Não
posso dizer que preocupado porque considero que tal opção implica pensar, afincadamente e com alguma possibilidade de
intervir, concisamente, com o propósito de encontrar a forma de resolver esta
situação, coisa que, infelizmente, não acontece. Mas penso, como o
burro que pensando morreu.
Os
fortes indícios de ser este um do tais problemas que escondemos
debaixo do tapete, mas que sem dúvida já bate à porta da faixa
temperada do hemisfério norte. Apresenta dificuldades que são
valoradas como insuperáveis. Baixamos os braços e continuamos sossegados, sem fazer o mínimo esforço para o evitar. Pelo menos
se atendemos à necessidade de seguir preceitos éticos. Se
deixarmos de lado os preconceitos então a música será outra. E
anda-se neste sentido.
Quando
surgem epidemias que prometem dizimar multidões, tais como o AIDS, o Ebola e alguma outra que não me ocorre, é provável que muitos
cidadãos avaliem, cinicamente, estes flagelos como benéficos caso
a maioria das vítimas mortais sejam indivíduos radicados em países
do terceiro, ou quarto, mundo. Habitualmente, porém, sucede que seja
por questões humanitárias ou por receio de que o perigo viaje até
os nossos territórios, acontece que surgem estudos, medicamentos e
equipas de intervenção que, deslocando-se até os locais com focos
mais graves, procuram debelar o perigo.
Assim
se fez, mesmo que depois surjam novos casos isolados que não causem
alarme, com a varíola (que parece ter sido debelada totalmente), a
tuberculose (a reaparecer com alguma intensidade), a lepra, o cólera,
a febre amarela e outras doenças que tanto podem ter a sua causa
primeira na deficiente alimentação, pobreza ou mesmo miséria absoluta, como da insalubridade do ambiente em que vivem, nomeadamente se no ambiente
tropical, propício à multiplicação, mutações espontâneas e
difusão de bactérias, virus e micróbios, auxiliados por vezes por
animais encarregados de transmitir os agentes patogênicos.
Mas
nem sempre os males que dizimam as populações autóctones são
devidos a doenças, muitas migrações são provocadas por guerras
provocadas ou abastecidas com armas vindas de países do primeiro
mundo. As indústrias que fabricam e exportam armas, mesmo que seja uma parte do seu total, habitualmente o fazem através de circuitos labirínticos, tão pouco
identificados como os da transferência de grandes somas de dinheiro.
Para
o cidadão comum, entendendo por isto aqueles que não entram nestes
negócios, pode parecer-lhe que a solução é simples: Proíba-se o
vender armas a terroristas, facções que pretendem ocupar o poder
ilegítimamente, abastecer as mafias que dominam muitas áreas do
vida comunitária, etc. Impossível. Como poderiam funcionar tantas
fábricas de armas e munições se não existisse um consumo
constante?
E
ninguêm sabe? Ninguém se apiada das vítimas inocentes? Pode ser que
em momentos de fraqueza dos governantes e militares (sempre
estão metidos neste comércio de armamento) lhes surja um
instante de sentido ético. Depressa desaparece. Basta agitar a
cabeça e apagam-se aqueles sentimentos pouco produtivos. Se for
necessário (?) argumentaram que estas fábricas são indispensáveis
para produzir as novas armas, e assim manterem-se na primeira linha.
Tretas. O que os move é a ganância descontrolada, tal como a muitos
gestores da área pública.
Caso
o perigo de invasão, pacífica mas mesmo assim uma invasão, se
aproximar demasiado, encontrarão uma desculpa qualquer, das tais que chamamos de esfarrapadas, para enviar tropas ou contratar
terceiros que “escarmentem” estes atrevidos. E voltamos a
começar.
Um
sinal de que estes assuntos estão sujeitos a fortes medidas de
censura está, ou deveria estar, presente na memória colectiva.
Recordam a denúncia (?) de que as tropas da ONU ou de outros grupos
abastecidos pelo ocidente, utilizavam balas carregadas de urânio
empobrecido (o urãnio que
deixa de ser útil nas centrais nucleares e que não se sabe que
fazer com ele. Digamos, o perigo que espreita no tal recinto de
recolha de resíduos em Almaraz). Deixou-se de falar
nisso.
Mas
as balas carregadas continuaram a existir e a ser usadas (a
razão é que o urânio é mais pesado do que o chumbo, anteriormente
usado para dar a inércia necessária ao projectil, e até são
capazes de não só o oferecer sem pagar como inclusive financiar
para que lhe deem seguimento). E a semana passada apareceu
nos meios -só como um relâmpago pois que não voltou a ser citado-
que no conflito da Síria utilizavam as tais balas com urânio
“empobrecido”. Tenho quase a certeza que poucos cidadãos ligaram
a esta notícia, e menos que recordam a anterior referência.