quarta-feira, 31 de outubro de 2018

MEDITAÇÕES 32 - SERVIÇO NACIONAL DE SAÚDE


A SAÚDE EM PORTUGAL, PODE AGUENTAR-SE COMO ESTÁ?

A minha experiência pessoal, de muitos anos, acerca da prestação de cuidados dado aos utentes do Serviço Nacional de Saúde não pode ser mais positivo. E afirmo com convicção. Sendo mais específico tudo quanto depende das pessoas que nos atendem é de extrema atenção e bom serviço. São todos, desde os funcionários de balcão até enfermagem e corpo clínico, não podem fazer mais do que fazem, até abnegadamente.

Os problemas e as reclamações devem-se, todas, ao escasso financiamento que os governos concedem ao SNS. Os quadros de pessoal contratado estão habitualmente abaixo dos valores estudados e propostos pelos serviços competentes. O resultado inevitável é as longas esperas de que tantos se lamentam (alguns até falecem nesta demora). A solução que implicitamente se propõe (indirectamente elos políticos irresponsáveis) é a de “empurrar” os doentes para os estabelecimentos privados, que já existem em grande número, e sempre em aumento. As famosa Parcerias Público-Privadas, conhecidas como PPP, sejam clínicas ou hospitais de nova construção, bem equipados e com muito pessoal em todos os sectores, funcionam bem oleados e são boa fonte de rendimentos.
É tudo uma questão de capital, de dinheiro. Abastecem-se de médicos e enfermagem incitando os que foram preparados, com o dinheiro de todos os contribuintes, nas unidades estatais. As limitações de contratação e progressão nas carreiras profissionais, levam em primeira opção que muitos profissionais tenham que completar os seus ordenados fazendo trabalho suplementar nas tais PPP, ou transferir-se totalmente para os hospitais e clínicas privadas. Uma sangria de gente preparada que, apesar de conhecida e lamentada (?) é facilitada pelas decisões economicistas do Orçamento Geral do Estado.

Não vale a pena referir que estas entidades privadas financiam-se, e lucram, por dois esquemas. Por um lado obrigam o "cliente" a pagar conforme a sua tabela, e habitualmente por adiantado, logo antes de entrar nas consultas, como também colhem do erário público, seja por comparticipação com o esquema de assistência dos funcionários públicos ou pêlos acordos de compensação com o estado. É um jogo, para o qualificar sem ofensa, onde ganha sempre o investidor.

Sem fazer contas, mas meditando sobre o assunto, é forçoso admitir que o atendimento geral e gratuito da população é, economicamente, inexequível. Não há tesouraria que o possa suportar, e menos quando a evolução tecnológica, tão importante e favorável para os diagnósticos e tratamentos implica investimentos avultados, não só na adquisição como na preparação dos técnicos e material de funcionamento. Tudo por junto atingem verbas consideráveis, o que conduz, em certos casos, conhecidos internamente nos hospitais, que estes dispendiosos equipamentos funcionem a meio gás ou estejam mesmo inactivos.

Já se tentou, timidamente, uma contribuição individual dos utentes, através da aplicação de taxas moderadoras, que contrariam o estatuto de uma “medicina tendencialmente gratuita”. TEM QUE SE ACTUALIZAR OS PAGAMENTOS QUE DEVEM SER EXIGIDAS AOS UTENTES, SEMPRE TENDO EM LINHA DE CONTA A SITUAÇÃO ECONÓMICA DE CADA CIDADÃO.

A forma mais imediata de CRIAR ESCALÕES actualizados nas TAXAS MODERADORAS seria ligando este cálculo ao IRS individual, tal como faz actualmente o Ministério das Finanças cruzando todos os elementos de interesse fiscal que vai acumulando ao longo do ano.

