quinta-feira, 25 de junho de 2020

MEDITAÇÕES – Amigos



Uma tentativa de os classificar

  • Amigos herdados A partir do dia em que nascemos é provável que fiquemos em contacto, ou até rodeados, por pessoas que se devem classificar como familiares, seja do lado materno ou paterno, amigos destes e simplesmente conhecidos, na situação de se poder transformar em fixos ou de se sumirem no nevoeiro dos dias.
  • Mais adiante chega-se a decidir que os amigos herdados não resistem em competição com aqueles que fomos encontrando.
  • Amigos da infância Logo que as pernas nos permitem orientar os nossos curtos percursos e encontrar outros infantes com idade semelhante à nossa, seja num jardim de infância, numa escola ou, em épocas e locais onde tal seja aceitável, com outras criaturas nossas vizinhas. Esta “selecção natural” de amigos, caso a família em que estamos integrados se mantiver fixa na zona onde continuamos a crescer, podem constituir uma reserva valiosa para o futuro social de cada um.
  • Amigos da escola A fase escolar, tanto no grau da primária como na secundária, e para aqueles que seguiram estudos nalgum curso, seja de grau médio ou superior, nos colocará na situação de fazer uma selecção, muitas vezes instintiva e noutras reflexo de acontecimentos e desencontros, que separará os que valorizamos como sérios possíveis amigos para o resto da vida. Uma visão bastante utópica, mas que naquela fase nos é convincente. Infelizmente aqueles que crescem com mudanças continuas de residência, de vila ou cidade, e até de País, denotam para todo o sempre a falta dos amigos de infância.
  • Início da ponderação sexual Mesmo que já nos anos da aprendizagem inicial já começamos a perceber das características físicas e comportamentais que diferem entre meninas e meninos, e mais acentuadamente quando se atinge a puberdade, já rapazes e raparigas, é natural que mesmo antes de ter uma dezena de anos no nosso haver, desabrochem as primeiras paixonetas. Dizem que existem casos em que estes amores de infância conseguem perdurar até o fim da vida. Umas vezes na memória e noutras no casamento. Uma faceta comportamental que nem sempre se valoriza como merece, mas que pode determinar muitas das nossas acções neste campo.
    - A fase de adulto, entendendo como tal quando se consegue ter alguma independência económica e um início de residência própria, mesmo que sem companheiro/a definido. Entra-se numa fase nova, favorável para a criação de novas amizades. Reconhecemos que, em casos concretos. Permanecer na casa paterna pode comportar uma espécie de prisão social, e até conduzir a sentir-se um indivíduo/a estranho naquele lar que foi seu. Passou a ser partilhado. Uma situação mental que pode induzir a que depois de passar pela porta aja como outra pessoa. Com algum exagero, pode acontecer a coexistência de duas pessoas muito diferentes dentro do mesmo corpo.
  • É a fase em que terá mais encontros interessantes, seja no trabalho ou no ambiente social que passará a partilhar e onde encontrará muitas pessoas até então desconhecidas. Habitualmente as definirá seguindo o seu instinto, que se mostrará errado ou certo se continuarem a se encontrar, falar em assuntos cada vez mais sérios.
  • Aqui terá alegrias e desgostos. Pessoas com as quais sentiu que podia congeniar, mas que posteriormente teve que afastar por serem incompatíveis. Ou o contrário: ter um mau início e com o andar da carruagem sentirem-se como gêmeos univitelinos (exagero de linguagem...).


CONTINUARÁ NOUTRO FASCÍCULO

segunda-feira, 22 de junho de 2020

MEDITAÇÕES – Aderir a sugestões



Uma reclamação e as exigências sociais

Pelos vistos e baseando não só no que nos tem sido apontado ao longo dos anos, os membros do género masculino tem as tendência de aliviar a bexiga estando erguidos e apontando o canudo de saída deste líquido amarelado, e por vezes com aroma desagradável, para uma distância considerada como prudente. O local mais desejado é o campo aberto, e com um certo recato, pois que toda esta área corporal do baixo ventre é considerada como reservada, pelo menos nas situações cívicas. A falta de um terreno livre e disponível, há quem recorra a encobrir-se com uma árvore, um poste, um muro ou mesmo um carro estacionado sem um ocupante que nos observe. Conseguido o vazamento do líquido que nos pressionava, com uma sacudidela e recolocar o canudo no seu lugar nas vestes e garantir que esta zona retoma a sua blindagem normal, o caso fica ressolvido.

É no lar, doce-lar, que a porca torce o rabo. Periodicamente nos chegam “denúncias” em que se referem as porcarias que os machos tem por hábito deixar nas sanitas depois de urinar. Pouco tempo atrás encontrei um curto vídeo onde se mostravam as tentativas de educação e higiene que uma mãe, só com descendentes do tipo masculino, para que não emporcalhassem o trono e a sua envolvente, incluindo não só a tampa como o anel que serve para pousar as nádegas. A senhora colava papeis, com legendas de aviso, tanto na sanita como no piso adjacente, paredes e sem esquecer o assento tipo bolo-rei gigante mas a sua tampa.

Não conseguiu o resultado pretendido. Em vista da impossibilidade de alterar, educando, os instintos masculinos, decidiu mandar erguer, no jardim, uma pequena “secreta” com porta, fechadura e chave, para seu uso exclusivo. E que os porcalhões da família chafurdassem a seu bel-prazer naquela imundice.

A opção a que as damas chegam, quando não tem a mão a possibilidade de conseguir um canto exclusivo, é a de pressionar, até conseguir, que a tropa com canudo siga a técnica feminina. Ou seja, que não se limite a abrir a braguilha e retirar o canudo, mas que desça calças e cuecas, se sente, descarregue, abra o fluxo de água de limpeza, e coloque a tampa no seu lugar.

Temos que concordar que a opção menos “degradante” seria a de que cada um, após não controlar o fluxo de saída do seu líquido molesto e verificar que esguichou para onde não estava previsto, se encarregasse, sem falhar, em limpar tudo como as normas de higiene familiar aconselham.

Fazendo um balanço rápido, que evitarei discriminar, recordo que são vários os actos naturais que as boas maneiras, ou a educação quando se está em companhia, nos estão interditos. Ou que, pelo menos, estão mal vistos se os libertarmos socialmente. E, em geral, nos esforçamos para cumprir estas regras.

