terça-feira, 28 de fevereiro de 2017

OSCARS 2017



Embora forme parte de um casal de cinéfilos, moderados, não damos uma importância desmesurada à selecção que a chamada Academia Cinematográfica de Hollywood faz sobre os filmes da época anterior, no intuito de premiar algumas categorias por eles estabelecidas. A selecção recai, como é evidente que assim seja, sobre os seus próprios produtos e, “generosamente” concedem uns escassos bonecos a trabalhos de fora.

É reconhecido que o cinema americano domina a imensa maioria de salas de projecção no ocidente e, por mimetismo, condiciona as produtoras de outros continentes. Entre uma coisa e outra é justo considerar que os critérios aplicados pelos seus críticos e visionadores não coincidam com os que possam ser valorizados noutros países, e assim acontece aqui.

Vem este introito a propósito de que, nos meses que antecederam esta edição de OSCARS, foi bastante notória a especulação, digamos mesmo a previsão, de que o filme SILÊNCIO de Scorsese teria muitas probabilidades de ser premiado. E, nas horas da verdade -um plural justificado por aquilo ter durado mais de três horas, segundo dizem pois eu não esperei- verificou-se que nem sequer lhe atribuíram um prémio menor. Nada mesmo! ZERO ABSOLUTO.

Podemos procurar motivações específicas que motivaram esta “desfeita”. Mas primeiro é conveniente entender que nesta fita o autor apostou com cartas marcadas, esqueceu, e nós europeus também esquecemos, que o argumento não seria valorizado pela noção da fé, especialmente num país em que o catolicismo não é maioritário e nem sequer são bem visto o historial das congregações católicas, nomeadamente dos jesuítas. Sem esquecer que a indústria cinematográfica americana está dominada, desde seu início, pelos judeus americanos.

Além disso o filme em questão, sendo adaptação de um romance de un japonés, denuncia o importante facto de que aqueles emissários da “verdadeira fé” estavam alterando a situação social e de poder vigente naquele País soberano. Sem esquecer, como é apresentado claramente num diálogo, que aqueles missionários eram vistos como os incumbidos de abrir as portas do isolamento voluntário do Japão, e por tabela deixar entrar os comerciantes europeus, naquela altura indesejados pela autoridade, practicamente feudal.

Caso anormal foi o do filme, e antes dele o espectáculo teatral, Cristo SuperStar. O seu êxito e os prémios atribuídos estão justificados por ter sido montado como uma visão sem domínio de uma facção determinada, e portanto aceitável, unanimamente, pelos adeptos das igrejas protestantes.

Por outro lado a situação política actual nos USA induzia, sem dúvida, a que se elogiam ou pelo menos não se deixassem na valeta, as minorias que estavam a ser endemoniadas e inclusive sujeitas a acções de banimento por parte da equipe de Trump. Foi evidente a reacção das gentes da espectáculo, e também dos da imprensa escrita, no sentido de contrariar e até criticar abertamente o seu actual presidente.

A quase total concessão de prémios para o musical pode ser devida a uma tentativa de reviver o já defunto e sem possibilidade de reanimação, espaço dos filmes musicais. Hoje a música dos que nasceram depois das Doris Day e Fred Astaire, entre outros, não os atrai. Suponho que será um fogacho sem continuidade.


O que deixei nas linhas atrás não impede a que exista, mais intenso do que podemos julgar, o racismo e segregacionismo, latentes ou activos entre os elementos brancos da sociedade americana. Um pecado, se assim o considerarmos, também comum na Europa e que, dados os acontecimentos recentes, vai aflorar com alguma intensidade.

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