sábado, 29 de fevereiro de 2020

MEDITAÇÕES - Sem importância


AFINAL HÁ INFERNO OU NÃO? E DIABOS?

A nossa estrutura mental, anímica e até fisiológica, está nitidamente condicionada a obedecer a uma regra, não escrita, mas que a própria natureza nos impõe: a dualidade quase sempre presente. Começa-se por nos habituar ao ciclo contínuo do dia e da noite, quase que anulado quando o observador está situado num dos pólos do globo terrestre. Mas, sem nos restringir a este exemplo tão evidente, existem muitas mais situações que nos elucidam sobre a importância de considerar o peso que duas posições antagónicas nos condicionam.

Nas diferentes crenças que os humanos foram criando ao logo de milénios esta dualidade de opostos está sempre presente. A representação gráfica mais clara e simples que conheço é a do Ying e Yang nas culturas orientais. Só a noção dos pólos positivo e negativo na electricidade pode dar meças na evidência. O mesmo conceito aplica-se para contrapor o Bem com o Mal.

E no nosso mundo ocidental, sem quase ter dado por isso se as pirâmides hierárquicas nos dois campos opostos, do Bem e do Mal, estão identificados como sendo o Céu e o Inferno. Cada um deles tem o seu hub sob um comando supremo indiscutível, ou seja no Céu o “patrão” é o Deus Pai, ou a terna Deus, Jesus e Espírito Santo, e no Inferno, situado nas profundezas da Terra, tem o comando Satanás, que têm tantos heterónimos como o poeta nacional da modernidade: Fernando Pessoa (Belzebu, Satã, Lúcifer, Tentador, Tinhoso, Capeta, Diacho, e mais).

Ora, esta estrutura, que ao longo de séculos foi estudada e discutido por doutas cabeças, de repente e graças a uma mente esclarecida de um Papa, ficou sem um dos membros mais importantes: Declarou que o Inferno não existia, ou melhor, que estava na nossa mesma sociedade, fomentado pelo mau comportamento dos nossos semelhantes. E, por não ser necessário, com a mesma penada eliminou do mapa o Purgatório, que devia ser um local de castigo temporal, com duração de tempo de penar que não podíamos conhecer.

O que não se quis evidenciar é que para existir uma situação de prémio, no Céu, é indispensável existir o contraponto, o local de castigo. E se abandonamos a noção dos extremos, do branco e do preto, como deve funcionar o campo da ultra-morte? Se as almas “boas e quase-boas” deslocam-se para o Céu, onde arrumam agora a malandragem? E lembremos que em muitas representações pictóricas e gravuras, entre os condenados às labaredas eternas, do Inferno figuravam muitos purpurados “inté” papas. Uma confusão! “sem sentido nem cabimento”. Se a malandragem, mesmo os do piorio, não forem arrumados no centro da terra e, obviamente, não podem ir incomodar as boas almas que envergando umas vestes brancas de neve estão usufruindo da companhia das individualidades. Entre a multidão dos que enchem a galáxia celestial destacam-se aqueles que em vida foram membros das bandas e orquestras sinfónicas, tocando os seus instrumentos (entre eles o pífaro e a gaita) montados em alvas nuvens como num palco.

Não se admite que os diabólicos, mais os condenados, possam intimar com os bons!(deixaram de existir as classes? Haja respeito e guardem-se as formas!) Seja como for que se organize este mundo espiritual surge uma dúvida:

Se, de facto, por delegação de Jeová o Papa de Roma foi autorizado a encerrar o inferno, esta decisão afecta tão só os adictos à doutrina católica, apostólica e romana, ou também é extensiva aos membros cristãos ortodoxos e protestantes? Se estas formações dissidentes lhes continuam a dar guarida, então toda a estrutura diabólica terá um emprego. De não ser assim vão todos para o Fundo de Desemprego! E terão direito ao subsídio? Ou só a guarida, com cama, comida e roupa lavada? E poderão fazer grandes fogueiras tal como estavam habituados?

Estas e outras perguntas e questões deveriam, com urgência, serem estudadas pelos sábios da Igreja Católica, e esclarecidas quanto antes aos humanos que já se sentem despojados de um dos alicerces fundamentais da estrutura anímica que nos suportou durante séculos. Pelo menos desde que se instalou o judaísmo, se esquecermos as heranças das pretéritas religiões mesopotâmicas, pois já então se “sabia” que existiam os diabos.

O tal Papa nos deixou um problema …





sexta-feira, 28 de fevereiro de 2020

MEDITAÇÕES - Acerca da paranóia




O VÍRUS DA COROA É O MAIS MAU? Ou é “o pintam”?

Há quem insista em atirar mais lenha à fogueira do terror que nos dizem está à espreita. E parece que são muitos os que batem nesta tecla, com tanta dedicação que tapam as notícias sérias.

E as notícias sérias nos informam de que este vírus corresponde a MAIS UMA GRIPE, com alguma variante na sua estirpe, coisa que é habitual practicamente em todos os anos. Também nos esclarecem, para quem estiver interessado, acerca do relativamente reduzido número de infectados e dos poucos falecimentos que se devem imputar a este vírus, pelo menos na área occidental do antigo continente.

Se dermos como certo que a transmissão por via aérea de doenças infecciosas, sejam elas víricas ou bacterianas, se incrementa quando as pessoas estão aglomeradas, seja no trabalho, transportes, escolas ou qualquer outra situação em que seja factível respirar ar previamente contaminado, então as recomendações já se conhecem. È por esta razão que se aconselha o uso de máscaras específicas que protejam nariz e boca.

Mas após estas considerações, que estão ao alcance que qualquer um, nos cabe perguntar sobre qual é a razão para que se incite o pânico em alto nível?

As motivações que se podem encontrar, umas mais à tona e outras mais ocultas, podem ser várias, e num leque que pode abranger desde a falta de temas que incitem a venda de papel ou a sintonização de emissões de rádio ou TV, cuja vida económica depende do terem audiência, até incrementar a pressão sobre a eficácia dos sistemas de saúde.

Mas podem existir outras motivações menos evidentes, mas que podem ajudar a desviar a atenção para assuntos de efectiva maior gravidade.

Fazendo uma lista desordenada surgem assuntos tais como o alarme de uma possível deflação da economia mundial, que se iniciou antes de se falar no coroa-vírus. Outro tema de risco potencial é o das ameaças vindas da Grã-Bretanha em que ou se fazem as coisas como quer o seu governo isolacionista, ou ele, o manda-chuva eleito, bate com a porta sem acordo entre os antigos parceiros; o que traria más consequências para ambas partes. Nem que só ponderássemos da possível expulsão dos muitos europeus que estão residentes, e dos muitos que trabalham, na G-B. Uns mais legalizados do que outros, mas sempre sujeitos a futuras restricções.

Ainda pode-se especular sobre se esta epidemia, que se aceita ter tido início na China hiper-povoada, pode ser utilizada como arma oculta pelo Ocidente para tentar travar a colonização económica que se tem instalado; com a colaboração gananciosa dos próprios ocidentais, mais interessados nos seus rendimentos directos do que nas consequências sociais que esta abertura comercial teve nos europeus que viviam, dentro do sector produtivo local.