Conclusão: Se não formos capazes de mijar sem acertar no alvo, fica o recurso de imitar as damas.

NOTA EXCULPATÓRIA – Segundo me consta, apoiado em testemunhas fidedignas, as damas quando utilizam sanitários públicos não evidenciam o respeito às normas de higienize que exigem no seu lar.

domingo, 21 de junho de 2020

MEDITAÇÕES - Violência racial



A difusão de eventos negativos

Embora todos partilhamos na qualificação imediata das pessoas com que nos cruzamos em função de factores congénitos, aos que, por pressão atávica lhes atribuímos características de rejeição, reconhecemos, quando pensamos analiticamente, que esta adversão nem sempre está justificada.

Julgo, eu, que são muitos os cidadãos que, instintivamente, receamos do comportamento daqueles que avaliamos, num primeiro olhar, como diferentes e daí com possibilidades de serem perigosos. Uma situação que por ser de reacção impensada só se pode anular por meio do raciocino.

Por um daqueles azares que acontecem na sociedade, com bastante frequência, a sociedade global está hoje submetida a duas situações de calamidade potencial, e que, sem dúvida, a difusão dada pelos meios de comunicação, tanto os clássicos (em declínio) como os mais recentes (em expansão) colaboram negativamente na geração e propagação de incitações para comportamentos errados.

Se no que corresponde ao alarme e cuidados, nem sempre cumpridos para nos tentar afastar dos perigos de contágio pelo vírus actual, é de admitir que quase todos estamos sabedores das recomendações que nos são enviadas. Que o comportamento oficial nem sempre nos parece ser coerente com as recomendações é outra faceta desta situação.

Mas sente-se no ar, precisamente pelo perigo de contágio ou de imitação do que nos é noticiado, que aquele convívio pluriracial (1), de que tanto nos orgulhávamos, está em risco de se quebrar. Um orgulho excessivo e até irreal, pois com esta fantasia de convivência aberta e total escondíamos as rejeições instintivas, efectivas, que sempre existiram nas sociedades humanas.

Admite-se que o aumento da cultura geral -Que verificamos não coincidir exactamente com o caracter “enciclopédico” que se lhe atribuía antes da invasão da informática, sempre mais selectiva- é o caminho a trilhar com melhores possibilidades de possibilitar uma progressiva integração dos sectores tradicionalmente marginalizados. Até agora admite-se ser débil percentagem de indivíduos que conseguem subir degraus na escala social. Mesmo assim acontece com mais frequência. Ou aconteceu até a pandemia, que promete vir a levar ao desemprego mais gente do que já era habitual.

Mas, dentro deste capítulo dos sectores marginalizados, surge o perigo da imitação aos motins de tipo racial que se tem espalhado no mundo, tradicionalmente denominado como ocidental. Começando pelos EUA, que por razões históricas tem no seu seio um volumoso sector de descendentes de escravos, hoje com nacionalidade equivalente, em principio, com a dos descendentes dos brancos, igualmente invasores daquele enorme território. Mas com a característica negativa de que entre os afro-americanos o índice de pobreza e incultura é muito elevado.

Esta situação, inegável e com uma magnitude que ultrapassa as capacidades económicas dos EUA para a poder alterar, sempre esteve em risco de explodir em revolta incontrolável por algum acontecimento nada inusual, mas sempre reprovável. O inusitado que nos deparamos é que os protestos, sejam simplesmente manifestações pacíficas ou violentas, com assaltos, agressões e roubos, já alastraram para a Europa, apesar de que as sociedade locais não seguiram os mesmos trilhos de comportamento do que as dois estados sulistas dos EUA. E, curiosamente, o facto de nestas manifestações de protesto, sempre predisposto à violência, se incorporem indivíduos de pele clara, contestatários do sistema e apoiantes dos revoltados, em nada alteraram o sentimento de agressividade reinante entre os afro-descendentes.

O perigo de imitação, de incitação a confrontos de massas, não é de temer hoje em Portugal. Mas existe latente em muitos bairros “marginais” e em muitas mentes de indivíduos que, por razões ou sem elas, se consideram mal tratados pelos naturais dos países onde se introduziram. No dia menos esperado podemos ver nascer a sua intifada.

Não creio que esta possível, mas indesejada, revolução social se possa neutralizar antes de acontecer. Pelo menos não acredito que os bons argumentos e atitudes conciliadoras possam anular os azedumes já existentes.

(1) ainda não nos habituamos a retirar da linguagem os termos que derivam das pretensas raças humanas. Lá chegaremos. Espero.


quinta-feira, 18 de junho de 2020

MEDITAÇÕES – Outra pandemia



Nem oito nem oitenta

Numa reacção extensiva perante o enésimo crime racista acontecido nos USA, vimos como já afectou uma data de países em mais do que um só continente. Até o momento as manifestações de repúdio não conduziram a mais vítimas. Desatou-se sim uma extensiva protesta com marchas de multidões onde participaram indivíduos de tipologias diferentes.

A contestação derivou da alegação de segregacionismo e maus tratos às pessoas com cor da pele diferente do que se chama de “raça branca”. O protesto chegou a ter como alvo certas pessoas, em geral já falecidas, que foram homenageadas por serem recordados por acções louváveis, por vezes com placas ou estátuas colocadas em locais públicos. Os activistas alegando que na biografia de certos próceres se eliminaram acções (hoje) reprováveis, mas correntes enquanto vivos, tomaram a iniciativa de derrubar ou emporcalhar estes símbolos, que durante anos mereceram ser respeitados.

Não podemos aplaudir as irreverências e desmandos, mas tampouco é correcto fechar os olhos quanto a acções deploráveis, não só pelos que mesmo na época em que aconteceram e eram consentidos legalmente, foram denunciados, mesmo que por um número reduzido de cidadãos Pessoas que podemos considerar além de precursoras na promoção da igualdade de direitos e deveres de TODOS os humanos, e até, extensivamente, a animais quando maltratados abusivamente por energúmenos que se julgam pessoas “de bem”.

Como céptico militante surgiram-me na memória as barbaridades que, mesmo neste cantinho da Europa, se fizeram sobre cidadãos cujas faltas, muitas vezes difamatórias sem fundamento e, quase sempre incitadas por uma visão extremista da doutrina religiosa, inclusive permitia, ocultamente, propósitos políticos ou vinganças pessoais por parte dos decisores das penas. As últimas execuções públicas foram “ontem” já no reinado de D. João V e do Ministro Sebastião e Melo.

