Desta
vez não se trata do famoso Princípio de Peter, mas de algo que está
acontecendo e que só é visto sob um dos possíveis pontos de vista.
Numa análise imediata, sentimos que este fluxo inesperado de
migrantes veio na pior altura possível.
De
facto os efeitos da crise de 2008 e da desindustrialização, aliada
à abertura comercial decidida com o livre comércio, estão longe de
terem sido digeridos por todos os países membros da União Europeia.
Apesar das muitas declarações de boa vontade e de que se decidiu
acolher os refugiados que aqui chegam, a realidade é bem outra. De
entrada são confinados em campos de acolhimento, e ali sofrem uma
triagem com a qual se consegue justificar o devolver para o país de
origem uma parte dos clandestinos.
Vendo
as coisas desde longe, dado que Portugal não tem sido um país onde cheguem constantemente levas de inmigrantes. Pode-se sentir que após o
endurecimento, ou practicamente fecho, do trânsito de migrantes pelo
território turco, o fluxo de sírios e outros cidadãos daquela zona,
em direcção às ilhas gregas parece que diminuiu. Alguns deste
sírios encaminham-se, agora, para o Egipto e dalí para a Libia. Em simultâneo aumentaram as rotas com início nos países da África
sub-saariana, dirigindo-se para as costas da Líbia.
Ali
juntam-se gentes de muitas procedências. Após pagarem a sua passagem aos
negociantes nada escrupulosos, embarcam sem as mínimas condições,
em barcos velhos ou, ultimamente, em barcaças de borracha, mais
apinhados do que numa carruagem de metro-politano em hora de ponta.
Estes
migrantes africanos actuais são, na sua maioria, provenientes do
Sudão, Eritreia, Somália e outros países a sul da faixa do
deserto. Metem-se a caminho incitados não só por conflictos bélicos
como também por carências alimentares, falta de trabalho remunerado e outras tantas razões. Carregam a ilusão de que uma vez chegados à
Europa terão a sua vida garantida.
E
esta complexa motivação para abandonar o seu lugar de origem,
partir em direcção a um sonho, a um El Dorado, coincide com aquela
expansão histórica de milênios atrás, quando os primeiros homens, nascidos na zona austral
de África iniciaram a sua expansão por todo o globo. Com a única, mas muito importante, diferença de que aquela migração inicial levou séculos para
alcançar locais progressivamente mais longínquos.
Hoje,
mesmo que muitos iniciem a o seu périplo literalmente a pé, as
distâncias efectivas encurtaram. Tudo acontece mais depressa.
Os
governos ocidentais tentam travar esta migração o mais perto da sua
origem, procurando que esta acção dissuasora não seja noticiada
aos seus cidadãos. Mas, de facto, mesmo que nos sentirmos
pressionados pelo humanitarismo e por isso vocacionados a abrir as
nossas casas para acolher quem nos quer acompanhar, a realidade
mostra que estas decisões humanitárias são muito bem vistas se
aplicadas nas casas dos outros.
Pessoalmente
ainda não encontrei, ou nem sequer imaginei, uma via factível,
correcta e com garantia de sucesso, que possibilite convencer estes migrantes a desistir do seu sonho. Não me parece que
encontremos argumentos, socialmente aceitáveis, que convençam os
desesperados a desistir. Eles, que sabem arriscam a própria vida
neste processo e decidiram que na sua terra não existe futuro, já
estão agarrados num sonho.
O que mudou nestes países africanos? Guerras, fomes, secas, doenças, sempre existiram. Outros factores se alteraram. Passaram a ser visitados e ajudados por organizações
internacionais humanitárias. Com eles descobriram necessidades novas, indispensáveis para sobreviverem com um mínimo de
satisfacção. Passaram a ter assistência médica e sanitária,
reduziram a mortalidade infantil; muitas doenças transmissíveis
foram debeladas ou muito minoradas nos seus efeitos. Habituaram-se a
novos alimentos, que não constavam da sua ementa tradicional. Mais
nutritivos e saborosos, e que sendo oferecidos, não implicam o
esforço de cultivar ou recolectar. Constituem um maná que não se quer perder. Tudo isto é bom, óptimo e louvável. Mas não podemos
esquecer que com estas ajudas alteramos o seu mundo, para melhor, mas
com reflexos que não se contava.
Noutra
zona do globo, concretamente nos EUA, fecharam as portas de entrada,
legalmente ou ilegalmente, dos naturais do México e outros países do
centro e sul do continente americano, aos que estavam dispostos a
arriscar para melhorar. Já não terão esta possibilidade. Será que desistiram ou procurarão outro lado onde se dirigir. Desde anos
que, dada a sua lingua comum, estes hispano-americanos rumavam para
Espanha, tal como os brasileiros vinham para cá.
Não
será só o fenómeno do aquecimento do globo e o da subida do nível
dos mares que alterará as nossas vidas. E nenhuma destas ameaças,
já em curso, são novas na história da Terra.
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