quinta-feira, 10 de setembro de 2020

MEDITAÇÕES - Estar sempre de pe atrás


É difícl manter uma tal postura


Há pessoas que, desde a puberdade, ou mesmo já antes disso, estão consciêntes de que não é aconselhável deixar que os outros entrem na forma de ser que cada um adquiriu. Que é perigoso e pode dar lugar, pelo menos, a que nos julguem com um excesso de zelo, pois que se as palavras ditas ou escritas nem sempre correspondem ao que de mais íntimo nos rege, ainda é mais arriscada a tentativa de julgar o que outra pessoa vai entender e valorizar quilo que se disse, ou sentia, ao se manifestar e, mais difícil aínda, valorizar a situação do momento em que se transmitiu o parecer. Podem ter existido forças contrárias que condicionem, acentuando ou esbatendo, a opinião que nos podem ou que, de moutu próprio, caímos na tentação de dar.


Uma opinião correcta sobre outra pessoa implica um tempo de espera e interpretação, não só de um facto isolado mas, da ponderação de um conhecimento que desça mais ao profundo da personalidade visada.


Tudo o que deixei escrito nesta página corresponde ao que se denimina como Verdade de La Palisse, ou seja que sendo óbvio é fácil de esquecer ou deixar para trás.


A sociedade portuguesa, na qual há anos que decidí me integrar - sem ter a garantia de sucesso- tem de herança do extremo nordeste peninsular não só uma língua, que sendo de origem comúm depois evoluiu ou abastardou, consoante o parecer dos analistas, carrega outras características de índole social e comunicativa.


Os galegos, nossos ancestros, carregan a imagem de que nunca se sabe por que lado pendem. Eles mesmo dizem que se encontrarem um galego no meio de uma escadaria nunca saberão se estava a descer ou a subir. Obviamente é uma metáfora, com a qual se pretende destacar que são sumamente cautelosos antes de se manifestarem.


Abaixo do Minho esta característica persiste. Felizmente. Mas que gera o desconcerto a quem lida com os nacionais pela primeira vez. Concretamente a prudência que se deve ter adqiuirido logo no seio da família quando ensinam a falar e contestar a uma pergunta directa, e muito mais caso se peça uma opinião, evitar, tanto quanto possível, mas de preferêncoa em absoluto, dar uma resposta concreta.


Nunca jamais, quem foi educado segundo as normas sociais, mesmo entre as classes mais populares, deve transmitir aos outros aquilo que de facto pensa. Deve disfarçar, ser ambíguo e deixar duas portas meio abertas. Uma para agradar a quem espera uma opinião que coincida com a dele proprio, e outra que, subtilmente contrarie a primeira.

quarta-feira, 9 de setembro de 2020

MEDITAÇÕES - Uma satisfacção inesperada


Arquitecta Helena Roseta


Hoje, 4ª feira 09.07.2020 , tendo a televisão ligada ao noticiário da RTP, apareceu, numa declaração que, sinceramente, não dei atenção, a Arqª Helena Roseta, dissertando ou respondendo ao que lhe era perguntado, e, em fundo, tinha um painel de azulejos, a preto e branco, onde estava representada uma cidade medieval não identificada. E que era da minha autoria.

Está na sua posse desde o dia em que o adquiriu numa exposição que partilhei com outros “plásticos” entre os quais vieram a se destacar o então militar José Guimarães e a Graça Morais.

Isto aconteceu lá pelos anos 77/78, e se hoje foi uma surpresa ver que o painel em questão ainda está apreciado pela possuidora. Já uns anos antes coincidimos numa ceremónia qualquer e lhe perguntei o que era feito da cidade. Respondeu-me muito amávelmente, que tinha viajado com o casal até Paris e o tinham pendurado à cabeceira da sua cama. Confesso que se então fiquei admirado, hoje aínda estou mais perplexo.

