Desde
meados do século passado, quando a importância que o fado adquiriu
através da publicidade pró-turismo, e mais adiante para o converter em mais um dos assuntos premiados com a chancela de Patrimônio Mundial este cantar, que sem
dúvida teve a sua origem, tal como o tango argentino, nas tabernas
populares, castiças, frequentadas inicialmente pelos residentes
próximos, entre os quais é sabido que proliferaram chulos,
prostitutos, vadios, gatunos e inclusive honrados profissionais,
principalmente artesãos e operários de construção civil, marujos
e estivadores.
Incitados
pelo risco de penetrar nos antros da “má fama” surgiram os
atrevidos marialvas, que além de fingir que quebravam os tabus da sua
classe também procuravam ganhar galões, como conquistadores e malandrecos, caso a sua lábia e a sua bolsa lhes proporcionassem um
convívio carnal, esporádico ou com alguma duração, com alguma das
fadistas que estavam no topo das preferências da clientela.
Não
vivi os tempos da vadiagem extrema, identificada com o bairro alto e
mouraria, embora em alfama e outros pontos da Lisboa antiga, as
chamadas casas de fado proliferaram como cogumelos. Mas sou do tempo
dos grandes nomes que já pediram meças com o cinema. Recordo não
só a Amália Rodrigues, como a Hermínia Silva, a Beatriz da
Conceição, Lucília do Carmo, Alfredo Marceneiro, Carlos Ramos,
João da Câmara, João Braga, Maria Teresa de Noronha, e bastantes
mais que lamento não ter o nome presente.
Já
no repertório da insigne Amália, e no intuito de descarregar o
ambiente triste e lamentoso do fado castiço, especialmente o
considerado fado menor, introduziu números de fado-canção, e
inclusive algumas espanholadas, como os famosos caracolitos, e algum
texto em francês. A Amália mostrou-se uma mulher capacitada para
progredir e exímia poliglota.
Dando
um salto para a actualidade não consigo dar atenção à maior parte
dos artistas que dizem cantar o fado. Em especial a maior parte das
meninas que aparecem na televisão e nos palcos onde as contratam com
letras e melodias, ou arpejos, que suponha devem levar a ue os
fadistas, sérios, do passado e todos falecidos, deem voltas nos seus
caixões.
Isto
que se canta hoje, ao meu ouvido, como algo abastardado e que
comparado com o fado dos anos '50 é como se colocássemos em pé de
igualdade uma tipóia com um tuc-tuc.
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