Caso, de facto, o alarme insistente que se está fazendo com este surto gripal, tem por detrás uma táctiva de neutralização do “dragão chinês”, só conseguirá um êxito, relativo, caso o governo dos Estados Unidos também se sintir afectado directamente, pois que os problemas da Europa até, pelo menos, os deixam indiferentes se não satisfeitos.

Seja qual for o esquema instalado, caso exista, o que se pode deduzir, com os elementos que hoje temos, é que não ultrapassa, nem sequer alcançou, os níveis de mortandade de outros surtos gripais anteriores, mesmo recentes.

quarta-feira, 26 de fevereiro de 2020

MEDITAÇÕES - Do vírus coroado




Regresso às monarquias? Ou alarme exagerado?

Num nível estritamente pessoal estou numa de expectativa, com uma dose importante de receio por ser alvo de um alarme excessivo. Mas nem por isso confiado em que tudo fique delimitado a uma nuvem negra, passageira. A reacção, que considero prudente, é a de me manter à espera, como se estivesse numa batida aos javalis, mas sem arma carregada.

Admito que fujo de ler e de ouvir notícias e comentários “elucidativos” acerca de estarmos à beira de uma pandemia, ou seja de uma peste que pode afectar toda a população do globo. Encontro, neste momento, facetas conhecidas e outras que entram num alarmismo mais agudo do que em ocasiões anteriores.

Recordemos que já ultrapassamos alarmes internacionais, tais como as chamada gripe das aves, a doença das vacas loucas, a gripe asiática. Sem referir a já histórica -por não pertencer à memória dos vivos actuais- gripe espanhola, que levou milhões de europeus para a cova. E agora, em que situação estamos?

Para já nos estão metendo pelos olhos e ouvidos dentro o receio de que este vírus tanto pode ser mortal como passar como uma constipação febril. Mas que pode comportar um risco potencial elevado de ser fatal (como o destino). Instalaram, na povoação sensível, para não denominar de medrosa, um nível de pânico anormal. Tão inusitada é a situação que inclusive neutralizou, quase que totalmente, o interesse popular -e não só- pelas transmissões ao vivo dos festejos carnavalescos.

As horas de emissão foram monopolizadas por declarações que me escusei de seguir por considerar -com uma liberdade de critério que nada justifica- que pouco ou nada nos elucidam; Ou sabem mais do que dizem, e fazem o possível para não se comprometer. Numa dualidade de objectivos contraditória. Assim podemos avaliar as medidas de confinamento, de reclusão de possíveis infectados, como algo que não nos pode convencer; pois que no pior dos casos a decisão equivale e promover a infecção geral, e possível morte, a todos aqueles que fiquem com a porta de saída fechada, pela simples razão de que, segundo nos dizem, ainda não se encontrou um tratamento curativo de confiança, nem sequer preventivo (vacina).

Estando a informação, neste momento, carente de recomendações activas, a proliferação de notícias só de teor alarmante não pode acalmar nem, orientar a população. E, por outro lado, sente-se uma pressão económica muito potente no sentido de não afastar os seus potenciais clientes das viagens de prazer, sejam por via terrestre, aérea ou marítima. Que, sem dúvida, podem fomentar a rápida difusão da possível pandemia.

Se os alarmes sobre a presença de infectados em cruzeiros, os tais monstros marinhos que parecem hotéis com muitos andares, navegando com muitos passageiros e tripulantes, se cumprirem, e se para aliviar a pressão se “soltarem”, mesmo às pinguinhas, os que estão em quarentena, sem se saber exactamente qual o período de incubação da peste vírica, nem o despiste eficaz, esta situação pode alterar, sensivelmente, e até beneficamente, a promoção e extensiva adesão de muitas pessoas no fluxo de turismo de massas.

Eu, prefiro esperar, pelo menos até que a situação fique claramente definida. Não me consolam as declarações do “mensageiro e bondoso” Guterres, nem do popular Presidente. Só vejo, nestas personagens, tentativas de acalmar o fogo que, os meios de comunicação inflamam constantemente. A SITUAÇÃO NOS MEIOS DE COMUNICAÇÃO É ATÍPICA E NADA POSITIVA, a meu entender.

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2020

MEDITAÇÕES – Ganha-se e Perde-se



A população molda-se sem nos aperceberemos

De modo geral podemos admitir que todos sentimos que, de facto, existe um fascínio com a televisão, mesmo aquelas pessoas que tentam evitar ser dominados por esta máquina de transmitir imagens e mensagens, que para muitos nem todas são interessantes e muitas em pouco contribuem para a formação cultural e social da população em geral. Mesmo assim, e como acontece com muitos dos factores que pesam sobre nós, nem tudo é mau nem bom.

Uma influência que, sem a avaliarmos como merece, tem sido positiva é a promoção de uma linguagem, ou melhor uma pronuncia, cada vez mais uniforme entre regiões e camadas sociais. No aspecto da uniformação linguística podemos admitir que se ganhou bastante. E o contrapeso pernicioso é que pelo caminho se estão perdendo, por falta de uso, muitos termos da linguagem vernácula. Imaginando que se fez um balanço ponderado sobre o número decrescente de termos que se usam, mesmo contando com neologismos e barbarismos o mais provável é que o número global de vocábulos em uso corrente, sem entrar em linha de conta com as linguagens temáticas profissionais, deve estar em regressão progressiva, e não digo acelerada por não ter elementos numéricos onde me apoiar.

Tem sido habitual, pelo menos entre muitos ilustrados, afirmar que a televisão tem sido uma máquina de estupidificação da população. Só que para que isso corresponda a realidade seria necessário comparar o nível cultural médio da população na fase anterior à massificação das emissões de TV e a actualidade. Para já é indiscutível que entre a possibilidade de obter informação (nem sempre fidedigna) em casa ao sintonizar um aparelho para uma emissora que emita, naquele momento, um programa que interesse e a leitura em papel, existe um recuo considerável tanto no seguimento de jornais e revistas (uns mais respeitáveis do que outros, consoante o critério de cada cabeça).

Mas dentro de amplo espectro de programas que o TV oferece há, sem dúvida, uma faceta formativa, cultural que, sem surgir como lições enfadonhas, podem ter aberto janelas de assimilação factual além do que aparece em imagens. Tentarei explicar e, em corolário, poder transferir para a sociologia aquilo que verificamos ser habitual, por conhecimento adquirido ao longo de gerações, entre animais, os que habitualmente desprezamos como sendo irracionais. Um erro de grande magnitude.

Através de muitos documentários sobre o comportamento dos animais na natureza já se assimilou o modo que muitos tem, especialmente peixes de pequeno porte, aves e mamíferos pouco agressivos, a viverem em grupos numerosos. E, através dos comentários nestas reportagens, nos explicaram que a movimentação dos membros em bandos compactos e com deslocação em sintonia geral, os defende dos predadores, pela dificuldade em poder atacar um elemento indeterminado. Mesmo quando os predadores caçam em matilha. Daí se deduz, sem dificuldade, de grande porte, optam por se defender em grupo.