Como assim? Pois porque verifiquei que para entrar no circuito das colectivas, e, certamente que ainda mais difícil conseguir uma mostra individual, era imprescindível ter “padrinhos”. E supus que isso comportava compromissos pessoais, aos que não pretendia aderir.



quinta-feira, 3 de setembro de 2020

MEDITAÇÕES - Ver em perspectiva. ESCHER

MEDITAÇÕES – Ver em perspectiva


A dificuldade só se vence com o treino. ESCHER

Todos os que temos a felicidade de ser visuais, convivemos com a noção de profundidade, de aproximação e de afastamento. E um facto tão banal que, por isso mesmo, sempre foi difícil transferir para uma representação plana aquilo que os nosso cérebro, através dos dois olhos, se encarrega de elaborar. A saturação torna difícil separar os componentes.

Parece simples, imediato, mas a realidade nos mostra que nos primeiros anos de vida, apesar de conviver com a estereoscopia, não a entendemos. A prova nos é dada por nós mesmos, quando, nos primeiros ensaios de desenhar, não sentimos, intuitivamente, como se pode transferir a progressão das distâncias entre o observador -neste caso quem desenha, mesmo que imaginando pelo que já traz na sua memória- e o que desejamos, ou conseguimos, fixar no papel.

Um exercício que, mesmo em adultos, podemos fazer é o de nos situar numa extremidade de um corredor, onde a sua largura, além de ser constante, como sabemos e aceitamos, tem em repouso algumas peças de mobiliário nossas conhecidas, cujas dimensões as temos como imutáveis. Invariavelmente se estivermos no eixo deste corredor ou sala, cuja forma não nos apresenta uma variabilidade expontânea, e interpretamos o que se modela na nossa cabeça, então verificamos que com a distância as paredes laterais se proximam entre si, longe do que seria de esperar. E não só isso. Os tampos dos móveis, sejam cómodas, mesas ou sofás, também “mudam” de tamanho com a distância, embora o observador, nós, se mantenha quieto, estático. Aceitamos, instintivamente, esta aparente variabilidade como coisa normal, sem aprofunda nas razoes desta ilusão.

As mudanças de percepção não terminam aqui. Se nos encostamos, alternadamente, à parede esquerda ou a da direita, tudo muda! E se subirmos acima de um banco ou de uma pequena escada, aproximando-nos do tecto, então a mudança é “pasmosa”.

Os pintores e gravadores da renascença, e mais os do modernismo, muito tiveram que estudar sobre pontos de fuga, horizontes (falsos e reais), transferêcias de um primeiro plano para outro mais secundário, e vice-versa, conseguir dar a ilusão de movimento ou de profundidade, colocar em tamanho reduzido sejam montes, árvores ou castelos, para facilitar a sensação de distância.

Uma revisão dos desenhos feitos pelos nossos descendentes, nos seus primeiros passos na figuração, nos elucida sobre a dificuldade inata de conseguir transferir, de um modo perceptível e aceite pelos observadores descomprometidos, a colocação de pessoas, animais, árvores ou construções, em planos diferentes. E, no entanto, muito cedo, certamente que desde antes de aprender a falar, já vemos em estereoscopia, como o comprova que, muito pequenos, saibamos que um objecto que nos atrai está, ou não, ao alcance das nossa pequenas e inexpertas mãos.

Um dos mestres modernos, de manipular de forma atrevida e divertida, as perpectivas, forçando a incredibilidade que em muitas das suas obras se observa de imediato, é o reconhecido M-C.Escher. Em 1946 publicou uma compilação de gravuras insólitas com o título Espelho Mágico. Muitas reedições e colectâneas se seguiram, e foram vários os seguidores, embora poucos conseguiram atingir o nível deste exímio e estudioso desenhador. RECOMENDAMOS que procurem conseguir livros, sejam monográficos (de preferência) ou de uma escola seguidista. É UM PRAZER VER E REVER, MUITAS VEZES, OS TRABALHOS DE ESCHER.