É evidente que caso se implantassem estes escalões diferenciadores haveria um fluxo importante de reclamações. Inclusive fomentadas através de notícias falsas com interesses privados. Preparar um pagamento diferenciado, mesmo que parcial sobre os custos totais, posto que o Ministério da Saúde é um sector público dentro do Orçamento Estatal, tornaria imprescindível uma elucidação prévia da nossa sociedade (uma campanha informativa) sobre que esta iniciativa pretendia evitar a ruptura total de um serviço imprescindível para muitos sectores da sociedade. Digamos, claramente, os que padecem de efectivas carências económicas.

terça-feira, 30 de outubro de 2018

VIVÊNCIAS DE VIRELLA

Desta vez interrompo a série de MEDITAÇÕES para colocar uma vivência, pessoal e transmissível, fresquinha, com poucos minutos de ter acontecido.

Acompanhei a minha cara "ametade" até o Centro de Saúde que nos pertence. em condomínio com uma multidão de aderentes, a fim de sermos vacinados contra uma gripe maligna e fatal. Quando fomos atendidos para inscrição perguntei às funcionárias, duas, se sabiam porque o tal Costa tinha demitido o Ministro da Saúde, de quem não tinha conhecimento tivesse feito uma má gestão dos escassos recursos que lhe foram distribuídos. 

Perante a negativa com que foi atendida a minha pergunta lhes disse a verdadeira razão. O ministro foi chutado por tabela, como as bolas numa mesa de bilhar. O ministro da dentuça à Pepsodent ( e passe a publicidade) disse ao Primeiro que o seu orçamento dependia, em grau altamente pesado, da elevada percentagem  de reformados existente e de que se esperavam novos inscrições sem que surgissem vagas por abandono de vida. A única solução que via possível era a de aplicar vacinas fora de prazo ou mesmo com fortes indícios de poderem ser fatais. Eram estas as que se deviam injectar aos com mais de 75 primas Veras. De não ser assim, o desastre orçamental seria maiúsculo.

O Primeiro chamou o ministro da saúde e lhe indicou a táctica a seguir este outono. O médico negou-se a obedecer, e então mostrou-lhe a porta. Os outros que acompanharam foi para disfarçar...

Curiosamente ouvi as tais duas funcionárias afirmando que outro utente tinha dado a mesma explicação! Fiquei banzado. Pensei que esta dedução, tão provocante e nefasta só me podia ter ocorrido a mim. Afinal houve quem se me adiantasse.

Entramos, em dueto, à sala de enfermagem e enquanto nos dispúnhamos a expor os antebraços respectivos e a enfermeira lutava contra o seu monitor ou computador, que pelos vistos não funcionava à perfeição, esclarece que estávamos dispostos a receber as vacinas estragadas.pois ao estar na terceira juventude, ultrapassados os oitenta, não fazíamos falta a ninguém. Ainda perguntei se os outros velhotes que atendeu também estavam resignados. Qual quê). estão cheios de medo!

De qualquer forma sinto-me tremendamente "desilodido" por alguém me ter passado à frente.

domingo, 28 de outubro de 2018

MEDITAÇÕES - 31 UMA SITUAÇÃO PERIGOSA



ALTERAMOS OS EQUILÍBRIOS

Documentei-me, não tão só por causalidade mas também por ser um tema que nos deve preocupar, vendo e lendo as reportagens e comentários, nomeadamente os sérios, que tratam das migrações dos povos de zonas mais desfavorecidas em direcção ao seu actual El Dorado. A Europa está,mais uma vez ao longo da sua relativamente longa história, a ser procurada por multidões desejosas de se incorporar numa área com melhores possibilidades de vida do que as existentes nas zonas de onde partem. O continente americano, igualmente, é procurado por descendentes de indígenas, ou mestiços de europeus e os que já, em épocas remotas, lá tinham chegado desde a Euroásia pelo estreito de Bering, aproveitando uma época de glaciação que fez descer, consideravelmente, o nível da água dos oceanos. Encurtando o paleio: as migrações humanas tem um longo historial.

