MEDITAÇÕES
- Mare magnum
ESTÁ
AI UMA GRANDE CONFUSÃO. Ou nem por isso.
Mas
estejam tranquilos. Como tem sido sempre neste Jardim, aqui não
vai acontecer nada.
Mas,
mesmo que esta afirmação tenha uma enorme probabilidade de estar
certa, o que se sente, mesmo sem fazer inquéritos à opinião
pública (que
raramente sabe o que deve opinar, ou erra nas suas conclusões) que
existe um enorme desnorte entre a maioria da população, a tal
anódina. E para promover e manter esta falta de reacção cívica,
esta apatia factual, contam com a colaboração, sem dúvida eficaz, dos canais generalistas e dos
jornais futebolísticos. Mais os programas, ditos de “desportivos”.
É
possível que o tsunami que surgiu com as revelações sobre a
fortuna da rainha Isabel III, e de como se insinua (quem
é que se atreve a apontar o dedo sem receio de represálias?)
acerca da extensa rede de personalidades deste Portugalito (como
lhe chama um meu amigo)
que colaboraram (gratuitamente?
Por amor à arte, ou enfeitiçados pelas covinhas? coisas que duvido)
no crescimento acelerado, quiçá inédito, desta imensa fortuna.
No que nos concerne directamente, em
verdade devemos reconhecer que a descapitalização do Estado, apesar
de que já estava nas lonas desde antes, se acentuou com a entrada na
Comunidade Europeia e o aceitar dinheiros para mal-gastar em troca de
desindustrializar o pouco que se tinha conseguido desde os Planos de
Fomento de Salazar. Venderam-se barato e certamente que com luvas de
pelica, todas as empresas que deveriam ser recuperadas,
reestruturadas, com a ajuda (simpática, mas nem por isso desinteressada, dos novos parceiros) das verbas enviadas desde Bruxelas, e "criteriosamente" derretidas sem proveito para o País.Todos os cidadãos deveriam estar cientes de que aqui tivemos como se diz, um repasto de fartai vilanagem. Com a diferença de que estes
“vilões” não eram só pacóvios de barrete, mas antes senhores de
casaca e gravata de seda. E mesmo assim, para conseguir o que se
pretendia, tiveram que consentir que alguns recém chegados se
aproveitassem do festim. Sempre foi tradição de que desde a mesa dos sátrapas se deixassem cair bocados para os cães fieis.
São
tantos os nomes que saltam para os noticiários (e
de imediato se faz tudo o que lhes é possível para que se sumam no
nevoeiro) e
mereçam, por poucas horas, letras grandes de atenção, que o
cidadão vulgar, comum, já só entra em alerta de pouca
dura. Esta capacidade de se
desentender dos factores que prejudicam a cidadania anónima é uma
pedra fundamental para manter a estrutura do poder silencioso em pé.
Para
os próceres da boa sociedade estas
breves chamadas ao palco, mesmo que se anunciem como serem mais
propícias para receber apupos e hortaliça estragada do que aplausos,
não os pode conduzir a um corte de digestão, e muito menos a se
deslocarem, com armas e bagagens -o
seu capital já avançou com previsão e cautela-
para o Brasil.
Sabem,
“eles” que a “Justiça”, que os seus companheiros armaram, os
defende. Que é practicamente impossível que a situação se
aproxime de decidir no sentido do bem da população anónima. Os
livros de códigos oferecem mais furos para afundar os bons
propósitos do que as famosas naus em se afirma que o Marquês de
Pombal mandou embarcar, rumo a Roma, os jesuítas que constantemente
conspiravam, e governavam, na corte.
Daí
que “o povo” só pode ter ilusões de, finalmente, surgir o sol
neste negrume. Já antes de que este “escândalo, morto à
nascença”, permitiam, com notícias que denunciavam negociatas
escandalosas, sempre em desfavor das finanças públicas e, por
tabela, das necessidades da população -que
continua vegetando nos lugares mais inferiores nas tabelas que nos
comparam, sob múltiplos aspectos, com os países “nossos
companheiros”-
Sempre foram fogachos de entreter, como as fogueiras de São João ou
agora os recuperados Madeiros de Inverno.
Os
nossos guias, eleitos ou encumeados pela sua capacidade de singrar
em águas turvas e denso nevoeiro, sabem, perfeitamente, quais são
os valores que nos colocam no fundo da tabela, e até prometem que
vão remediar isso. Em verdade “eles” sabem que o povo
está sereno e que continuam a
consentir sem refilar - incitados
com promessas que antes de as fazer já sabem nunca serão cumpridas- Que tais notícias incitam os anónimos a salivar, imaginando que,
finalmente, terão a justiça que merecem. Que chegou o momento de
que os abusadores serão caçados e devidamente castigados. Tanto os
conhecidos como os que se suspeita que se conseguem manter atrás do
pano. A ilusão ajuda a aguentar a canga.