terça-feira, 28 de fevereiro de 2017

CONTINUO PENSATIVO


Não posso dizer que preocupado porque considero que tal opção implica pensar, afincadamente e com alguma possibilidade de intervir, concisamente, com o propósito de encontrar a forma de resolver esta situação, coisa que, infelizmente, não acontece. Mas penso, como o burro que pensando morreu.

Os fortes indícios de ser este um do tais problemas que escondemos debaixo do tapete, mas que sem dúvida já bate à porta da faixa temperada do hemisfério norte. Apresenta dificuldades que são valoradas como insuperáveis. Baixamos os braços e continuamos sossegados, sem fazer o mínimo esforço para o evitar. Pelo menos se atendemos à necessidade de seguir preceitos éticos. Se deixarmos de lado os preconceitos então a música será outra. E anda-se neste sentido.

Quando surgem epidemias que prometem dizimar multidões, tais como o AIDS, o Ebola e alguma outra que não me ocorre, é provável que muitos cidadãos avaliem, cinicamente, estes flagelos como benéficos caso a maioria das vítimas mortais sejam indivíduos radicados em países do terceiro, ou quarto, mundo. Habitualmente, porém, sucede que seja por questões humanitárias ou por receio de que o perigo viaje até os nossos territórios, acontece que surgem estudos, medicamentos e equipas de intervenção que, deslocando-se até os locais com focos mais graves, procuram debelar o perigo.

Assim se fez, mesmo que depois surjam novos casos isolados que não causem alarme, com a varíola (que parece ter sido debelada totalmente), a tuberculose (a reaparecer com alguma intensidade), a lepra, o cólera, a febre amarela e outras doenças que tanto podem ter a sua causa primeira na deficiente alimentação, pobreza ou mesmo miséria absoluta, como da insalubridade do ambiente em que vivem, nomeadamente se no ambiente tropical, propício à multiplicação, mutações espontâneas e difusão de bactérias, virus e micróbios, auxiliados por vezes por animais encarregados de transmitir os agentes patogênicos.

Mas nem sempre os males que dizimam as populações autóctones são devidos a doenças, muitas migrações são provocadas por guerras provocadas ou abastecidas com armas vindas de países do primeiro mundo. As indústrias que fabricam e exportam armas, mesmo que seja uma parte do seu total, habitualmente o fazem através de circuitos labirínticos, tão pouco identificados como os da transferência de grandes somas de dinheiro.

Para o cidadão comum, entendendo por isto aqueles que não entram nestes negócios, pode parecer-lhe que a solução é simples: Proíba-se o vender armas a terroristas, facções que pretendem ocupar o poder ilegítimamente, abastecer as mafias que dominam muitas áreas do vida comunitária, etc. Impossível. Como poderiam funcionar tantas fábricas de armas e munições se não existisse um consumo constante?

E ninguêm sabe? Ninguém se apiada das vítimas inocentes? Pode ser que em momentos de fraqueza dos governantes e militares (sempre estão metidos neste comércio de armamento) lhes surja um instante de sentido ético. Depressa desaparece. Basta agitar a cabeça e apagam-se aqueles sentimentos pouco produtivos. Se for necessário (?) argumentaram que estas fábricas são indispensáveis para produzir as novas armas, e assim manterem-se na primeira linha. Tretas. O que os move é a ganância descontrolada, tal como a muitos gestores da área pública.

Caso o perigo de invasão, pacífica mas mesmo assim uma invasão, se aproximar demasiado, encontrarão uma desculpa qualquer, das tais que chamamos de esfarrapadas, para enviar tropas ou contratar terceiros que “escarmentem” estes atrevidos. E voltamos a começar.

Um sinal de que estes assuntos estão sujeitos a fortes medidas de censura está, ou deveria estar, presente na memória colectiva. Recordam a denúncia (?) de que as tropas da ONU ou de outros grupos abastecidos pelo ocidente, utilizavam balas carregadas de urânio empobrecido (o urãnio que deixa de ser útil nas centrais nucleares e que não se sabe que fazer com ele. Digamos, o perigo que espreita no tal recinto de recolha de resíduos em Almaraz). Deixou-se de falar nisso.


Mas as balas carregadas continuaram a existir e a ser usadas (a razão é que o urânio é mais pesado do que o chumbo, anteriormente usado para dar a inércia necessária ao projectil, e até são capazes de não só o oferecer sem pagar como inclusive financiar para que lhe deem seguimento). E a semana passada apareceu nos meios -só como um relâmpago pois que não voltou a ser citado- que no conflito da Síria utilizavam as tais balas com urânio “empobrecido”. Tenho quase a certeza que poucos cidadãos ligaram a esta notícia, e menos que recordam a anterior referência.

OSCARS 2017



Embora forme parte de um casal de cinéfilos, moderados, não damos uma importância desmesurada à selecção que a chamada Academia Cinematográfica de Hollywood faz sobre os filmes da época anterior, no intuito de premiar algumas categorias por eles estabelecidas. A selecção recai, como é evidente que assim seja, sobre os seus próprios produtos e, “generosamente” concedem uns escassos bonecos a trabalhos de fora.

É reconhecido que o cinema americano domina a imensa maioria de salas de projecção no ocidente e, por mimetismo, condiciona as produtoras de outros continentes. Entre uma coisa e outra é justo considerar que os critérios aplicados pelos seus críticos e visionadores não coincidam com os que possam ser valorizados noutros países, e assim acontece aqui.

Vem este introito a propósito de que, nos meses que antecederam esta edição de OSCARS, foi bastante notória a especulação, digamos mesmo a previsão, de que o filme SILÊNCIO de Scorsese teria muitas probabilidades de ser premiado. E, nas horas da verdade -um plural justificado por aquilo ter durado mais de três horas, segundo dizem pois eu não esperei- verificou-se que nem sequer lhe atribuíram um prémio menor. Nada mesmo! ZERO ABSOLUTO.

Podemos procurar motivações específicas que motivaram esta “desfeita”. Mas primeiro é conveniente entender que nesta fita o autor apostou com cartas marcadas, esqueceu, e nós europeus também esquecemos, que o argumento não seria valorizado pela noção da fé, especialmente num país em que o catolicismo não é maioritário e nem sequer são bem visto o historial das congregações católicas, nomeadamente dos jesuítas. Sem esquecer que a indústria cinematográfica americana está dominada, desde seu início, pelos judeus americanos.

Além disso o filme em questão, sendo adaptação de um romance de un japonés, denuncia o importante facto de que aqueles emissários da “verdadeira fé” estavam alterando a situação social e de poder vigente naquele País soberano. Sem esquecer, como é apresentado claramente num diálogo, que aqueles missionários eram vistos como os incumbidos de abrir as portas do isolamento voluntário do Japão, e por tabela deixar entrar os comerciantes europeus, naquela altura indesejados pela autoridade, practicamente feudal.

Caso anormal foi o do filme, e antes dele o espectáculo teatral, Cristo SuperStar. O seu êxito e os prémios atribuídos estão justificados por ter sido montado como uma visão sem domínio de uma facção determinada, e portanto aceitável, unanimamente, pelos adeptos das igrejas protestantes.

Por outro lado a situação política actual nos USA induzia, sem dúvida, a que se elogiam ou pelo menos não se deixassem na valeta, as minorias que estavam a ser endemoniadas e inclusive sujeitas a acções de banimento por parte da equipe de Trump. Foi evidente a reacção das gentes da espectáculo, e também dos da imprensa escrita, no sentido de contrariar e até criticar abertamente o seu actual presidente.

A quase total concessão de prémios para o musical pode ser devida a uma tentativa de reviver o já defunto e sem possibilidade de reanimação, espaço dos filmes musicais. Hoje a música dos que nasceram depois das Doris Day e Fred Astaire, entre outros, não os atrai. Suponho que será um fogacho sem continuidade.


O que deixei nas linhas atrás não impede a que exista, mais intenso do que podemos julgar, o racismo e segregacionismo, latentes ou activos entre os elementos brancos da sociedade americana. Um pecado, se assim o considerarmos, também comum na Europa e que, dados os acontecimentos recentes, vai aflorar com alguma intensidade.

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2017

PODE SER O PRINCIPIO



Desta vez não se trata do famoso Princípio de Peter, mas de algo que está acontecendo e que só é visto sob um dos possíveis pontos de vista. Numa análise imediata, sentimos que este fluxo inesperado de migrantes veio na pior altura possível.

