E,
entre elas muitas são difíceis de engolir.
Defendemo-nos mais facilmente das mentiras do que das verdades. Estas são habitualmente amargas e tiram-nos o sono.
Além
desta problemática acontece que muitas das nossas convicções não
se aguentam em pé. São fruto daquilo que se diz: engravidar de
ouvido.
Encurtando
caminho, sinto que as pessoas, catequizadas desde gerações no
sentido de que a Pátria, ou País, ou a mãe (que é valorizada
da mesma maneira) não podem ser criticadas por alguêm que seja
forasteiro. Mesmo que a crítica seja apresentada ao de leve, e, pior
se com razões de peso que a justifiquem. (1)
Qualquer
tentativa que faça para ver de descarregar a “raiva” que o
holandés provocou é, de imediato, rejeitada liminarmente,
socorrendo-se de argumentos estereotipados, fornecidos pela
manipulação abusiva dos "média", com a colaboração de jornalistas,
ignorantes ou vendidos, de comentadores e cidadãos pouco ou nada
isentos e correctos no seus discursos.
Os
argumentos habituais são simples. Ou mesmo simplórios:
. Os
europeus do norte são uns invejosos. Cobiçam
o nosso clima, o sol, a praia, a comida e a nossa forma de encarar a
vida. Apesar disso, ou em conseuência de sermos servis e educados,
nos qualificam de calões, mandriões e despesistas. Nesta Europa a
que pertencemos devemos ser aqueles que mais nos "colocamos de cócoras" para lhes agradar. Um excesso de vontade de agradar que os incita a nos desqualificar.
. Exagerando
bastante damos a impressão de que nos comportamos como (dizem,
e não confirmo que seja verdade) é hábito entre os
esquimós. Oferecer as suas mulheres ao forasteiro (será
justificado se com isso conseguem contrariar os efeitos da
consanguinidade?)
. Malandros,
gatunos, vigaristas, aproveitadores sem escrúpulos, existem em
todos os paralelos e meridianos. E os países do Norte não escapam
à regra. Os “do sul” não temos a exclusividade. CERTO. Mas
este facto, nos seus países, quando as faltas são descobertas,
parece que tem sido objecto de sanções pesadas. Um detalhe sem impotância
quando se compara com os do sul, onde se pede justiça exemplar mas não se aplica. UMA
PEQUENA DIFERENÇA.
. Dizem
que, dada a nossa tendência a malbaratar as ajudas financeiras, que
tão generosamente (?) no deram, já não é admissível, pelos
habitantes dos seus laboriosos países. Não nos continuar a ajudar. A
primeira afirmação não pode ser rebatida. Todos conhecemos as
falcatruas cometidas, e “eles” também as conheciam e consentiram
tácitamente.
. Quanto
à falta de vocação para trabalhar podiamos passar horas debatendo o tema.
Aqui se citariam tantos meridionais alí radicados, que trabalham
tanto ou mais do que os seus indígenas. E noutra página podiamos
referir que nos climas frios, donde a neve está presente durante
longas semanas, quem não tomar previdências, trabalhando no duro
como a formiga, morrerá de frio. Completa-se a situação referindo que são eles os que estudam e aplicam as evoluções tecnológicas que proporcionam maior produtividade. Diz-se que em Portugal estamos avançaudo neste domínio. Oxalá seja assim.
. Antes
ou depois nos dizem que os empréstimos deram chorudos juros aos bancos “beneméritos” que agora fingem que nos rejeitam. Aqui temos
uma duplicidade, equivalente aos "deelers" que oferecem drogas aos
inconscientes a fim de os agarrar. Como acontece sempre que nos põem
na mão dinheiro que não suamos, habituamo-nos a gastar
à tripa forra, e depois,
quando a carteira ficou vazia, pedimos emprestado. As
leis dos bancos são claras e duras. Quanto mais aflito está o
pedinte, mais alto é o juro aplicado.
. Afirmam
que não produzimos bens e serviços, excepto na hotelaria, que compensem a nossa despesa. Daí que o défecit sempre esté subindo.. Mas então podemos retorquir que eles têm muita culpa nesta situação, que não podemos negar. Quando nos incitaram, quase obrigaram, a desmantelar
fábricas, navios e frota de pesca, entre outras actividades que
afirmavam ser mais rentáveis nos seus países, dissseram que nos compensariam e que,
graciosamente, poderiam servir-nos sem problemas.
Os
problemas vieram depois. Mas porque acreditamos nestas fantasias, e
destruimos o pouco que tinhamos? Sem previamente ter organizado e em
funcionamente ocupações alternativas para os, fatalmente,
desempregados?
Concluo
com o mesmo sentimento que apresentei dias atrás. O homem pode ter
sido rude na linguagem, mas disse uma verdade que não se pode
rebater. MATAR O MENSAGEIRO É UMA ATITUDE CRITICÁVEL.
Por
mais argumentos e caras feias que se façam, os países do sul da
Europa mostraram que, até agora, não conseguiram anular os seus
erros. E aqui, para mal dos nossos pecados, os indícios são de que,
mal nos apanhem distraidos, os nossos eleitos retomarão o caminho de
mais uma derrapagem incontrolável, com a convicção de jamais
teremos que pagar a dívida (??)
E todos contentes ou patrioticamente ofendidos, sem admitir que
aquele que tem a faca e o queijo na mão é que manda. Se não
for de uma maneira será de outra, mas que pagaremos, os de sempre,
enquanto que os bem colocados comem os melhores e maiores bocados,
isso é como que ao dia lhe segue a noite.
Com
a ressalva de que, neste filme, à
tempestade não lhe segue a bonança.
(1)
Antes de que me apontem aquilo que nunca escondi, eu sou um caso
anormal no meio onde me inseri. Nasci na Catalunya, no seio de uma
família onde só existiam catalães de gema. Mas logo à nascença fui oficialmente
colocado numa Espanha que me empurrou à ser visto como mais um
espanhol.
Quando
a idade e as circunstâncias políticas o permitiram, optei, sem
esitar, por requerer a minha transferência oficial para a nacionalidade
portuguesa. Fui atendido rápidamente. A partir daquele dia tive
o atrevimento de me comportar como um nacional de pleno
direito, mesmo que note não ser aceite pelos mais nacionalistas.
Tenham
paciência e pensem que eu optei conscientemente e voluntariamente,
enquanto que a “eles” lhes foi oferecida de borla, sem serem
preguntados, tidos ou achados. Tal como me aconteceu quando as
autoridades que mandavam, e conti«nuam a mandar, na Catalunha
fizeram de mim um espanhol.