O derrubar uma estátua, mesmo que os argumentos correspondam a comportamentos hoje inaceitáveis mas, na época em que se deram, eram usuais, pode ser comparado aos réus que, já mortos eram tirados das suas sepulturas para serem queimados na praça pública, para diversão não só da populaça mas também da corte e seus afins. Para encobrir o desrespeito humano chamavam ao “festejo” AUTO DE FÉ.

quarta-feira, 17 de junho de 2020

MEDITAÇÕES – Um tema recorrente



Espelho meu, que é mais belo ela ou eu?

Tenho observado, ao longo de décadas, uma confusão entre o que se avalia sob o restrito olhar zoológico, não só com os animais mamíferos como em quase todas as espécies, acerca da vistosidade, quase que universal, dos machos relativamente às fêmeas da sua mesma espécie. E mais observamos, as fêmeas, que detêm, inequivocamente, o poder de decisão na escolha do macho que as deve inseminar, mostram um grau de inapetência muito evidente, quase que depreciativo, embora o galanteio habitual, misturando o afastamento com a provocação, seja indubitável.

Esta dupla provocação galante (ligação óbvia entre o termo galante-galanteador e galo) na natureza animal é fortemente potenciada com as vestes que habitualmente enfeitam os machos, sejam penas, escamas, pele, canto ou até dança. Sem hesitação podemos afirmar que o macho se apresenta muito mais vistoso do que a modesta fêmea. E, no entanto, o papel mais importante da manutenção da espécie fica -salvo excepções conhecidas- a cargo das fêmeas.

A conclusão imediata, mesmo que não geral, é que a selecção da componente genética, mesmo que dependente da escolha da fêmea, está fortemente condicionada pela capacidade de atracção do macho, e da sua força para afastar os interessados concorrentes. Daí o “macho dominante ou macho alfa” E como funciona entre os humanos?

Nos grupos ainda pouco “civilizados” -Os que permanecem isolados do que nós entendemos como progresso- os homens enfeitam-se mais do que as mulheres. E com a evolução social, especialmente entre a classe dominante e os mais abastados, os homens mantiveram a motivação de se vestirem de um modo ostentoso, aparatoso, com rendas e folhos que hoje nos parecem ridículos ou efeminados: chapéus aparatosos, que mais tarde foram relegados às damas; calções com folhos, meias arrendadas, sapatos com salto (excepto o Sarkozi)

Que o corpo das mulheres, nem que seja para ser visualizado, sempre mereceu o apreço do homem, que sem dúvida detestava a roupagem que ocultava a formosura corporal daquele ser que desejava como complemento, é denotado pela escultura e pintura, que nunca descuidaram a beleza das mulheres.

A mulher desde cedo teve a noção de que podia e devia aproveitar e melhorar, tanto quanto pudesse e soubesse, o seu atractivo visual. Deste conhecimento resultou que tanto as roupas como penteados e maquilhagem com que podia realçar a sua seducção, fosse eclipsando a imagem dos homens. Sendo historicamente correcto temos que reconhecer que desde as sociedades egípcia, helénica e romana, as mulheres já sabiam e aplicavam cosméticos e roupagens vistosas e insinuantes, muitas vezes translucidas.

Recuando. Sem que renegue do agrado que podemos sentir ao ver uma das nossas companheiras (genericamente falando...), seja menina ou madura, quando bem “preparada”, fica esclarecido o aparente enigma do porque os humanos optaram por uma decisão anormal entre os mamíferos (e não só estes) que nos acompanham.

Um pormenor discordante: da cintura para cima os homens, quando se enfarpelam usam enchumaços, postiços, nos ombros, imitando as palas onde os militares colocam as suas divisas. É para parecer mais musculados? Mas as mesmas pessoas, quando se vestem informalmente, raramente usam estes postiços.

sexta-feira, 12 de junho de 2020

MEDITAÇÕES - Pobreza e Estabilidade. Consequências



Qualificar e desqualificar sem ponderar

Escrever opiniões sobre a população, ou mais directamente acerca dos sentimentos e opções políticas, e obviamente sociais, atribuindo qualificações a certos grupos, muitas vezes só imaginados, sem que se tenha efectuado uma ponderação correcta e ampla sobre os factores que incidiram sobre aqueles que, levianamente qualificamos, é um erro muito frequente.

E mais ainda quando se está sob alguma pressão social que não é devida, concretamente, ao comportamento “político” dos seus membros. Ou, precisamente, se são estes medos que disparam os alarmes sem ponderar a pressão que existe na situação sanitária actual.

Causa-me um grande desconforto ver como irreflectidamente se dá como indiscutível que os que sentem, com maior ou menor intensidade, uma rejeição social ao sector onde estão agarrados, são tão “irrecuperáveis” como eliminar a melamina da pele. Coisa que só se sabe conseguiu um tal Michael Jacson. E sabemos que não é assim que a segregação económica-social funciona. Propositadamente não referimos, constantemente, os principais factores que conduzem a uma “incompatibilidade” entre os desprezados e os soberbos.

Qualquer sociólogo que consultemos acerca deste problema sectorial nos dirá que são a pobreza e a ignorância que mantém muitas pessoas na chamada “mó de baixo”. E mais, que é muito difícil e carece de esforços invulgares o poder sair do nível onde se nasceu, criou ou, por infelicidade, se viu atirado.

Não é por casualidade, nem por tentativas de cumprir devidamente a lei de Deus, que muitos dos que se dedicaram a meditar sobre este problema apresentaram projectos de acção onde eram fundamentais os esforços do estado no incremento cultural do povo baixo, juntamente com um esforço sério na implementação dos cuidados de saúde e, paralelamente, melhorar a salubridade dos locais onde existiam aglomerados com notórios sintomas de pobreza.

Não demorou a percepção de que estas metas eram difíceis de alcançar caso não se instalassem perto destas áreas de carência endémica, unidades fabris produtivas que dessem a possibilidade de trabalho remunerado, e até de ganharem com algum excesso, para o seu sustento e necessidades básicas. Infelizmente os capitalistas que tinham a capacidade e os conhecimentos para dar trabalho aos marginalizados se depararam com o dilema de que, em geral, aqueles indivíduos que se pretendia ajudar tinham um nível de conhecimentos muito primário, e que mais depressa entraram no que era doce do que se habilitaram para trabalhos fabris com certas exigências. A evolução, apesar de real, não foi suficiente para igualar. Cinicamente para muitos era rentável contratar, por baixo preço, a gente rude e ignorante.