De facto os efeitos da crise de 2008 e da desindustrialização, aliada à abertura comercial decidida com o livre comércio, estão longe de terem sido digeridos por todos os países membros da União Europeia. Apesar das muitas declarações de boa vontade e de que se decidiu acolher os refugiados que aqui chegam, a realidade é bem outra. De entrada são confinados em campos de acolhimento, e ali sofrem uma triagem com a qual se consegue justificar o devolver para o país de origem uma parte dos clandestinos.

Vendo as coisas desde longe, dado que Portugal não tem sido um país onde cheguem constantemente levas de inmigrantes. Pode-se sentir que após o endurecimento, ou practicamente fecho, do trânsito de migrantes pelo território turco, o fluxo de sírios e outros cidadãos daquela zona, em direcção às ilhas gregas parece que diminuiu. Alguns deste sírios encaminham-se, agora, para o Egipto e dalí para a Libia. Em simultâneo aumentaram as rotas com início nos países da África sub-saariana, dirigindo-se para as costas da Líbia.

Ali juntam-se gentes de muitas procedências. Após pagarem a sua passagem aos negociantes nada escrupulosos, embarcam sem as mínimas condições, em barcos velhos ou, ultimamente, em barcaças de borracha, mais apinhados do que numa carruagem de metro-politano em hora de ponta.

Estes migrantes africanos actuais são, na sua maioria, provenientes do Sudão, Eritreia, Somália e outros países a sul da faixa do deserto. Metem-se a caminho incitados não só por conflictos bélicos como também por carências alimentares, falta de trabalho remunerado e outras tantas razões. Carregam a ilusão de que uma vez chegados à Europa terão a sua vida garantida.

E esta complexa motivação para abandonar o seu lugar de origem, partir em direcção a um sonho, a um El Dorado, coincide com aquela expansão histórica de milênios atrás, quando os primeiros homens, nascidos na zona austral de África iniciaram a sua expansão por todo o globo. Com a única, mas muito importante, diferença de que aquela migração inicial levou séculos para alcançar locais progressivamente mais longínquos.

Hoje, mesmo que muitos iniciem a o seu périplo literalmente a pé, as distâncias efectivas encurtaram. Tudo acontece mais depressa.

Os governos ocidentais tentam travar esta migração o mais perto da sua origem, procurando que esta acção dissuasora não seja noticiada aos seus cidadãos. Mas, de facto, mesmo que nos sentirmos pressionados pelo humanitarismo e por isso vocacionados a abrir as nossas casas para acolher quem nos quer acompanhar, a realidade mostra que estas decisões humanitárias são muito bem vistas se aplicadas nas casas dos outros.

Pessoalmente ainda não encontrei, ou nem sequer imaginei, uma via factível, correcta e com garantia de sucesso, que possibilite convencer estes migrantes a desistir do seu sonho. Não me parece que encontremos argumentos, socialmente aceitáveis, que convençam os desesperados a desistir. Eles, que sabem arriscam a própria vida neste processo e decidiram que na sua terra não existe futuro, já estão agarrados num sonho.

O que mudou nestes países africanos? Guerras, fomes, secas, doenças, sempre existiram. Outros factores se alteraram. Passaram a ser visitados e ajudados por organizações internacionais humanitárias. Com eles descobriram necessidades novas, indispensáveis para sobreviverem com um mínimo de satisfacção. Passaram a ter assistência médica e sanitária, reduziram a mortalidade infantil; muitas doenças transmissíveis foram debeladas ou muito minoradas nos seus efeitos. Habituaram-se a novos alimentos, que não constavam da sua ementa tradicional. Mais nutritivos e saborosos, e que sendo oferecidos, não implicam o esforço de cultivar ou recolectar. Constituem um maná que não se quer perder. Tudo isto é bom, óptimo e louvável. Mas não podemos esquecer que com estas ajudas alteramos o seu mundo, para melhor, mas com reflexos que não se contava.

Noutra zona do globo, concretamente nos EUA, fecharam as portas de entrada, legalmente ou ilegalmente, dos naturais do México e outros países do centro e sul do continente americano, aos que estavam dispostos a arriscar para melhorar. Já não terão esta possibilidade. Será que desistiram ou procurarão outro lado onde se dirigir. Desde anos que, dada a sua lingua comum, estes hispano-americanos rumavam para Espanha, tal como os brasileiros vinham para cá.


Não será só o fenómeno do aquecimento do globo e o da subida do nível dos mares que alterará as nossas vidas. E nenhuma destas ameaças, já em curso, são novas na história da Terra.

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2017

UM CANCRO COM MUITAS METÁSTASES



Lamento, profundamente, não acreditar nos valores da economia que nos distribuem diariamente. Embora, se olhar pelos cidadãos que encontro nos transportes públicos ou deambulando pelas ruas, fico com a impressão de que o povo está tranquilo e aparentemente satisfeito.

Fica-se com a ideia de que os poucos inconformistas estamos loucos, doidos de meter num manicómio. Salva-nos deste destino o facto de que aqueles locais de reclusão fecharam. Pelo menos os mais conhecidos.

Apesar de estarmos rodeados de pessoas tranquilas e coniventes, nem que seja tacitamente, quase que juraria ue esta aparente satisfacção é efeito da falta de informação. Ou por acreditarem, sem contrastar, em tudo aquilo que nos impingem.

Para avaliar como está espalhado este cancro social em que estamos metidos basta saber, como é nossa obrigação, que os números de emprego, e por reflexo os da diminuição do desemprego, estão viciados pela forma como se fazem as contas. Ali há batota, da grossa! Para já, muitos desempregados deixaram de constar das listas oficiais por diversas razões, especialmente os indivíduos com idade que dificilmente conseguirão um emprego remunerado. Estes desaparecidos por “esquecimento”, que com um excesso de boa vontade podemos considerar ter sido involuntário, o facto é que continuam sem remuneração e sem que as suas capacidades produtivas sejam aproveitadas. E com poucas, ou nenhumas, possibilidades de ver alterada a sua situação de arrumados num canto.

Mas o caso mais grave, não só na actualidade mas, principalmente, pelo futuro que se adivinha, é o da precariedade com baixos salários. As propostas de trabalho temporário sem a mínima possibilidade de poder optar para uma carreira, mas de estar, permanentemente, na expectativa de uma renovação por semanas ou meses, é opão nosso de cada dia para muitos. Ou pior, quando ouve mesmo que a sua colaboração deixou de ser necessária. Um eufemismo para lhe fechar a porta na cara.

É incontestável que, mesmo com esta rotação cruel, podem dizer que há mais gente empregada num dia qualquer. Mas este esquema de contrato, que mais parece uma treta, oferece outra coisa do que a escravidão a longo prazo?

E, pelo que se aprecia, todos os governos que passam pelo País, incluído este da enxertia na esquerda, aceitam sem contestação efectiva esta novidade, cada vez mais habitual extensiva. Os políticos alegam, em sua defesa, que esta situação “anómala” mas já instalada como fixa, foi-nos imposta pela Troika quando estivemos em quebra disfarçada. As vozes que se ouvem discursando na Assembleia da República limitam-se a um blá-blá-blá inoperante, só para figurar nos telejornais e assinar o ponto de estarem muito descontentes.

A gravidade desta situação não fica restrita aos falsos empregos de cada cidadão vitimizado. É muito mais grave, pois além de não se conseguir uma capacitação efectiva nas tarefas que lhe incumbem, e que vão mudar na semana seguinte, as cotizações para a complexa segurança social serão diminutas, ou mesmo inexistentes caso a entidade patronal não cumprir os preceitos legais. Que futuro terão à sua porta estes jovens quando atingirem os 40 e tal anos?

Dizem, os sábios papagaios do regime, que o melhor futuro é aquele que cada um pode conseguir como seu esforço. Ou seja, que passe a ser um empresário individual. Inclusive, de vez em quando e não sei se o esquema funciona, afirmam que existem ajudas monetárias e outras, também importantes, para que os jovens se possam lançar a ser empreendedores. Não contam as dificuldades e exigências com que terão que se enfrentar. Alguns acreditam e metem-se em acção, mas quantos conseguem aguentar mais do que um ano?


E estas são só algumas das metásteses do cancro social que corrói a nossa sociedade. Mas no IPO não podem tratar deste tipo de cancros.

