Julgo,
possivelmente mal, que nunca se falou tanto sobre a cultura como
actualmente. Mas será que a cultura, vista e entendida como geral,
sem atingir o estatuto de enciclopédica, aumentou de uma forma que
se possa considerar como exponencial, entre a cidadania?
Utilizando
uma imagem mental, mas que facilmente adquire uma visão gráfica,
podemos apreciar o conceito de cultura como uma árvore centenária,
frondosa, com ramos corpulentos, ligados ao tronco principal, e em
que cada um destes ramos suporta uma ampla quantidade de derivações,
por sua vez multiplicadas quase que até o infinito, apesar de
reconhecer que o infinito é, em essência, inatingível.
Pois
uma vez situados num ponto de observação que nos forneça uma
visão, que consideramos ser geral sem o ser de facto, as motivações
pessoais de cada cidadão o levarão a trepar por uma rama
determinada, e ao mesmo tempo ou passado um período de indecisão,
decidir saltitar, como se fosse um animal arborícola, como esquilos
ou macacos, para zonas daquela mole de conhecimentos que à primeira
vista não estão directamente ligadas à rama principal que elegeu.
Aquilo que devemos entender é que é practicamente impossível, para
um indivíduo isolado, dominar todas as ramificações do
conhecimento.
Os
preconceitos inerentes a ser velho, e que raramente são comuns a
alguns membros da sociedade com menos décadas de vida, é que ao
longo dos últimos 30 anos, ou mesmo menos, instalou-se na vida dos
mais actualizados um ambiente, simultaneamente muito amplo e
restritivo, que induz indivíduo, desde idades practicamente
infantis, a serem limitados nas suas escolhas e interesses, sem se aperceberem que os manipulam. Para isso conta com a poderosa arma da
pressão mediática, a que muitos aderem sem que sintam que o seu
comportamento é equivalente, metafóricamente, ao dos capos dos
campos de extermínio nazis, que eram escolhidos entre os mesmo
prisioneiros e lhes davam a capacidade de serem cruéis com os seus
irmãos: Sem enxergar que, mais tarde ou mais cedo, eles também
seguiriam direitos para o forno, câmara de gás, fuzilamento ou a
corda.
O
que me incentivou a escrever, hoje, foi poder assistir a mais um
episódio, repetido, das palestras com que o falecido professor
Hermano Saraiva tentava dar a entender à população, quão
importante era a história pátria, tanto no capítulo dos
feitos dependentes das casas reinantes e das personagens que dependiam
destes patamares de poder como, e sem descurar a importância que
tiveram os cidadãos, mesmo aqueles que nunca conseguiram alcançar
uma notoriedade perene.
Quando
estes programas foram transmitidos pela primeira vez, em horário que
sem ser “nobre”, os tornavam acessíveis à população em geral,
foi com muito agrado que soube, por manifestações espontâneas e em
primeira mão (ou ouvido),
que o chamado povo (muitas vezes
com um tom despectivo) era fervoroso espectador. Gostavam ver
que podia aparecer a sua terra de origem, e igualmente apreciavam as
referências de lugares nunca visitados e de citações históricas
que o Professor apresentava, sempre em ligação com o local onde
gravavam os programas.
Sem
dúvida que foi um trabalho, longo e exaustivo, que deve ter
conseguido influenciar, positivamente, um sector da população. E em
especial promover a estima pelo País onde nasceram e se criaram,
eles e os seus antecessores. Hoje repetem alguns destes programas,
mas com um critério de horário que não se conjuga com as
disponibilidades do espectador em idade activa. Resumindo: São
catalogados como programas para idosos, elementos
sociais sem valor económico mas que consomem verbas “que seriam
mais úteis noutros sectores”. Uma programação que não
pode competir com o lixo que invadiu os horários de todos os canais,
chamados de generalistas.
Caso alguém, muito esperto e sabedor como se deve julgar a si mesmo,
entende que não é pertinente, e muito menos necessário, dar
conhecimento dos valores basilares do próprio país, e que com o
futebol e as claques é mais do que suficiente, então afirmo que
ficamos bem servidos.
Corto
aqui, que já vai longo em excesso, como é meu hábito.
O
PRÓXIMO ESCRITO, SOBRE O MESMO TEMA, E QUE JÁ ESTÁ PRONTO, TERÁ
COMO CABEÇALHO: AS PEDRAS NOS ENSINAM MUITO, assim estivermos
dispostos às interpretar.
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