SITUAÇÃO
ETERNAMENTE CÍCLICA
Portugal
é um pequeno país, belo, interessante e povoado de gente boa,
maioritariamente mesmo boa gente, educada familiarmente e prestável
para ajudar a quem lhes surja pela frente, sempre e tanto que este
desconhecido seja, por sua vez, respeitador e ofereça sinais claros
de que pretende cumprir, nem que seja minimamente, as regras sociais
que se tornaram como código de conduta nacional. Um decálogo não
escrito nem avalado por alguma Assembleia Política.
Mas
(sempre existe um ou mais MAS...) reconhecer a boa qualidade da
maioria das pessoas do País não nos pode esconder o hábito, em
excesso de uso, de atribuir as nossas desgraças, em geral cometidas
por uns poucos mas que afectam à totalidade da população, que sem
dúvida corresponde ao descalabro, esbulho e rapinagem a que, quase
que permanentemente, são sujeitos os bens públicos. Se
todos os que se aproveitam, desmedidamente, dos fundos públicos,
andassem pelas ruas com mascarilha, como os Irmãos Metralha da banda
desenhada, tínhamos uma densidade de máscaras inesperada.
E,
sintomáticamente, os mesmos que são, de facto, os culpados da
pobreza endémica deste agradável País, se encarregam de propalar
aos quatro ventos a imposição de normas de conduta económica, por
parte daqueles a quem pedimos ajuda para não nos afogar nas águas
alterosas dos nossos heróis do passado, que, segundo afirmam os
nossos concidadãos falantes, são as responsáveis do perda de
capacidade económica própria e daí a constante queda ao abismo, em
vez de poder tratar de tu-a-tu os nossos “parceiros” credores. Em
verdade, os ignotos e habitualmente desconhecidos irresponsáveis da
eterna desgraça, não necessitam de se colocar à janela dos Paços
do Concelho para denunciar o “dragão” que nos devora. Há
sempre uns mandaretes que se encarregam disso.
Para
a tarefa de “elucidar” a população, mais ou menos crédula,
sempre encontram papagaios que, a troca de um punhado de "limpaduras" sem préstimo, se encarregam de catequizar o cidadãos com os mesmos
argumentos de sempre. E assim o ciclo mantém-se em perpétuo
movimento.
Já
devemos estar mais do que saturados, fartos até o vomito mental, de
ver e ouvir que muitas das nossas penalidades foram ocasionadas pelas “condições draconianas” que nos impuseram aqueles a quem
fomos pedir ajuda. Os desqualificamos como serem uns carrascos que
impuseram a troika que nos subjugou. Sem nunca, ou só
raramente, confessar que foram as nossas manias de grandeza, os
desvarios de imaginar sermos capazes de novas Mafras e do conseguir
um renascimento imperial, sem os alicerces de suporte indispensáveis,
que nos empurraram para projectos que, desde o papel já se via terem
um peso excessivo para as nossas forças.
Os
sucessivos mega projectos, desde o Centro Cultural de Belém, -que
nunca se terminou e se entregou de mão beijada a um especulador
atrevido- e depois nas sucessivas maravilhas que nos
deviam encumbrar ao topo da fama, como foi a Expo. Nada se aprendeu
nas costas alheias, mesmo aqui ao lado, com a Expo de Sevilha e a
espampanante Nova Valência. Não senhor, nós tínhamos estofo (sem
dinheiro...) para muito mais, e em simultâneamente encher os bolsos
dos urubus que incitavam as decisões que os iriam beneficiar.
Ou
seja, periódicamente nos libertamos do síndrome de honradez que
carregava Egas Moniz, e os seus familiares, quando vestidos de burel
foram prostrar-se perante quem os podia ajudar. Não se quer voltar a
este passado. Agora a soberba da ignorância cristalizada na
modernidade, que nos passará ao largo, como tem acontecido
habitualmente, já nos iluminou com a Web Summit, seja lá o que isto
for. Novos projectos, novas profissões, novos horizontes radiosos se
ergueram perante os olhos maravilhados. Entretanto organizam-se novos
fogareus, novos espectáculos para encandear a população, e, mesmo
que existam os alertas, insistentes, sobre o facto de que as contas
públicas não passam de uma manta de retalhos, sempre mais curta do
que a cama, a população não sabe como reagir.
A
cidadania está totalmente condicionada pelo consumismo induzido e
pelo “desporto rei”. As dificuldades económicas de muitíssimas
famílias não encontram um prego a arder onde se possam agarrar. Os
que dizem estar dispostos a ser seus defensores, os que denunciam
constantemente, não mostram a coragem nem a credibilidade que os
torne paladinos do população adormecida.
Por
sua vez, a personagem omnipresente que tem o dom da ubiquidade, dos
sorrisos, dos abraços e falinhas confortáveis, pertence ao restrito
grupo dos dominadores. E por mais teatro que faça não passa de mais
uma personagem de revista, e como tal, de efectividade nula, efémera,
mesmo que permanentemente presente. Desculpam-no com frases do género
das que se usam para disfarçar o mau comportamento dos meninos
traquinas: Já sabem que “ele” é assim.
No fundo o máximo representante da
cidadania em pouco difere da que fazia o falecido Almirante, também
pessoa educada e membro do clâ. E assim estamos. Sem rei nem roque
que tente dar uma reviravolta neste eterno desvario que comanda um
País de sonhos. Não admira, portanto, que existam muitos cidadãos
que, esquecendo as singularidades que o tornaram detestável, sonham
com o regresso do novo Dom Sebastião, hoje imaginado, qual fantasma, pelo desaparecido ditador Salazar.
Não podemos culpabilizar a
insensatez dos que desejam regressar a passados já mais do que
gastos e irreais nesta actualidade que nos rodeia. Os estômagos
vazios -metafóricamente escrevendo- sempre geram sonhos de
mesas Pantagruelicas, que, fatalmente se esfumam quando tratamos de
as concretizar.
Resumindo: FALTA UMA PERSONAGEM,
CREDÍVEL, QUE NOS APONTE PARA O CALVÁRIO QUE TEMOS QUE SUBIR, mas
com a promessa solene, de que tudo fará para travar a inevitável
matilha de hienas e urubus que estão ansiosos de devorar o pouco
que resta.