O FADO QUE SE CANTA HOJE



Desde meados do século passado, quando a importância que o fado adquiriu através da publicidade pró-turismo, e mais adiante para o converter em mais um dos assuntos premiados com a chancela de Patrimônio Mundial este cantar, que sem dúvida teve a sua origem, tal como o tango argentino, nas tabernas populares, castiças, frequentadas inicialmente pelos residentes próximos, entre os quais é sabido que proliferaram chulos, prostitutos, vadios, gatunos e inclusive honrados profissionais, principalmente artesãos e operários de construção civil, marujos e estivadores.

Incitados pelo risco de penetrar nos antros da “má fama” surgiram os atrevidos marialvas, que além de fingir que quebravam os tabus da sua classe também procuravam ganhar galões, como conquistadores e malandrecos, caso a sua lábia e a sua bolsa lhes proporcionassem um convívio carnal, esporádico ou com alguma duração, com alguma das fadistas que estavam no topo das preferências da clientela.

Não vivi os tempos da vadiagem extrema, identificada com o bairro alto e mouraria, embora em alfama e outros pontos da Lisboa antiga, as chamadas casas de fado proliferaram como cogumelos. Mas sou do tempo dos grandes nomes que já pediram meças com o cinema. Recordo não só a Amália Rodrigues, como a Hermínia Silva, a Beatriz da Conceição, Lucília do Carmo, Alfredo Marceneiro, Carlos Ramos, João da Câmara, João Braga, Maria Teresa de Noronha, e bastantes mais que lamento não ter o nome presente.

Já no repertório da insigne Amália, e no intuito de descarregar o ambiente triste e lamentoso do fado castiço, especialmente o considerado fado menor, introduziu números de fado-canção, e inclusive algumas espanholadas, como os famosos caracolitos, e algum texto em francês. A Amália mostrou-se uma mulher capacitada para progredir e exímia poliglota.

Dando um salto para a actualidade não consigo dar atenção à maior parte dos artistas que dizem cantar o fado. Em especial a maior parte das meninas que aparecem na televisão e nos palcos onde as contratam com letras e melodias, ou arpejos, que suponha devem levar a ue os fadistas, sérios, do passado e todos falecidos, deem voltas nos seus caixões.


Isto que se canta hoje, ao meu ouvido, como algo abastardado e que comparado com o fado dos anos '50 é como se colocássemos em pé de igualdade uma tipóia com um tuc-tuc.

QUANDO A SOLUÇÃO É BOA, MANTÊM-SE



Na minha cabeça bulen sempre diversos cozinhados. É como aqueles fogões industriais em que se acumulam tachos, panelas, sertãs e outros recipientes, num número que espanta só de imaginar como será possível controlar tudo.

Estas divagações na ante-vigília, causadoras de alguma confusão mental, é possível que também as sofram, com variações próprias, outros bípedes da espécie humana. No meu caso são as horas em ue a alvorada espreita as em que mais colocam em fervura a minha ferve craneana. Mas, após acordar e atender o corpo, o automatismo que cuida da saúde mental faz com que esqueça a maior parte dos devaneios mentais.

Hoje, porém, uma das meditações ancorou com força, e deixou-me na dúvida de se serão muitos os parceiros no planeta que terão observado o mesmo que tentarei relatar.

Sabemos, por muito que escandaliza aos crentes dos livros sagrados, que se formos procurando o fio condutor, recuando para o passado, chegamos, inevitavelmente, já não digo às primeiras células, bactérias e por aí fora, numa sequência imparável, mas podemos estacionar na era dos grandes sáurios, dos quais ainda permanecem, practicamente sem alterações, algumas espécies de crocodilianos.

O que me interessou foi verificar que practicamente todos, se não a totalidade, dos quadrúpedes usam o mesmo tipo de mecânica articular nos seus membros posteriores e anteriores, que entre nós nomeamos de pernas e braços .

É, para mim, muito interessante ver que, apesar de tantas séries de evolução identificadas nos seres hoje presentes, não aparece uma alternativa ao braço, cotovelo e pé, com os ossos intermédios, e das articulações das pernas, com o joelho virado para a frente, como fulcro importante e, pelo que se observa, tão bem conseguido que não sofreu alteração visível.

De donde tinha que aparecer a razão do cabeçalho: A natureza, que não podemos identificar como um ser definido mas sim como uma inefabilidade, quando encontra uma solução que parece óptima, insiste em a manter. O que não acontece com todos os animais, especialmente quando saímos do reino dos mamíferos e outras espécies de quadrúpedes. Como exemplo imediato podemos referir que a estrutura de um corpo com cérebro no topo da coluna não foi seguida unanimemente; ou a visão biocular, entre outras variações.


quarta-feira, 22 de fevereiro de 2017

CATS, O MUSICAL

Hoje apareceu no meu monitor uma versão de cabaret do famoso musical CATS, que se manteve anos em cartaz na Broadway e em Londres. Tive a pouca sorte, mesmo azar, de ver este espectáculo dos gatos falsos no seu ninho, ao vivo e com um grande elenco no teatro de Piccadilly.

Tal como acontece nas operetas, filmes musicais e muita música clássica erudita (?), passam todo o tempo a repetir os mesmos temas, por vezes só um ou dois. O mais famoso neste aspecto de apresentar variações sobre o mesmo tema é o Bolero de Ravel. Como bem explicava o falecido mestre Bernstein às crianças num auditório de N-Y, e posteriormente aqui  o mestre Atalaya. O bom ouvinte deve habituar-se a identificar aquelas repetições, sempre com os temas A, B e podia suceder que até um C, e, quando o compositor já não sabe como encher a pauta para conseguir oferecer uma obra que qualifiquem de nível aceitável, recorrem a umas ligações absurdas que se podem qualificar de “encher chouriços”.

No musical CATS conseguiram que dois dos seus temas se tornassem endémicos, pois que os ouvíamos em tudo quanto era lado. Um enjoo. Aquilo foi uma xaropada que só os parolos alfabetizados (como é sabido o mundo está cheio de analfabetos totais com canudo universitário ou estatuto de pessoa importante por ser rico ou bem nascido) conseguiam engolir. Os outros, tanto neste caso como em muitos outros, sabiam que, em atenção às boas maneiras e ao politicamente correcto, não podiam dizer que o rei andava nu. Tinham ue seguir a maré dos convencidos; e assim fizeram, e fazem quase sempre. Eu, sempre do contra, neguei-me a aplaudir enquanto o resto do público batia palmas freneticamente.

A certa altura vi que uma das bailarinas, mascarada com malha de gato vadio e cabeça com orelhinhas maquilhada a preceito do papel e bigodes pintados, olhava para mim e fazia sinais com a cabeça perguntando o que me sucedia. Foi o que me salvou naquele tédio monumental. Criamos um mudo diálogo com o qual dei a entender que aquilo, para mim, não valia o preço do bilhete (e não era nada barato!). A resposta, sempre em mímica facial e ocular, encolhendo um ombro, foi que aceitava a opinião, mas que... era o seu trabalho.


Continuando o "diálogo" disse que consentia em aplaudir, mas que só o faria para ela. A assim fiz, na seguinte pausa preparada para o efeito. E deram tantas as pausas. Digamos que "mais que as mães". A bailarina agradeceu com um largo sorriso dirigido à minha crítica pessoa.

E, felizmente, terminou o espectáculo. Saimos ordeiramente e nunca voltei a ver aquela rapariga, como é óbvio.


COROLARIO  

Nem tudo o que luz é oiro, nem tudo o que balança cai.


terça-feira, 21 de fevereiro de 2017

MACHO OU FÊMEA



Desde muito novo, ainda criança, tenho bastante dificuldade em determinar o sexo de alguns animais, pois que nem sempre os sinais externos da sua anatomia que indicam o seu sexo estão evidentes, ou dão sinais evidentes através da pele, tamanho e outros pormenores. Penso que não serei único com esta indecisão, e mais se inquirir-mos entre os citadinos.

Recordo uma história que contava um escritor, ganhador do Nobel de literatura, e que era sumamente desrespeitador das normas sociais tanto no seu comportamento, como em todas as facetas possíveis, desde a fala, passando pela a escrita, a política e tudo aquilo que lhe permitisse chocar os seus seguidores. Esta sua característica ajudou a sua promoção, sem que retirasse mérito às suas qualidades de prosador.

