quarta-feira, 29 de março de 2017

SOMOS QUEM IMAGINAMOS ?



Excepto aqueles que sofrem de alguma psicose que os induz a se desprezar (cujo nome profissional desconheço), admito que a maior parte das pessoas sobrevalorizam-se ou, pelo menos, qualificam-se a si mesmos como tendo uma característica dominante bem aceite pelos membros do seu entorno social, mas que pode não corresponder exactamente ao que os outros entendem a seu respeito.

O tema de hoje surgiu por arrastamento de uma meditação totalmente inútil, mas apesar disso a meu entender, continha algum interesse no caso de pretender arrumar convenientemente algumas noções de uso corrente, que julgo se empregam com excessivo à vontade.

Concretamente se navegarmos em torno das manifestações pessoais de adesão ou convicção. Vejamos:

Uma pessoa pode-se mostrar como formalmente adepto a qualquer grupo ou movimento, civil ou religioso, sem contudo se comprometer perante o público. Ou seja, procede conforme indicam as formalidades, regras ou praxes, daqueles a quem se chega, sem se entregar a exibicionismos.

No extremo do menor compromisso temos o simples seguidor. Um indivíduo que está incorporado no grupo por simples arrastamento, sem uma convicção própria. Ao estilo da personagem Maria vai com as outras. A meu entender é o comportamento maioritário em quase todos os ajuntamentos. De facto estão e não estão ao mesmo tempo, só colaboram para fazer monte, como manequins de montra.

Diferente é a situação do convicto, dado que este está convencido sem reservas; é o que se deve qualificar de persuadido. Este inclusivamente pode desejar, e manter tanto quanto lhe é possível, um certo anonimato. Para ele ser é mais importante do que parecer.

No extremo oposto estão os fanáticos, caracterizados por terem uma fé cega nas razões do seu grupo, e em consequência, pouco ou nada racionais. São, sem dívida, os elementos mais perigosos da sociedade, pois a sua obsessão, que não admitem ter, lhes justifica todas as faltas e abusos sociais. Podemos qualificar como iluminados.

Finalmente encontro os oportunistas também qualificados de aproveitadores, interesseiros, cínicos. São indivíduos repelentes, imundos, que com o seu descaramento conseguem singrar melhor do que muitos honestos e cumpridores. Entre eles encontramos os famosos vira-casacas.


E termino propondo um exercício, nada fácil: O leitor atreve-se a classificar alguma ou algumas das pessoas que conhece? E a seguir atreve-se a se qualificar? Tem a certeza de que os outros o veem da mesma forma como se imagina?

segunda-feira, 27 de março de 2017

AS VERDADES SÃO TANTAS


E, entre elas muitas são difíceis de engolir. Defendemo-nos mais facilmente das mentiras do que das verdades. Estas são habitualmente amargas e tiram-nos o sono.

Além desta problemática acontece que muitas das nossas convicções não se aguentam em pé. São fruto daquilo que se diz: engravidar de ouvido.

Encurtando caminho, sinto que as pessoas, catequizadas desde gerações no sentido de que a Pátria, ou País, ou a mãe (que é valorizada da mesma maneira) não podem ser criticadas por alguêm que seja forasteiro. Mesmo que a crítica seja apresentada ao de leve, e, pior se com razões de peso que a justifiquem. (1)

Qualquer tentativa que faça para ver de descarregar a “raiva” que o holandés provocou é, de imediato, rejeitada liminarmente, socorrendo-se de argumentos estereotipados, fornecidos pela manipulação abusiva dos "média", com a colaboração de jornalistas, ignorantes ou vendidos, de comentadores e cidadãos pouco ou nada isentos e correctos no seus discursos.

Os argumentos habituais são simples. Ou mesmo simplórios:

Os europeus do norte são uns invejosos. Cobiçam o nosso clima, o sol, a praia, a comida e a nossa forma de encarar a vida. Apesar disso, ou em conseuência de sermos servis e educados, nos qualificam de calões, mandriões e despesistas. Nesta Europa a que pertencemos devemos ser aqueles que mais nos "colocamos de cócoras"  para lhes agradar. Um excesso de vontade de agradar que os incita a nos desqualificar. 

Exagerando bastante damos a impressão de que nos comportamos como (dizem, e não confirmo que seja verdade) é hábito entre os esquimós. Oferecer as suas mulheres ao forasteiro (será justificado se com isso conseguem contrariar os efeitos da consanguinidade?) 

Malandros, gatunos, vigaristas, aproveitadores sem escrúpulos, existem em todos os paralelos e meridianos. E os países do Norte não escapam à regra. Os “do sul” não temos a exclusividade. CERTO. Mas este facto, nos seus países, quando as faltas são descobertas, parece que tem sido objecto de sanções pesadas. Um detalhe sem impotância quando se compara com os do sul, onde se pede justiça exemplar mas não se aplica. UMA PEQUENA DIFERENÇA.

Dizem que, dada a nossa tendência a malbaratar as ajudas financeiras, que tão generosamente (?) no deram, já não é admissível, pelos habitantes dos seus laboriosos países. Não nos continuar a ajudar. A primeira afirmação não pode ser rebatida. Todos conhecemos as falcatruas cometidas, e “eles” também as conheciam e consentiram tácitamente.

. Quanto à falta de vocação para trabalhar podiamos passar horas debatendo o tema. Aqui se citariam tantos meridionais alí radicados, que trabalham tanto ou mais do que os seus indígenas. E noutra página podiamos referir que nos climas frios, donde a neve está presente durante longas semanas, quem não tomar previdências, trabalhando no duro como a formiga, morrerá de frio. Completa-se a situação referindo que são eles os que estudam e aplicam as evoluções tecnológicas que proporcionam maior produtividade. Diz-se que em Portugal estamos avançaudo neste domínio. Oxalá seja assim.

.  Antes ou depois nos dizem que os empréstimos deram chorudos juros aos bancos  “beneméritos” que agora fingem que nos rejeitam. Aqui temos uma duplicidade, equivalente aos "deelers" que oferecem drogas aos inconscientes a fim de os agarrar. Como acontece sempre que nos põem na mão dinheiro que não suamos, habituamo-nos a gastar à tripa forra, e depois, quando a carteira ficou vazia, pedimos emprestado. As leis dos bancos são claras e duras. Quanto mais aflito está o pedinte, mais alto é o juro aplicado.

.  Afirmam que não produzimos bens e serviços, excepto na hotelaria, que compensem a nossa despesa. Daí que o défecit sempre esté subindo.. Mas então podemos retorquir que eles têm muita culpa nesta situação, que não podemos negar. Quando nos incitaram, quase obrigaram, a desmantelar fábricas, navios e frota de pesca, entre outras actividades que afirmavam ser mais rentáveis nos seus países, dissseram que nos compensariam e que, graciosamente, poderiam servir-nos sem problemas.

Os problemas vieram depois. Mas porque acreditamos nestas fantasias, e destruimos o pouco que tinhamos? Sem previamente ter organizado e em funcionamente ocupações alternativas para os, fatalmente, desempregados?

Concluo com o mesmo sentimento que apresentei dias atrás. O homem pode ter sido rude na linguagem, mas disse uma verdade que não se pode rebater. MATAR O MENSAGEIRO É UMA ATITUDE CRITICÁVEL.

Por mais argumentos e caras feias que se façam, os países do sul da Europa mostraram que, até agora, não conseguiram anular os seus erros. E aqui, para mal dos nossos pecados, os indícios são de que, mal nos apanhem distraidos, os nossos eleitos retomarão o caminho de mais uma derrapagem incontrolável, com a convicção de jamais teremos que pagar a dívida (??) E todos contentes ou patrioticamente ofendidos, sem admitir que aquele que tem a faca e o queijo na mão é que manda. Se não for de uma maneira será de outra, mas que pagaremos, os de sempre, enquanto que os bem colocados comem os melhores e maiores bocados, isso é como que ao dia lhe segue a noite.

Com a ressalva de que, neste filme, à tempestade não lhe segue a bonança.

(1) Antes de que me apontem aquilo que nunca escondi, eu sou um caso anormal no meio onde me inseri. Nasci na Catalunya, no seio de uma família onde só existiam catalães de gema. Mas logo à nascença fui oficialmente colocado numa Espanha que me empurrou à ser visto como mais um espanhol.

