sábado, 17 de outubro de 2020

MEDITAÇÕES – PORMENORES DE MUDANÇAS

 


Estamos a formatar as crianças melhor ou pior?


Dado que a vetusta idade de ambos membros do casal, que estamos, sem mais companhia, na casa onde criamos três filhos e duas netas, e pressionados pelo ambiente de incerteza que nos é metido pelos olhos dentro continuamente, apesar de não padecemos de doenças graves, sentimos que é mais do que urgente o ir aliviando o recheio da casa de “tralha” que tem poucas possibilidades de vir a ser útil para os descendentes.

A mais recente decisão foi a de tentar decidir a sorte de livros de contos e de banda desenhada, mais os jogos e brinquedos que foram o meio que os novos membros do clã tiveram para, enquanto brincavam, se auto integrar, sem dar por isso, na sua vida futura.

E assim nos deparamos com um enorme dilema, que renega de todo o historial de base da humanidade. É sabido que desde os inícios de todas as civilizações, os adultos se dedicaram a fazer miniaturas de muitos utensílios e artefactos para que as suas crianças se integrassem. Quando atingiam uma idade em que já era requerida a sua colaboração, muitas vezes mesmo antes de atingir a adolescência, já tinham contacto, brincando, com muitas das tarefas em que se podiam integrar, mesmo que fosse só na família directa.

Como era de esperar nos encontramos perante uma série de miniaturas de tachos, panelas, pratos, cadeiras, camas, armários e outros artefactos. Para a fase etária seguinte surgiram os maços de cartas com os mais diversos temas; antes dos números aprenderam a fazer pares com figuras de animais , frutas ou outros objectos que lhes era fácil reconhecer. A seguir os jogos de tabuleiro, desde o jogo do galo até o dominó e o xadrez.

De tudo isso foram aparecendo, em quantidades esquecidas, fosse em caixas ou sacos.

E aqui tropeçamos com o magno problema: QUE FAZER COM TUDO AQUILO? Se a sucessão geracional fosse a que acompanhamos, o mais imediato sería, seleccionar o que estivesse em bom estado; resguardar e aguardar a próxima geração.

O problema que deixei no ar é que as crianças de hoje, mal nascem e começam a ver e mexer foram induzidas a manipular aparelhos electrónicos. Os famosos jogos de computador, muito simples, mas com luzes e imagens, e até sons. Tudo cativante e capaz de os isolar, deixando os adultos na santa paz “anormal”. Claro que os ditos jogos progressivamente tornam-se mais complicados, e exigem um raciocínio que nada tem de semelhante com o de fingir que cozinhavam sopa de ervas e que o comiam em pratinhos diminutos.

Estas relíquias de ontem, que em poucas décadas se tornaram obsoletas e dispensáveis, merecem ser guardadas? Ou é uma visão já absurda e irreversível?

E o triste corolário é: Sem darmos por isso estamos a criar autistas, autómatos, viciados em programas inhumanos?