Contava ele, como sendo um facto vivido mas que pode ser tão só fruto da sua imaginação, que estando numa sala com o seu avô, ele brincando e o avô dormitando numa agradável sesta, era interrompido sem descanso pelas moscas, muito interessadas em poisar sobre a careca, cara, mãos e braços de quem desejava dormir sem ser molestado. Até que o avô teve uma ideia, digamos que brilhante:

Enrolou o jornal que ainda repousava no seu regaço dando-lhe a forma habitual, quando não há um aparelho próprio, para matar os dípteros. Chamou a criança e lhe disse: a partir deste momento ficas nomeado o caçador de moscas, e terás um prêmio ou remuneração em proporção com a tua capacidade nesta caça. Por cada mosca que me apresentes vou dar-te um tostão.

Quando o avô acordou, feliz por ter dormido uma sesta reparadora, perguntou ao infante sobre o resultado da sua tarefa, e pediu que lhe levasse os cadáveres para verificar e contar. O garoto assim fez, e o avô agarrando uma a uma, apertando o abdômen do cadáver dizia, este é mosco e eu falei em moscas. Este também é mosco, e este outro. E assim todos.

  • Como sabe o avô se são moscas ou moscos?
  • Fácil, quando apertares a barriga do insecto aparece o pirilau, e só os machos tem este pedúnculo. Está entendido?
    O miúdo ficou pasmado e sentiu-se enganado, enquanto o avô ria a bandeiras desfraldadas. Mas contou todos os cadáveres, sem atender ao pretendido sexo, e retribuiu como estava no “contrato”, verbal, mas merecedor de ser cumprido.

A história serve de prólogo ao que me aconteceu num mercado aberto num terreno no baixo Atlas, em Marrocos, nos arredores de Marraquexe, na zona das kasbahs. Estes edifícios, amuralhados e com alturas imponentes no meio de um desert, são dezenas, quase centenas. E não eram só fortalezas mas principalmente armazéns privados de cereais como aqueles silos da EPAC entre nós, e que hoje estão practicamente abandonados.

Circulando tranquilamente pelo tal mercado e sem receio algum, dado o comportamento afável dos naturais, encontrei um rapaz que tinha uma porção de tartarugas do deserto numa caixa. Agachei-me para as ver e agarrar, depois que ele consentiu. E perguntei se podia comprar uma tartaruga macho e outra fêmea, ou seja um casal. Sorriu discretamente como que descnfiando da minha capacidade, e desafiou.me a escolher, à minha vontade, convencido de que só ele sabia distinguir.

Agarrei em várias e vi se tinham as carapaças em bom estado e se estavam vivas. Separei o casal eleito, e o vendedor, depois de as agarrar e fingir que lhes tomava o peso e daí o seu valor, perguntou como é que eu sabia se eram macho ou fêmea. Fácil, tal como tu, da mesma maneira. E como é? Sabes que o macho tem a carapaça ventral côncava e a fêmea convexa. E sabes porque é isso? Então é que ele deu umas boas gargalhadas e insistiu em me apertar calorosamente as duas mãos.

Fizemos negócio, e levei os animais comigo, até Portugal, Era uma época em que as bagagens não eram passadas pelos raios X nos aeroportos e as regras de protecção da natureza eram menos conhecidas e difundidas, além de pouco rígidas para os cidadãos. Hoje podem estragar a natureza e o ambiente as grandes empresas, enquanto que aos cidadãos normais lhes pode cair o peso da lei caso se descuidarem.


Por certo, os dois quelónios marroquinos deram-se bem. Fornicaram como desalmados no seu canto preferido do jardim. Mas faziam uma barulheira escandalosa com o bater das carapaças. Parecia o andar de socas, de sola de madeira, num chão de pedra. E a fêmea, que batizei de Fátima por ser um nome tradicional entre os muçulmanos, pôs dois ovos, que nunca chegaram a eclodir. O macho teve o nome de Hassam, em homenagem ao seu rei.

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2017

FÉ E CORDURA



Aqueles que usam a cabeça para outros mesteres do que aqueles que estão ligados ao seu exterior, e que aproveitam com esmero os sinais recebidos através dos órgãos dos sentidos, visão, olfato, audição, tacto e paladar (aos que se junta a entrada para o aparelho digestivo, que é a nossa caldeira motriz), é possível que consigam algumas ligações entre aquilo que ve e ouve e o seu arquivo de conhecimentos, sejam próprios ou adquiridos.

Das definições que encontramos, escritas e avaliadas, dos dois termos que coloquei como cabeçalho, (ver notas a pé de página) tiramos a conclusão imediata de que existe um risco elevado de incompatibilidade entre ambas.

Para evitar polémicas estéreis (ou "estorís" como eu, jocosamente, prefiro usar) desta vez prefiro deixar de lado todos aqueles assuntos que encaixam no foro das religiões. Tal como se tornou famosa uma frase que Cervantes colocou numa das aventuras do imaginado cavaleiro andante, desencontrado do tempo em que vivía, mas que o escritor utilizou para criticar a sociedade da sua época.

Quando Dom Quixote, numa das suas aventuras nocturnas andava, mais o seu companheiro Sancho Panza, visto por ele como sendo um escudeiro, perdidos na escuridão mais negra, chegaram a uma pequena aldeia e decidiram bater a alguma porta para pedir acolhimento. Sancho assim fez. Bateu num grande portão e o silêncio ecoou dentro. Alonso Quijano, -que era seu nome no BI, que não existia naquela época- podia ser louco, fantasioso, mas não era burro, e pelo eco deduziu o que era aquela casa. De imediato chamou Sancho dizendo, Vamos embora pois esbarramos com a Igreja. Cervantes tinha s suas razões.

São muitos os temas nos que o cidadão pode cair em comportamentos pouco racionais, e em vez disso age com cega fé, com tanta intensidade e convicção que pode chegar com outro fiel, mas com diferente opção, não só verbalmente como a murro e pontapé. Por alguma razão se diz que A fé pode mover montanhas. Só como aperitivo deixo um par de tópicos que servem de orientação: clubes desportivos e partidos políticos.

O que hoje me incitou a escrever foram alguns artigos de opinião, nomeadamente aqueles que vinham assinados por pessoas credíveis, onde se escalpeliza a situação social que se vive actualmente nos EUA. Está em curso uma separação da população entre dois grupos de pessoas, quase que tão forte como a ue deu origem à sua guerra de secessão, mas com características muito diferentes. Criaram-se dois bandos de momento irreconciliáveis, e, com uma deriva muito acirrada que, pelo menos nesta altura, esqueceu as origens do descontentamento social.

Aquilo que é merece mais atenção por parte dos estudiosos é que os adeptos às opções e declarações do seu actual presidente o são com uma fé cega, não tão só à pessoa em si, mas especialmente ao que as pessoas se habituaram a considerar como fontes merecedores de crédito.

Os meios de difusão electrónica, que são o pão para a boca dos entusiastas, e pão para as carteiras dos patrocinadores ou exploradores, além das palermices ue os utentes colocam a fim de serem “mundialmente” conhecidos, são o melhor veículo que dispõem aqueles que desejam distribuir notícias falsas. Os EUA, onde se geraram estes monstros de captar mentalidades, têm um presidente que, além de utilizar a rede twitter como meio primordial para governar o seu País, e por tabela desorganizar o resto do globo, confessa ue estas redes e os noticiários da FOX (considerados como lixo em todo o globo, por estarem viciados em notícias falsas e condicionar a opinião pública, pelo menos entre os seus seguidores) em detrimento aos seus conselheiros políticos, ue sempre foram uma base de debate interno na Casa Branca.

Esta orientação para a fé cega que se espalhou na população dos EUA adquiriu o estatuto de um problema com difícil erradicação. Não é uma fé que se satisfaça com cantar salmos ou participar em cerimónias religiosas. Está organizada, como a seu tempo fizeram Mussolini e Hitler para governar os Estados Unidos a seu bel prazer, provocando a maior desunião social de que há memória. Para mais desgraça as zonas onde residem, com maioria, os adeptos deste populista coincidem, quase que milimetricamente, com as dos sulistas, que ainda hoje não conseguiram aceitar a sua derrota.

O problema maior, e quase insolúvel, reside em que os fanáticos de uma fé, seja ela ual for, fechar os seus ouvidos aos argumentos cordatos que interferem com a sua crendice. Constroem um muro intransponível, mais alto e eficaz do que aquele que, mesmo ue parcialmente, já existe entre os EUA e o México. E ser gobernados por egolatras nunca  nos pode levar a um bom fim.