Quando estes cidadãos atingem um nível primário de literacia, mesmo que ainda pouco versados nas ratoeiras que os demagogos lhes apresentavam, foi, como era de prever, um campo lavrado onde os políticos com o espírito subversivo tiveram, e tem, a possibilidade de criar adictos. E aqui chegamos aos tais da esquerda activa e provocadora. Que como nos alerta a Física elementar, gera uma reacção.

Virando para o outro sector, o da direita “bem pensante e falsamente humanista”. Aqui se juntam pessoas já com alguma cultura, muitos com noções deturpadas da “luta de classes”. Os mais astutos e capazes de manipular o seu sector chegam a capitalistas, atropelando pelo caminho aqueles que se lhe opõem, mas respeitando com receio os que podem vir a ser seus inimigos “dentro de casa”.

O que lhes mostra ser mais rentável é o explorar, directamente os membros mais débeis da sociedade, ou indirectamente sonegando os fundos que são do País, especialmente dos que trabalham mas não conseguem sair do seu nível e crescer para o estatuto de incipiente predador. Para este fim, desde sempre, o capital manteve os governantes debaixo dos seus interesses e propósitos.

Este sector social que manipula na sombra, sem alaridos nem desfiles -que reservam para a ocasião em que já tem uma maioria domesticada e fiel- é pouco numeroso e exclusivo no topo. Alguns, que não todos, fazem publicamente alarde da sua rica vida, das suas propriedades e das suas festas sociais. Os outros, os que denotam a esquerda baixa limitam-se a aplaudir os do topo e a entrar na sopa dos pobres, com o que as suas leves críticas internas ficam neutralizadas. Sem jamais avançarem para a realidade factual do problema.

Resumindo: o mundo é velho e tem problemas quase que irresolúveis porque mesmo nos grupos de população mais isolados, onde os bens são da comunidade, é que a desigualdade é mais notória. Até aqui chega a distinção pelo poder, nem que seja eleito pelo povo. Chefes, seus próximos e adivinhos ou bruxos, não tardam em se distinguir e comandar, indirectamente tendo o chefe como intermediário.

Entrar numa adesão “convicta” para separar a cidadania entre “esquerdalha e direitalha”, desprezando os que preferem não alinhar, é uma consequência do dinheiro e da imaginação de cada um, que só vê no espelho aquilo que deseja encontrar.

quinta-feira, 11 de junho de 2020

MEDITAÇÕES – Não podemos acreditar em tudo.


As generalizações são perigosas e falaciosas

Os tempos ou os ventos que temos que enfrentar, com calma e uma boa dose de confiança e sorte em que nem todos sofrerão com as temidas sequelas da pandemia, conduzem a que As mentes se tornem induzidas a fraquejar, e daí a que se possa cair num imaginário buraco negro do qual pode ser muito difícil sair. Aqueles que tem a possibilidade de comunicar, mesmo que seja a um número reduzido de seguidores, cabe não incitar aos extremismos e recordar o que sempre ouvimos: entre mortos e feridos alguém vai escapar.

Antes de me decidir a escrever e levado por uma assinatura que desconhecia, e pelo cabeçalho pensei ser dum comentarista individual sério, entrei num artigo que, como descobri a partir das primeiras linhas de texto, era um exemplo acabado do que não se deve difundir.

Não demorei a entender que aquele excerto tinha sido admitido e editado no espaço OBSERVADOR. Que, como deve ser avaliado, por aqueles que não comungam com a sua orientação editorial, é exageradamente capcioso, incitador a extremismos. Muitos dos seus editores incitam à separação irreversível da sociedade portuguesa em dois bandos totalmente opostos. Não posso opinar sobre tudo o que se edita neste OBSERVADOR, mas neste artigo em vez de tentar encontrar um equilíbrio favorável para conseguir viver em sociedade, incita à luta de forma indirecta, insinuadora.

Quem o redigiu, além de se definir como tendo sido espoliado quando o governo português abandonou as “suas províncias ultramarinas” (de uma forma extremamente irresponsável, que sob a visão humanista foi imperdoável), encontrou-se na sua desconhecida metrópole, que estava, como sabemos, num estado caótico, com uma degradação acentuada no que respeita à consideração que se deveria manter entre as pessoas, conhecidas ou desconhecidas, mas “passageiros de um mesmo espaço físico”.

Não vou dissertar nem sequer inventariar as razões que para cada pessoa, singular, as motivou para se colocar em sectores, digamos que ideologicamente, opostos. Mas admito que nem todos os habitantes deste País, ou de outro qualquer, se sentem nitidamente situados convictamente nos extremos mais belicosos.

Aos adictos ao extremismo lhes convêm, por que criam ambiente favorável para a difusão das suas proclamas, que só se possam admitir como cidadãos completos os da “esquerdalha” furibunda, os seguidores do anarquismo e comunismo puro e duro, e do outro lado da barricada, como acontece com o oscilar do pêndulo, estarão os da “direitalha” mais conservadora e avessa a qualquer diálogo conciliador. Os que, sem dúvida, julgam-se com direito a instaurar uma ditadura feroz.

Confesso que só li o longo escrito pela diagonal, sem que esta técnica limitasse a compreensão das mensagens que nele estão insistentemente apresentadas. Como exemplo retirei um parágrafo que transcrevo exactamente como apareceu no “artigo”.

. O principio estabelecido: todas as pessoas de esquerda são sociocidas. (um neologismo que desconhecia)

Não existe um único sujeito de esquerda que não se enquadre na categoria considerada, a dos sociocidas instigadores de males colectivos como a miséria ou a violência. E quem disse que estas pessoas más, como as demais, não tem direito à vida e à dignidade? Tem que se corrigir. Obrigação delas. Mas também dever das demais não fecharem os olhos à maldade humana. (fim da citação)

Possivelmente a correcção dos menos perigosos teria que ser conseguida em campos de concentração, devidamente guardados e sem acesso de familiares ou estranhos.

