentes em centros urbanos. Cada dia se verifica ser mais difícil conseguir a comparência a reuniões. Os núcleos informais de reunião informal, onde era possível surgirem germes de contestação perante abusos que não são aceites sossegadamente pelos menos acomodaticios.

Nem todos estes efeitos podem ser atribuídos, directamente, à força de sedução das novas tecnologias. Mas também contribuem. Aquilo que mais alterou o comportamento dos indivíduos,avaliados em grupo, é o consumismo e a ilusão de já estarem integrados num patamar, indefinido, da ilusória classe média. Muitos governos aceitam o jogo dos grandes gestores da economia mundial e troco de poderem ter os cidadãos mais ou menos satisfeitos, ou pelo menos sem se revoltarem. Pelo caminho a crise económica subterrânea vai crescendo, como se verifica pelo aumento constante da dívida externa.

Veremos o que irá acontecer quando esta bolha rebentar e muitas pessoas se encontrem com dívidas impossíveis de saldar, com familiares desempregados ou com salários que não se ajustam às necessidades que se foram enquistando. A situação assemelha-se à de um malabarista que tantas peças foi acrescentando ao circuito de volatineiro que todos esperam ver cair tudo.

(1) recordemos esta frase, célebre, proferida por Galileu, em voz interior, quando foi obrigado a negar que sabia, por verificação directa, que a Terra girava ao redor do Sol, e que este era o centro do nosso sistema planetário, e não a Terra como a Igreja apoiava.

sábado, 4 de agosto de 2018

MEDITAÇÕES - 2 A Branca de Neve


SOBRE O CONTO DA BRANCA DE NEVE

A história, uma das muitas que os Irmãos recompilaram em pleno século XVIII, da tradição oral na Alemanha, alegadamente inventada pelos irmãos Grimm no século XVIII, em pleno renascer do romanticismo apresentam uma longa sequência de acontecimentos, com o propósito evidente de “fazer render o peixe”, já que o mais provável é que fossem contadas aos bocados nos serões familiares. Nesta, concretamente, e perto do desfecho, aparecem umas novas personagens, totalmente inesperadas para o leitor que desconheça o argumento.

No seu périplo acidentado, uma linda princesa, tornou-se o alvo obsessivo da sua bela, mas extremamente ciumenta, madrasta. Esta, dama que o seu negro fígado a tornava extremamente perigosa, não aceitava ter por perto uma princesa que, sendo notoriamente formosa, era sua rival na classificação social. Não só era rival como sem dúvida a ultrapassava. Roída pela inveja e desplante encomendou ao Monteiro-mor que levasse a princesa, conhecida pela sua alva pele como Branca de Neve, ao mais afastado e denso matagal do reino e ali a matasse. Todavia o incumbido algoz não teve coragem para cumprir este encargo. Arriscando o seu futuro, e nomeadamente a sua própria vida, deixou a menina no mato e lhe indicou a direcção para donde devia seguir para encontrar pessoas que a acolhessem.

Todos conhecemos esta história, com mais pormenor ou pelas ramas, e por ali encontramos um grupo de sete mineiros anões que aperfilharam a menina, na condição de que trabalhe em casa e trate das lides da casa, das lavagens de roupa, de as remendar, cozinhar e lavar pratos e utensílios e todas as tarefas caseiras que eles tanto detestavam. Em troca não lhe pagariam um ordenado, nem a inscreveriam na caixa, ou seja, estaria ilegal e por sua conta e risco nas horas em que os “bondosos” anões se encontrassem na mina. Ela, a princesa sem trono, já podia estar muito grata por lhe darem um teto e uma enxerga, e alimentação. Eram uns anões “porreiros”.

Nesta altura recordo que o número sete não surge por casualidade. É um número místico da cabala, que os adeptos ao ocultismo o interpretam com pretensa seriedade. No fundo, como escrevi noutra ocasião, o sete é a quarta parte do ciclo lunar e por isso é a base de todos os calendários. Aparece, o sete, em inúmeras referências, algumas físicas como é o caso da menorah, candelabro judaico com sete braços.

E chegados a este ponto também me parece ter algum interesse justificar que os mineiros tenham uma estatura reduzida. Julgo que este pormenor passa desapercebido. A meu entender existe, nesta inclusão dos ditos mineiros, uma denúncia escondida, ou pelo menos uma referência a uma situação social que era do mais corrente na época em que se escreveu a história.

Dado que as possibilidades técnicas na exploração mineira em galerias, antes da invenção das bombas movidas a vapor, que deram o tiro de partida para a primeira revolução industrial, seguiam-se os filões de mineral por percurso, em geral, muito estreitos. Por vezes a angostura era tanta que os adultos mal se podiam introduzir para trabalhar. E como a pobreza geral era intensa, as crianças cedo eram empurradas para trabalhos penosos. Os anões do conto representam as crianças que trabalhavam nas minas.

Além da exploração de menores a necessidade de levar para o exterior tanto o minério que justificava a exploração como o entulho que não tendo utilidade era um estorvo, levou a que se engendrassem carrinhos com pouca altura, com a roda adiantada e quando a rentabilidade da mina o justificava, colocar um piso de tábuas por donde se pudessem mover sem ficarem atolados.