Recordei esta táctica ao meditar sobre os vergonhosos ataques de apupo que são habituais nas claques do futebol, ou nas gritarias, mais ou menos sensatas, que ocorrem no seio de manifestações onde se reclama seja o que for. Comparativamente sabemos que as reclamações individuais, com identificação voluntária, são practicamente inexistentes -vejam-se os livros oficiais de reclamações, quase todos imaculados.

E podemos afirmar que os humanos estão mais evoluídos do que as sardinhas ou as pombas? A vaidade dos humanos anda por patamares de irracionalidade. Em muitos temas estamos em sintonia com os tais animais irracionais, que qualquer pessoa que trate e observe o comportamento de muitos dos nossos companheiros de viagem na Terra já decidiu que nos ensinam mais do que de nós possam aprender.

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2020

MEDITAÇÕES - In memoriam



VASCO PULIDO VALENTE

Foi há menos de uma hora que me chegou uma triste notícia. Faleceu o escritor e comentador da política nacional VASCO PULIDO VALENTE. Os que se sentiam atraídos pelos seus escritos de opinião, sem papas na língua, e que precisamente por isso estou convencido de que muitos compatriotas o detestavam, por considerar que os seus pareceres eram, em demasiadas ocasiões excessivos, por truculentos e azedos, numa dose que sempre excedeu o que tem sido hábito neste jardim ao longo de décadas.

V.P.V. não quis ceder nas suas opiniões e classificações. Rejeitou a decisão social de ser preferível, aconselhável até, alimentar a hipocrisia, mascarada com boas maneiras e salamaleques, em vez de dizer as coisas pelos seus nomes (feios?). E por isso a população, em quase todos os estratos sociais, apreciava e praticava mais as boas formas, que no seu conjunto correspondia ao famoso respeitinho muito bonito.

Ao longo dos anos, e sem jamais o ter conhecido pessoalmente, teimei em procurar os escritos que apareciam na imprensa nacional, e alguns livros que, na sua faceta de historiador, nos deixou. Para o meu gosto, os escritos de V.P.V. eram suficientemente ácidos para atingirem, com dardos certeiros, a imagem que se desejava impoluta da maior parte das personagens que nos habituamos a ter que aturar. Hoje, atrevo-me a imaginar que, mesmo silenciosamente, muitos pecadores e covardes respiraram profundamente (com prazer mórbido) ao lhes chegar a notícia de que, mesmo sabendo estar ele V.P.V. doente, finalmente tinha deixado de ter a oportunidade de os qualificar com o seu azedume habitual.

Para mim, que não sou ninguém, que não existo, este falecimento nos deixa sem um historiador-escritor-crítico-pensador educado, do meio respeitável na melhor sociedade portuguesa. Sinto a sua falta. Estou de luto carregado.


quinta-feira, 20 de fevereiro de 2020

MEDITAÇÕES - personagens inesquecíveis


Há opiniões de todo género e merecedoras de ser respeitadas

Em principio admito que todos nós, excepto os mais influenciáveis, automaticamente desvalorizamos as opiniões que não encaixam na nossa própria craveira. Se não fosse assim, possivelmente teríamos metade da população seriamente incompatibilizada com os militantes com ideias diametralmente opostas às nossas. Felizmente existe mais sensatez na sociedade do que aquilo que seria de esperar se acreditássemos nos extremistas de um e outro bando. 

Mesmo assim é conveniente admitir que, para alguns, num quantitativo que não me atrevo a imaginar, são extremamente avessos a aceitar que “o outro” pelo simples facto de não aderir aos mesmos postulados, tem que ser, forçosamente, um inimigo, ou, pelo menos, alguém que não deve ser convidado para “ir à bola” na nossa companhia.

Porque me meto nesta camisa de onze varas, sem mais nem menos? Simplesmente porque, tal como me acontece numa frequência aparentemente inusitada, nos lembrarmos (os dois membros deste casal de velhos) de uns amigos, já falecidos, com os quais se criaram laços de amizade que seriam improváveis se, os quatro, tivéssemos cumprido “à risca”as regras habituais da rejeição. Existiam factores de peso que foram postos de lado. Estes amigos, que tanto recordamos, eram ambos do sector que se considera de direita convicta. Ele militar de carreira, oficial aposentado e, simultaneamente possuidor de um curso superior em engenharia, e mais: teve uma fase de actividade na vida política municipal.

Muito havia entre os dois casais que não nos devia facilitar uma aproximação. E, apesar disso, foram valorizados outros aspectos que nos possibilitaram uma amizade, um convívio bastante intenso, sem outro propósito de que permitir intensificar a familiaridade num nível que nem os próprios familiares entendeu ser possível.

Viajamos juntos por diversas vezes e, nunca esquecerei, o dia em que ele, o amigo improvável (segundo as regras da arte), já no leito de morte, poucas horas antes de falecer, me disse: Bert (era assim que me nomeava, pelo meu “nome de guerra”) tenho muita pena de não termos viajado juntos em mais ocasiões. Vocês foram um casal verdadeiramente amigo e desinteressado.

Nunca mais esqueci, nem esquecerei, estas palavras e a sinceridade com que me foram ditas. Eles crentes, practicantes, eu ateu militante. Os acompanhei à missa inicialmente, até o dia em que pedi que me autorizassem a ficar fora do templo, aguardando a saída. E, curiosamente, em muitas ocasiões apareciam acompanhados, alem da minha mulher, do padre que oficiou o sacramento. Todos muito educados e civilizados, sem nunca jamais entrar no tema da religião, nem tampouco nos critérios de política que comentávamos com cuidada isenção e sem fanatismos. Entendíamos a prudência da atitude Cada macaco no seu galho. E assim coincidíamos em mais pormenores do que se poderia imaginar desde fora .

Recordando um dos temas que sempre apareciam a revista Selecções. Estes amigos tornaram-se, por mérito próprio, as nossas personagens inesquecíveis.




terça-feira, 18 de fevereiro de 2020

MEDITAÇÕES – Escolher em bolso alheio



Eucaliptos ou castanheiros

Um dilema que, pelos vistos, só existe na cabeça de quem não tem terrenos em pousio e que imagina, de um modo estrictamente especulativo, como conseguiria que um terreno -que não possui- lhe rendesse algum dinheiro. Neste capítulo destacam-se as parcelas que, dada a evolução da urbanização e abandono da agricultura, podem estar em locais com predisposição para serem urbanizados. São um caso aparte.

O facto de ter lido, em várias fontes de difusão, afirmações, aceitemos que sensatas e realistas, de que os frutos de um hectare povoado de castanheiros rendem mais do que se forem plantados dos indesejados eucaliptos -fonte de tantos males !? e que me abstenho de apontar e comentar dado que todos estamos saturados desta polémica e, aqueles que não tem áreas de terreno rural entendo que não devemos intervir, por respeito à sensatez.

Mas … (o quase sempre presente alerta de contraditório) mesmo desde fora do conhecimento “em primeira mão” admito que existe um factor de ponderação que pode influenciar a decisão a tomar pelo proprietário que não se sinta vocacionado a ser defensor do ambiente, abdicando dos seus rendimentos mais substanciosos dos frutos secos, nem que seja por incapacidade pessoal de se dedicar directamente ao cuidado do seu património.