Recordei um anúncio que passava nos cinemas e na TV incipiente, lá pelos anos 1950/60, em que para salientar as excelentes qualidades de uma pasta dentífrica, por acaso nacional, um artista agarrava uma cadeira com os dentes e a fazia girar no ar com velocidade alarmante. No fim uma voz em off dizia qualquer coisa como PALAVRAS PARA QUE? É UM ARTISTA PORTUGUÊS!.

Eu também opino que estar a dar corda ao longo discurso que referi é tempo perdido. Mas mesmo assim avalio como vergonhoso e muito próximo do temido fascismo.



quarta-feira, 10 de junho de 2020

MEDITAÇÕES – Uma situação previsível




A tentação de ver a marcha passar

Poucos minutos atrás comentava sobre o nosso futuro, preocupado e pesaroso. Pensando mais nos que se manterão vivos do que nos que fecharão os olhos (ou lhos fecharão com uma pesada moeda...) em função da inexorável término da vida.

São bastantes aqueles que ponderam com bastante receio o que nos espera quando se ultrapassar esta pandemia. Mesmo que sonhemos com a possibilidade de que a vida recupere a mesma despreocupação e leviandade no comportamento individual, coisa pouco provável apesar de desejável. O que não podemos esquecer é o peso que a economia nacional terá sobre a economia pessoal de muitos cidadãos, mesmo que seja imperioso reconhecer que serão bastantes aqueles que conseguirão fazer boas pescarias em águas turvas e mar alteroso.

A dívida pública aumenta de hora em hora, sem um horizonte de recuperação, nem sequer de uma possível ajuda importante vinda de parceiros ou de alguma economia boiante -a não ser que a China se ofereça para comprar Portugal por atacado. Figas, canhoto!!- O desemprego será notável, e os subsídios pessoais perderão, paulatinamente, parte do seu valor em função da inevitável inflação. Há quem defina o futuro, com bases históricas e actualizadas, como uma bancarrota iminente.

Virando a página, e repetindo o que deixei escrito no Fb, o campo da política ficará quase totalmente disponível para toda a espécie de demagogos extremistas. Que sempre derivaram para os tristemente conhecidos anarquistas-comunistas ou conservadores-fascistas. Não importa o nome que hoje tomarem, por livre baptismo, o que se deve temer é a deriva fatal que os conduz para comportamentos não democráticos.

O que mais lamento nesta futurologia é que os culpados para esta via extremista são sempre as pessoas comuns, os que preferem ver passar os desfiles e as multidões ululantes, nem que seja atrás dos vidros e com cortinas translucidas que não os identifiquem. Somos (e claramente me defino como tal) a base da sociedade respeitadora, os que sustentam a convivência e a solidariedade. Os que não aceitam, mas fecham-se no resguardo das suas quatro paredes, quando viram que alguém, fosse familiar, amigo, conhecido o desconhecido, era preso por não comungar com os que tomaram o poder discriminatório e sem dúvida ditatorial.

Pode parecer uma situação, mesmo que hipotética mas já verificada em demasiadas ocasiões, fácil de neutralizar logo de início, e até sem ter que agir com derrame de sangue.

Portugal, cuja população se qualifica como ser de “gente tranquila e respeitadora”, recordamos que esteve a poucos passos de participar na luta entre os dois sistemas de poder vigentes na altura, concretamente entre capitalismo e comunismo. Aquela fuga para o ocidente pareceu que foi conseguida quase que “por obra e graça do Espírito Santo”. Não foi assim. Os EUA enviaram para aqui um embaixador Carlucci, sabedor das artes e manhas do jogo subterrâneo que, com manobras hoje não totalmente conhecidas pela população em geral (que não quer saber, nem se interessa...) conseguiu, não sabemos com que cedências em troca (pois a política sempre comportou uma boa dose de negócio mundano) assegurar a colaboração mútua com o partido socialista português, já em vias de ficar desnatadado (diz-se que metendo o socialismo na gaveta) como compensação, para que fosse aceite como parceiro, com este a neutralização dos extremistas da bandeira vermelha.

Curiosamente muitas vezes é esquecida a importância que os conservadores a norte do famoso sistema orográfico de Montejunto-Estrela. Sempre acompanhados pela Igreja Católica que nesta zona mantinha uma notável influência sobre a população. E que ainda mantêm, em menos grau.

Na fase actual, em que os sectores contestatários não se identificam propriamente com o PCP e seus derivados, a demagogia cativante está num aparente questionar acerrimamente a governação, ambígua por não ser totalmente esquerdista (felizmente) nem se negar ao capitalismo de que depende para sobreviver.

Uma zona de caça social que foi bem utilizada, com êxito incontestável, por Mussolini primeiro e depois por Hitler. Salazar sempre se notabilizou por saber nadar e guardar a roupa (sem nunca entrar nas águas frias e alterosas. Agora se noticiou que foi numa banheira que derrapou e quebrou a cabeça...) Franco, um imitador sem preconceitos de seguir as regras alheias, utilizou o fascismo quando lhe convinha, manteve a sua ditadura militar e pessoal até morrer, mas, além de ter o braço mumificado de Teresa Cepeda no sue leito de agonia, teve que beijar a mão dos EUA.

Retomando o fio da conversa: Como admito que entre os cidadãos sérios e respeitáveis alguns cairão na conversa dos demagogos, o resto nada fará, por medo ou acanhamento, para tentar evitar um renascer de ditadura. Ver veremos, como se diz que disse o cego.



terça-feira, 9 de junho de 2020

CURIOSIDADES II - Notas sobre o patronímico TIAGO

Diogo, Iago, Tiago, Santiago

Significado do Nome Santiago

Santiago: Significa “Santo Iago”, ou uma aglutinação de "Santo Tiago".
O nome Santiago tem origem na aglutinação espanhola Sant’Iago, que quer dizer “Santo Iago”, sendo este último nome uma versão espanhola e galesa de Jacó, que surgiu no hebraico Yaaqobh, que tem relação com o aramaico iqbá, com o acadiano iqbu e o árabe aqib, que quer dizer “calcanhar”, e significa “aquele que vem no calcanhar”.
É nome de um personagem bíblico mencionado no Novo Testamento, como um dos doze discípulos de Jesus Cristo. Conhecido como “Santiago Maior”, “São Tiago”, “Tiago, o justo” ou “Santiago do Compostela”, este último foi difundido mundialmente por influência da cidade espanhola de mesmo nome.
Santiago era irmão mais velho de São João Evangelista e filho de Salomé e Zebedeu. De acordo com a tradição, Santiago evangelizou na Espanha e morreu degolado, seu corpo está sepultado na Catedral de Santiago de Compostela, o terceiro maior centro de peregrinação do mundo, perdendo apenas para Jerusalém e Roma.
Entre as principais personalidade que ficaram marcados na história com este nome está Santiago Ramón y Cajal, considerado o "pai da neurociência moderna".
Origem do Nome Santiago
Santiago
Nomes Relacionados