Mais: o homem, que desde cedo procurou modificar, a seu proveito, os animais que lhe interessavam, conseguiu, através de selecção e cruzamentos, uma anormal raça de cavalos de pequena estatura. Os cavalinhos, que são referidos como ponies, são hoje uma prenda para crianças de poderosos. E também podem aparecer em feiras, com selas à sua dimensão, soltos ou atrelados a armações fixas, como um carrossel vivente. São uma das reminiscências da violência do homem sobre os animais. E não é a única, infelizmente. O exemplo mais habitual é o das pretendidas raças de cães de companhia, muitas vezes fruto de cruzamentos que a biologia rejeita.

sexta-feira, 3 de agosto de 2018

MEDITAÇÕES - 1 Mais mitologia



Passeando pela mitologia

Aproveitei o ter deixado o folhetim num canto escuro para poder abrir a janela e viajar no tempo, o que inclui o percorrer sendas já anteriormente trilhadas.

Uma das viagens recuperadas, por um rumo já antes batido e em mais do que uma ocasião, é curiosamente uma das que os humanos tem dedicado muito tempo a congeminar. Uma vocação persistente que nos ocupou desde séculos e que ainda é contemporânea. Quando estudamos ou lemos algum texto, sério, onde se tente especular sobre alguma das culturas antigas, estruturadas com maior ou menos extensão, observamos que em todos os casos, e povos que povoaram ou ainda habitam no planeta, sempre se dedicaram, com maior ou menor interesse e sucesso, na elaboração de personagens míticas, formando famílias cada vez mais numerosas e complexas progressivamente mais complexas.

Em todas as mitologias, ou teologias, sempre se imaginam percursos e acções dos seus membros, sempre actores fantásticos, cujos feitos são análogos aos dos humanos. As suas aventuras, uniões, lutas, crimes, atrocidades, adultérios, procriações e todos os percalços possíveis retrataram a sociedade em que se baseavam. Ou seja, aquilo que podemos qualificar, um pouco levianamente, como uma doutrina teosófica, não passa de uma tentativa de retratar o que os humanos seus contemporâneos faziam e fazem.

O meu retorno actual hoje está orientado para a complexa, e labiríntica, mitologia grega. Possivelmente ainda menos misteriosa, aos nossos olhos ocidentais do que as teosofias presentes no Indostão, e aquela que nos parece mais simples que estava vigente no Antigo Egipto. Seja qual for o percurso seguido e dando como certo que existiu uma fonte comum, ou várias fontes onde irem colher ideias, o nosso percurso europeu no campo da teologia nos leva a inquirir no célebre dilema de que se foi primeiro o ovo ou a galinha. Uma questão que, actualmente, até os pré-adolescentes tem todos os elementos para responder cabalmente, dado que sabem que as aves, e todos os restantes seres vivos nossos contemporâneos, incluídos os humanos, que tão evoluídos nos consideramos, somos descendentes dos répteis e estes, por sua vez, dos peixes. Daí nos vem a teimosia em utilizar ovos, ou óvulos, para a procriação. De onde o ovo é muito anterior à galinha.

Retomando as influências nas mitologias e teosofias, os gregos, que criaram um panorama complexo unindo a natureza, desde os astros até os animais e humanos, seguiram o trilho das anteriores estruturas mitológicas de persas, hititas, mesopotâmicas, e outras civilizações que sabemos terem existido mas que ainda não conhecemos em profundidade.

Ler e estudar, sem pretender fazer um doutoramento ou um mísero máster sobre a mitologia grega, e comparativamente qualificar a teologia cristã como paupérrima é a conclusão imediata. O cristianismo, numa tentativa pífia de rejeitar a complexa ligação de deuses avulsos que os gregos engendraram, e depois de que os romano-latinos, no propósito de se adaptarem aos credos anteriormente instalados entre as diversas populações que foram incorporando no seu Império, limitaram-se a uma acomodação das capacidades das divindades anteriores com outros nomes, o cristianismo manteve estas divindades pagãs com outros nomes e com poderes limitados. Nunca num nível de primeira grandeza, que ficou reservado à tríade (nada original historicamente) e anexada mãe do Deus na Terra (tampouco original na história das religiões).

A teologia seguida no cristianismo é muito paralela à das monarquias, sem que exista a sequência temporal que as monarquias humanas comportam, dada a vida terrena ser sempre limitada. Mesmo assim não se conseguiu neutralizar a propensão das pessoas, se não todas pelo menos uma boa parte delas, de invocarem os substitutos das primitivas deidades, que com outros nomes continuam a ser considerados como entes propiciadores de favores que estão, credulamente, a sua alçada nominal. Sintomaticamente verifica-se que as datas de calendário civil em que são invocados estes antigos deuses, agora descidos para o nível de Santos Protectores ou Intermediários Referentes, mantêm-se nas posições astrológicas que foram escolhidas pelos criadores históricos das mitologias. Dito de outra forma. Não há nada de novo na visão especulativa da humanidade e da sua conexão com os astros.