  • CORDURA qualidade de cordato; bom senso; prudência
  • CORDATO prudente; circunspecto; sisudo. Do latim cordatu.
  • EGOLATRA egoísta; orgulhoso; presunçoso; vaidoso.
  • ESCALPELIZAR figurativamente criticar; analisar minuciosamente
  • FÉ crença absoluta na existência de certo facto; convicção íntima; lealdade.

ACERCA DO ÓLEO DE PALMA

Desde algum tempo andava incomodado com a proliferação de alimentos,manipulados ou manufacturados, onde encontramos referido que na sua composição incorporaram óleo de palma. A razão é que esta gordura é conseguida industrializando a natureza e  poder ser comercializada a preços sem concorrência.

Mas tudo tem o seu lado oscuro. E ser prejudicial à saúde do consumidor até pode ser visto como o menos importante, porque gostamos de doce e de gordura. Para mim, e para mais pessoas com preocupações que ultrapassam aquilo que nos aparece à frente do nariz, é quanto mal tem estado a ser feito pela desflorestação intensiva nas zonas tropicais. Já anteriormente a especulação econômica implantou a plantação de colza com o mesmo propósito, e as multinacionais, donas dos grandes negócios, agem sempre para conseguir mais e mais rentáveis investimentos. EXCLUSIVAMENTE. Os prejuízos causados ao planeta, aos ecossistemas, às populações, à vida selvagem, ao clima, nada disso lhes tira o sono.

Quem ficar alerta com este tema encontrará muito onde mergulhar nos artigos que facilita o Google no apartado sobre males causados pelo óleo de palma. Recomendo o artigo assinado pela investigadora AGNES PIERRET.

E também recomendo que rejeitem produtos onde, na lista de componentes, apareça o óleo de palma ou gorduras vegetais, que é um descarado eufemismo. A nossa saúde e a do planeta global depende da nossa pequena ajuda.

sábado, 18 de fevereiro de 2017

ESTUDOS AFRICANOS



Por um daqueles acasos que a vida nos proporciona conheci, já bastantes semanas atrás, uma jovem que não me importava mesmo nada fosse minha neta. A idade de ambos estão dentro da faixa das possibilidades, embora remotas. Os modos, a educação que mostra sem artifícios, o seu visual, mais a sua atenção e o sorriso com que sempre inicia o árido diálogo profissional, tocou-me humanamente.

Intuí que era estudante e que estava ali fazendo umas horas cuja remuneração -certamente que pouco avultada- a ajudasse nas suas despesas pessoais. Atrevi-me a perguntar onde estava estudando e me respondeu que num curso de estudos africanos. Até aqui chegaram e possivelmente terminaram as nossas conversas e conhecimento pessoal.

Sucede que esta orientação profissional da novel estudante ligou, por mais uma casualidade, com a carreira do meu filho mais velho, que após se licenciar em direito (socialmente seria um dos muitos doutores que por aí anda, dos quais existe uma boa porção que não tem licenciatura alguma e muito menos um doutoramento) dirigiu os seus passos para a carreira diplomática.

Hoje é embaixador num país africano e antes disso ocupou outros lugares na escala, optando sempre, entre os destinos disponíveis, para países dos chamados em via de desenvolvimento. Concretamente na América do Sul e em África. É um conhecedor das características dos naturais desta zona do globo. Mas leva o seu trabalho tão seriamente que raramente, por não dizer jamais em tempo algum, se descai para relatar aquilo que conhece de perto. É sábio e prudente, para meu penar, pois eu gostaria de saber mais do que aquilo que posso encontrar em jornais e noticiários.

Das poucas observações que, num momento de fraqueza, me fez foi que, infelizmente, nem todas as organizações civis que se incluem nas conhecidas ONGs têm um comportamento ético merecedor de respeito; alguns são mesmo uns trafulhas. E é pena.

Entretanto, puxando um fio aqui e outro acolá, é pertinente que uma pessoa, carregada de boas intenções como parece ser aquela desconhecida jovem, saiba o que vai encontrar caso, de facto, rumar para os Países Africanos.

Do estreito de Gibraltar para sul o que existe é uma sociedade ainda no estágio tribal, comandada por uma “elite” onde proliferam todos os vícios das elites dos europeus, e mais algumas próprias dos seus hábitos e costumes ancestrais. Pretender, seja com ajudas de qualquer tipo, com boa vontade, com missionários e tudo aquilo que os forasteiros imaginarem, que seja factível colocar aqueles povos no século XXI é uma fantasia sem pés nem cabeça. Os seus naturais (devia escrever indígenas, pois a palavra corresponde a todo o cidadão que se identifica com o seu lugar de origem e de vida, mas é uma das muitas palavras que se tornou irreverente) que atingiram o poder, seja qual for o método utilizado para lá chegar, incorporam, quando lhes interessa, as roupas ocidentais, os seus costumes sociais, o gosto por automóveis e aviões, casas luxuosas e tudo aquilo que possa parecer que os integram um mundo que não é o seu.

Se por cá já nos habituamos à existência de nepotismo e corrupção, é pertinente não esquecer que estes pecados, e muitos outros, são inerentes aos humanos. Por isso não nos deve espantar saber que, por exemplo, as doações de alimentos, medicamentos e outros bens de primeira necessidade, são desviados e comercializados mesmo antes de sair do seu país de origem, e, possivelmente, com o conhecimento dos doadores, ou organizadores de peditórios, que cinicamente desviam o olhar, porque o importante, para eles, é o ficar bem na fotografia.


Termino com um facto que é arqui-sabido: Em muitos casos, para não cair na tentação de escrever todos, quem dá seja o que for tem a intenção de receber, em contrapartida, muito mais do que aquilo que deu. Continuamos a estar num mundo cão.

METER-SE EM APERTOS



Existe uma diferença abissal entre as duas opções possíveis, entre outras mais que se podem tomar perante temas que nos incomoden. Uma corresponde ao comportamento, que imitando o involuntário autismo, é a de assobiar para o lado, ou seja de um alheamento voluntário a tudo o que possa levar a ficar enlameado. A outra opção, diametralmente oposta, é a de, instintivamente, meter-se em temas que não lhe interessam, ou além de que não lhe deviam interessar estão inquinados pela simples razão de que aquela lama onde vai meter o nariz está recheada não só de porcaria fedorenta, mas também de agentes patogénicos pouco saudáveis.

Dando crédito ao nosso rifoneiro encontro um que se adapta muito bem ao que escrevi no parágrafo anterior. Diz assim: Meter-se em camisa de onze varas. A interpretação literal, que nos leva a recuar para épocas pretéritas, nos diz que corresponde à acção de um clérigo que decidiu adoptar como se fosse filho próprio (em geral era mesmo, mas por vias travessas, por assim dizer) um neófito qualificado como sendo de “pai incógnito”. O clérigo pretendia deixar os bens que fora acumulando ao longo da sua vida de árduo trabalho (?), a alguém que passaria a ser aceite como se, de facto tivesse o seu sangue (?) e por consequência ser seu legítimo herdeiro.

Então, seguindo os costumes, o dito clérigo vestia uma sotaina muito largueirona e agarrava a criança por uma das mãos e. a conduzia, sob a capa da tal camisa de onze varas, até a abertura da gola. Com a outra mão sacava a criança e este gesto corresponde a uma metáfora de parto, de uma gestação impossível mas aceite pelas conveniências sociais da época.

Hoje a interpretação mais actualizada é mais crua e realista. Refere que uma pessoa mete-se em assuntos ou problemas que não conhece em profundidade, além de que não são da sua competência e que não lhe proporcionarão proveito algum.

A outra situação, oposta à anterior, e pode não corresponder a uma opção pessoal, consequência de uma meditação pragmática, pode ser o reflexo de sentir pressões exteriores que o inibam de tomar atitudes, que instintivamente desejaria poder ter. A pessoa que se encontra nesta situação, que podemos qualificar de condicionamento anímico vindo do exterior, sente-se como que metido num colete de forças.

Nem que seja através de filmes devem ser bastantes aqueles que tem uma visão, mais ou menos certa, do que é um colete de forças. Mas terão visto, à frente dos seus olhos, ao vivo, como é subjugada, humilhada e manietada uma pessoa a quem lhe é colocado, este método de contenção tão violento, ou mais, do que umas algemas?