Quando a idade e as circunstâncias políticas o permitiram, optei, sem esitar, por requerer a minha transferência oficial para a nacionalidade portuguesa. Fui atendido rápidamente. A partir daquele dia tive o atrevimento de me comportar como um nacional de pleno direito, mesmo que note não ser aceite pelos mais nacionalistas.


Tenham paciência e pensem que eu optei conscientemente e voluntariamente, enquanto que a “eles” lhes foi oferecida de borla, sem serem preguntados, tidos ou achados. Tal como me aconteceu quando as autoridades que mandavam, e conti«nuam a mandar, na Catalunha fizeram de mim um espanhol.

sábado, 25 de março de 2017

O QUE A PIDE NÃO CONSEGUIU



Imagino que o homem desde que começou a andar erguido e conseguiu ter tempo livre para dar trabalho especulativo ao seu cérebro, uma das coisas em que reparou e perante a qual lamentou da sua inépcia, foi a das mudanças climatéricas. Bem pensou em se agasalhar melhor, em procurar abrigo em grutas e utilIzar o fogo, a sua grande descoberta tecnológica, para se aquecer.

Os anos foram passando, as décadas, séculos, milénios continuaram inenterruptamente e as meditações avançaram para ambitos cada vez mais afastados das necessidades mais imediatas, Muitas cabeças buliram em fervura tumultuosa tentando descobrir novos problemas, para depois imaginar soluções. E, por outro lado, o progresso da linguagem parecia imparável, dado o seu carácter apelativo, incitador ao discurso dedicado a ouvintes e a justificar convívios sob as mais diversas motivações.

Os gestores das sucessivas ditaduras, que se criaram no seio da sociedade, viram que estas, inicialmente inócuas, reuniões de seres em comunicação verbal e visual eram um perigo para a manutenção do seu esquema de poder. Os grupos eram, sem dúvida, um grande perigo em potência, que convinha eliminar com persistência.

E assim se gerou o serviço de denunciantes sigilosos e a consequênte perseguição, ou até de eliminação, dos díscolos. Conseguiram travar, até certo ponto, a vocação contestatária da maior parte da população, mais devido ao medo que geraram, dado que, excepto os mais empenhados na guerra subterrânea, ninguém se podia considerar livre de ser denunciado, apesar de saber não ter cometido nenhuma falta. Os carrascos aplicavam aquele “sábio” preceito que diz: Quando chegares a casa dá uma tareia á tua mulher, mesmo que não vejas razão para tal. Ela sabe porque lhe bates. É o método de prevenção mais antigo, e dizem que eficaz.

Apesar de todas as acções repressivas continuou a existir a necessidade humana de manter um diálogo presencial, nem que a temática ficasse restrita a banalidades no estilo do falso desporto para as bancadas. Mesmo nestas tertúlias que se podiam considerar de inofensivas, estavam colocados os bufos prontos a denunciar qualquer desvio inaceitável. E isso permaneceu assim até ontem.

Hoje os contactos verbais e visuais, em simultaneidade, quase que desapareceram. Tudo foi substituído “eficazmente”, e com uma adesão cada vez mais generalizada, pela comunicação electrónica, que só não é tão instantânea como se julga devido a que, pela acumulação contínua de solicitações, chega a originar decalagens mais potentes do que no esquema de comunicação anterior.

Ganhamos ou perdemos?


A meu ver, perdemos muito mais do que ganhamos, pois a possibilidade de comunicar assertivamente comporta não só a voz, mas também a gesticulação, mais a instintiva mímica facial. Sem esquecer a possibilidade de interpelação imediata, além da voluntária cedência de pareceres em favor de um entendimento comum. A eléctrónica matou a necessidade e capacidade humana de conseguir entendimentos efectivos. Tudo é virtual e mais fácil de vigiar do que o ter que colocar meios humanos em cafés e outros locais de reunião.

sexta-feira, 24 de março de 2017

VER O QUE ESCREVEM


Quando entramos ou participamos numa polémica é correcto ver o que escrevem e opinam desde o outro lado. Atendendo a este preceito abri o espaço que mantêm, no Facebook, o chamado NOVA PORTUGALIDADE. É bastante extenso e nele aparecem escritos de pessoas manifestamente apoiantes de um ideário pouco definido e também, sendo verdade, outros que não se sentem em total sintonia, ou discordam abertamente.

Pelo que pude apreciar o que, até agora, mais se nota é um forte saudosismo do passado, ainda recente, mas que em função da idade não foi vivido por todos aqueles que se mostram como incitadores. Ou possívelmente que pertencem a famílias que desonheciam o que sucedia nos outros estratos sociais de Portugal.

Uma das afirmações que mais me marcou é a da necesidade sentida para Reerguer o mundo de fala portuguesa. Um propósito bonito e até louvável, mas que, por azar, coincide com uma época em que o ingles vai adquirindo uma penetração imparável, não só entre nós como em todo o mundo.

Quando surgem referências a resíduos humanos que, nomeadamente em zonas do sud-este asiático, se mostram agradados pela herança deixada por portugueses é, de facto, emocionante. Também são citados os edifícios religiosos e praças fortes que foram erguidos durante a expansão marítima de Portugal. Formam parte, ainda presente da história portuguesa. Tudo bem. E não se deve esquecer, mas recordar, sem patrioteirismos.

Pessoalmente afirmo que em situações concretas nas que me deparei com pessoas com recordações longinquas, mas bem fortes, mostrando uma saudade, para nós quase inconcevível, sempre fiquei emocionado. É óbvio que tanto o que sucede no Brasil e nas excolónias africanas, sem esquecer Macau e Timor, não é exactamente igual. E nem sequer de ambos lados do Atlãntico. Generalizar é sempre arriscado.

Algo que me induz a comentário directo é o facto de que estes membros, e sentimentalmente adeptos à Nova Portugalidade (cujo programa ou ideário desconheço, caso ele exista) comportam-se como se só eles é que são os respeitadores do passado nacional. Que só os Nps o valorizam como merece. Os outros, que genéricamente devem ser todos de cor vermelho carregado(?), nem sequer podem ser equiparados a portugueses de lei.

Curiosamente revejo, mentalmente, como se comportam as multidões que apoiam, com gritos e gestos bem evidentes, qualquer equipa portuguesa, seja a das quinas ou clubista, quando se enfrenta com um contrincante forasteiro. Será que só são patriotas nestas ocasiões? Esta suposição, a existir, deve ser consequência de que, instintivamente ou malévolamente, há quem os qualifique como pertencentes a estratos mais propensos para o esquerdismo nefasto do que cidadãos respeitáveis. Se for este o pensamento dos NPs não o considero como acertado. Há muito boa gente e patriotas sem mácula entre aqueles que, para seu mal, foram económicamente marginalizados

Sem escamotear facetas é pertinente recordar que os membros das classes mais desfavorecidas, quando não estão já catequizadas para invadir propriedades alheias, limitam-se a pedir PÃO E TRABALHO, dois valores que, para os outros, nem sequer são concebíveis. Aquilo que os mais fervorosos NPs devem desejar será Emprego bem pago, com pouco ou nada que fazer, e o bolso sempre abastecido. Mas trabalhar no duro? Isso é para os da periferia!


Resumindo. A falta de um ideário explícito fiquei com a impressão de que VALORIZAM, SELECTIVAMENTE, O PASSADO E DESVALORIZAM O PRESENTE, QUE ELES NEM SEQUER QUEREM ADMITIR EXISTE.

quarta-feira, 22 de março de 2017

OS NPs INSISTEM



Não sei, mas imagino, quem mantem estes provocadores activos e não decide que os deve refrear, antes os excita. Quem os coordena deve sonhar em recuperar um poder que, passados 43 anos de ter instalado o regime democrático é pouco menos que inaceitável.

Para meu sentir já estou cansado e enfastiado, para não dizer que enraivecido, dado que não sou de índole de andar em brigas, com a insistência em provocar situações de conflito, tal como ontem aconteceu, mais uma vez, na Universidade Nova de Lisboa, onde foram rejeitados, pacíficamente, por uma larga maioria de estudantes e docentes.

A estrategia que os Nps estão aplicando não é nada nova. Seguem o mesmo roteiro das camisas negras de Mussolini, das camisas castanhas de Hitler e das camisas azuis de José António Primo de Rivera, depois herdadas, para seu benefíccio, pelo general Francisco Franco. Só lhes falta, que eu saiba, uma camisa que os identifiue; podia ser a verde dos legionários de Salazar. Por enquanto estão na primeira fase, a preparatória, e aguardam entrar nas fases activistas, tal como os seus predecessores fizeram com a Segunda República.

