sábado, 4 de fevereiro de 2017

QUEM NÃO SE SENTE ...


Na sequência (mental) do escrito que editei sobre a memória que merece um nosso amigo falecido; que foi durante uns tempos autarca de Oeiras, um dos municípios mais importantes do País, fez com que viessem à flor da pele alguns pensamentos pessoais, ligados com aquilo que verifiquei e li acerca de como funcionam as autarquias locais, nomeadamente nesta época de “boa vida e progresso tecnológico”.

Imagino que os meus pontos de vista não serão exclusivos. A simples ideia dos milhões de cidadãos que existem em Portugal faz com que não me possa considerar como um exemplar único.

A minha relação com as autarquias, seus departamentos e até com alguns presidentes foi, sempre, da minha parte norteada pelo interesse em estabelecer uma colaboração sincera e biunívoca entre eleitores e eleitos. Sempre, ou quase sempre, pelo menos interiormente, mantive a ilusão de que a autarquia era eleita no intuito de servir a cidadania da melhor forma possível. Que devia ser transparente e isenta nas suas decisões. E que devia manter, constantemente, uma ligação directa com a população.

A realidade mostrou que os autarcas, ou alguns deles (será a maioria?) optam mais por agradar e servir os seus apoiantes e aqueles que lhes podem proporcionar alguma promoção mediática. Sem esquecer as suspeitas de que juntam o útil ao agradável quando também se podiam proporcionar benefícios pessoais de qualquer tipo.
actualidade
Este sentimento, que cada dia se vê ser mais geral entre a população, excepto, como é lógico, entre os seus companheiros de partido e mais todos aqueles que dependem da sua boa-vontade. Uma situação de índole humana, quase que inevitável ou difícil de aderir, mas que se incrementou com o advento da democracia parlamentar e a rotatividade dos principais partidos. A situação contemporânea da governação em nada altera a realidade dos factos. Importante é ter a noção de ter atingido uma situação calamitosa e abjecta.

Insistindo nas memórias do que vivi directamente, e mantendo-me na ilusão de que poderia coexistir com as minhas opções pessoais tentei, e até consegui colaborar, dentro das minhas capacidades, com as autarquias, sem que pretendesse ser objecto de algum tratamento de favor. Verifiquei não só que as sugestões desinteressadas não são bem recebidas, assim como também  que colidem com interesses criados, tal vez porque não prometiam benefícios pessoais aos que decidiam. Quem sabe? É uma hipótese sempre presente neste porco mundo.

Aquilo que mais profundamente atinge o cidadão é quando verifica ter sido enganado, preterido, espoliado por quem tinha a obrigação moral, social e contratual de ser absolutamente isento, e não ganancioso sob qualquer aspecto que prejudique a um cidadão sem poder. 

Mas será que os cidadãos não tem poder? Falso tem um poder muito importante se com ele pretende agir, e conseguir afastar, quem não serve honestamente os seus munícipes. É nas eleições democráticas que reside o poder da população.

Tentando retratar a realidade que nos rodeia sentimos que as eleições estão viciadas. Não porque se façam muitas chapeladas, mesmo que algumas existam, mas principalmente porque os adeptos do mandante em activo lhe permanecem fieis, sejam quais forem os seus motivos pessoais. Ultrapassam e desvalorizam todos os seus abusos. Por isso quem está no poder tem, à partida, um número certo de votos favoráveis. Acrescidos daqueles que estão garantidos pela filiação partidária. 

Quanto à oposição verifica-se que, quase sempre, tem menor capacidade de penetração no eleitorado do que aquele que tudo pode. Finalmente, como todos sabem, existe o mal endémico dos que não querem saber, dos abstencionistas, que após o escrutínio retomam as suas críticas inócuas.


Quem lê os meus escritos sabe que aprecio muitos dos anexins que nos guiaram ao longo de muitas gerações. Um deles diz qualquer coisa como: Ninguém escarmenta com o castigo alheio. Pode parecer uma afirmação inquestionável. Só que a justiça codificada não aceita esta simpleza. Por entender que o que pensa transgredir pode refrear a sua vontade quando via açoitar as costas dum que fora apanhado nas malhas da justiça, dava força à decisão de utilizar o pelourinho. Ainda hoje a reclusão dos condenados não tem como propósito exclusivo castigar o faltoso, mas indirectamente desmotivar alguns faltosos, sejam potenciais ou activos.

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