Pois eu já. Por uma sequência de circunstâncias vi-me envolvido numa triste cena familiar, com pessoas que mal conhecia, e onde a certa altura um respeitável cidadão, já com um historial de crises de depressão e alguma violência, entrou “em parafuso” e desatou a destruir mobiliário, incluídas as loiças da casa de banho, perante o olhar impávido, mas assustado e inactivo, dos familiares presentes. E do meu espanto, como “convidado”. A cena, que sentí não ser inédita, deu azo a que um dos familiares pedisse o auxílio da polícia e dos bombeiros.

Eu não via fogo por lado nenhum, mas os hábitos da população preconizam que bombeiros são úteis em qualquer situação inesperada (neste caso já era aguardada, e por isso me tinham chamado para que os visitasse, como soube mais tarde, debido a que me atribuíam a imagem de ser um “bom samaritano”). Os dois corpos de ajuda vi que estavam habituados a cenas “canalhas” daquela índole e de coisas piores.

Depressa foram buscar um colete de forças, vestiram-no ao exaltado e anunciaram que o levariam a um hospital psiquiátrico habilitado para estes casos. Mas necessitavam que um familiar os acompanhasse. Olharam uns para os outros e nenhum se prontificou. Tal como fizeram a Jesus, os dedos me apontavam unanimemente, e eu, olhando para o manietado, além de saber estar fora daquela guerra, que não tinha mesmo nada com aquele assunto, não resistí à pressão dos olhares dos polícias e bombeiros, além da imagem humilhada do “artista”. E lá fui, com a sirene gritando o seu ni-nai ni-nai.


A história continuou, mas para mim já chega.

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2017

RECEITAS MILAGROSAS



Na internet, nomeadamente no espaço facebook, surgem, quase que continuamente, receitas milagrosas para emagrecer, eliminar as rugas da cara e conseguir cozinhar pratos capitosos. Além de abrir a porta para que os adeptos coloquem as suas fotografias e mostrem que são muito estimados pelos seus amigos “de sempre”.

Caso nos dé a moleza de abrir este espaço de vaidades e parvoeiras,é sabido que também encontraremos dezenas de receitas, eficazes em variadas maleitas e doenças, e que se recomendam seriamente. Muitas trazem, como anexo após de apresentar as suas milagrosas potencialidades, uma lista de produtos que sendo indispensáveis poderão adquirir num endereço que surge a seguir. Não caiam na tentação de julgar que aquela história só pretende ir ao bolso do incauto, NADA DISSO, só pretendem ajudar. Deve existir um quantitativo considerável de adictos a tantas recomendações. Se não fosse assim já teriam desistido. A realidade é que nem os avisos de que a maioria das notícias que ali se editam são falsas, além de absurdas, conseguem afastar os crédulos.

E há tantos crédulos que ainda acreditam no Pai Natal e seus equivalentes...

O que todos têm a possibilidade de verificar é que o tratamento de emagrecimento mais eficaz que se descobriu até à data é o de PASSAR FOME, a ser possível ACAMADA. Os simpáticos nazis mostraram, insistentemente, como aqueles que entravam nos seus campos de férias e reeducação, por mais gordos que estivessem quando chegavam saíram só com a pele e os ossos. A não ser que antes de perder peso lhes abrissem a chaminé para uma saída mais rápida em direcção aos céus da sua religião.

Caso o exemplo dos campos organizados pelo Senhor Hitler (como dizia o falecido Fernando Pessa desde as antenas da BBC) e os seus estimados sequazes, posteriormente também no Biafra e no Corno de África nos possibilitaram ter uma visão, cruel, de como se podia perder peso sem entrar num circuito comercial. A estas cobaias involuntárias não julgo que alguém lhes falasse em estética nem nos programas de perder um quilo ao fim de uma semana.


Conclusão; Se querem perder uns quilos, que vos deixam pesarosos, além de pesados ou pesadas, deixem-se de ginásios e produtos que prometem muito mais do que o que gastam. A solução é COMER MUITO MENOS, passar fome durante um par de semanas e depois, quando o vosso estômago já se tiver habituado a arrotar vazio, não regressar às tentações de coisas gordurosas, de bolinhos com muito açúcar e tudo aquilo que sabe bem mas, além de engordar, é mau para a saúde e é pecado!

DISPERSOS OU CONCENTRADOS



Podemos admitir que qualquer pessoa que medita, nem que seja por poucos minutos ao longo de um mês -e não estou a pedir muito...- já gerou as suas noções do porque a população de um determinado espaço tem tendência a se radicar isoladamente ou de uma forma coesa, compacta.

Há razões de ordem histórica, climatológica, laborais, de oportunidades, e das afinidades sociais, ou carência delas, que motivaram a reunião de habitantes em núcleos progressivamente maiores, a até que fossem abandonados quando desapareceram as motivações mais intensas. Podemos apresentar como exemplo o de algumas povoações sitas no Alto Alentejo e na Beira Interior, como Sortelha e Castelo Mendo, entre outras, que por razões militares foram cercadas com altas muralhas num espaço reduzido, com o propósito de que naquele recinto se pudessem abrigar, sem receios, os habitantes. Ao se alterarem as condições políticas e territoriais, os constrangimentos inerentes a viver e conviver apertadamente induziram os habitantes a procurar espaços mais amplos.

Outras razões se conjugaram para manter reunidos os habitantes de uma zona determinada, como sucede no Alentejo. Sendo um espaço aberto, que desde a substituição do poder muçulmano pelos cristãos, e antes disso já durante a ocupação do Império Romano, foi terra de amplos latifúndios, os habitantes sem terra própria tinham que se agrupar nas povoações aguardando a oportunidade de ser escolhidos e conseguir umas jornas (mal) pagas. Pelo contrário, em zonas com pluviosidade frequente e com terras aptas à agricultura diversificada, propiciou o minifúndio. A tendência lógica de muitos pequenos proprietários tem sido a de se radicar, com armas e bagagens, no seu terreno, mais ou menos afastado do núcleo administrativo a que pertence.

Este assunto surgiu-me quando especulei, mentalmente, sobre os custos que a descentralização residencial implica, pelo menos no que respeita à exigência para que sejam atendidas as "regalias básicas" que todos os habitantes de um concelho entendem, e bem, ue tem direito, independentemente de onde estiver a sua residência. Ou seja, que é pertinente garantir todos os serviços públicos que se consideram indispensáveis. 

Instalar redes e as manter funcionais em toda a área onde se radicaram munícipes, nomeadamente no abastecimento de água potável, energia eléctrica, telefones, iluminação pública, vias de trânsito, escolas ou transporte escolar quando se optou em fechar pequenas escolas e centralizar em complexos de maior dimensão, etc. implica, forçosamente, custos superiores aos que se se verificam existir em centros urbanos, preferentemente quando compactos.

Todavia a realidade factual indicia que não existe uma visão diáfana no que se refere à gestão de custos e benefícios. Suspeita-se, com demasiada frequência e por indícios poucas vezes documentados, que os custos, tanto de um esquema como do outro, não são expressos com clareza. Existem demasiados pontos negros na gestão para que o cidadão comum possa apostar, convictamente, em nada do que se decide em gabinetes fechados.


quinta-feira, 16 de fevereiro de 2017

ERAM AS MELHORES OPÇÕES ?



Apesar de reconhecer que muitas coisas melhoraram surge-me, com excessiva frequência, a dúvida de se foram tomadas as melhores opções no que afecta às populações de certas zonas do País.

Estou convencido de que caso se prestasse a atenção, pertinente e basilar, à demografia, às características dos seus munícipes e às suas fontes de rendimento, sentir-se-ia uma disparidade de acções entre aquilo que seria proveitoso para o progresso do que sempre existiu e as tentativas de imitar actividades que colidem com o idiossincrasia da população. Fantasia que, contrariamente ao que é apregoado, afasta para longe as melhores mentes que nasceram e se criaram no seio de hábitos, quase que ancestrais e que, sem dúvida, carecem de uma actualização.

As mudanças já havidas em muitas zonas rurais, arrisco-me a afirmar que quase sempre foram fruto de acções meramente comerciais, cegas a tudo o que ultrapasse a rentabilidade das suas empresas. Uma cegueira que leva os abnegados produtores do campo a serem tiranizados não só pelos intermediários mas, agora principalmente, pelas grandes superfícies comerciais, que impõem preços e características dos produtos que compram, impondo o preço, como mentalizam o cliente consumidor a rejeitar aquilo que não convêm ao empresário da cadeia.

