Parece
insólito, mas ainda hoje há pessoas que colocam este, digamos que
sentimento de solidariedade entre humanos, em pontos muito afastados
de uma escala, associada a partidos políticos, onde cabe tudo e
ainda sobra espaço para muitas fantasias. Se nos dedicarmos a
folhear o dicionário, dando como certo que as definições que lá
se colocaram mereceram uma acurada análise antes de as considerar
como correctas, aquilo que lá aparece pode admitir-se como uma
justificação, um pouco simplista e por isso passível de diferentes
interpretações.
Social
pertencente ou respeitante à
sociedade; sociável; diz-se dos problemas que visam à organização
e à satisfação das necessidades dos indivíduos em sociedade.
Socialismo
sistema político-económico
que preconiza, respectivamente, a direcção e domínio do Estado nos
bens de produção e consumo, e uma nova distribuição das riquezas
com a abolição do capital; doutrina que defende o
predomínio da sociedade civil sobre o indivíduo.
(1)
Apesar
destas definições “oficiais”, que certamente foram sendo
moduladas em conformidade com o tempo e a época, aquilo que se
verifica é que, sempre e com o intuito de mascarar ou agradar aos
que se deseja, interpretem a solidariedade, inerente ao socialismo
mais puro, a fim de que adiram ao ideário do seu partido (ideário
que raramente é especificado para conhecimento geral da população)
Por isso encontramos programas e interpretações capciosas em grupos
pertencentes a patamares de comportamento bastante diferentes entre
si, quando não nitidamente opostos.
Para nos ajudar a ver como se usam
estes termos, interpretando-os como lhes convier, recordemos que a
União Soviética, onde predominou uma ditadura “do proletariado”,
que sacrificou o seu próprio povo e outros onde conseguiu entrar,
sem o mínimo respeito. Apresentava-se nos organismos internacionais
com o nome, em siglas, de URSS que corresponde a União de Repúblicas
Socialistas Soviéticas. Paralelamente, na Alemanha Hitleriana
pontificava o regime NAZI, que por extenso diziam ser Nacional
Socialista, onde a desigualdade de trato para os seus nacionais
foi bem notória.
E não foram só estes partidos
totalitários aqueles que se auto-qualificaram de sociais. Na
actualidade temos uma série de partidos políticos onde o termo
socialismo associado aos termos “democrata e cristão” não
garantem nada sério, pois neles se acoitam os membros mais
conservadores da sociedade. visceralmente com pouca vocação para
beneficiar os cidadãos das camadas mais carenciadas.
Ou
seja, apesar de que, segundo eu julgo saber, a maioria das pessoas
entendem como correcto aplicar um pensamento social, na doutrina que
deve prevalecer, ou deveria, na tal doutrina social da
Igreja, e que corresponde ao
sentimento de conseguir encontrar uma via de trato humanista e
igualitário para todos os membros da sociedade, quando se chega ao
momento de agir o tentar igualar é uma utopia, pois que, como reza o
ditado Entre
dizer e fazer, muita coisa há a meter,
ou o seu equivalente Entre
ricos e pobres não há parentesco.
Ou seja, nem sempre é factível uma repartição equitativa de bens
terrenos. Mesmo assim sempre vão surgindo oportunidades de ir
remediando injustiças e poder aplicar as noções mais puras e
altruístas do socialismo real.
Ou
seja, pendurando este parágrafo nas duas últimas palavras
anteriormente escritas, não é correcto, nem corresponde à
realidade dos humanos, entender que o socialismo militante, o dos
elementos extremistas de partidos ainda com sentimento totalitário,
que não aprenderam da sensatez que existe naquele aforismo, que se
cita, quase sempre jocosamente ou com maldade e denúncia, de que
somos
todos iguais, mas uns são mais iguais do que outros.
Não
é necessário referir que existem diferenças intrínsecas e que
elas podem ocasionar desigualdades nas oportunidades que o percurso
de vida de cada um apresenta. De facto todos nascemos nus, mas a
partir daí uns crescerão mais do que outros; uns ficarão magros ou
esbeltos enquanto que outros terão tendência para ser robustos; uns
serão ágeis no pensamento enquanto outros se mostrarão lerdos; uns
gastadores e outros amealhadores; haverá faladores e silenciosos por
vocação; etc. Um sem fim de modulações que nos diferenciam e que
podem, fatalmente, conduzir a que se situem em patamares diferentes
na sociedade. As tentativas de igualar por baixo,
sempre se mostraram desastrosas. Tal não implica o tentar remediar,
socialmente, e tanto quanto nos for possível, agir positivamente nos
aspectos que estejam à mão de cada um de nós.
(1)
estou usando a 5ª edição, sem data de impressão, mas que segue as
normas de ideologia do Estado Novo. O sublinhado é meu, e destaquei
porque, a meu ver, subtilmente, contraria a rigidez programática
precedente.