O que eles querem, como se ve ser evidente, é que fazendo tropelias, desacatos, provocações, e o mais que se lhes ocorra dentro da lista que possuem como activistas, conseguir que seja necessário o recurso das forças que garantem a segurança pública. Se tal acontecer ganharão a segunda batalha, (1) clamando que um governo de esquerda quer, pela força repressora, calar a “oposição nacional”, dado que eles se auto qualificam como os verdadeiros portugueses, os escolhidos por Deus para restaurar a honra do País, e outras tretas do mesmo calibre.

Os velhos que os ilustram conhecem bem todas as manobras a seguir, até porque alguns são mesmo eruditos nestes temas. E não aponto a ninguêm em concreto!


(1) a primeira batalha ganha foi a de conseguir notoriedade com a falácia de pedir e preparar uma palestra, admitindo que os alunos da Universidade eram uns atrasados mentais, que não enxergavam a manobra, e entrariam ao trapo, como entraram de facto. Uma ratoeira bem armada, diga-se de passagem.

COMUNISMO E FASCISMO

COMUNISMO E FASCISMO
A partir do primeiro quartel do século passado tivemos, na Eupopa, e também no continente americano, a ascensão e instalação no poder de dois sistemas totalitários, ambos nefastos, comunismo e fascismo. O primeiro morreu só a fins do século XX, por auto-combustão, e o segundo careceu de uma guerra longa e cruenta para ser erradicado. Excepto na península ibérica, onde consentiram que continuasse por medo de uma possível alternãncia com o comunismo.

Apesar das crises que tem afectado a população dos estratos médio e inferiores, a sociedade actual é muito diferente da que existia, em linguagem coloquial diz-se que choveu muito sobre sobre Europanomeadamente muitas bombas- a partir de então, e se na primeira parte do periodo se asistiu à expansão do comunismo e fascismos -um plural justificado por não serem todos exactamente iguais na sua génese e doutrinas- chegou, depois de sangrentas guerras, ao declínio das duas políticas opressoras.

O Comunismo parece estar morto e enterrado, pelo menos na Europa, por enquanto pois nada nos pode garantir o futuro. E sendo assim os cidadãos consciêntes admitem que nos falarem dos esquerdistas, insinuando serem comunistas, como um perigo, um papão, é descabido.

Admitimos que, dada a manutenção da democracia, enquanto esta foi mantida, é aceitável a existência da alternãncia, não só entre os dois partidos que se mantiveram no sector “respeitável” do centro-direita, mas que também de deve considerar como positiva uma fase em que uma esquerda, menos agressiva, possa ter a oportunidade de atender algumas das queixas que pesam sobre as camadas inferiores da sociedade.

Por seu lado, O Fascismo, sendo promovido e financiado pelo sector mais conservador da sociedade, manteve-se na Europa numa letargia espectante. Não tendo um ideário abrangente, ou usando a falsidade para cativar pessoas de diferentes estatutos, promete ser a salvaçao para todos aqueles que se sentem prejudicados pelas decisões especulativas dos capitalistas.

Uma das canções, de actualidade, que lhes prometem adeptos é a luta contra os não cristãos, digamos genéricamente, contra os migrantes que nos tiram o trabalho e devemos manter no “bem-bom” com os nossos impostos. Um argumento que hoje agrada e cativa muitos cidadãos, que antes disto viviam pacíficamente, entretidos com o consumismo.


Mesmo que a nossa vontade seja a de que o fascismo tivesse sido derrotado irremediávelmente, devemos sentir que, mesmo entre nós, notam-se tentativas de colocar este cadáver em acção. Estão em sintonia com os filmes e séries de mortos-vivos, que curiosamente, só de eliminam a tiro. Um mau filme se eles progredirem.

PECADORES OFENDIDOS


É curioso que depois de ter feito tantos abusos, ter derretido dinheiro a mãos cheias, logo desde início com os Fundos de Coesão, quando um responsável, utilizando uma metáfora simultãneamente denunciadora e bonacheirona, equivalente ao que por cá se dizia a respeito de que “a malta quer putas e vinho verde” se mostrem tão ofendidos que cheguem ao ponto de exigir a renúncia de Joeroen Dijsselbloem, ou melhor até, que seja despedido, posto na rua com uma gamela para pedir esmola. Também metafóricamente?

Temos cara para negar os desvios efectuados em muitos casos? Ou será que preferimos reclamar enquanto mantemos uma mão estendida e outra tirando do monte para os bolsos? Sem respeitarmos, incitar quem nos alimenta.

Em vez de aceitar o ralhete, até certo ponto amigável, e reagir positivamente, envergonhados, mas decididos a emendar o conportamento de latrocínio incólume, com a nossa reacção estamos a pedir para que nos façam uma exaustiva análise das habilidades cometidas. Os que para ficar bem vistos nos jornais e noticiários da TV se mostram tão ofendidos escamoteiam, ou pretendem escamotear, que ali nos deram um aviso acerca da dificuldade actual para que na UE, aceitem voltar a descarregar sacadas de dinheiro a fim de atender o inevitável resgate fechando os olhos para as, quase inevitáveis falcatruas, dado serem congénitas entre nós. ALGUM DIA ESTE REGABOFE TERÁ QUE TERMINAR.

Uma das razões que alegam desde Bruxelas, mas que os nossos jornais não referem, é que o governo da Nação está muito ufano por ter conseguido incrementar o consumo, depois de um periodo de relativo aperto. Em Bruxelas sabem, perfeitamente, que muito do que consumimos é importado, e o que se exporta não consegue equilibrar a balança de pagamentos. Organizamos a contabilidade de modo a mascarar a realidade. Só que bons analistas financeiros existem no seio da UE, e não se deixam enganar.

Deviamos ficar calados e vergar o pescoço, humildemente, apesar de também reconhecer que os inexistentes procedimentos de fiscalização não funcionam; não existem. A não ser para os mais pequenos e indefesos na estrutura económica-política que domina a nação.

segunda-feira, 20 de março de 2017

A POLÊMICA ESTÁ SERVIDA Apesar do texto de esclarecimento (?) emitido pelo Excelentíssimo Professor Doutor JAIME NOGUEIRA PINTO, NP, dentro da sua Boa Fé, por sentir-se humilhado e ofendido qual virgem maculada, o que de facto se entende é que o rifoneiro português está cheio de sapiência, a transbordar, e não é por acaso que refere: Quem se deita com crianças, acorda borrado, ou ainda outro que tambem devia ter presente Deus os fez, Deus os juntou. Traduzindo: O Professor NP não pode alegar inocência nem boa fé na sua adesão aos desejosos de activismo da Nova Portugalidade NP. Estas casualidades não sucedem por aquilo que refere como designios da Graça de Deus. O primeiro mandamento nos alerta de que não devemos usar o nome de Deus para temas sem importância. E N.P. devia evitar a tentação de fazer de todos nós parvos. O seu manifesto, anti Dantas, ou anti Daniel Oliveira, só serviu para que o Expresso, que relembramos ser propriedade de Pinto Balsemão, não desejasse entrar nesta guerra dos Salvadores da Pátria Portuguesa. Não é credível que fosse casual a publicação da página de Clara Ferreira Alves na revista E deste último sábado. Assim como também se incluiu uma curta reportagem intitulada como A NÁUSEA, assinada por Valdemar Cruz, onde se referem, muito suscintamente, as tropelias bombistas, com assasinatos incluídos, cometidas pelos activistas da direita e comandadas por personagens identificadas, incluíndos membros destacados da hierarquia da Igreja Católica. Pessoalmente, e por razões profissionais, estive ausente desta fase do Verão Quente, mas sabia, desde fora, que Carlucci, homem da CIA, já se tinha encarregado de namorar, e “comprar” o PS de Mário Soares, com o propósito de neutralzar o COPCON, que eu chamava de Pop Corn, e assim retirar forças ao PC de Álvaro Cunhal. Quando comentava o que entendia sucedia por cá, com amigos residentes, e outros fugitivos, recordo que não davam crédito à geopolítica em vigor e de como os USA não permitiriam, e possívelmente negociariam com a URSS, que não permitiriam que se instalasse uma Cuba no extremo ocidental da Europa. E isso apesar de ue no Alentejo já tínhamos uma Cuba desde séculos, muito antes da reforma agrária. Quem certamente sabia disso era Álvaro Cunhal. Quem viveu, de perto ou afastado como foi o meu caso pessoal, o clima inflamado de Portugal, numa guerra civil não declarada, entre os bandos conservador e revolucionário, não pode desvalorizar os receios de muita gente, especialmente daqueles que eram crentes e daí que amigos fidegais do regime derrubado. Pretender retomar o passado é uma insensatez total. A sociedade de hoje não é a mesma da de 1970-74. A estrutura económica que se instalou é muito diferente, e só adultos com mentes obcecadas é que se podem juntar a revolucionários de pacotilha. Apesar de muito ter lido e ouvido sobre o referido Verão Quente aceito que fui influenciado pela publicidade que se fez acerca de que “as feras esquerdistas” estavam na margem sul do Tejo e Alentejo. O texto A Náusea serviu para refrescar a memória e ligar a realidade de que onde, de facto, havia uma população numerosa de operários, mal pagos, mal atendidos, pouco educados e abusados inclusive pela tal igreja que se publicitou como defensora dos desvalidos, era no Norte. Por isso o ter nomes e locais onde os conservadores estavam activos, precisamente de Aveiro para cima, ajudou a verificar que até nisso a capital pretendeu ter a primazia. E não foi assim.