Apesar de terem surgido iniciativas para escoar os produtos agrícolas e hortícolas que a natureza teima em desobedecer normativas, e com boa vontade e esforço para conseguir penetrar no mercado, dedicaram-se a comercializar aquilo que não obedecia às rigorosas regras do grande comércio. Lamentavelmente a realidade mostrou que estas iniciativas não conseguiram vencer a pressão restritiva da poderosa máquina trituradora, a que de facto comanda as preferências dos clientes.

Será impossível uma reacção concertada entre os produtores e os municípios ou regiões que, sem dúvida, deveriam esforçar-se, quase que exclusivamente, em atender os problemas dos seus conterrâneos?

Os problemas que subsistem, e até se agravaram ao longo das últimas décadas,não se limitam à comercialização dos produtos do seu trabalho.

Existem situações problemáticas a montante das colheitas. São centenas os estudiosos que em laboratórios e campos experimentais se preocupam e procuram soluções para contrariar o envenenamento dos terrenos, devido ao uso excessivo de herbicidas. Sem esquecerem o louco extermínio das necessárias abelhas, que são os garantes da polinização de searas e pomares. Uns laboriosos insectos que morrem aos milhares por efeito dos insecticidas. Todos sabem que o número de colmeias activas tem diminuido drásticamente. E ouviram falar em métodos alternativos aos insecticidas para poder afastar, ou eliminar, pragas que causam prejuízos. A pressão dos vendedores dos produtos das multinacionais se encarregam de evitar qualquer alternativa.

Outro capítulo que merecia ser analisado e ponderado numa base que atendesse à saúde dos consumidores é a dos aditivos que se aplicam a muitos produtos, tanto hortícolas como frutícolas, a fim de lhes melhorar o aspecto visual e prolongar a sua duração. Serão inócuos? A resposta imediata é dada pelos produtores, conscientes, que detestan os truques utilizados para conseguir frutos que apresentam uma uniformidade de cor em toda a sua superfície, como são exemplo os morangos e os tomates, que raramente são tão belos na forma e na cor quando criados numa parcela de onde se abastecem com confiança.

Não deveriam ser estes capítulos da investigação aqueles que mais mereciam a atenção e promoção por parte das entidades que se elegeram “democráticamente”? Uma selecção de indivíduos “isentos de interesses pessoais” que, nos seus discursos e documentos distribuídos para ganhar votos, sempre evitam referir os problemas reais dos seus eleitores.


Fica a dúvida de se, de facto, os eleitores são cegos ou se preferem ser manipulados não só no seu trabalho, naquilo que é o seu ganha-pão, como se encadeiam com eventos e actividades que em nada os beneficiam. Serão conscientes do que devem exigir aos seus eleitos?

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2017

CHERCHEZ LA FAMME



Quando era jovem e necessitava de desanuviar a mente socorria-me da leitura de romances policias, concretamente dos livros de bolso da Vampiro. Uma colecção bem aceite pelo público, sem esquecer os livros franceses de capa amarela. Nas salas de cinema também nos ofereciam, filmes policiais de boa feitura, com actores de primeira escolha, entre eles recordo Humphey Bogart, Robert Mitchum, Charles Boyer, James Stewart, James Cagney e outros.

Tanto nos romances como nos filmes era frequente ver citada uma frase que se tornou clássica: cherchez la femme. Era uma época onde o machismo imperava, tal como ainda hoje, e se admitia que muitos crimes tinham como motivação, directa ou indirecta, o feitiço da mulher. Coitados dos criminosos, tão vulneráveis à sedução.

Não julgo pertinente o facto de que, ao reler o artigo de opinião escrito por Feliciano B. Duarte, em que surge uma denúncia social, ou desabafo de um desiludido socialmente, fosse reflexo de uma situação amorosa. Nada sugere esta situação, além de que não estamos perante um caso de crime e polícia. Todavia quanto mais medito no assunto, mais considero que deve existir um probleminha de fundo que levou o político, experiente e veterano, apesar de ainda jóvem, a escrever um libelo sobre a situação social no presente.

Cita um problema, que valoriza como grave. E eu estou plenamente de acordo com F. B. D. Pior é o que, implicitamente nos diz: não se sente capaz de conseguir esquematizar um processo de recuperação mental que se possa aplicar, com possibilidades de êxito, a tantos cidadãos, totalmente desligados da realidade que os envolve. Por outro lado sinto que no seu artigo transparece uma subtil crítica a muitos dos políticos da actualidade.

Numa tentativa de me elucidar sobre o Senhor Feliciano B. Duarte fiz o que nunca fiz até hoje. Procurei no Google, escrevendo o seu nome completo, as referências que, como se pode verificar lendo, foram seleccionadas e escritas por ele mesmo. Refere como ocupou lugares, com algum relevo na estrutura do seu partido, PSD, e que mereceu ser escolhido para lugares nas equipas gubernativas. Todavia sem atingir a primeiro patamar. Mas é de lei apreciar que foi subindo tenazmente e com dedicação à causa.

Mas destes elementos biográficos não surge uma explicação para o seu desânimo, e muito menos que a preocupação inerente que sugere ter tenha atingido um grau tal que o obrigue a fazer uma retirada nobre e heróica, por respeito aos seus princípios de ética social. Que não podemos duvidar que os tem.


Apesar desta minha reduzida pesquisa, certamente por não ter accesso aos corredores e às intrigas, lutas e traições, que sempre existiram entre os políticos, tenho que confessar que não encontrei um, ou uns, motivo evidente que tenha incitado a Feliciano B. Duarte no sentido de deixar, preto no branco, um balanço de como uma grande parte da cidadania está, exclusivamente, atenta a factos sem importância. Da minha lavra acrescento que os assuntos importantes sempre são de gestão e digestão difícil, e implicam um esforço comportamental que muitos não mostram estarem dispostos a fazer.

NÃO ESTOU SÓ, infelizmente



É satisfatório encontrar, sem procurar, que alguém, neste caso um político, colunável e conhecido, como é o caso de Feliciano Barreiras Duarte, escreve e assina um artigo num jornal diário (1) dedicado, exclusivamente, a uma das facetas, presentes na cidadania actual. A que a mim, que estou de partida, mais me apenam. Curioso que seja precisamente um político que aponta esta característica social, uma vez que temos a ideia, criada e sedimentada, de que os partidos políticos preferem a maioria ignorante, moldável, servil, alheada, apática.

Gostaria de transcrever a totalidade do artigo em questão. Mas é longo e os meus (poucos) seguidores são avessos contumazes a ler mais do que vinte palavras seguidas. Veremos, seguindo o artigo de F.B.D. Que refere concretamente esta característica, se bem que com outras palavras. Por isso refreio o meu impulso e deixarei só uns destaques, que considero elucidativos.

Já o título é sumamente esclarecedor: O PODER DAS (novas) IGNORÂNCIAS.

Wim Wenders vaticinou que o século XXI iria ser o século da imagem...com conteúdos apoiados numa forte componente de atratividade … por via da imagem em movimento, dos clipes, dos vídeos, das fotos, etc.
Sim, novas ignorâncias, que são filhas de uma espécie de uma nova categoria humana em que a videovida, a vida mediocre e “despida” em directo, amplia a crise de valores...

Numa sociedade que se alimenta do superficial, de tudo o que é “rapidinho”, generalista e que tem que acontecer “no agora”...

Temos que combater este poder das (novas) ignorâncias... a chico-espertice, o generalismo, a mediocridade, a ignorância...

Os resultados estão bem à vista. E têm muito que ver coma crise de participação política... e sobretudo com a perda de qualidade dos próprios sistemas juridico-políticos.

e continua o texto.

Para mim é muito interessante que seja um dos políticos, que se diz estar em contacto com a população, quem se lamente, publicamente, da forma como se preparou, desde cima, a estupidificação da cidadania. O que esperavam? Nas suas fileiras encontram um excesso de gente mal preparada para a sociedade,(mas excelentemente diplomada para a política de baixo nível através das escolas dos JJJ) e também um excesso de ganaciosos e oportunistas. Diria eu que mesmo que fosse só um já seria de mais.



(1) neste caso o I de 13 de Fevereiro 2017, pág 28

terça-feira, 14 de fevereiro de 2017

CAPITAL DE RISCO



Como é público e notório o tempo em que vivemos está sob uma forte pressão da evolução da informática, mãe do moderno automatismo e também mãe descastada daqueles que foram seus filhos preferidos, agora preteridos em oposição aos que aderiram, com deleite e ilusão na maré do progresso. Bem hajam tanto os “desprezados” como os agora estimados.