Atendendo aos problemas que atingem a zona do globo onde nos encontramos, sofrendo e beneficiando, simultaneamente, de estar numa extremidade "remota e exótica", pelo menos pela avaliação que nos fazem os forasteiros, os que procuram acolhimento são africanos, primeiro os da orla mediterrânea conhecida pelo Magrebe, e depois pelos subsarianos,mais os vindos das Américas, principalmente do Brasil, os do Leste Europeu -, acrescido do alongado tempo de vida médio-, e finalmente os de origem asiática, sejam do subcontinente indiano ou dos  mais a Leste.

As razões que impulsam as migrações são maioritariamente de ordem económica e condicionadas à convicção de que a zona de onde são originais não lhes proporciona a sobrevivência, e muito menos o accesso aos bens de consumo que já lhes são conhecidos. O que sim usufruem é de uma proliferação inusual entre os ocidentais, conjuntamente com uma diminuição considerável da mortalidade infantil,  e do esforço em combater doenças locais que os dizimavam desde tempos imemoriais. Tudo, em parte consequência das ajudas sanitárias, humanitárias e alimentícias, que lhes são proporcionadas pelos países e organizações internacionais, preocupadas pelo bem estar deste humanos e, também, na tentativa de os manter sedentários e não se deslocarem para Norte.

Este impulso, facilitado por redes de tráfego especializado, coincide com o verificado decréscimo populacional de muitos países ocidentais, que se espantam pelo facto de não se dar a substituição de efectivos por carência de nascimentos. Curiosamente a evolução tecnológica do ocidente avisa que as necessidades de mão de obra "braçal" vão diminuir drasticamente, por efeito dos avanços na robótica.. Os lugares de trabalho serão, de preferência, para especialistas e no sector terciário. No primeiro cada vez se necessitarão mais técnicos e no segundo não haverá trabalho para todos.

Ou seja, o pânico que existe nas sociedades evoluídas da Europa não é só pela cor da pele e religiões mais obcecadas do que as maioritárias nestes países, mas porque, em muitos casos, custam muito dinheiro das arcas públicas, que são alimentadas pelos impostos, pela dívida e pela inflação. Em complemento aos artifícios financeiros dos governos recorre-se a diminuir os serviços sociais do estado, avançando as idades de reforma e aplicando taxas e impostos indirectos que compensem as crescentes despesas. E aqui surge um dos factores de repúdio das populações nacionais. Os estados, na mira de poder manter os migrantes sossegados, lhes concedem subsídios e benefícios que não oferecem aos seus naturais.

Existe, portanto, e com outros factores que não referi mas que são cumulativos, um potencial de problemas sociais, internos, muito considerável, e que se agudiza constantemente com a incerteza das novas gerações. Apesar de saber que procurar culpados desta situação é inoperante, tal não nos deve impedir de meditar sobre o que se foi fazendo, ao longo de décadas. com a pressão de impulsar o consumismo em áreas em que a população mal conseguia sobreviver. Não foi só entre os europeus "antigos" que se criaram novas necessidades, cuja satisfacção já não dependia directamente da sua capacidade produtiva. Recordo um filme, muito curioso e com mensagem importante, em que um bosquímano encontrava uma garrafa vazia de refrigerante no meio de nenhures, que tinha sido atirada desde um aeroplano, dos de cabine aberta. A partir daí, depois da admiração do caçador perante aquele objecto desconhecido, nos avisa de como este simples desperdício pode alterar a modo de vida de um simples habitante, afastado até então do veneno da civilização.