Apesar do texto de esclarecimento (?) emitido pelo Excelentíssimo Professor Doutor JAIME NOGUEIRA PINTO, NP, dentro da sua Boa Fé, por sentir-se humilhado e ofendido qual virgem maculada, o que de facto se entende é que o rifoneiro português está cheio de sapiência, a transbordar, e não é por acaso que refere: Quem se deita com crianças, acorda borrado, ou ainda outro que tambem devia ter presente Deus os fez, Deus os juntou.

Traduzindo: O Professor NP não pode alegar inocência nem boa fé na sua adesão aos desejosos de activismo da Nova Portugalidade NP. Estas casualidades não sucedem por aquilo que refere como designios da Graça de Deus. O primeiro mandamento nos alerta de que não devemos usar o nome de Deus para temas sem importância. E N.P. devia evitar a tentação de fazer de todos nós parvos.

O seu manifesto, anti Dantas, ou anti Daniel Oliveira, só serviu para que o Expresso, que relembramos ser propriedade de Pinto Balsemão, não desejasse entrar nesta guerra dos Salvadores da Pátria Portuguesa.

Não é credível que fosse casual a publicação da página de Clara Ferreira Alves na revista E deste último sábado. Assim como também se incluiu uma curta reportagem intitulada como A NÁUSEA, assinada por Valdemar Cruz, onde se referem, muito suscintamente, as tropelias bombistas, com assasinatos incluídos, cometidas pelos activistas da direita e comandadas por personagens identificadas, incluíndos membros destacados da hierarquia da Igreja Católica.

Pessoalmente, e por razões profissionais, estive ausente desta fase do Verão Quente, mas sabia, desde fora, que Carlucci, homem da CIA, já se tinha encarregado de namorar, e “comprar” o PS de Mário Soares, com o propósito de neutralzar o COPCON, que eu chamava de Pop Corn, e assim retirar força ao PC de Álvaro Cunhal.

Quando comentava o que entendia suceder por cá com amigos residentes, e outros fugitivos, recordo que não davam crédito à geopolítica em vigor e de como os USA não permitiriam, e possívelmente negociariam com a URSS, que não aceitavam que se instalasse uma Cuba no extremo ocidental da Europa. E isso apesar de que no Alentejo já tínhamos uma Cuba desde séculos, muito antes da reforma agrária. Quem certamente sabia disso era Álvaro Cunhal.

Quem viveu, de perto ou afastado como foi o meu caso pessoal, o clima inflamado de Portugal, numa guerra civil não declarada, entre os bandos conservador e revolucionário, não pode desvalorizar os receios de muita gente, especialmente daqueles que eram crentes e daí que amigos fidegais do regime derrubado, além de temerosos dos desmandos dos terríveis vermelhos, ou concretamente comunistas.

Pretender retomar o passado é uma insensatez total. A sociedade de hoje não é a mesma da de 1970-74. A estrutura económica que se instalou é muito diferente, e só adultos com mentes obcecadas é que se podem juntar a revolucionários de pacotilha.

Apesar de muito ter lido e ouvido sobre o referido Verão Quente aceito que fui influenciado pela publicidade que se fez acerca de que “as feras esquerdistas” estavam na margem sul do Tejo e Alentejo. O texto A Náusea serviu para refrescar a memória e ligar a realidade de onde, de facto, havia uma população numerosa de operários, mal pagos, mal atendidos, pouco educados e abusados, inclusive pela tal igreja que se publicitou como defensora dos desvalidos. Era no Norte ue existia um maior número de revoltados. Por isso o ter nomes e locais onde os conservadores estavam activos, precisamente de Aveiro para cima, ajudou a verificar que, até nisso, a capital pretendeu ter a primazia. E não foi assim.


UM RISCO HABITUAL



Somos muitos os que, sem meditar o suficiênte, nos abalançamos a emitir sentenças generalistas sobre grupos e, mais correntemente, sobre a globalidade dos naturais de um pais qualquer, sem recordar que não se pode, nem deve, cometer a leviandade de atribuir, sem uma base credível -que surge muito raramente- um ferrete indelével.

Este prólogo, curto e confuso, deve-se a que actualmente, tal como aconteceu noutras alturas com temas diferentes, a pressão dos noticiários e das boateiras redes sociais, nos impele a emitir juízos de valor sobre migrantes, muçulmanos, africanos, russos, americanos e muitos outros a quem atribuimos um perfil homogéneo que nos incomoda. Um sentimento de simpatia ou de antipatia, ou mesmo de adversão, nem sempre conformes com as nossas experiências directas.

No noticiário internacional um dos motivos de receio para o futuro, quase que imediato, é, sem dúvida, motivado pelo comportamento do novo presidente dos EUA. Nomeadamente pela sua personalidade, que não se mostrou de acordo com o que se espera de um chefe de estado, e menos até de um país com o peso como tem os EUA. Isso apesar do precedente, recente, do Bush filho.

Quando damos uma importância inquestionável à democracia -como deveria merecer- é fácil generalizar o comportamento deste sujeito de cabelo pintado, boquinha de cú de galinha e gestos que facilitam o trabalho dos críticos imitadores, como se ele fosse o retrato vivo dos muitos milhões de cidadãos que se abrigam sob a bandeira das riscas e estrelas. Nestas alturas esquecemos que o Trump não ganhou o lugar pelo voto directo de todos os eleitores. Mas, em função das regras lá existentes conseguiu a vitória dentro da legalidade vigente.

Seja como for, e por muito que pese aos cidadãos com a papelada em regra, desde fora atribuimos as loucuras e disparates do seu presidente à totalidade da população dos USA. Pelo menos enquanto a sua presença, como representante máximo do seu pais, se mantiver. Ter ou não ter um sector opositor, mas sem capaidade ou possibilidades do apear, é indiferente. Esta situação é identica ao que acontece com outro país qualquer, não só na actualidade como noutras épocas, recentes ou longinquas.

Desde a Europa, que foi o ponto de partida de muitos dos habitantes dos USA, ou dos seus antecessores, gerou-se um clima de desconfiança quanto ao comportamento dos Estados Unidos. Se as ameaças de Trump, umas vezes verbalizadas e noutras através de uma rede social mal conceituada, são preocupantes, como as de um louco, espera-se, com ansiedade, para ver qual será a atitude dos grupos de pressão das forças republicanas que o apoiaram. Terão, estes poderosos, uma reacção no sentido de apoiar as iniciativas isolacionistas ou, pelo contrário, valorizarão os seus próprios interesses, que podem ou não, ser concordantes com as necessidades e desejos dos seus parceiros ocidentais.


O que resume esta situação é que este presidente não dá mostras, credíveis, de ter um comportamento sensato. E que a sua boçalidade não inspira confiança, antes dessasosega.

domingo, 19 de março de 2017

RECOMENDAÇÃO


É preceitual que se deve evitar imaginar que as nossas preferências possam ser partilhadas pelos desconhecidos cidadãos a quem nos dirigimos. Uns até podem ser muito permeáveis a sugestões de outro teor, em especial uando incitam a aderir a receitas milagrosas ou a comprar, comprar, comprar. Outros rejeitam liminalmente qualquer conselho ou dica que lhes passe pela frente; precisamente são estes os que gostaria de influenciar hoje.