Se nos basearmos na -nem sempre bem valorizada- biologia, é racional que se admita que, no seio da população deste País, existem entre nós cabeças ágeis, estudiosas e com o ímpeto necessário para se aventurar em novos capítulos ainda por desbravar. Alguns destes investigadores já deram provas não só de abrir caminhos mas também de orientar o seu trabalho para tarefas produtivas.

Mas surgiram os primeiros escolhos sociais e económicos. Por um lado temos que para que uma descoberta ou novidade tecnológica se torne factível comercialmente, ou seja, que possa partir pelo oceano fora, crescer e implantar-se, carece de um factor que os estudiosos que descobriram o filão habitualmente não dispõem, e que é indispensável: Capital de risco.

Sucede que a economia nacional não gera, por si só, grandes rendimentos e nem sequer aqueles que os usufruem habitualmente sintam vocação para investir em temas que, além de não dominarem, não lhes oferecem as garantias de um grande retorno, e com brevidade. Pior do que esta deficiência de montantes disponíveis entre membros da sociedade civil, verificou-se, numa evolução escandalosa nas décadas mais recentes, que as reservas de capital público, incluídas verbas que nos entregaram no intuito de conseguir dar o salto em frente, imprescindível caso se deseje poder ombrear com os (teoricamente) parceiros europeus, quando foram entregues, em geral em quantitativos muito avultados, sob a capa de empréstimos a remunerar e restituir, sumiram-se sem justificação, escandalosamente.

De onde não nos pode causar admiração saber que algumas das boas descobertas conseguidas pelos nossos investigadores ficaram no sono dos justos no fundo de uma gaveta. Ou, noutros casos, só conseguiram ver avançar os seus projectos aliando-se a entidades estrangeiras dispostas a investir com o seu capital, ou que ganharam a confiança da banca do seu país, para conseguir os tão necessários e indispensáveis fundos.

Mas há uma consequência social, muito importante mas que nos esforçamos para não ver nem sentir, que consiste no potencial problema, já actual em zonas que até poucos anos antes eram sede de grandes indústrias, que empregavam numerosos operários, e que tanto eles como seus descendentes se encontram perdidos, empurrados para uma pobreza inactiva. Uma situação tão generalizada entre os urbanitas que os sociólogos já qualificada, em surdina, como potencialmente explosiva.

Um sintoma bem recente de como esta evolução tecnológica, aliada à globalização -que só interessa ao grande capital- afectou fortemente, no sentido de empurrar para a pobreza sectores da sociedade que, sem serem ricos, sentiam-se razoavelmente bem e com horizontes abertos para progredir, mas que o seu capital de conformismo está esgotado, ou em vias de isso.

Foi o que deu a presidência dos EUA a um demagogo, que, mesmo sendo um político neófito, tal como todos os profissionais que o antecederam, tem uma experiência inusual nos meios de comunicação visual e audio-visual. Dirigiu-se, astutamente, aos cidadãos da chamada faixa da ferrugem, os blue-collar, operário de colarinho azul. En entre os dos estados de economia agrícola, os seus equivalentes são citados como redneck pescoço vermelho, queimado do sol)de colarinho azul, em antítese com os citadinos, bem vestidos, bem alimentados e bem instalados, conhecidos como os de colarinho branco. Vistos pelos operários e pelos camponeses com pouca simpatia por estarem ligados ao status que os governa e sentem que pouco os atende.

Historicamente sabemos, ou deveriamos estar cientes, de que foi em momentos de crise social, de falta de emprego e degradação da economia doméstica, que os demagogos Mussolini e Hitler, auto classificando-se de socialistas, com adendas só perceptíveis pelos seus financiadores, se elevaram ao poder prometendo trabalho e “paz”. O trabalho que proporcionaram foi, principalmente, na indústria bélica e em obras públicas, com financiamento dos banqueiros judeus. (1)

Hoje, as obras públicas não conseguem oferecer muitas oportunidades de trabalho mal qualificado. Os equipamentos mecânicos disponíveis, também neste campo, se encarregam de eliminar a ajuda humana até o mínimo. São terreno fértil para as empresas poderosas e para conseguir desviar verbas com as quais conseguir apoios indispensáveis. Mas muito pouco oferece de benefício para aqueles que ficaram abandonados.

(1) Será que toda “a minha gente” conhece a razão de porque existem judeus na banca?


segunda-feira, 13 de fevereiro de 2017

COMPRAR BOAS CRÍTICAS


Dizem “os livros”, especialmente os de receitas culinárias, que há cem maneiras de cozinhar bacalhau. Desconfio que nem todas conseguem disfarçar as características especiais deste peixe seco, muitas vezes fibroso e em muito dependente dos temperos que lhe sejam adicionados a fim de o tornar apetecível. E não refiro como gosta, o dito cadáver mumificado, em se intrometer nos espaços interdentais do sacrificado comensal. Certo que deve ser um dos que não se atrevem a ferir os cânones sociais vigentes. Ou seja, o da obrigação de manifestar a sua preferência por este “petisco, que conjuntamente com o “cozido *a portuguesa” e a sempre bem louvada “calçada portuguesa”, constituem uma terna de orgulho nacional. Estes três ícones competem com o outro, também clássico, dos três FFF.

Mas este não era o tema em vista para hoje. Escrevi sobre o bacalhau devido a uma tabela seca com outro conceito radicado no léxico popular, e que, pouco mais ou menos diz: Há muitas maneiras de apanhar moscas; ou pulgas.

E, por extensão, afirmo, convictamente, que Existem muitos esquemas para conseguir boas críticas e bons lugares nas muitas classificações que, constantemente, nos são colocadas à frente dos olhos.

Os indivíduos que se dedicam a criar boa imagem a pedido do interessado, são, na sua imensa maioria, uns jornalistas entre a plêiade dos que podem apresentar uma carteira dita de profissional. Tanto podem ser novatos como com nome já feito. Mas sempre dispostos a dizer bem duma pessoa determinada, de um lugar ou de um evento (prefiro “invento”, tal como se falava, em “inventonas”) ou “noticiar” que numa escala, mais ou menos inventada mas sempre inócua, lhe foi atribuído o primeiro lugar.

Esta proliferação de boas notícias, constantemente referidas sobre o mesmo “cliente” nos deve levar a recordar como funciona tanto os promotores e interessados, como os servidores. Por pouco tempo que dediquemos a pensar neste fétido assunto, é fatal que surjam algumas perguntas. As respostas são imediatas, pois que o discernimento, tantas vezes em estado letárgico, só pergunta aquilo de que julga conhecer a resposta. Ou que tal como o pobre perante uma esmola choruda, desconfia. Neste caso o cidadão, em estado de meditação transcendental, suspeita da existência de tramoia.

Eis algumas destas questões:
- Estas opiniões, em geral muito favoráveis, as podemos considerar como válidas?
Existe isenção e merecem credibilidade?
- Aceitamos que de uma parte e da outra houve honestidade?
- Somos incrivelmente tolos ao aceitar estes embustes potenciais?

Aceitando a possibilidade, mesmo que remota ou de baixa intensidade, de que existam alguns fazedores de opinião verdadeiramente honestos, a experiência nos diz que a maioria aceitam o encargo por uma fraca recompensa. Inclusive, num excesso de boa vontade, podemos admitir que existem algumas borlas. Tal como uma acompanhante de luxo, das que levam coiro e cabelo para atender o tolo endinheirado, é capaz de dar uma borla a um sujeito que lhes caiu no goto.

Lamentamos que a experiência de vida nos elucida acerca da existência de personagens, sem préstimo de nenhuma espécie, a não ser a de serem capazes de enganar os seus iguais, mas que conseguem manter as bolas no ar, como um malabarista de casino, até o dia em que um espirro irresistível as faz cair todas de uma vez. Logo surge outro esperto, que aplicando as mesmas tretas toma o lugar vago. Não terá grandes problemas em actuar frente ao mesmo público.


Um público que se imagina muito actualizado e sabido, mas que caiu no conto do vigário com suma facilidade. Hoje até servem as aldrabices em muitos programas de televisão. Alguns inclusive afirmam que entregaram prémios de muitos euros a uns felizardos. Posteriormente ficamos a saber que o agraciado nunca vê a cor deste dinheiro. O mais que recebem são talões de compras de artigos sem préstimo, previamente seleccionados e com preços inflacionados, que só se podem levantar em lojas de patrocinadores. E as pessoas continuam a cair!