Ver as reportagens de como hoje os migrantes subsarianos se deslocam pelo deserto, apinhados como salsichas numa lata, em carros de caixa aberta, em direcção ao Norte. Pagando! e certamente que não pouco, pois que os passadores não escondem que este é um negócio lucrativo. Cabe pensar se as acções "humanitárias" e repressivas, que são financiadas pela benemérita Europa, conseguirão colmatar esta avalanche. Duvido muito. A não ser que se opte pela defesa cínica e cruel de fechar com muros e armas, tal como os republicanos (e não só) dos USA pretendem fechar o seu território. De onde os que chegaram, já na época moderna, practicamente dizimaram os seus habitantes para dar maioria aos migrantes brancos. Mas para conseguir rendimentos na agricultura braçal tiveram que abrir a porta das traseiras, para que por ali entrasse, como mercadoria, mão de obra escrava vinda da África negra.

O futuro do Ocidente, tão brilhante como promete a tecnologia e as suas filhas informática e robótica, está no limiar de problemas que criou e não sabe como neutralizar.


sábado, 27 de outubro de 2018

COMENTÁRIOS

Apareceu no meu visor a referencia a dois comentários, ambos com origem  em freguesias de Óbidos, que não consegui encontrar no espaço onde ficam registados os comentários. Quem os escreveu, pode ter a gentileza de os enviar directamente ao espaço VIVÊNCIAS ? Obrigado e os meus cumprimentos, larguras, alturas e funduras.

sexta-feira, 26 de outubro de 2018

MEDITAÇÕES 30 - Sempre enganados



Damos por sabido, e até que consciente ou inconscientemente os cidadãos deste País são, na sua imensa maioria, crentes, com algumas reservas mentais, mas obedientes e resignados a que nos comam as papas na cabeça. Dito de outra forma: que aquilo que hoje se manifesta como uma decisão inabalável, pouco tempo depois, até pode ser no mesmo dia, nos é anunciado que o critério se alterou, que mudou de 180 "degraus". E o pessoal, mesmo que em princípio discorde, ou nem sequer tenha uma opinião formada, encolhe os ombros e fica à espera da próxima viragem.

Esta forma de mudar com o vento deve ser uma consequência da arte de navegar à bolina, aos ziguezague, aproveitando a resultante de forças que permitia avançar no rumo pretendido. Sempre era preferível a ficar ancorado ou à mercê dos ventos contrários. Mas esta resignação, levada ao extremo mais caricato,faz com que aceitemos, com poucas vozes a refilar, as tretas que o homem do grande sorriso e o seu mentor, nos impingem com a ajuda, por omissão, dos que deveriam ter a obrigação de nos obrigar a entrar nos eixos.

Mesmo assim, e atendendo a que todas as decisões, cá e lá, são tomadas após ponderar vectores que não temos elementos para valorar, e que sendo estes decissores mais políticos do que profissionais isentos, não vale a pena meditar sobre o que nos dizem, sob pena de desgastar as meninges sem a mínima possibilidade de poder alterar as "sábias e ajuizadas" decisões.

Como amostra "sem valor" podemos comentar os efeitos, ou reprovações pela boca fora, mas que jamais são tornadas efectivas no que se refere a causar prejuízos económicos, do assassinato de um jornalista saudita num consulado deste País em território turco. Todos os comentadores oficiais e oficiosos não puderam esconder a reprovação desta violação dos direitos do cidadão em causa. Provou-se que foi torturado e desmembrado, ainda com vida. E a seguir? nada de nada.

É admitido, sem reservas, que a monarquia saudita é a fonte de financiamento do terrorismo internacional, em especial o que ergue bandeiras de facções violentas, tanto contra países e interesses ocidentais como também a populações não ocidentais mas que não comungam exactamente com o seus "princípios". E que este financiamento é possível graças ao constante fluxo de dinheiro que o Emirato recebe comercializando  o petróleo do seu subsolo.
A punição mais imediata deveria ser a de deixar de comprar petróleo. Há outras fontes deste combustível. Mas sabemos que as multinacionais que manipulam este fluxo de oiro-negro e as divisas correspondentes, são as mesmas que condicionam a actuação dos governos consumidores. Daí que tudo não passa de conversa mole, de manifestações carregadas de falsidades, com as quais se pretende, simplesmente, que as populações dos países consumidores olhem para outro lado e fiquem satisfeitas com este teatro breve.