Além do que ficou pouco explícito no parágrafo precedente reconheço que, como deve acontecer com muitos outros cidadãos e “ cidadoas”, gosto, admiro e até aplaudo, quando oiço ou leio discursos cujo conteúdo coincidem com as minhas opiniões.

Foi o que aconteceu ontem quando abri o Expresso, semanário que rejeitei durante bastantes anos. A sua reentrada em nossa casa, apesar de coincidir com a solicitação conjugal, foi consequência de não encontrar outra publicação nacional que tenha uma seriedade equivalente, mesmo que seja habitual a sua tendenciosidade.

Uma situação semelhante ao que nos pode acontecer quando nos apresentam a carta num restaurante. Depois de a ler de cima para baixo, de baixo para cima, reler e voltar a reler, continuamos sem encontrar a iguaria (um exagero referir assim) que desejavamos, sem saber qual era. Então apontamos para o que nos pode parecer menos mau. Já estamos descontentes enquanto lutamos com as azeitonas sapateiras e o pão.

ONTEM NÃO FOI ASSIM. Logo na primeira página de texto, após virar a capa, estava o artigo de Clara Ferreira Alves, que intitulou TÃO FELIZES QUE NÓS ÉRAMOS.


Não vou transcrever extractos, nem sequer frases soltas. E esta posição, minha, está justificada porque entendo que deve ser lida, com os olhos bem abertos e a mente receptiva. Aproveita-se tudo, sem palha nem artifícios. Muitos leitores não gostarão do conteúdo, ou se esforçarão por julgar ue foram águas passadas, coisas de uma época tão longinqua como os tempos da ínclita geração. Mas não é assim. Perguntem aos seus avós. 

Para quem só tenha passado os olhos em diagonal ofereço a frase de entrada: Anda por aí gente com saudades da velha portugalidade.

sábado, 18 de março de 2017

COERENTE



Atendendo à sapiencia que se pode esperar e encontrar nas páginas dos diccionários, esta coisa de ser coerente corresponde a ter umas qualidades, ou defeitos, que quando as apresentam como sinónimos, nem sempre as vemos como tais, pois caso dominemos a lingua do país (coisa que está demostrado nem todos cumprem devidamente) as escolhemos consoante aquilo que desejamos pontualizar no momento.

Vejamos os que dizem ser sinónimos: estável, persistente, conforme, lógico, constante, teimoso, perseverante, duradouro, pertinaz. E até pode ser que exista mais algum adjectivo adequado que escapou aos compiladores.

Pela minha experiência, de muitas décadas, sei que o ser coerente no pensamento e acção é uma tarefa pesada. Que para quem se encontra nesta característica constitui um verdadeiro estigma, ferrete, sinal indelével. A conseuência fatal de ter adquirido o estatuto de persistente é que, nos casos em que a situação implica a mudança de parecer, 'por leve a pouco importante que nos possa parecer, de imediato nos apontam com o indicador, como se fóssemos o maior dos pecadores. Aos seus olhos cometemos uma falta muito grave, imperdoável mesmo.

Apesar de não saber se nascemos coerentes ou é coisa adquirida com o crescimento, o que sim sinto é que uma uma canga pesada, que nos pode incompatibilizar, sem o pretender, com algum dos muitos volúveis sempre dispostos a dar dicas em sentidos opostos. Estes descomprometidos são a maioria quase sempre silenciosa, que caçam os incautos, estando eles escondidos à espera como se numa numa batida aos lobos ou aos javalís, devidamente inscritos e por isso merecedores de respeito.


Defensor da minha posição qualifico os tais volúveis como, frívolos, inconstantes, instáveis, fúteis, superficiais, levianos. Todavia admito, com um sentimento de fastio ou mesmo de asco, que são estes os que sabem navegar por este mundo. A sociedade prefere e adere sem reservas á táctica de virar a casaca, de dar o dito por não dito, e navegar sempre a favor do vento. Eles é que são bons.

quarta-feira, 15 de março de 2017

FOI SEMPRE ASSIM

Progressivamente fui abandonando a imprensa escrita, sem tentar substituir pelos noticiários na TV e muito menos pelas tretas que desejam impingir nas redes sociais. Apesar desta minha adversão a notícias comprometidas, sucede que sou um elemento dum casal, e desde umas semanas a esta parte a minha mulher, apresentou uma moção interna pela qual mostrava o seu interesse em que, dado não haver outro, se comprasse o Expresso.

Quando chega o saco com quilos de papel, muito dedicado a publicidade, separo a maior parte por não me oferecer interesse pessoal. Depois, ao longo dos dias, vou dando umas passagens pelo primeiro caderno e pela revista. E aqui encontro opiniões facciosas. Não posso dizer que me surpreendo, pois sei, perfeitamente, a quem pertence esta revista e qual é o sector social que prefere. Mas a falta de isenção me incomoda. Manias!

Recordo ter lido, numa coluna que não fixei, num comentário a propósito da não-conferencia de Nogueira Pinto, a afirmação de que a universidade estava ocupada, dominada, por esquerdistas devem estar acoitados, marxistas, leninistas, troskistas, estalinistas, maoistas e outros istas igualmente indesejáveis. Esquece que também, nos mesmos corredores e salas, podem-se encontrar alguns direitistas, e entre eles uns que não são precisamente meninos do coro.

Quem escreve estas afirmações não deve ter frequentado o ensino superior antes do golpe dos militares do quadro, ou então tem graves lapsos de memória. Tradicionalmnete os jovens, uma vez que ultrapassaram a adolescência, sempre se sentiram motivados pela política, e nas faculdades, especialmente nas da rama letras, eram muitos os que desejavam mostrar a sua visão adulta do mundo, opondo-se ao regime. E esta revolta intelectual, como se verificou sempre, cativava mais adesões nas diferentes ramas da esquerda, pois que o governo, ao qual se opunham, era da direita conservadora.

E esta situação repetiu-se por toda a Europa desde finais do século XIX. Portanto quando se afirma, como coisa inesperada e inconveniente, que existem, ainda hoje, grupos de universitários adictos a pensamentos ditos de esquerda, é normal que assim seja. E mais, esta fase de contestação cura-se com a idade e a vida profissional. O mesmo não acontece com os fanaticos da direita, pois que estes sendo todos bons rapazes e boas raparigas, não mudam de convicções, antes as transmitem aos seus descendentes. Já agora, posso afirmar que também há delas boas entre os esquerdistas. 

MARCELO



Não aprecio a política com entusiasmo fanático. Sei que a minha vida está condicionada pelas personagens que vivem no seio desta magnífica carreira, mas mantenho a minha decisão de desligar a TV quando ali aparecem personagens deste circo, ou comentadores que são pagos para dissecar tudo quanto lhes ponham pela frente. Sendo mais honesto nestas coisas do que aprecio ou detesto, admito que também mudo de canal no caso de o tema em emissão seja futebol, ou outro desporto qualquer que incite multidões a ulularem.

Portanto o comentário que se vai seguir, sendo consequência da observação intrusiva, é mais respeitador das formas do que agressivo ou crítico, pois que sendo eu um apreciador das liberdades democráticas não considero que nenhuma pessoa, concreta, tenha que abdicar das suas inclinações. Com a ressalva de que sempre e tanto que com a sua atitude ou acções não agrida, ofenda ou coaccione os direitos de outrem.

Acontece que o nosso “estimado” actual Presidente da República, na vida civil normal conhecido como Professor Doutor Marcelo Rebelo de Sousa -com mais alguns apelidos incluídos, que aqui não coloco- está possuído pelo dom da ubiquidade pois que aparece, sem descanso, dele e nosso, em todo momento e em qualquer lugar. Eu até, antes de meter a colher na boca, já vejo bem se não estava na sopa!

Após este fartote de imagens, em contínuo (não confundir com as pessoas que antes da evolução Darwiniana das qualificações eram denominados com esta nome, tão fundamental. Hoje são ajudantes técnicos disto ou daquilo, quando não substituídos por indivíduos, de qualquer sexo, devidamente fardados e contratados ad hoc numa das empresas que acolhem, em lugares de topo mas com a obrigação de não interferirem, a alguns políticos desempregados) cheguei à conclusão de que o actual P.R. renunciou, aparentemente e só para seduzir a população deste rectângulo, ao ritual próprio do lugar que ocupa na pirâmide hierárquica da governação nesta República.

