AFINAL HÁ INFERNO OU NÃO? E DIABOS?
A
nossa estrutura mental, anímica e até fisiológica, está
nitidamente condicionada a obedecer a uma regra, não escrita, mas
que a própria natureza nos impõe: a dualidade quase
sempre presente. Começa-se por nos habituar ao ciclo contínuo do
dia e da noite, quase que anulado quando o observador está situado
num dos pólos do globo terrestre. Mas, sem nos restringir a este
exemplo tão evidente, existem muitas mais situações que nos
elucidam sobre a importância de considerar o peso que duas posições
antagónicas nos condicionam.
Nas diferentes crenças que os
humanos foram criando ao logo de milénios esta dualidade de opostos
está sempre presente. A representação gráfica mais clara e
simples que conheço é a do Ying e Yang nas culturas orientais. Só
a noção dos pólos positivo e negativo na electricidade pode dar
meças na evidência. O mesmo conceito aplica-se para contrapor o Bem
com o Mal.
E no nosso mundo ocidental, sem
quase ter dado por isso se as pirâmides hierárquicas nos dois
campos opostos, do Bem e do Mal, estão identificados como sendo o
Céu e o Inferno. Cada um deles tem o seu hub sob um comando supremo indiscutível,
ou seja no Céu o “patrão” é o Deus Pai, ou a terna Deus, Jesus
e Espírito Santo, e no Inferno, situado nas profundezas da Terra, tem o
comando Satanás, que têm tantos heterónimos como o poeta nacional
da modernidade: Fernando Pessoa (Belzebu, Satã, Lúcifer, Tentador,
Tinhoso, Capeta, Diacho, e mais).
Ora, esta estrutura, que ao longo de
séculos foi estudada e discutido por doutas cabeças, de repente e
graças a uma mente esclarecida de um Papa, ficou sem um dos membros
mais importantes: Declarou que o Inferno não existia, ou melhor, que
estava na nossa mesma sociedade, fomentado pelo mau comportamento dos
nossos semelhantes. E, por não ser necessário, com a mesma penada
eliminou do mapa o Purgatório, que devia ser um local de castigo
temporal, com duração de tempo de penar que não podíamos
conhecer.
O
que não se quis evidenciar é que para existir uma situação de
prémio, no Céu, é indispensável existir o contraponto, o local de
castigo. E se abandonamos a noção dos extremos, do branco e do
preto, como deve funcionar o campo da ultra-morte? Se as almas “boas
e quase-boas” deslocam-se para o Céu, onde arrumam agora a
malandragem? E lembremos que em muitas representações pictóricas e
gravuras, entre os condenados às labaredas eternas, do Inferno
figuravam muitos purpurados “inté” papas. Uma confusão! “sem
sentido nem cabimento”. Se a malandragem, mesmo os do piorio, não
forem arrumados no centro da terra e, obviamente, não podem ir
incomodar as boas almas que envergando umas vestes brancas de neve
estão usufruindo da companhia das individualidades. Entre a multidão
dos que enchem a galáxia celestial destacam-se aqueles que em vida
foram membros das bandas e orquestras sinfónicas, tocando os seus
instrumentos (entre
eles o pífaro e a gaita)
montados em alvas nuvens como num palco.
Não
se admite que os diabólicos, mais os condenados, possam intimar com
os bons!(deixaram
de existir as classes? Haja respeito e guardem-se as formas!)
Seja como for que se organize este mundo espiritual surge uma dúvida:
Se,
de facto, por delegação de Jeová o Papa de Roma foi autorizado a
encerrar o inferno, esta decisão afecta tão só os adictos à
doutrina católica, apostólica e romana, ou também é extensiva aos
membros cristãos ortodoxos e protestantes? Se estas formações
dissidentes lhes continuam a dar guarida, então toda a estrutura
diabólica terá um emprego. De não ser assim vão todos para o
Fundo de Desemprego! E terão direito ao subsídio? Ou só a guarida,
com cama, comida e roupa lavada? E poderão fazer grandes fogueiras
tal como estavam habituados?
Estas
e outras perguntas e questões deveriam, com urgência, serem
estudadas pelos sábios da Igreja Católica, e esclarecidas quanto
antes aos humanos que já se sentem despojados de um dos alicerces
fundamentais da estrutura anímica que nos suportou durante séculos.
Pelo menos desde que se instalou o judaísmo, se esquecermos as
heranças das pretéritas religiões mesopotâmicas, pois já então
se “sabia” que existiam os diabos.
O
tal Papa nos deixou um problema …