No que nos afecta directamente, a cada um de nós, é imperioso que estejam todos convictos de que a sociedade de consumo nos traz agarrados pelo pescoço, ou por outro ponto ainda mais doloroso. Por muito que se tente, agindo individualmente, não é possível escapar das decisões que contrariam aqueles "bons propósitos" de emenda de recuar, de voltar ao passado, pelo menos nos capítulos onde a sensatez é citada insistentemente, sem que as acções efectivas se mostrem coerentes com os propósitos que mentirosa-mente nos afirmam que serão cumpridos. O habitual é que as tais medidas a cumprir se resumam a nos fazer pagar mais para seguir na mesma via, com as mesmas embalagens, com os mesmos sacos, tudo cada vez mais practico para a distribuição, e o cidadão fica sujeito a mais uma série de taxas, mais ou menos ocultas, sem que nada de positivo aconteça.


vv

domingo, 21 de outubro de 2018

MEDITAÇÕES - 29 MITOLOGIAS FÚNEBRES




PARCA E CARONTE

Dou como indiscutível que os, poucos,seguidores dos meus devaneios reconhecem estas figuras mitológicas. mesmo assim deixarei umas curtas referências.

A Parca segundo é referido na mitologia grega, era uma das três filhas de Zeus com Témis -aliás Zeus era danado para a brincadeira e não desperdiçava nenhuma oportunidade de deixar descendência-  As três deidades que cuidavam do Destino dos humanos eram Cloto, Láquesi e Atropos, que ao serem adaptadas à canibalesca mitologia dos romanos foram reduzidos a uma só, com o nome de PARCA, que perdurou até hoje na linguagem académica, ou culta se aceitarmos o qualificativo, como sendo a Deusa da Morte.

Por sua vez CARONTE, era também uma figura mitológica, mas de segunda ou terceira categoria. Era descrito como ser um barqueiro, muito velho e enxuto, com longas barbas brancas, que na sua pequena lancha, com um único tripulante, ele manejando um só remo, se encarregava de conduzir os espíritos, digamos as almas, dos falecidos  depois de devidamente sepultados. 

Os recolhia na margem da lagoa Estíge e os conduzia até o local onde deveriam aguardar o fim dos tempos. Não eram iguais os destinos, e era Caronte quem decidia, em função do pagamento que vinha com cada um dos cadáveres. Isto implicava que os parentes do falecido tivessem a função de colocar uma moeda na boca do defunto, debaixo da língua, para que com ela pudesse pagar o barqueiro Caronte. Quem não pagasse ficava errabundo nas margens do lago durante um tempo de cem anos mitológicos.

Esta figura perdurou até muito tarde no imaginário e na literatura, sendo muito conhecida a referência que Dante lhe fez no seu canto  primeiro  do seu Inferno. 

Sendo eu um ateu incorrigível, mesmo que reconhecendo que a Parca já me fisgou, gostaria de poder pregar uma inocente partida a Caronte. Que quando procurasse o seu estipêndio debaixo da minha língua, se deparasse com uma daquelas fichas de plástico com que se podem utilizar os carrinhos nos hiper.


sexta-feira, 19 de outubro de 2018

MEDITAÇÕES - 28 TANCOS


POUCO CLARO ESTE CASO

Este é um dos tais temas com minas e armadilhas, propriamente ditas e também metafóricamente. Já se ultrapassou um ano, medido por 365 dias, da data em que o excelentíssimo público da sala teve notícia de que dum paiol do exército, situado no polígono de Tancos, tinham sido retirados, sem autorização superior, algumas peças de material bélico.

