quinta-feira, 9 de fevereiro de 2017

cultura e CULTURA


Julgo, possivelmente mal, que nunca se falou tanto sobre a cultura como actualmente. Mas será que a cultura, vista e entendida como geral, sem atingir o estatuto de enciclopédica, aumentou de uma forma que se possa considerar como exponencial, entre a cidadania?

Utilizando uma imagem mental, mas que facilmente adquire uma visão gráfica, podemos apreciar o conceito de cultura como uma árvore centenária, frondosa, com ramos corpulentos, ligados ao tronco principal, e em que cada um destes ramos suporta uma ampla quantidade de derivações, por sua vez multiplicadas quase que até o infinito, apesar de reconhecer que o infinito é, em essência, inatingível.

Pois uma vez situados num ponto de observação que nos forneça uma visão, que consideramos ser geral sem o ser de facto, as motivações pessoais de cada cidadão o levarão a trepar por uma rama determinada, e ao mesmo tempo ou passado um período de indecisão, decidir saltitar, como se fosse um animal arborícola, como esquilos ou macacos, para zonas daquela mole de conhecimentos que à primeira vista não estão directamente ligadas à rama principal que elegeu. Aquilo que devemos entender é que é practicamente impossível, para um indivíduo isolado, dominar todas as ramificações do conhecimento.

Os preconceitos inerentes a ser velho, e que raramente são comuns a alguns membros da sociedade com menos décadas de vida, é que ao longo dos últimos 30 anos, ou mesmo menos, instalou-se na vida dos mais actualizados um ambiente, simultaneamente muito amplo e restritivo, que induz indivíduo, desde idades practicamente infantis, a serem limitados nas suas escolhas e interesses, sem se aperceberem que os manipulam. Para isso conta com a poderosa arma da pressão mediática, a que muitos aderem sem que sintam que o seu comportamento é equivalente, metafóricamente, ao dos capos dos campos de extermínio nazis, que eram escolhidos entre os mesmo prisioneiros e lhes davam a capacidade de serem cruéis com os seus irmãos: Sem enxergar que, mais tarde ou mais cedo, eles também seguiriam direitos para o forno, câmara de gás, fuzilamento ou a corda.

O que me incentivou a escrever, hoje, foi poder assistir a mais um episódio, repetido, das palestras com que o falecido professor Hermano Saraiva tentava dar a entender à população, quão importante era a história pátria, tanto no capítulo dos feitos dependentes das casas reinantes e das personagens que dependiam destes patamares de poder como, e sem descurar a importância que tiveram os cidadãos, mesmo aqueles que nunca conseguiram alcançar uma notoriedade perene.

Quando estes programas foram transmitidos pela primeira vez, em horário que sem ser “nobre”, os tornavam acessíveis à população em geral, foi com muito agrado que soube, por manifestações espontâneas e em primeira mão (ou ouvido), que o chamado povo (muitas vezes com um tom despectivo) era fervoroso espectador. Gostavam ver que podia aparecer a sua terra de origem, e igualmente apreciavam as referências de lugares nunca visitados e de citações históricas que o Professor apresentava, sempre em ligação com o local onde gravavam os programas.

Sem dúvida que foi um trabalho, longo e exaustivo, que deve ter conseguido influenciar, positivamente, um sector da população. E em especial promover a estima pelo País onde nasceram e se criaram, eles e os seus antecessores. Hoje repetem alguns destes programas, mas com um critério de horário que não se conjuga com as disponibilidades do espectador em idade activa. Resumindo: São catalogados como programas para idosos, elementos sociais sem valor económico mas que consomem verbas “que seriam mais úteis noutros sectores”. Uma programação que não pode competir com o lixo que invadiu os horários de todos os canais, chamados de generalistas.

Caso alguém, muito esperto e sabedor como se deve julgar a si mesmo, entende que não é pertinente, e muito menos necessário, dar conhecimento dos valores basilares do próprio país, e que com o futebol e as claques é mais do que suficiente, então afirmo que ficamos bem servidos.

Corto aqui, que já vai longo em excesso, como é meu hábito.


O PRÓXIMO ESCRITO, SOBRE O MESMO TEMA, E QUE JÁ ESTÁ PRONTO, TERÁ COMO CABEÇALHO: AS PEDRAS NOS ENSINAM MUITO, assim estivermos dispostos às interpretar. 

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