Sabemos que para plantar eucaliptos é fácil encontrar não só ajudas mas até prontidão para trazer e colocar no terreno eucaliptos já com alguns tamanho, numa espécie seleccionada, por técnicos credenciados (?) como ser a mais adequada para sobreviver e crescer naquele terreno. Também oferecem, gratuitamente -a cargo da empresa que faz promoção desta espécie- acerca dos cuidados a ter com a manutenção desta espécie arbórea, e que são quase nulos. Quando os novos eucaliptos já atingem um diâmetro de tronco médio que pode ser interessante para o mercado da celulose, ao dono do terreno só lhe falta fazer uma chamada à empresa que se encarrega do corte e transporte para poder receber o montante que aceitou. E mais, conhecendo a capacidade de sobrevivência e reprodução deste tipo de árvores, a repovoação faz-se sem necessidade de trabalho humano. Basta fazer um desbaste entre os rebentos, que podem ser demasiados no mesmo pé, para aquilo voltar à possibilidade de um novo retorno dentro de pouco tempo.

Em relação aos castanheiros, cujo rendimento anual por hectare, ou por pé, se diz ser superior ao dos eucaliptos, não tenho um conhecimento directo que me permita fazer o contraste numérico, económico, embora admita que as afirmações que sobre isto fui lendo podem ser aceites sem dúvidas. Tal como os versículos da Bíblia Sagrada. Existem sempre questões a esclarecer.

Teríamos que ter acessibilidade aos custos de preparação do terreno, dos pés de castanheiro a plantar, e das variedades mais favoráveis para a zona em questão. Nem sabemos quanto tempo leva uma plantação recente a dar frutos, em quantidade comercial. Das possíveis pragas que podem existir e que nos estraguem o fruto; e os custos da prevenção. Para um proprietário absentista, que tem a sua vida normal radicada longe do seu terreno agrícola, a apanha, selecção da castanha e a sua introdução no mercado pode constituir um problema, económico, que não fica restrito ao preço por quilo que o comprador-armazenista-distribuidor ofereça ao proprietário.

Assim, de relance e sem um quadro numérico que sirva de apoio, podemos admitir que aceitar uma plantação nova de eucalipto na sua área disponível, é bastante mais descansado do que tratar de árvores de fruto, sejam castanheiros ou nogueiral, que tem valores anuais de mercado variáveis e cativos de jogos especulativos. Por outro lado sabe-se, hoje, que mesmo as tradicionais culturas de sequeiro rendem, na altura da colheita, mais por hectare quando se lhes instala uma rega controlada, gota-a-gota, sem esquecer que esta decisão implica um investimento que se deve amortizar e carece de manutenção, além de electricidade disponível.

Termino com a convicção de que decidir entre eucaliptos e castanheiros não se pode fazer “encima do joelho”, que cada caso deve ser ponderado com cuidado, a fim de não ter surpresas a médio ou longo prazo.

MEDITAÇÕES – Deixem-nos decidir



Somos donos da vida

Está em curso, mais uma vez, a polémica sobre se devemos permitir, legalmente, que uma pessoa, em circunstâncias extremas de sofrimento, ainda consciênte e conhecendo que, sem dúvida, não tem a mínima probabilidade de retorno, possa decidir que chegou o momento de deixar de viver. Que o máximo que pode esperar são alguns cuidados paliativos; que lhe forneçam fármacos que mascarem as dores, mas que não o isentam da possível e progressiva degenerescência que o converta num “vegetal”, apático e sem controle corporal.

Provavelmente a pessoa que estiver a ler estas considerações teve a infeliz oportunidade de acompanhar, visitar ou simplesmente ver, o estado em que terminam muitos dos velhos que são depositados naquela “sala de espera do necrotério” que, eufemisticamente, denominam de “lares de idosos”. Mas que, de facto, de pouco ou nada servem para muitos dos ali depositados, mas sim que favorecem a vida das famílias que os abandonam. Longe da vista, longe do coração.

Além do natural desgosto que se sente por ver a degradação daquele ser, que recordaremos de quando são e escorreito anos antes. É normal que a reacção interna imediata é a de não desejar que “um dia” ele mesmo se possa encontrar nesta situação. Daí a decisão interior de que “antes a morte”.

Prevendo a possibilidade de que a nossa vida não termine de forma abrupta, resta a sensatez e isenção de como decidir por si mesmo, enquanto se está capacitado para isso. Pode ser que nos leve a procurar garantir que nos ajudem a deixar este ”mundo cruel” e trocar as voltas à Parca. A qual nem sempre respeita a opção de não sofrer. Uma ajuda que se conhece, por extensão do conceito, como sendo a eutanásia, sem definir que nesta decisão pessoal de como terminar, o cidadão é livre para escolher e não se trata duma decisão imposta por outrem. Mais correctamente deveria designar-se como um suicídio assistido.

E chegamos ao ressurgir de uma luta já anteriormente acontecida e até resolvida em algumas sociedades, tão evoluídas, ou mais, do que a nossa. Mais uma vez se embrulham, como as linhas e cordéis num saco, a religião e a livre escolha. O caminho, que parecia ser simples e pessoal, pretende-se, por opção de alguns crentes, numa interdição irresponsável que coage a liberdade de acção que cada um dos cidadãos deve ter, sempre e tanto que não prejudique a outrem. Nos querem empurrar para o sofrimento e a despersonalização, e em opção ao suicídio puro e duro.

Os ferozes argumentos que continuam a se expor para travar a decisão legal que permita a última opção em vida, não se podem apoiar numa referência aos direitos humanos, pois que não se aceita que outra pessoa decida em como terminar os seus dias se não o próprio. Não se trata pois de contratar um homicida, um carrasco legal que se encarregue de nos liquidar de vez. Trata-se do direito que se deve ter, e manter, de não sofrer sem cura possível, e abandonar o corpo enquanto a lucidez não nos abandonar. Que, de facto, é uma morte cerebral, mesmo que algumas funções automáticas continuem activas por um curto período de tempo.


domingo, 16 de fevereiro de 2020

MEDITAÇÕES - Pagador de promessas



Mas desta vez sem compensação por parte do devedor.

Recordemos que existiam, e se calhar ainda existem, pessoas que a cambio de serem remuneradas por acordo mútuo, se encarregavam de cumprir as promessas de outrem quando estas implicavam um esforço físico ou uma degradação indesejável para o real devedor. Podemos exemplificar com a promessa de fazer uma longa caminhada, a pé, desde a residência habitual até um santuário, considerado como muito propício para favorecer necessidades sem esforço nem mérito. Então combinava-se com um voluntário que assumisse este encargo físico, e tudo ficava numa boa. Para já isso implicava ser aceite a ideia de que era possível enganar a personagem, fosse ela Deus ou um Santo qualquer, sem temer possíveis repressões.

