Pergunto
a mim mesmo e não sei responder, admitindo logo de entrada que não
tenho bagagem de conhecimentos sobre a economia que move os países,
e concretamente sobre a que afecta Portugal se, de facto, existe
neste jardim alguém que, com sinceridade e convicção, considere a
situação que nos é apresentada como um sucesso, quase que
milagroso.
Para
toda a equipa que está instalada na governação, incluído o PR,
Portugal está marchando, em passo de corrida, para o melhor dos
mundos. Vejam-se os efeitos dos FFF e os índices positivos que
ofuscam, escondendo aqueles que não se ajustam à mítica visão que
se impõe para levantar o moral da população. Acusar todos pode ser
um exagero, pois que além de alguns teimosos, que são vistos como
Velhos do Restelo, há os que preferem estar mudos e quedos
nestes temas.
Também
é pertinente reconhecer a existência dos sócios refilões,
pouco citados e só ouvidos pelos seus adeptos fieis. Este alheamento
perante as denuncias do que se esconde pode atribuir-se ao facto de
que a malta conhece, sem ser consciente deste capítulo na sua
bagagem cultural, a história do Pedro e o lobo. Os meios de
comunicação social colaboram com ardor nesta selecção, que se
anuncia como caminhando, resolutamente, para a vitória. Um ardor que
pode estar localizado nos estômagos dos que tem o seu salário
dependente do seu comportamento, que, sem subtilezas, os obriga a
seguir as linhas de opinião que agradam aos proprietários.
Aquilo
que continua a me preocupar é que tanto a balança de pagamentos
como a dívida nacional e privada continuam aumentando, sem
sintomas de que às cacarejadas exportações lhes correspondam uma
diminuição no peso das importações (a crédito!!)
Referem
que a evolução positiva deve-se, principalmente ao aumento da
confiança da cidadania, e também ao dinheiro que nos deixa o
turismo de massas.
Quando
referem esta “confiança” devemos traduzir pelo aumento do
consumo, mantido em alta pelo crédito que se abriu na banca depois
de recapitalizada, e que depois vai, quase todo, dirigido a bens
importados, sejam de consumo imediato e de curta duração ou de
viaturas, cujo tempo de vida também é progressivamente encurtado
por interesse dos fabricantes. Sem números à minha frente, e que
sei devem existir, atrevo-me a dizer que esta
confiança tem pés de barro, cru.
A
segunda parcela favorável veio dirigir uma parte da cidadania, cada
vez em maior percentagem, especialmente a muitos dos que vivem ou
trabalham nas grandes urbes, a ficar dependentes
do sector serviços. É melhor do que nada. Mas degrada a
muitas pessoas na sua auto-estima. Hoje, na capa de um jornal
generalista, vinha a declaração de uma insigne profissional
afirmando, pouco mais ou menos, que as famílias deviam sentir
orgulho em ter filhos cozinheiros ou empregados de mesa. Da minha
lavra juntaria condutores de tuc-tuc, e não refiro os carteiristas
porque as notícias referem que muitos destes profissionais não são,
de facto portugueses. Longe vão os tempos em que a nação produzia
profissionais neste ramo sem concorrência vinda de fora, excepto nas
datas com maiores ajuntamentos de pessoal.
O
turismo de massas, que é um
fenómeno relativamente recente, depende em parte da oferta de
viagens com baixo custo. Já lhes sai mais barato, e cómodo, subir a
um avião, apertados, do que tentar boleias com a mochila às costas.
Venham hotéis, de preferência com bastantes estrelas, casas que
aluguem quartos, mais ou menos legalmente. Atraquem, por umas horas,
grandes paquetes de cruzeiro, que são hotéis flutuantes e só
deixam algum dinheiro nas lojas da baixa e nas empresas que os
passeiam em grupo, em circuitos curtos ou extensos, consoante o tempo
que dispõem. Qualquer dia Lisboa e Porto vão tornar-se a versão
lusitana do execrável Marraqueshe, onde os ambulantes são tantos e
tão persistentes como as moscas em Óbidos .
O
que vemos de facto é um progresso nacional? Ou é uma ilusão que
teremos que pagar com língua de palmo, como cães sedentos.