Dedicou-se, com intensidade pouco normal entre os nacionais, a uma cruzada pessoal com a qual dá a sensação, mais aparente e virtual, do que efectiva, de estar perto da população. Ansioso do afecto que, a seu entender, tem que atingir o grau mais intenso do calor humano. O seu teatro (desculpem aqueles que não gostarem da crueza, mas este exagero desmedido é, a meu ver, um teatro de enganos, descabido) abrange tudo aquilo onde se possa ser convocar jornalistas. De preferência das TV e foto-reportagem.

Ao insistir, permanentemente, nesta trajectória, Marcelo, está desprestigiando a dimensão política do seu posto. Sem que de facto tenha alterado nada de positivo, pois que os seus poderes, apesar das suas contínuas intromissões, não permitem tomar acções na governação do País. A não ser poder carregar no botão da bomba atómica; e mesmo esta permissão está sujeita a regras.

Todos temos a obrigação de saber, nem que seja por experiência pessoal, que sendo a democracia o esquema ideal de governo, a sua aplicação nem sempre é factível, atendendo à funcionalidade de alguns estamentos da sociedade. Entre outros, são exemplo as forças armadas, o ensino e a própria família. Em todos eles a obediência à hierarquia é fundamental e exigida. Paralelamente sabemos, embora não demos por isso, que as fardas, os bonés ou capacetes, quando usados para altear a figura mais do que para proteger o crânio, servem não só para identificar mas, principalmente, para impor respeito a quem não os usa.


Termino com uma fase popular, carregada de sabedoria: O RESPEITINHO É MUITO BONITO.

terça-feira, 14 de março de 2017

BEM ME PARECEU



Quando nestes últimos dias dei demasiada atenção a um ameaço de desestabilização, confiando no meu instinto desde longe, pois que nunca mantive contacto com os meandros onde navegam os políticos, ainda me invadiu o receio de que tivesse errado no meu diagnóstico. A realidade que foi surgindo à tona das negras águas deu-me razão.

Desde início a história do pedido de cedência do auditório à Reitoria da Universidade Nova de Lisboa, por parte de um grupo auto-denominado de Nova Portugalidade, com a sigla NP, ser ministrada uma sábia conferência pelo Professor Doutor JAIME NOGUEIRA PINTO, também conhecido, nos meios, por NP. (Curiosamente estas iniciais coincidem, por puro acaso, com as siglas do grupo proponente). A palestra tinha como título Populismo ou Democracia? Anos decisivos. Nada se pode deduzir a partir deste cabeçalho.

Só o percurso do Professor NP, e a ideologia conservadora dos membros do NP é que alertaram os estudantes, que imediatamente foram qualificados de perigosos esquerdistas. Como já escrevi noutra, os NP+NP ganharam a primeira investida, sem riscos, e mais o conseguirem, sem danos, uma entrada em grande nos meios de comunicação social, e nas redes que circulam pela NET.

O que se veio a saber é que os membros do Novo Portugal, baseando-se neles mesmos, solicitaram ao Reitor que, para garantir a segurança e evitar distúrbios (?), convocasse uma força policial para patrulhar o exterior e interior do local. Seguindo as normas estatutárias das Universidades, que rejeitam liminarmente a entrada de corpos policias no seu recinto, disse que não podia atender este pedido. Então, os pseudo temerosos do NP, uma vez que nada de polícias, pediam que pudessem tratar eles mesmos de colocar um corpo de protecção. Obviamente não podia ser aceitável.

Dado o clima de imaginados conflitos apresentado pelos do NP, o reitor, reunido com o Professor NP, propôs que adiassem este evento até nova data, quando as águas se apresentassem calmas. O Professor NP concordou com a proposta, e cumprimentando o Reitor, saiu do gabinete.

Os organizadores da trama, os NP, provavelmente em conluio com o NP, já tinham convocado a imprensa, tal como estava programado previamente. Ali, poucos minutos após de ter concordado, o Professor NP, dizem que declarou ter sido proibido de apresentar a sua visão da actualidade política e social no Ocidente. Oralmente, a um público universitário no intuito de os elucidar. Era nitidamente uma abusiva acção de censura, precisamente a ele, um Professor Doutor NP ! Inaceitável !


A partir deste instante já a bola de neve descia célere pela ladeira. Tudo estava seguindo o roteiro. Só que dado o cheiro fétido que emanava deste tandem dos NP+NP, que podia ser interpretado como a vontade de tentar reproduzir as inventonas dos seguidores de Hitler, ainda na época das camisas castanhas -que curiosamente, pouco tempo depois o mesmo Hitler se encarregou de eliminar físicamente- mas, lógicamente, na pequena escala em que as coisas acontecem entre nós, prevaleceu o bom senso e a noção, realista, de que as coisas não se podem repetir quando os parâmetros vigentes são outros.

segunda-feira, 13 de março de 2017

MUITAS VELHAS E POUCAS ABELHAS



Já la iremos à abelhas...

Quando na pré-adolescencia partilhava a escola com outros da minha idade já circulavam entre nós, ainda crianças, anedotas bem antigas, que hoje penso nem sempre as entendíamos. Algumas tinham como personagem central um impessoal Jaimito, que em Portugal era o Zezinho, na Italia o Pierino e na França o Pierrot. O esquema era idêntico, sem outras variações do que o local e o idioma. O mais curioso é que muitas daquelas anedotas, e outras mais de adultos, já se contavam em tempos do Império Romano, como se verificou em textos latinos daquela altura.

Outras historietas eram mais actualizadas. Uma delas, que encaixa no texto previsto, tinha como argumento a desejada atenção hospitalar personalizada. Conta-se depressa. Um dia o magnánimo ditador Franco, que mandou cunhar moedas de circulação extensiva, com o seu egrégio busto rodeado da legenda Caudilho de Espanha pela Graça de Deus. Há opiniões para todos os gostos.

Pois “um belo dia”, certamente por ter sido iluminado pelo Criador, decidiu visitar um hospital militar. Já numa enfermaria com uma longa fileira de camas, todas ocupadas. Chegou-se ao primeiro acamado e perguntou se estava a ser bem tratado. O paciente disse que sim, meu Caudilho. Como? Inquiriu. Tenho hemorroidal e de manhã e à noite vem um enfermeiro e pincela com tintura de iodo, meu Generalissimo. Precisa de alguma coisa? Não meu Generalissimo, está tudo bem.

A cena repetiu-se exactamente igual em todas camas e seus pacientes. Mas quando chegou à última, lá para o fundo, o diálogo foi outro. Franco, já sabedor das respostas que recebia sempre iguais, quis fechar a visita perguntando se o doente precisava de alguma coisa. O soldadinho respondeu que gostava de ter um pincel só para mim.Como? porque? É que eu tenho anginas muito inchadas. Manias!

Outra história que nada a liga ao tema do dia, mas que mereceu ser citada pelos seus fortes indícios de ser falsa. Ser apócrifa não impediu a que seja citada com frequência. É aquela que atribui à emperatriz consorte Maria Antonieta, ou mais propiamente pouca sorte se atender ao seu futuro imediato, que sentindo-se molesta por uma gritaria inquiriu o que gritavam aquelas pessoas, mais maltrapilhos do que outra coisa, ali mesmo em frente do seu palácio, foi esclarecida que pediam pão. Dizem que de imediato respondeu. Se não tem pão, comam brioches.

Minutos atrás, vendo que as abelhas não deram sinais de presença, activa, nas nossas poucas árvores de fruto, e recordando como, já bastantes anos antes, o meu filho segundo tomou a iniciativa de substituir estes abnegados insectos, fui procurar um pincel macio e dei a volta ás flores, sem atender se a espécie arbórea era a mesma, pois que admiti as abelhas voavam mais procurando polen abstendo-se de considerar se as flores eram ou não parentes entre si.


Quanto a idosas não ponho nada. As utilizei para dar um pouco de morbo ao cabeçalho. Desculpem, se forem capazes e se sentirem vocacionados a ser benévolos.

domingo, 12 de março de 2017

LIBERDADE DE OPINIÃO



Quem cresceu desconfiado carrega a noção, quase um aforismo, que alerta Aquele que muito grita não tem toda a razão, ou mente muito.

Um dos temas que recentemente ocupou muitas entradas de comentaristas, a maioria dos quais adictos ao sector dos “ofendidos”, tem sido o do veto da efectivação da importantíssima palestra. Com este gesto proporcionaram com o que se ofereceu um valor desmedido ao conteúdo, pois que conhecendo o passado e o recente do palestrante, sabia.se com antecedência o que dali sairia, e por isso não merecia tanta importância.