Em garoto ouvi, no sei da família e por mais de uma ocasião, relatarem uma marotice acontecida entre gente da praia. Uns pescadores, metidos mar adentro, viram-se inesperadamente no meio de uma tempestade que ameaçava afundar a sua pequena barca. Como era hábito nas gentes crentes do mar, invocaram a ajuda da Nossa Senhora que se venerava na imagem existente numa ermida situada num pequeno monte, perto da praia. Os dois compadres na aflição prometeram ir calçados -o que neles era pouco habitual, pois faziam a via descalços- e com grão de bico dentro dos seus sapatos, para assim aumentar a penitência.

O mar acalmou, como era normal acontecer, e mais uma vez salvaram-se. Chegaram à praia com a barca e o produto da pesca, e as suas famílias os aguardavam com gestos de agradecimento às entidades celestes. Os primeiros dias em terra decorreram sem grandes referências à aventura de que se safaram, e só passadas umas semanas é que se decidiram a comentar que deviam cumprir a promessa feita naquela aflição, pois de não o fazer arriscavam-se a que para a próxima não lhes fosse prestada qualquer ajuda celeste. Lá ficou assente o dia em que os dois,a sós e sem testemunhas, subiriam até a ermida, calçados com aqueles sapatos que tanto evitavam e com grão de bico dentro.

Já antes de abandonar as últimas casas da terra, um dos pescadores já mal podia assentar os pés; fazia manobras para se apoiar no cutelo do pé, e mesmo assim manquejava como um destrambelhado. Chorava em silêncio, cabisbaixo e sofrendo como nunca lhe tinha acontecido. O parceiro até fumava e trazia as mãos nos bolsos quando não cuidava da cigarrilha. Mas ambos chegaram, vivos, ao eremitério da Nossa Senhora do Mar.

Deixaram-se cair no degrau da entrada e descalçaram-se- O fumador queixava-se de nunca mais iria calçar aqueles sapatos, e mostrou as bolhas que lhe tinham feito nos calcanhares. O outro quando tirou pé e meia era uma banho de sangue. O grão de bico tinha-se engastado na sola do dos pés, mesmo dura e curtida como era pelo dia a dia no areal, e o desgraçado desmaiou. Quando deu acordo de si e viu o companheiro, fresco como uma alface, ficou abismado e perguntou: Mas tu não trazias grão de bico nos pés?. Ao que o outro retorquiu, pois claro que pus, e bastante, não ia faltar à promessa, só que eu tratei de cozer os grão primeiro!

A história ficou longa e sei que não gostam assim tanto de ler. Mas acontece que o tema que estava disposto a tratar era coisa séria. A DÍVIDA PÚBLICA QUE, MAIS UMA VEZ, NOS CAIRÁ EM CIMA. Tratarei disso noutra entrega. Deixo um adiantamento:


Não podemos esquecer que A BANCA é herdeira dos agiotas, e estes lucraram sempre com emprestar dinheiro que sabiam seria difícil, ou impossível, ser-lhes devolvido. Pelo caminho iam recebendo juros, muitos deles pagos através de novos empréstimos. E tudo "garantido" por nuvens de fantasia. Quando chegar a altura de todos reclamarem a devolução dos empréstimos não só vai rebentar a bolha (mais uma vez) como voltará a se carregar o cidadão inocente, que não foi tido nem achado, para carregar com a amortização, via Estado


quarta-feira, 12 de fevereiro de 2020

MEDITAÇÕES - Ser sempre verdadeiro



Um problema bem antigo

Podemos dizer que é um daqueles dilemas que algumas pessoas sentem: o ser autênticos no que deitamos pela boca fora ou escrevemos é um risco que, quase sempre, nos conduz a ser banido do convívio.

Vejamos o que encontramos nos canhenhos:

- A verdade é amarga, a mentira é doce.
- Boca fechada e trabalhar na almofada.
- Diz a boca o que o coração sente.E depois espera pela pancada..Diz-me mentiras e descobrirás verdades. Será sempre assim?
Dizer bem por diante e roer por trás. Uma receita tradicional.
Do adulador quanto mais longe melhor. Sempre diz “verdades”.
  • MEDITAÇÕES – Ser sempre verdadeiro

    Um problema bem antigo

    Podemos dizer que é um daqueles dilemas que algumas pessoas sentem: o ser autênticos no que deitamos pela boca fora ou escrevemos é um risco que, quase sempre, nos conduz a ser banido do convívio.

    Vejamos o que encontramos nos canhenhos:

  • A verdade é amarga, a mentira é doce.
  • Diz a boca o que o coração sente.E depois espera pela pancada.
  • Boca fechada e trabalhar na almofada.
  • Guardando a língua se guarda a concórdia.
  • Quem diz a verdade não merece castigo. Isso é que era bom!
  • Quem diz a verdade não janta cá hoje. E não é mentira.
  • O homem prudente vale mais que o valente.
  • Não te fies de adulador se não queres ser enganado.
  • De amigo sem sangue, guarda-te que não te engane.
  • Da tua mulher e do amigo esperto, não creias senão o que souberes ao certo. À partida aconselha desconfiar.
  • Dizer bem por diante e roer por trás. Uma receita tradicional.
  • Diz-me mentiras e descobrirás verdades. Será sempre assim?
  • De amigo sem sangue, guarda-te que não te engane.
  • Guardando a língua se guarda a concórdia.
  • Não te fies de adulador se não queres ser enganado.
  • O homem prudente vale mais que o valente.
  • Quem diz a verdade não janta cá hoje. E não é mentira.
  • Quem diz a verdade não merece castigo. Isso é que era bom!
E, sem grande esforço poderíamos juntar bastantes mais versando sobre o péssimo hábito de dizer a verdade (admitindo que cada cabeça pode ter a sua verdade, não coincidente) dado o risco, sempre presente, de quem a ouve não se agradar.

Assim fujo do que trazia engasgado. Mais claro: Que a verdade (a minha, como é evidente) não é bem recebida, é incómoda, desagradável.

terça-feira, 11 de fevereiro de 2020

MEDITAÇÕES - Nem tudo o que luz é oiro



MAS TUDO O QUE BALANÇA CAI

Pelo menos quanto a dentes isto não falha. E se não se decidir a cair de por si, resta a ajuda de um alicate apropriado. Reconheço que esta é uma interpretação muito simplista do anexim, e como tal temos que a descartar.

Entrarei no domínio das memórias pessoais. Dos primeiros anos da segunda metade do XX.

Nos meus primeiros anos de secundário tive um professor de língua que, para provar o nível de pensamento onde tinha chegado cada um dos seus alunos, de vez em quando nos mandava fazer uma composição, escrita como é evidente, baseada num ditado popular que ele escrevia no quadro. Mas apesar de que a ideia era boa nunca esclarecia o seu propósito; corrigia as faltas de ortografia e sintaxe, mas nada comentava acerca da interpretação. Recordo que um destes trabalhos vinha incitado pelo conhecido : Vale mais um pássaro na mão do que dez a voar. Nem quero reconstruir a tontice que certamente escrevi. Só direi que era novo e nunca tinha entrado numa guerra.

