Mais
difícil é decidir
Todos
nós, como humanos que se prezam, instintivamente sentimos vontade de
retorquir, criticar e até, raramente, de apresentar opções que
consideramos serem favoráveis. Felizmente não demoramos a
ponderar, aplicando instintivamente a nossa visão pragmática de
sentir, mesmo que lamentando, não ter possibilidade de as levar à
practica. E assim ficamos livres para continuar a dizer pestes,
cobras e lagartos, sobre as decisões perniciosas que tomou aquela
personagem que criticamos.
Convém
ter sempre presente uma máxima bem antiga, que já nos acompanha
desde a antiga “democracia” grega. Alerta acerca da
impossibilidade factual de agradar em simultâneo a Gregos e
Troianos. Mais conhecido e popular por também dar fé da
impossibilidade de satisfazer a todos ao mesmo tempo é o rifão Sol
na eira e chuva no nabal.
Só
aquele que já teve que decidir sobre assuntos complexos, que atingem
diferentes grupos de pessoas, seja directamente ou por via de
repercussão posterior, previsível ou inesperada, é que mesmo que
discorde de certas decisões, opções, distribuição de fundos
públicos ou qualquer outra actuação do governo, é provável que
não demore a pensar que não desejaria estar no lugar de quem
comanda.
Descendo
à Terra, ou seja, analisando a vida real e restringindo o nosso
horizonte ao que hoje temos como estrutura de governo, ou seja uma
República parlamentar com marcações predefinidas para a realização
dos comícios para diferentes eleições, é fundamental saber que a
maior parte dos grupos partidários, e até dos candidatos
individuais, raramente dispõem de fundos suficientes para poder
financiar as suas campanhas. O normal é que peçam “donativos”
ou contraiam empréstimos junto de entidades bancárias.
E
aqui que surge a canga de compromissos monetários, onde reside a
mais deplorável pressão para quem é eleito, já que a noção de
não há almoços grátis, é recordada de imediato quando se
elaboram os programas de governo e, em consequência, o orçamento
geral do estado.
Estas
competições políticas entre partidos induzem a existencia de
analistas para ponderar as possibilidades dos mais importantes
concorrentes. Após uma selecção prévia já se prevê quem pode
ser o vencedor, sem desprezar alguma surpresa. O habitual é que se
tenham concedido empréstimos a mais do que um dos partidos
concorrentes. Sem ficar no clássico preto-no-branco o escolhido será
pressionado a pagar a totalidade, se não com dinheiro vivo será
com a concessão de negócios chorudos, que se supõe não só darem
o retorno à entidade financiadora mas, também, que alguma
compensação seja oferecida a quem tratou da adjudicação.
Este
esquema, que pode parecer irreal, ou especulativo, vai ser
acrescentado pela voracidade de uma longa fila de interesseiros, num
espectro muito amplo e abrangente. Nesta lista entram familiares,
amigos, colegas e outros que não deixam de se manifestar como
merecedores de “uma atenção” dados os compromissos, não
assinados, que entre eles existem.
Sem
pontuar, porque se admite ser uma situação sempre repetida, é
fácil discorrer que os dinheiros públicos escorrem dos dedos como
se fosse areia seca. Imaginar que um orçamento público possa
funcionar de forma blindada contra pressões ocultas, mas sempre
existentes, mesmo que umas mais potentes do que outras, é uma utopia
impossível de conseguir.
Esta
doença interna, sem remédio possível, deve ser a razão de que
algumas pessoas a quem se lhes ofereceu um posto importante, com um
poder de decisão que sente ser previsível terá pressões e
compromissos que lhe podem ser inaceitáveis, apresente uma desculpa,
mais ou menos plausível, para não aceitar o lugar. Ou no caso de
cair na armadilha por ingenuidade, quando sentir que não pode fazer
o que lhe empurram, bata com a porta.