O
facto de que -eu por exemplo-
ao ver uma cor dominante sinta uma sensação psicológica
determinada, não garante que todos os nossos companheiros de viagem
se encontrem em igual sintonia. Mais: temos referência de que em
cada cultura, em geral de zonas afastadas entre si, as cores podem
ser associadas a situações muito dispares.
Como
exemplo, conhecido por muitos de nós, é o caso das vestes lutuosas.
No ocidente europeu o luto carregado implicava vestimenta preta, ou
pelo menos, para os homens, a gravata preta ou uma faixa preta no
braço. Na zona oriental do globo é o amarelo vivo que denota a
tristeza por uma morte.
Este
tema, que não me é novo, apareceu-me no acordar, num estado de
semivigilia, e me levou a fazer um inventário, mental, de como as
cores de um ambiente ou de um objecto em destaque nos afectam.
Existem
estudos sérios sobre este tema. Inclusive tenho -mas
não sei em que prateleira está- um livro técnico que
analisava os efeitos psicológicos das cores e servia para ser uma
guia para pintar, com atenção, paredes e objectos em locais
específicos.
É
com base nestes estudos que se optou por pintar as paredes dos
corredores de clínicas e hospitais em tons claros de verde ou azul.
De preferência o verde! A razão estava no admitir que esta cor nos
orienta para a tranquilidade da natureza, dos prados... A cor branca,
que em geral a sentimos associada ao asseio, à limpeza, entra na
zona das cores frias, que se deve quebrar com alguns toques de cor
mais quente.
Mas
estas duas cores entram, sem dúvida, na zona que chamamos de “cores
frias” e por isso não são nada indicadas para pintar paredes
de casas de banho, nomeadamente se lá existirem as instalações de
asseio corporal (lavatórios, duches, banheiras), pois que a visão
nos transmite uma sensação de frio. Infelizmente ao associar o
facto de ali se encontrarem torneiras que debitam água e associar a
cor azul a este líquido leva a muitos, desconhecedores, a optar por
tons de azul ou verde.
As
cores consideradas “quentes”, que vão desde o creme, os
amarelos, castanhos com diversas intensidades, laranjas, rosas e
vermelhos suaves, tem as suas aplicações bem estudadas. Os gráficos
publicistas sabem como os usar a fim de chamar a atenção para
pontos concretos.
O
vermelho intenso pode provocar exaltações mentais muito
indesejáveis em espíritos excessivamente sensíveis. O motivo é
porque, instintivamente, nos leva a imaginar sangue derramado,
feridas, morte! O vermelho escuro, quase roxo, pode mentalmente ser
associado com sangue seco. A evitar! Por esta razão são cores
banidas de clínicas e hospitais; inclusive em muitas zonas de uso
civil não especializadas. Excepto quando, precisamente, se quer
quebrar o equilíbrio emocional de quem entra.
O
violeta e roxo, também, e por influência da cultura cristã,
trazem uma conexão com o sofrimento, com as torturas. Daí serem as
cores que se usam nos paramentos das igrejas na Semana Santa. Até
umas décadas atrás, havia mulheres que, por uma promessa piedosa,
vestiam, durante uns tempos, hábitos pretos ou roxos.
Finalmente
chegamos ao preto, que podemos considerar como a carência de cor. Sempre conectado com as trevas, com com
perigo invisível, com a noite cerrada, com o averno. Além de ser
usado em vestes fúnebres também, e certamente que por influência
das castas mais dominantes, mantém-se em roupas masculinas de grande
cerimónia. Como se a alegria, a boa disposição, não se pudessem
enquadrar em actos sociais onde, precisamente, se devia incitar o
regozijo. Só alguns atrevidos se trajam de cores claras.