Muito mais tarde, recordando esta fase do ensino, oficial, critico com desgosto o
facto de que, antes de nos deixar em frente do papel e da caneta de aparo, não nos «tivesse dado uma indicação acerca da complexa profundidade que sempre existiu «nos adágios populares. Pelo menos nalguns deles, pois que os do tipo Em Abril águas mil ou Em ano de neves pagas o que deves, são inócuos.

Só recordo de que sobre este assunto outro professor, este de história, nos alertou que o recurso a provérbios, de aparência inocente em função das palavras utilizadas, em muitas ocasiões comportavam azedas críticas, veladas, à autoridade. Hoje dizemos que carregam uma mensagem subliminar. Mais disse: que os alguns dos mais antigos destes conselhos, transmitidos pelo povo, comportavam uma “prenda escondida”. Uma queixa, denúncia ou reclamação que era perigoso apresentar abertamente, por serem passiveis de castigo. Não sei se nos deixou algum exemplo, mais ou menos inocente, mas os fui encontrando ao longo dos anos.

No escrito de hoje, antes de avançar, o cabeçalho me empurrava para fazer uma crítica mordaz aos discursos dos políticos, nomeadamente quando nos pretendem enrolar com palavras doces, agradáveis, mas que antes de as pronunciar já sabiam que não eram para cumprir. Mas, depois de me espraiar em divagações literárias, apesar de populares, pensei que nada do que pensava escrever seria novidade para os pouco prováveis leitores, em especial para os mais astutos, que certamente que sabem pensar pelas suas cabeças, e daí que não carecem de ajudas vindas do exterior.

E não vos maço mais.


segunda-feira, 10 de fevereiro de 2020

MEDITAÇÕES - parecem gémeos univitelinos


MEDITAÇÕES – Parecem gémeos univitelinos

MAS NÃO SÃO

Foi por casualidade que me caísse nas mãos uma obra daquelas que, sem ser merecedora do Nobel. A não sr como anexo (fracalhote) do “nosso” José Saramago -que, se não me falha a memória, este cognome não coincide com o que herdou dos pais, mas foi de livre escolha...- fiquei a saber que era de um autor bastante lido, traduzido inclusive para muitas línguas, incluídas algumas moribundas e outras cadavéricas. O autor assinava-se com o pseudónimo LARV DIVOMLIKOFF, que é o resultado de baralhar as letras do seu nome efectivo VLADIMIR VOLKOFF. Russo branco (após ser lavado com detergente ocidental) emigrado da fenecida URSS. Aterrou primeiro em França, donde publicou vários livros, e depois nos USA, paraíso dos não filo-comunistas.

Segundo consta na sua biografia tem escrito, e conseguido publicar, várias obras, muitas das quais foram classificadas como para crianças e adolescentes. Possivelmente por serem qualificadas por críticos não muito exigentes como impróprias para adultos, mesmo que adúlteros.

O livro que estou terminando tem por título O TRAIDOR, e aparece em todo o lado, quase tanto como o nosso Presidente da República , se bem que não é adicto às selfies e aos abraços ternurentos. Se calhar porque não teve oportunidades para expandir a sua vocação humanista e publicitária.

Embora não tenha chegado ao fim, nem feito batota lendo as últimas páginas, o que me chamou a atenção e me induziu a escrever esta “crónica” é que, apesar do ódio que destila em relação ao comunismo soviético, certamente que com razões pessoais merecedores de ser consideradas, a justaposição que faz entre a Igreja Cristã Ortodoxa, entre outros pormenores porque aceita e prefere que os seus padres, ou seja popes, se casem e constituam família, com muitos descendentes devidamente legalizados e cristianizados, não segue exactamente as normas da Católica. VLADIMIR não esconde uma coincidência doutrinal entre o Comunismo e as Igrejas Cristãs.

Uma quase coincidência, que os comunistas ainda interiormente crentes no cristianismo, não deixam de referir. Dizem “eles” que, sem dúvida, Jesus, personagem principal do cristianismo, tinha um comportamento e uma doutrina mais afastada do capitalismo, do poder económico, do que do povo mais humilde. São formas de interpretar os evangelhos, mas de facto aqueles que escolhe para serem seus discípulos eram, na sua maioria, gente do povo. Incultos academicamente, quase todos analfabetos, mas com a cultura tradicional da oralidade. E com vocação de penetras em todos os banquetes que ficassem a jeito.

Mas a faceta em que cristianismo e comunismo coincidem é óbvia. O esquema é que difere. Diverso na aparência mas no fundo é igual. Ambas doutrinas, para as qualificar de algum modo, baseiam-se na promessa de recompensas para os bons adeptos e de castigos terríveis para os não cumpridores. A diferença, subtil nestes tempos em que vivemos uma vez que a Santíssima Inquisição deixou de poder torturar e assar os desviados e refilões, com o compadrio do poder civil. De pouco ou nada serviam os protestos dos que caiam nas suas garras, mesmo que estes teimassem em se mostrar relapsos e arrependidos, se não totalmente inocentes.

A diferença mais notável entre as duas doutrinas reside no facto de que o comunismo feroz, quando está no poder temporal como amo absoluto, trata de recompensar e castigar, cruelmente, em vida e a religião delega estas sentenças para depois do indivíduo falecer.

Assim escrito parece ser um detalhe sem importância. Mas para aqueles que foram atirados para as masmorras e até “ajustiçados” com a pena de morte, irreversível como sabemos, as diferenças são notórias. Não podemos desvalorizar a importância que para as pessoas vivas terão as recompensas materiais, as que for possível usufruir neste mundo sem ter que aguardar o incógnito paraíso. Entre conseguir uma boa situação económica e habitacional aqui, e a promessa de uma túnica e umas asas para deambular pelo Paraíso...

Voltando ao escritor russo branco, filho de boiardos e perdedor dos bens por imposição duns revolucionários sem educação nem maneiras à mesa, tenho que admitir que a sua escrita não é totalmente capciosa, pois dá umas no cravo e outras na ferradura. É muito mais legível do que o fanático e doutrinador Escrivã “de Balaguer”, que Satanás tenha numa das suas caldeiras, por méritos próprios e adquiridos através dos seus acólitos. (*)

* Escrivã colocou o “de Balaguer” ainda em vida, quando decidiu criar escola, para ficar lado a lado com o fundador da Companhia de Jesus, que era nobre de Loiola, e por isso adquiriu o nome composto de San Ignácio de Loyola. Nada vaidoso o Escrivá!!

domingo, 9 de fevereiro de 2020

MEDITAÇÕES – Palavras de noite



NÃO SÃO LEMBRADAS DE MANHÃ

A interpretação mais imediata desde anexim é que muito do que se diz quando o travesseiro está quente -e quem diz travesseiro pode ser o leito todo, o chão, o sofá, a mesa do gabinete, ou até o apoio de uma parede- não se pode considerar como uma jura gravada na pedra, ou seja “lapidar”. São afirmações  totalmente honestas, são fruto do entusiasmo e de fraqueza mental que naquele momento se sente. Mas que quando a febre desce já sabemos que a primeira tarefa com que a mente se afoita é a de varrer para o esquecimento tudo aquilo que pode corresponder a um compromisso problemático.