O que de imediato saltou á ribalta foi considerar a anulação, por pressão de um grupo de oponentes pouco astutos, como sendo uma terrível ofensa, ao nível da famosa lesa-majestade. Seja qual for o ponto de vista e apreciação do sucedido, é correcto denunciar ter existido uma intromissão abusiva que, sem dúvida, interferia com o direito universal de poder expor as suas opiniões. Um dos valorizados dogmas da democracia.

Apensa à denúncia de um abuso partidário (por parte dos não conservadores), exagerando o não assunto, veio a denúncia, dada como factual, que com esta nega vinha a introdução da censura política. É um empolamento sem sentido, que só se pode apreciar como mais uma das deturpações a que nos habituaram os políticos desejosos de barulho.

Um dos meios em que se introduziram, de imediato, os opositores ao governo actual, foi o das ditas redes sociais, ao estilo do facebook. Espaços estes donde proliferam notícias falsas, baboseiras sem valor algum, bisbilhotices e a oportunidade de muitos se mostrarem à janela, e assim imaginar que, de repente, ficaram “colunáveis”. É precisamente por estas características que estas redes constituem um dos sitios escolhidos para colocar propaganda política.

Logo de entrada podemos recordar que são os governos totalitários, seja qual for o estandarte com que se apresentem, os que, de imediato e sem fissuras, blindam a comunicação, censurando tudo quanto julgam poder ser prejudicial aos seus interesses. Incluída a quase desaparecido serviço epistolar, em carta fechada e dirigida, pessoalmente, a um cidadão determinado. Sendo assim os que hoje clamam por terem sido alvo de censura, SEMPRE censuraram tudo e todos quando atingiram o poder absoluto. E os outros, os que são qualificados como sendo de extrema esquerda não escapam da mesma regra.

Daí que acusaram-se uns aos outros pelo crime da censura política é algo que me recorda a história que referia um diálogo entre uma panela de três pés e uma sertã, enquanto estavam na lareira em serviço. Alternadamente uma dizia à outra: afasta-te, que me mascarras (sujas, emporcalhas)


PARIU UM RATO?


Durante décadas era habitual ler e ouvir dizer, quando uma ameaça ou uma iniciativa que prometia vir a ser um acontecimento de grande magnitude, não atingia os seus propósitos, como sucede na maioria dos casos, morria à nascença. Desaparecia do mapa como se um vento, nem sequer muito forte, o tivesse levado para além do horizonte. O fecho vinha com a frase afinal a montanha pariu um rato. A evolução do linguajar, mais a vaidade, tonta, de aceitar a colonização dialéctica do ingles, sempre predisposto a gastar poucas letras ou ainda menos força pulmonar para falar, também aqui introduziu a sua semente. Daí que agora limitam-se a dizer: foi um flop.

Além da verbalização dos fracassos e também de algumas excelentes ideias que, por falta de oportunidade, recursos ou da incapacidade das tornar visíveis e apreciadas pela sociedade, morreram solteiras, e até virgens a 100 %, fica a esperança, ou ilusão sem base, de que podem ter a sorte de, mais adiante, renascer com mais sorte e ímpeto.

Esta croniqueta, que desejo conseguir que fique curta, foi motivada pela sensação recebida através dos meios de comunicação, de que apesar do esforço ingente que alguns cidadãos fizeram, a tentativa de criar um clima de instabilidade social, passível de, com o auxílio do sector mais conservador, se tornar uma força de opinião imparável, e em consequência, o germe de um movimento que pudesse efectivar o almejado retorno ao passado, não colou.

O alarme, para quem sentiu os sinais, não se efectivou. Não sei se felizmente ou simplesmente porque a nossa sociedade atingiu um nível de consciência colectiva que, quase impossibilita o embarcar em tretas, que só podiam beneficiar uma parcela muito diminuta do total.

Seja qual for a razão deste desinteresse social é bom que, pelo menos aqueles que ainda pensam pela sua cabeça, não durmam sobre os louros. Os saudosistas existem, e geram novas gerações qualificadas. E, como se sabe, não mudam de parecer e de vontade para tomar as rédeas. Se esta tentativa de agitar as águas e conseguir que os lodos do fundo, ao serem puxados para a superficie, as deixassem turvas, facilitando as suas movimentações, voltarão a tentar, uma e outra vez. Moem-se e não desistem.


NOTA FINAL: O que denuncio aplica-se, como é evidente, a ambos extremos do quadrante partidário. Podem enfeitar o seu ramalhete à sua conveniência, mas o propósito final é idêntico.

sábado, 11 de março de 2017

GRUPOS MAIORES DE DOIS



A frase mais correcta era a que se dizia, denunciando a situação mas dando-lhe um ar de gozo, quando do ministério que coordenava o sossego público era emitida a ordem, que se fazia obedecer à base de pancadinhas gentis de cacete, na que se estipulava ESTÃO PROIBIDOS AJUNTAMENTOS DE MAIS DE DUAS PESSOAS.

Uma ordem com uma enorme dose de bom senso, mas que, levada ao extremo, inclusive podia penalizar aqueles respeitosos passeios de um casal de namorados, incipientes e obedientes das normas sociais vigentes, que tinham que aguentar com um “pau de cabeleira” e assim, sendo um trio, arriscarem-se a ser vistos como um núcleo de perigosos contestatários.

Os mandatados, ou noutros casos evidentes usurpadores, sempre são cuidadosos no que respeita a manter a malta sossegada, e sabem perfeitamente que só devem permitir aglomerações quando organizadas e rígidamente controladas pelos seus colaboradores. Mesmo assim sempre existe o risco de que aquilo, apesar de bem montado, possa derivar numa manifestação reivindicativa. Por isso aplicam esmeradamente a máxima latina divide ut regnes, que podemos traduzir em Divide e reinarás, ou vencerás.

Mas na vida real dizemos, com demasiada frequência, que os assuntos são como as moedas, que têm duas caras. O realidade nos mostra que podem existir mais opções do que a simples dualidade. Por esta causa se encontram locais de entroncamentos nas redes viárias que se inicialmente ficavam conhecidos como os quatro caminhos, hoje, para satisfacção dos empreiteiros e dos que imaginaram e adjudicaram as obras, estão transformados em rotundas. E são tantas que podem causar transtornos de equilíbrio, vulgo tonturas, aos pacíficos condutores.

Estas considerações acerca dos benefícios da dispersão dos cidadãos levaram-me a ponderar como os autarcas encontram soluções alternativas, sempre visando o bem dos seus munícipes, dizem eles.

É evidente que a gestão de uma grande urbe deve implicar desafios de porte. E daí a possibilidade de promover acções, nem sempre entendidas por todos os munícipes que se sentem afectados, cuja implantação originam contratos com montantes avultados, não negligenciáveis. Daí que o cidadão com tendência a pensar mal do seu semelhante, ou desgostoso, até invejoso por não ter as mesmas oportunidades, imediatamente aplica o ditado popular que avisa quem mexe com azeite sempre unta os dedos.

Sendo assim é natural que surjam denúncias de favoritismo, compadrio ou mesmo corrupção activa e passiva, em todos os departamentos onde se adjudicam encomendas. E mais nos casos em que os montantes são tudo menos insignificantes. Falso: mesmo na compra de agrafes ou papel higiénico, entre outros materiais de consumo, há luvas a distribuir. SEMPRE.

Nas autarquias de menor importância, sob o aspecto demográfico, as coisas funcionam de igual modo? O caso mais notável é, tomando o cabeçalho desta crónica, é aquele em que os eleitores do concelho, além de serem poucos, estão dispersos e entretidos com as suas tarefas. De facto estão muito condicionados pelo seu modo de vida.

O responsável autárquico nesta situação tem que aplicar a técnica dos carecas não totais, aqueles em que lhes restam umas farripas laterais. Sem se preocuparem com a figura ridícula, tentam falsear distribuindo com sumo cuidado aqueles longos cabelos, quase que solitários, de modo a que viagem de um lado para outro e disfarcem aquela calvicie. Para nossa satisfacção são cada vez menos estes ilusos. Alguns dos penalizados pela alopecia optam para o corte radical de toda a pilosidade craneana superior.

