Embora
forme parte de um casal de cinéfilos, moderados, não damos uma
importância desmesurada à selecção que a chamada Academia
Cinematográfica de Hollywood faz sobre os filmes da época anterior,
no intuito de premiar algumas categorias por eles estabelecidas. A
selecção recai, como é evidente que assim seja, sobre os seus
próprios produtos e, “generosamente” concedem uns escassos
bonecos a trabalhos de fora.
É
reconhecido que o cinema americano domina a imensa maioria de salas
de projecção no ocidente e, por mimetismo, condiciona as produtoras
de outros continentes. Entre uma coisa e outra é justo considerar
que os critérios aplicados pelos seus críticos e visionadores não
coincidam com os que possam ser valorizados noutros países, e assim
acontece aqui.
Vem
este introito a propósito de que, nos meses que antecederam esta
edição de OSCARS, foi bastante notória a especulação, digamos
mesmo a previsão, de que o filme SILÊNCIO de Scorsese teria muitas
probabilidades de ser premiado. E, nas horas da verdade -um plural
justificado por aquilo ter durado mais de três horas, segundo dizem
pois eu não esperei- verificou-se que nem sequer lhe atribuíram
um prémio menor. Nada mesmo! ZERO ABSOLUTO.
Podemos
procurar motivações específicas que motivaram esta “desfeita”.
Mas primeiro é conveniente entender que nesta fita o autor apostou
com cartas marcadas, esqueceu, e nós europeus também esquecemos,
que o argumento não seria valorizado pela noção da fé,
especialmente num país em que o catolicismo não é maioritário e
nem sequer são bem visto o historial das congregações católicas,
nomeadamente dos jesuítas. Sem esquecer que a indústria
cinematográfica americana está dominada, desde seu início, pelos
judeus americanos.
Além
disso o filme em questão, sendo adaptação de um romance de un
japonés, denuncia o importante facto de que aqueles emissários da
“verdadeira fé” estavam alterando a situação social e de poder
vigente naquele País soberano. Sem esquecer, como é apresentado
claramente num diálogo, que aqueles missionários eram vistos como
os incumbidos de abrir as portas do isolamento voluntário do Japão,
e por tabela deixar entrar os comerciantes europeus, naquela altura
indesejados pela autoridade, practicamente feudal.
Caso
anormal foi o do filme, e antes dele o espectáculo teatral, Cristo SuperStar. O seu êxito e os prémios atribuídos estão
justificados por ter sido montado como uma visão sem domínio de uma
facção determinada, e portanto aceitável, unanimamente, pelos
adeptos das igrejas protestantes.
Por
outro lado a situação política actual nos USA induzia, sem dúvida,
a que se elogiam ou pelo menos não se deixassem na valeta, as
minorias que estavam a ser endemoniadas e inclusive sujeitas a acções
de banimento por parte da equipe de Trump. Foi evidente a reacção das gentes da espectáculo, e também dos da imprensa escrita, no
sentido de contrariar e até criticar abertamente o seu actual
presidente.
A
quase total concessão de prémios para o musical pode ser devida a
uma tentativa de reviver o já defunto e sem possibilidade de
reanimação, espaço dos filmes musicais. Hoje a música dos que
nasceram depois das Doris Day e Fred Astaire, entre outros, não os
atrai. Suponho que será um fogacho sem continuidade.
O
que deixei nas linhas atrás não impede a que exista, mais intenso
do que podemos julgar, o racismo e segregacionismo, latentes ou
activos entre os elementos brancos da sociedade americana. Um pecado,
se assim o considerarmos, também comum na Europa e que, dados os
acontecimentos recentes, vai aflorar com alguma intensidade.
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