CURIOSIDADES - Sobre São Jorge

Uma lenda muito espalhada

Hoje deu-me para procurar se a marca deixada pela influência inglesa em Portugal era superior, no que dizem ter sido grito de guerra em conflitos com armas brancas, comparativamente com o anteriormente usado de POR SANTIAGO E AOS MOUROS!.
No internet há muitas referências a São Jorge, e escolhi uma entre elas que sugiro que leiam com alguma atenção, pois inclui muito do que anteriormente fui compilando acerca deste e oiutros mitos que incluem o dragão mitológico.


São Jorge: as aventuras do santo que nunca existiu | Super

super.abril.com.br/historia/sao-jorge-as-a...
Jul 12, 2017 · Seu grito de guerra era “Por Portugal e São Jorge”. Foi por essa época que apareceu a história do dragão. Contada pelos cristãos ortodoxos, foi trazida para a Europa católica pelos cruzados.

domingo, 7 de junho de 2020

MEDITAÇÕES – Desorientação




Segundo diz o Dicionário este adjectivo equivale a desnorteado, desvairado, desequilibrado, maníaco. Entre as quatro opções eu me inscrevo no desnorte, pelo menos neste momento concreto, pois que o que nos dizem e recomendam oficialmente e insistentemente, não se pode aceitar como coerente. Por um lado nos alertam sobre a possibilidade de um recrudescimento do número de infectados, mas por outro permitem, e quase que incitam, a que as pessoas percam o medo, que saiam, que vão à praia, com umas regras que nem sequer são congruentes entre si.

Embora, sem grande convicção, alertam para que não se juntem em multidões, excepto casos “especiais”, que incluem alguns espectáculos, mas não as touradas, competições de futebol e boxe, entre outros. O resultado visível é que a cidadania optou para fazer o que lhe sai impulsivamente dos c... Já perdeu o medo, aquele que antigamente guardava a vinha. E a prova evidente é que já não são seguidas regras de distanciamento, como o que se quis mostrar na ridícula distribuição dos manifestantes no relvado da Alameda, num relvado marcado a régua e esquadro para evidenciar que eram respeitosos e bem comportados. Sobre o facto das camionetas que transferiram o pessoal dos seus redutos normais para a capital, optou-se pela sensata decisão de não ver, não ouvir nem falar, dado que poucos estiveram interessados neste mínimo pormenor.

Mas com o andar dos dias, (poucos) e para seguir o exemplo vindo dos EUA, e de algumas cidades europeias, Lisboa mostrou (?) com manifestações multitudinárias, munidas de cartazes e gritaria provocadora, que circularam por ruas e avenidas da capital até se cansarem e desviarem-se para, possivelmente, beber umas cervejas pelo gargalo (para evitar o covid-19 que podia espreitar num copo mal lavado) Mostraram, com clara evidencia, o repúdio visceral que sentem quando se diz -num pensar mais quimérico do que real-, que a sociedade lusitana actual, e especialmente os membros das forças da ordem, se atiram como gatos aos bofes para agredir, malhar e até matar, aos cidadãos mais escuros do que os alentejanos, quando deixam cair uma beata ao chão ou outro delito do mesmo teor. Este exagero, contraria o facto real de que a polícia, mesmo agindo em grupo e com razões de sobra para agir, evita confrontos “raciais”. Porque o mais normal é que sejam eles os que levam com as agressões e mesmo com algumas vítimas mortais.

Por muito que levantem os punhos e agitem cartazes, Portugal não tem uma sociedade equiparável com a dos EUA. Não se pode negar que alguns portugueses negociaram com a escravidão, e até que já antes das viagens pelo Atlântico, havia escravos em Lisboa. Assim como pessoas reduzidas a este triste estatuto sempre houve em todas as sociedades. Mas o consentimento, a aceitação, de que estas pessoas, que se sentem (e alguns são de fecto) marginalizados, tal não os isenta de seguir as mesma normas de comportamento e respeito geral que se aplicam a todos os cidadãos.

O que é de salientar foi que se aproveitou esta maré de protesto pandémico para saltar por cima das normas de protecção que, até aqui, se tinham obedecido sem sequer resmungar.

No caso de que se venha a noticiar que deste aglomerado de manifestantes alguns se tornaram foram focos de transmissão do vírus, só lamentaremos os que, sem estarem presentes, foram vítimas transversais destes que participaram na iniciativa.

Só para aliviar o ambiente e recordando que este tipo de vírus nos foi definido como uma das variantes das periódicas afecções pulmonares que chamamos, genericamente, como gripes, e que habitualmente são endémicas nos meses frios, podemos ter a esperança -mais a fé e a caridade- de que a partir de agora, apesar de não ser recomendável comer marisco fresco por ser este o início do período de desova destes bichos com casca, já podemos aliviar o luto pandémico, ou se preferirmos, o luto académico, que estava na moda antes do golpe dos capitães.

Ah! UMA NOTA DE TRANQUILIDADE: Podem comer marisco congelado, pois estes já não estão em condições de se reproduzir.



sábado, 6 de junho de 2020

MEDITAÇÕES – Será um futuro no terciário



Será que o pós-pandemia nos dará um novo horizonte ?

Os mais velhos entre os vivos, antes que o Covid-19 nos leve a Porto Seguro (querias...?) ainda recordamos a estagnação cultural que existia em Portugal até a década de '50. Uma estagnação apreciada pela média nacional, sem esquecer que desde o séc XVIII e seguintes, sempre existiu um reduzido núcleo, mas notável, de ilustrados que, influenciados principalmente pela cultura francesa e alguns toques vindos de pensadores espanhóis, tentaram, sem grande sucesso, lutar contra o analfabetismo e endémica ignorância das classes inferiores. Afirmação que esconde a pouco evoluídas classes ricas e incipientes médias.