Então o autarca, desejoso de conseguir adquirir uma imagem de ser prolífico em iniciativas, e paralelamente melhorar as suas contas bancárias, tem que se esforçar em contratar a construção de rotundas, piscinas, poli-desportivos, bibliotecas, centros de convívio, museus e outras obras que estejam na lista do que se admite possam ser financiadas por fundos que raramente controlam a execução e os custos. Mesmo que a experiência mostre que, depois de apresentadas as contas, muitas desta obras ficam fechadas por falta de interesse da população. Não importa. O importante é lançar novas despesas.

A lista de iniciativas pode ser muito extensa, e ele, o cabeça eleito, se encarrega de contratar um grupo de colaboradores, sempre em aumento, que o ajudem com novas ideias brilhantes, e rentáveis. Nestes concelhos, à falta de contratos milionários, e por terem a experiência da ruralidade onde estão inclusos, aplicam a máxima da galinha em liberdade parcial: Grão a grão enche a galinha o papo.


Nestes concelhos, com população dispersa, não é necessário agir no sentido de castigar ajuntamentos com mais de duas pessoas. Pelo contrário, convêm incentivar aglomerações, a ser possível de forasteiros, que raramente podem ter reclamações da mesmo índole das que preocupam ao cidadão residente. Incitam os que chegam, seja de longe ou de perto, e não tardam em partir, satisfeitos e enganados. 

O autarca perante aquilo que lhe chegue, com carácter incomodativo, pode optar pela lição dos três macaquinhos, sabendo que o reclamante vai esquecer enquanto aguarda, iludido, por uma resposta positiva. Palavras leva-as o vento.

sexta-feira, 10 de março de 2017

É SINTOMÁTICO



O ter vivido algumas décadas, e lido bastante, além de dar atenção às conversas em família ou com alguns (poucos) amigos, proporciona uma bagagem de vivências de que podemos lançar mão quando surge a oportunidade.

Já referí, em escritos anteriores, que existe uma pressão evidente para criar um novo PREC, mas desta vez orientado para o outro lado. Promete, caso não morrer à nascença, ser tão desagradável como o anterior, ou mesmo pior, pois que se este pegar de estaca e atingir aquilo que os seus promotores desejam, voltaríamos à época do oscurantismo.

Sinto que, mais uma vez, tenho que deixar bem clara a minha convicção acerca de quão prejudiciais são, para a sector mais tranquilo e cumpridor da sociedade. Tanto faz que sejam uns ou outros os que tomem o poder com a força e determinação que desejam. Se uns são maus os outros não são melhores. Por isso, usando o tom de brincadeira que prefiro para retirar emotividades desnecessárias: No meio está a virtude, e também o deboche, a pouca vergonha e até os jogos inocentes.

Mas o que pretendo explicitar é que, curiosamente, são sempre os mesmos que, com o propósito de cativar os simples, os incautos e pouco sabedores, utilizam SEMPRE, como sendo da sua exclusiva propriedade os símbolos e discursos patrióticos.

Reparem, se estiverem para isso, como Mussolini, Hitler, Franco e Salazar, para só referir alguns dos que mais podem ter ficado na memória dos portugueses, sempre se apoiaram em versões manipuladas da história e, logo de seguida, afirmarem, sem o mínimo pudor, que eles eram os valentes e abnegados cavaleiros que voltariam a dar a importância e o brilho que merecem, não só a Pátria, como à Nação, o País, à bandeira e tudo aquilo que encontrem e pensem que merece um afecto profundo, sem mácula a qualquer cidadão de boa índole. Sempre foram capazes de vender a própria mãe se isso lhes desse algum proveito.

O impulso para o exagero os leva, quase sempre, a recuar a épocas passadas, já esquecidas e fora do ambiente em que vivem os cidadãos da actualidade. Por isso não nos admira que a bandeira a respeitar e beijar seja à da monarquia, dado que a República, e a Democracia que lhe está associada, são regimes a derrotar e mandar para as profundezas dos infernos.

Se aceitarmos esta manipulação do imaginário colectivo pelos mais conservadores, aqueles que se lhes opõem parece que ficam órfãos totais. Para eles, que são a escumalha social, e outros epítetos mais desagradáveis que constam das diatraves do conservadores, são gentes sem Pátria, que nem sequer merecem ser vistos como portugueses, e nunca respeitáveis. 

Só lhes deixam o punho alçado, as bandeiras vermelhas e os tumultos de rua. Evidentemente nunca esclarecem quem são os provocadores, voluntários ou contratados a soldo, que sempre se encarregaram de criar os tumultos que prontamente, os tais organizadores ocultos, se encarregaram de exigir, em vociferação bem alta, que deviam ser rápidamente e de forma exemplar reprimidos, para "bem da sociedade". Leia-se, com bastantes mortos.

É curioso que gentes que se consideram como educadas, e até demócratas (?) pensem assim, e que estejam na predisposição de afirmar, sem reflectir, barbaridades do estilo de Nós ou o dilúvio.


Com imensa tristeza afirmo que a história mostrou como estes extremistas conduziram a sociedade donde se instalaram para infernos bíblicos. Que tanto os das águias imperiais, ou variantes bem conhecidas cá na casa, como os do punho fechado, são selvagens sem escrúpulos, que nascem e crescem sem que os bons cidadãos sejam capazes de eliminar este basilisco enquanto é tempo. Um autor, merecidamente conhecido, identificou esta génese destruidora como sendo O OVO DA SERPENTE.

quinta-feira, 9 de março de 2017

INSENSATOS



Duas meias dúzias de loucos, apoiados por uns velhacos que são apologistas do quanto pior melhor, estão procurando instalar um clima de confronto neste País que já se habituou, com agrado, a viver em paz e sossego. E estes insensatos agem no seio dos respeitáveis cidadãos que preferem uma vida tranquila e sem sobressaltos, com trabalho e o rendimento merecido que lhes corresponde.

Uns, instalados num governo complexo, engendrado pelo actual cabeça do Partido Socialista, mantiveram-se sossegados até o momento, aparentemente satisfeitos com a recuperação de parte dos recortes que foram impostos pelos credores. Sem hesitação sentidos como o reflexo inevitável aos disparates cometidos por diferentes governos, numa sequência de aventuras e decisões sem sentido de estado, ao que se juntou o conhecido lema de Fartai vilanagem!

Hoje, já imaginando que estão “libertos das grilhetas” os da esquerda, felizmente mais caviar do que de açorda, mostram os dentes. Admito ser possível que mais para fazer de papão do que por convicção, pois aqueles que sabem como está a economia não deixam de ser conscientes de que o panorama não alberga brincadeiras nem abusos.

Os outros deram carta branca aos saudosos, que anseiam por retomar as tácticas dos caceteiros de má memória, e que tanta desgraça deram a Portugal, e que, incitando a população ao medo e incerteza, propiciaram o derrube efectivo da República, instalando uma ditadura que manteve, nominalmente, o título de República e até de um Presidente da mesma, se bem que a governação esteve sempre sob o comando absoluto do Presidente do Concelho.

Alguns jovens universitários, conscientes mas não totalmente astutos, viram, com razão, que a tal conferência formava parte dum esquema para juntar saudosistas. A formação dos auto-qualificados de Restauradores de Portugal, ou coisa parecida, fizeram uma jogada de mestre. E os que se opuseram caíram na ratoeira. Vimos como era indiferente deixar que a palestra tivesse lugar ou conseguir anular a iniciativa. Os saudosistas ganhavam, e ganharam, em qualquer uma das opções. Tinham as parangonas preparadas para inflamar os espíritos mais crédulos.

Falta ver se, dentro dos que não vêem com bons olhos uma governação de esquerda, que inicialmente se poderia qualificar de desnatada mas que sente-se ter elementos, também eles, com a mente destrambelhada, haverá gente sensata que não esteja a dormir, e se comportem com decisão no sentido de não darem hipóteses a loucuras. Devemos confiar em que a sensatez prevaleça e assim consigam travar as provocações sem sentido, no seu campo.

O mesmo se pode pensar a respeito do grupo de republicanos não socialistas e afins. Devemos fazer figas para que tenham coragem e força de persuasão para recolher, e neutralizar, os activistas que se mostram desejosos de mudar os ventos da história.



É muito importante que se mantenha vigente a democracia, que para se conquistar implicou bastantes penas e dissabores, pelo menos para aqueles que puseram a sua vida em jogo pensando no bem comum. A instalação de um estado totalitário, seja da esquerda ou da direita, não seria benéfico para uma Nação que, de facto, está com a economia abaixo da linha de água. Mesmo que o cidadão não sinta. Mas a dívida impagável (?) constitui uma espada de Democles sobre as nossas cabeças.