Daí que a mensagem, implícita o subjacente, é bastante mais abrangente e até impessoal. Se bem que neste momento aquele horizonte que me atrai é muito mais pernicioso do que muitos dos pensamentos e divagações deitadas pela boca fora em momentos de exaltação.

Não vou encaminhar esta reflexão para assuntos do campo da fé, pois sendo esta uma zona onde a racionalidade não está sempre presente -ou practicamente jamais- e apesar disso, ou se calhar por esta mesma razão, é propício a conduzir a ofensas pessoais, o melhor é não entrar, nem sequer com pés de chumbo. Recordo que no universalmente valorizado Dom Quixote, num dos capítulos refere que estando eles dois, Quixote e Sancho, percorrendo as planuras castelhanas numa longa noite escura e procurando um local onde pernoitar, o imaginário escudeiro exclamou que tinham chegado a um possível albergue. Foi bater à aldrava e quando o Cavaleiro da triste figura ouviu o eco que retornava daquele edifício, disse: Sancho, demos de cara com a Igreja, recuemos. (deixo a interpretação deste aviso ao encargo do leitor)

Mas aquilo que, com a experiência vivida e observada, todos sabemos é que promessas de políticos são folhas secas que o vento leva e espalha sem arquivar. Mesmo sabendo que não podemos acreditar no palavreado daqueles que pretendem que os ajudemos a subir ao pódio, com o nosso voto, as piores promessas destes cavalheiros -que o são não precisamente porque se exibem montados num solípede, mas pior, porque somos nós, os cidadãos abusados, mesmo que não propriamente enganados, que os carregamos às costas- E como o mentir, ou prometer com predisposição de não cumprir, deve ser considerado como uma moléstia adicticiva, o devemos anexar à ideia de comer e coçar é só começar.

Tristemente, porque este viciamento em prometer e não cumprir nos afecta a todos, e reconhecemos quão propício é o untar os dedos quando se mexe com azeite, considero que o primeiro lugar na interpretação do que, subtilmente, nos avisa o aforismo que encabeça este escrito, não se deve atribuir às juras de amor carnal mas, por serem mais frequentes e perniciosas, às galgas com que os nossos homens públicos -nossos porque todos temos parte de culpa na sua eleição- são tão prolíferos e esbanjadores. Piores do que as mulheres ditas de públicas, pois estas fazem-se retribuir directamente e com uma dedicação pessoal concreta, mesmo que também falsa.

sexta-feira, 7 de fevereiro de 2020

MEDITAÇÕES - Saltou o alarme


MEDITAÇÕES – Saltou o alarme

Diz a caldeira à sertã: Sai para lá e não me enfarrusques

Não sei por que cargas de água -mesmo hoje que a água carrega-se em garrafões DE PLÁSTICO! - surgiu-me à frente este rifão popular. Suponho que deve ser consequência de verificar, mais uma vez, que neste espectro de políticos, governantes e oposicionistas, a ética e a limpeza, ou higiene comportamental, não brilham, por estarem ausentes em demasia. Ou, com mais senso se pode afirmar que estão postas muito de lado. Se não totalmente.

Ainda ontem, quando ia procurar repouso corporal, ouvi uma voz, notoriamente alarmada, que me dizia, com convicção e alarme, qualquer coisa como:  O nosso primeiro ministro, o tal Costa que ocupa este lugar de destaque, deve estar muito atrapalhado com tantas negas e confirmações dos seus adjuntos, e dele próprio, neste lamaçal que, desde os primeiros dias, se notava estar no seio do famoso e misterioso roubo num paiol militar em Tancos.

Não gravei nem passei a papel com auxílio da estenografia, por duas razões, e não três como o anão mais alto do circo. Em primeiro lugar porque o gravador portátil que utilizava, e os seus companheiros electrónicos leitores de cassetes audio e de imagem, foram retirados da circulação, e, em segundo lugar, porque a minha insistente ideia de andar sempre com um bloco de apontamentos disponível, ou seja a mão de semear (fosse trigo ou fosse joio), nunca chegou a criar raízes, A decisão sempre foi solene no instante em que a tomo. Mas depressa se esbate. O máximo que consegui é o ter num bolso algum resguardo ou factura disponível para apontar, no reverso,  alguma ideia. E já é muito!

Mas, recuando e deixando estas divagações inúteis de lado, o que era apresentado como alarmante correspondia as afirmações e negativas que ontem, e na véspera, se ouviram e leram a propósito da trapalhada e mentirolas, mais próprias de escolares da primária do que de indivíduos crescidos Que ocupam postos que implicam seriedade e respeito. Naquele momento quem me alertou sentia-se, verdadeiramente como se Portugal, ou os seus cidadãos, estivéssemos à beira de um abismo.

Fiquei atónito com esta dedução tão alarmista. Será que já se esqueceram que, neste jardim de que tanto gostamos, as trovoadas não são devastadoras? Que tudo passa em poucas horas e voltamos a ter um sol radioso para nos alegrar? É que terramotos como o de 1755 não acontecem todos os dias. Felizmente. E que não são consequência de comportamentos errados de personalidades.

O pessoal normal, ou anormal consoante o ponto neutro esteja mais ou menos deslocado em relação ao fiel da balança, esquece tudo tal como o hipnotizado acorda, instantaneamente, quando o artista faz estalar os dedos polegar e indicador. Nem nos tempos mais austeros a que assisti, já em transito para a democracia, mas na euforia virica própria da fase de mudança, que , entre outros movimentos, os padeiros decidiram não trabalhar de noite e deixamos de ter pão fresco de manhã. E o leite escasseava, não se sabe se por greve das vacas vermelhas (?) ou porque faltava o carcanhol para o importar, o se sabe é que obrigava a fazer fila de espera às portas do local onde se vendiam sacos de plástico da UCAL (urina com algum leite, afirmavam as más línguas) e não forneciam mais do que um saco por cabeça, sem atender a quantas pessoas de família representava aquele sofredor cidadão que não fazia fila por desporto. Pois nem isso fez com que o “maralhal” se revoltasse com paus e pedras. Ou seja, a noção de que O POVO ESTÁ SERENO é um facto sobradamente comprovado. E, mais uma vez, se confirmou que os alarmes não duram mais do que a chama de um fósforo.

Se alguma coisa nos deveria fazer cair a cara de vergonha é que não é necessário o respeitar, cegamente, a autoridade de um líder eleito, -nem que o tenha conseguido com alguma biscambilha- mas pior, que por extensão, qualquer sujeito que se coloque sobre um tijolo, como se fosse um pedestal, é respeitado, mesmo que mereça ser apupado, assobiado, enxotado, como se fosse um rato ou mesmo uma mosca brejeira.

NOTAR – Este conceito de o respeitinho é muito bonito, ou conveniênte, não está a ser seguido, ou melhor dizendo honrado, por alguns sectores enquistados no seio da bondade social lusitana.


quarta-feira, 5 de fevereiro de 2020

MEDITAÇÕES – Malesuada Fames (Virgilio)lio



A FOME É MÁ CONSELHEIRA

Já o pensador e poeta latino Virgílio sabia que a ambição, que é uma das facetas da fome (de poder político e económico, sempre com grande risco de andarem de braço dado) incitarem a abusar dos passivos. Pela convicção de que estes não reagirão de modo a neutralizar os seus propósitos ou de corrigir o que destruíram.