O ensino particular, ou semioficial, estava maioritáriamente atribuído às ordens religiosas, e só com a primeira república e as iniciativas dos filiados na maçonaria portuguesa, surgiram os primeiros centros de ensino laico, oficial e privado. Com a implantação da ditadura e a entrega de pastas ao professor de Coimbra António Salazar, se decidiu dar um maior impulso ao ensino secundário e universitário, dado que já não era possível esconder o grau de analfabetismo e conhecimentos médios que existia comparativamente com os países europeus.

Paulatinamente foi suprimido o quase monopólio universitário de Coimbra, e se criaram, a partir de zero, escolas de artes e ofícios destinadas a criar os especialistas de que se carecia para a incipiente industrialização, não exactamente a partir de zero pois que já existiam estabelecimentos regidos por comunidades religiosas e também oficinas do exército e marinha

Entretanto a vontade de elevar a cultura nacional não esmoreceu. Pelo menos já apareceram anúncios de estabelecimentos universitários, uns mais idóneos do que outros, em que referem que aumentaram o número de vagas para cursos “superiores”. Apesar de saberem, sem a mínima dúvida, que o mercado de trabalho nacional não os pode empregar. Daí que, uma vez na posse de uma licenciatura, o futuro imediato quase sempre fica restringido a continuar na casa paterna, como um peso morto, ou aceitar um trabalho a termo certo, que apesar de ser mal remunerado, não existem grandes possibilidades de ser renovado. Porque? Simplesmente porque a entidade empregadora não está afim de correr o risco de que aquele tipo de contratos se tornem definitivos. Para a decisão colabora a longa fila de inscritos interessados em ocupar aquele “interessante e promissor” trabalho.

Nem todos os futuros são tão negros como o que referi. Que de facto são próprias de licenciaturas “da treta”. Podem safar-se caso disponham de bons padrinhos que os coloquem num lugar perpétuo no sempre dilatável aparelho do Estado.

Aqueles que rejeitaram, liminarmente, o trabalho “braçal” e optaram para faculdades onde deve-se estudar e trabalhar afincadamente, entre elas as de Medicina e afins, apesar de que a estrutura da Assistência Médica do Estado ser de excelente qualidade, sabemos que sofre, da doença de reduzir o investimento, como decisão crónica. Mas estes, e outros profissionais de craveira reconhecida internacionalmente, ficam de fora da escravidão dos empregos temporários, mal pagos. Restam-lhes, porém, as possibilidades dos centros hospitalares privados e mesmo o se transferirem, com armas e bagagens, para outro país.

Não devemos ficar pesarosos quando o condutor do tuk-tuk nos diz que teve que aceitar este trabalho porque não apareceram ofertas de emprego no mercado de trabalho com interesse com os conhecimentos adquiridos com a sua licenciatura. Ninguém os obrigou a optar para aquilo que se previa ser uma miragem. Perderam anos de preparação e vida profissional, melhor remuneradas, obcecados com a possibilidade de virem a ser tratados como “Senhor Doutor”, e se acrescentar mais uns três ou quatro sobrenomes de família, mesmo que já esquecidos, muito melhor...

CONCLUSÃO NÃO IMEDIATA: Em Portugal, nomeadamente após o golpe dos capitães, criou-se a ilusão de que o País tinha que avançar, rapidamente em força (usando as palavras de Salazar) para se modernizar, e para o conseguir devia-se educar o povo, a granel, atirando-o, inconscientemente logo para o ensino superior, sem cuidar primeiro de continuar e melhorar as tentativas anteriores (os citados Planos de Fomento, que deixaram-se de lado por cheirarem a ditadura ?)

Não seria honesto esconder a eterna mania das grandezas que é doença incurável nos pequenos países. Nem se pode apontar o dedo acusador ao ponderar decisões tomadas nos anos '60/'70 do século passado, quando se pensou e decidiu industrializar Portugal. Era difícil, quase impossível, prever que algumas daquelas iniciativas estavam condenadas a ficar obsoletas ou a não poder concorrer com os preços internacionais.

Um exemplo entre outros: Se a ideia de criar em Sines um porto de águas profundas na costa portuguesa, que pudesse ser um entreposto para as rotas transoceânico, e que apoiasse um grande, enorme, complexo químico-industrial, mas descurando a imprescindível via férrea, com bitola europeia, que servisse de ligação aos diferentes destinos das mercadorias, derrapou tal como aconteceu com outras boas iniciativas, pensadas mas estagnadas. Sines já foi vendido à China (comunista e rica, com operários mal pagos, mas calados) e este magno empresário estatal se encarregará de construir a linha férrea indispensável.





quinta-feira, 4 de junho de 2020

MEDITAÇÕES - Um olhar ao Turismo



Regressarão os turistas? Com força?

É uma das perguntas que acompanham a pandemia e os seus efeitos secundários. As previsões estão condicionadas pelo que cada opinador sente na pele, mesmo antes de se estender ao sol na praia na intenção de se torrar -um pouco, que não chegue para ser avaliado como mestiço- E o que podemos apreciar é que, inevitavelmente, se formaram dois bandos, que se, por enquanto, ainda não se digladiaram à pancada mas mentalmente são ferrenhos inimigos.

Fica-se com a impressão de que, muita boa gente -e também outra má, digamos que gananciosa sem muitos escrúpulos- já assumiu que o País não tem grande futuro como exportador de bens. Ou seja, de produtos manufacturados, a não ser como fornecedores de componentes. E, em consequência, aceitar a sina de ser, totalmente um país de empresários hoteleiros e de empregados sem qualificação, que se encarreguem de limpar, arrumar, mudar as roupas das camas, cozinhar e servir, abrir as portas aos visitantes com sorriso e boas maneiras, sempre com uma mão preparada para receber uma gorjeta, que em geral não merece.

Em paralelo foram surgindo serviços que nos eram desconhecidos, como o caso dos invasores e prolíferos tuk-tuk. Também são de referir os captadores de clientes; uns multifunções que abordam os passeantes anunciando maravilhosas iguarias gastronómicas que lhes podem servir, a “bom preço” ali mesmo em frente, naquele estabelecimento. Infelizmente os pratos que aparecem na mesa ficam muito aquém do que seria de esperar, dada a fama que precedeu da cozinha tradicional portuguesa, mas que nos encarregamos de abastardar. Um sentido R.I.P. Para este abandono, quase que total; salvo raras e honrosas excepções.

Para sossego e terminar com as insónias dos que dependiam do negócio dos enormes paquetes de cruzeiro, que além de descarregar muito lixo e águas negras nas nossas águas, em pouco contribuem para a economia nacional, se as previsões oficiais se cumprirem, dentro de semanas teremos mais uns monstros destes acostados, durante um dia, nos cais de Lisboa.

Mesmo que os número de visitantes com dormida em terra venha a ser menor do que aquela maré que "destruiu" a Baixa lisboeta como um segundo maremoto, sem incêndios e mortos, é de prever que alguns estabelecimentos, de pouca monta, voltem a abrir, com os mesmos empresários, se conseguiram realizar algum capital para fundo de maneio. Ou com outros que queiram apostar num cavalo que já ganhou corridas anteriores, o que se pode prever, sem riscos de maior, é que os empregos de cariz maiormente a prazo, ou mesmo sem nenhum tipo de contrato legal, tornem a estar disponíveis.

Os tais tuk-tuk, sejam todos ou só uma parte, cujo investimento dizem não foi muito grande, poderão sair dos locais onde tem estado recolhidos. Os eléctricos do 28 rodarão novamente. E os destinos para entreter visitantes na zona da Grande Lisboa, mesmo que temporariamente estejam sujeitos a algumas regras mais ou menos restritivas, estarão disponíveis. Até quando? Ninguém pode prever. Tudo está pendente da surgir, ou não, uma retoma da pandemia.

Não podemos fazer previsões gratuitas baseando-nos, exclusivamente, no que aconteceu por cá. A pandemia foi, e continua a ser, global. E mesmo que alguns sectores da população, em diferentes países, já estejam ansiosos de poder virar a página, o que não se pode descurar é que o que controla o turismo não é só a vontade do o receber -e espremer- mas que os cidadãos dos países emissores estejam dispostos a retomar os mesmo caminhos e meios de transporte. As companhias e agências que se dedicam exclusivamente a esta exploração já se encarregarão de tentar colocar a estrutura em movimento. Dito de outro modo, de angariar e convencer novos clientes.


segunda-feira, 1 de junho de 2020

MEDITAÇÕES – Não será como antes




Mas são pouco prováveis as mudanças

Ao longo deste período de retracção do mercado consumidor, não só devido à reclusão das famílias no seu espaço de habitação mas, sem dúvida, também à merma do numerário disponível, conduziu a novos hábitos e à restrição de despesas supérfluas, que se tinham instalado como sendo indispensáveis, quase que ao nível de fundamentais. E devem ter sido muitas as pessoas que verificaram da falsidade desta tensão consumista.

Dá para pensar se, em tão poucos meses, se compararmos com o tempo que foi necessário para alterações de conduta anteriores, se aceitou como válida a ponderação cuidadosa de como dissipar sem freio era aquilo que, de facto, se desejava retomar como algo fundamental quando as nossas vidas pudessem entrar numa nova era.

Todos assistimos a um progressivo e lamentável declínio do comércio tradicional. Da morte sem renascimento de muitas lojas de porta para a rua das quais nos tínhamos tornado fieis clientes. Lojas onde nos atendiam com demonstrações de afecto, fruto dos anos de relação individual, nem sempre profissional. Já ali tínhamos acompanhado pais e familiares adultos quando estes iam às compras.

Neste pequeno comércio, pessoal mesmo quando existiam alguns, poucos, empregados já veteranos, entrávamos com a quase certeza de poder encontrar o que necessitávamos. E , no caso de não ser possível, já contávamos com que nos dessem uma orientação alternativa, sem se preocuparem do facto de ser um estabelecimento concorrente.

Com o decorrer dos anos, o visual dos percursos urbanos habituais foram-se alterando paulatinamente, e hoje pouco resta daqueles locais onde entrávamos quase como na nossa casa. Além dos taipais, que denotam o fecho impreterível, proliferam novas utilizações, que em geral não nos interessam e que, com frequência, tem uma vida curta.

A força da publicidade e da ostentação já tomou pé, entre nós, a partir dos anos '60, o início de um novo esquema de comércio conjunto, onde se partilham corredores que pretendem semelhar-se a ruas. Assim entraram os primeiros “centros comerciais”, que foram pioneiros antes de avançar, exponencialmente, para o modelo maior. Muitos cidadãos inexperientes no comércio, decidiram tentar a sua sorte em lojas de poucos metros quadrados. A maior parte destes atrevimentos em assuntos onde a inexperiência paga-se cara, fecharam. Além disso as grandes marcas não confiavam para ali se instalarem. Sabiam, por observação de sucessos alheios, que era fundamental ter uma grande área de exposição e atendimento de um novo tipo de clientes. E que era necessário ir cativando e moldando o gosto e as preferências do cliente moderno ou modernizado à força.

Estas e outras razões conduziram a uma degradação e abandono rápido, dos mini-centros comerciais e, possivelmente pela influência da experiência nos USA, e com a experiência já instalada noutros países europeus, se avançou para as grandes superfícies. Nestas estruturas de captação de clientes aplicam-se tácticas e estratégias totalmente diferentes das do comércio tradicional, já quase extinto, salvo uns raros e pequenos resistentes históricos.

O atendimento, apesar das muitas indicações da gerência para o lhe dar um toque pessoal, derrapou para a indiferença, dada a grande rotatividade dos contratados e das baixas remunerações, que se pretendem incrementar através de incentivos dependentes das vendas conseguidas.

Um sintoma diferencial entre o antigo comércio e o actual é o modo como é abordado o cliente, mal entra no estabelecimento, por uma empregada/o que nunca tinha visto na vida, e diz uma frase do seu caderno de conduta: Em que a/o posso ajudar? A nossa reacção pode ser desde o virar para outro lado ou afirmar, simplesmente, quero dar uma vista de olhos, e se for preciso já pedirei ajuda, evitando dizer, cruamente, ponha-se a andar e não me mace.

Ao iniciar este escrito tinha uma miragem de possível regresso, mesmo que muito parcial e restrito, ao comércio das loja de porta aberta para a rua. O meditar com o passado e o presente levou-me a concluir que a imensa maioria dos clientes actuais, dado que os velhos já estão descartados, mortos ou “invisíveis”, cresceram e chegaram a adultos (?) circulando pelas grandes superfícies. São os seus templos para consumo e não será a pandemia que fará recuar a sociedade.