Na nossa sociedade actual, dado que a ainda incipiente democracia não sedimentou. Como se deve observar pelos acontecimentos mais recentes. Muitas pessoas já sentem como o espectro político que parecia inalterável, numa rotação equivalente à que existia durante o fim da monarquia, já se desmembrou. Hoje temos pequenos grupos dispersos, que vistos isoladamente não apresentam perigo imediato para os partidos já instalados. Uma negligência e desprezo que pode vir a dar surpresas e mudanças importantes. Estes grupos hoje minoritários existem e teimam em dar cartas neste jogo. Mal será se a contestação urbana pender para o anarquismo. Já esteve mais longe.

É um evoluir perigoso (para as pessoas tranquilas) mas que avança, com maior ou menor sucesso, porque o ambiente que se respira é de crescente descontentamento, descrédito de como se habituaram a exercer o poder nesta rotação sem progresso social visível, antes com um retrocesso notório.

O factor mais pesado que acabará por ser entendido pela população é o de que, apesar de nos quererem vender a alegoria de que “as contas estão certas” e, por receio de perder as suas oportunidades, os partidos tradicionais comem, ou fingem comer, mas calam, o que não se pode esconder durante muito mais tempo é que a dívida pública, e também a dívida da cidadania, tem aumentado em vez de diminuir, como se anunciava que aconteceria.

Simultâneamente as pessoas comuns, os cidadãos que votam e “escolhem”, sem saber onde se metem, já cada vez entendem melhor que esta forma de apresentar as contas públicas (seja qual for o que estiver no poleiro) está recheada de truques e falsidades. Quando o “povo” descobrir que, neste momento, existe uma bolha de economia devedora equivalente, ou até superior, á que levou a que o FMI entrasse com o propósito de encarreirar a nossa economia (sem se esforçar muito, pois o dinheiro conta muito e os interesses ligados a ele são pesados) e de cuja acção recordamos (será que recordamos mesmo?) um período de redução de despesa e da concessão de crédito, mas (outra vez os interesses dos poderosos)que nos levou para as PPP (que são pesadas cangas no pescoço da cidadania que depende de um salário) e vendas a preço de saldo dos poucos activos que ainda restavam.

É inevitável que se inflame o rastilho da explosão social com que a população venha mostrar o seu desconforto, descontentamento e daí a revolta destruidora. Moral da história: apesar de saber o perigo a que nos expomos, quem governa prefere chamar os bombeiros do que prevenir os incêndios (e a população até apoia silenciosamente)

A insistente pressão para manter, e aumentar, o consumismo, após esgotar as reservas familiares conduziu ao crédito esbanjador, desgovernado, e ao recurso de não conjugar a pressão comercial com a realidade económica. Daí que não lhes seja factível equilibrar as receitas do Estado com os seus compromissos, e menos às despesas ineludíveis. O truque de magia (para tontos) utilizado é o que chamam de ”retenção”, como se fosse a reserva de alimentos que cada casa procura ter no seu dia-a-dia. Não pode continuar eternamente com este rumo. SIMPLESMENTE PORQUE NÃO SE CUMPRIREM AS VERBAS PROMETIDAS, ORÇAMENTADAS E ATÉ APROVADAS, OS SERVIÇOS PÚBLICOS SE DEGRADAM.

O remédio que o capital propõe, é, também neste caso, pior do que a doença, pois que na maioria de casos em que se pretende substituir a acção estatal, nomeadamente na saúde e no ensino, empurrando que necessita com urgência para os sistemas privados, na realidade encostados ao Estado através das PPP, cujos contratos existentes lhes garantem cobertura para os deficits sem os penaliza nos sectores rentáveis. Uma situação menos complexa do que pode parecer mas que fundamenta-se em tratar a economia nacional como se este fosse um País próspero, quando na realidade ….

terça-feira, 4 de fevereiro de 2020

MEDITAÇÕES – Ler e “visualizar”



GENERALIZO SEM TER UMA BASE

Há anos que quando leio alguma obra de história, ou de ficção, que me cative, sinto mentalmente que além de seguir o texto escrito, em muitas ocasiões, estou presenciando os locais e os factos que me são transmitidos “friamente” por aquele texto impresso. Especialmente nos casos, normais em livros para adultos, em que não se intercalaram figuras, fotografias ou desenhos, com o intuito de facilitar a integração do leitor no conteúdo da obra.

Custa-me bastante, por acanhamento, abrir a minha maneira, intensa e participativa, com que tento absorver e interpretar aquilo que o autor nos quer oferecer, com a melhor das intenções e usando todo o seu saber como escritor/a. Suponho que esta intenção de transferência deve ser a intenção primordial do autor. Não posso acreditar que quem escreve entregue o seu trabalho, seja autobiográfico ou imaginado, sem esperar que o leitor -se interessado- não se sinta integrado naquela descrição.

As impressões que podemos utilizar do nosso arquivo mental, vindas de observação directa ou através de meios de difusão de imagens, devem ser tão numerosas e variadas que atrevo-me a dizer que se não travarmos a nossa mente ao ler, sem dar por isso estamos ilustrando, dando vida, aquelas séries lineares de caracteres tipográficos, aparentemente áridas.

Sabemos que as línguas ocidentais, pretendem, e por vezes conseguem, representar sons e palavras utilizando composições de símbolos, em conjuntos, mais ou menos curtos ou longos de letras. Variável consoante as necessidades de cada língua, e que chamamos de alfabeto. É através de múltiplas combinações destes símbolos que ao se adoptarem globalmente, transmitimos ideias e descrições com a convicção de que podem corresponder a sons concretos, e interpretados como se os emitíssemos de viva voz.

Mas outras civilizações, mesmo vivas na actualidade, em vez de uma restrita série de símbolos correspondentes a sons, optaram por utilizar ideogramas, que podem corresponder não só a palavras soltas como a orações completas. Numa escrita deste tipo os resultados conseguidos não serão inferiores aos que possibilita o uso dos alfabetos. Existem várias línguas que,ainda hoje utilizam esta técnica de escrita. Alguma destas línguas com escrita normal por ideogramas, em certas ocasiões e a por razões comerciais ou técnicas, debatem-se com a necessidade de transcrever para símbolos ocidentais. Outras já caíram no esquecimento, apesar de terem deixado testemunhos da sua importância.

Estas grafias por símbolos e não por sons combinados devem facilitar aquilo que sugeri de entrada nesta “meditação”. É quase impossível que ao interpretar estes ideogramas não surjam, na mente do leitor, as imagens e mensagens quase como as lidas numa banda desenhada com poucas legendas.

Só me falta, e continuarei a não ter, saber das opiniões sensatas de algum leitor, com as quais possa confirmar, ou não, que a minha mente funciona como a de muitos outros indivíduos devidamente considerados normais. Nem sequer posso agradecer a vossa colaboração. E lamento.