A partir daí sucederam-se inquéritos, afirmações e desmentidos, notificações de arguidos, demissões ou simples ralhetes. Um verdadeiro Carnaval onde se tornou evidente o desnorte de alguns dos responsáveis directos ou na escala hierárquica. De repente consta que se preparou uma “devolução” total ou parcial do material subtraído, incluídas munições de guerra e que ainda não ficou claro se era obsoleto, inoperacional. E se de fato era assim porque não foi destruído? Penso, e não devo ser o único com esta sensação, que é premente que tudo isto se esclareça e se possa por a tal pedra em cima.

Todavia acontece que ontem, estando eu de viagem pela estrada e com a telefonia sintonizado numa emissora propensa a debates, a certa altura ouvi referir que esta movimentação, fora das normas, de material bélico era possível que estivesse ligada a uma “luta surda” que se sabia existir no seio das forças armadas entre facções de direita e outras de esquerda. ALTO AÍ! Será que votamos aos séculos XIX-XX ? Era o que faltava ! Esta farpa radial nos leva à noção de que as forças armadas, nomeadamente o exército, regem-se por um estatuto hierárquico inflexível, essencialmente conservador, inclusive para alguns de cariz monárquico. Daí que esta insinuação, caso tenha um fundo de verdade é, como mínimo, preocupante.

Por outro lado sinto que, além de ser pertinente saber quem estava conhecedor da manobra e até que ponto o secretismo impediu que os altos responsáveis tivessem conhecimento prévio, ou mesmo que sabendo da artimanha posteriormente optassem por manter silêncio no intuito de não desprestigiar este pilar da soberania nacional, existem algumas perguntas que não foram devidamente esclarecidas à cidadania em geral.

Admite-se que uma transferência ilegal, indocumentado, de material militar de um paiol, em princípio sob vigilância e guarda acurada, devia ter um destino previamente definido. Segundo foi referido numa lista no lote subtraído incluíam-se armas ligeiras como pistolas e metralhadoras portáteis, e outras não tão ligeiras, nomeadamente lança granadas, armamento que, por enquanto, não é de uso corrente na malandragem. Isso leva a imaginar que o cliente queria o lote completo. Daí a primeira pergunta: QUEM ENCOMENDOU ESTE DESVIO?

A seguir cabe preocupar-nos sobre se o destino previsto era o do terrorismo internacional, que imaginamos tem muitos fornecedores de material novo ou em bom estado. Ou, como ouvimos ser insinuado, na preparação de um golpe militar de cariz ditatorial direitista. Estaria em consonância com a tendência conservadora na Europa e América.


quinta-feira, 18 de outubro de 2018

MEDITAÇÕES 27 - MUDA SEM DAR POR ISSO



JÁ ULTRAPASSAMOS O LIMIAR


Tentando ponderar a situação actual da nossa sociedade, com o passado recente que vivi e atendendo à rapidez com que as coisas evoluem neste século, sou levado a considerar que dada o número de indivíduos que estão lutando, com êxito ou com alguma desilusão, para ultrapassar os condicionalismos que existiam no tempo dos seus progenitores, tanto económicos como culturais, admitimos que, mesmo com os problemas de colocação existentes na actualidade, nunca existiram tantas possibilidades de evolução social como actualmente.


Mas não só na mudança de horizontes restritos ao âmbito social e económico, mais a progressão cultural disponível que altera, positivamente -assim esperamos- a rápida evolução da população, vista num computo geral. E nem tudo o que se pode prever é humanamente positivo, agradável. A economia mundial que de facto governa o mundo está apostando, e ganhando, por um lado na exploração intensiva do trabalho intensivo e mal remunerado, num regime de quase escravidão das populações mais carentes, em condições de practicamente escravidão.


No mundo ocidental, onde as leis de trabalho ainda tem força para se oporem, com alguma eficácia, à avidez e abuso dos empresários sem escrúpulos, a táctica seguida tem sido a de deslocalização das fábricas para o terceiro mundo e, quando necessitam de manter alguma produção no próprio país, orientam a tecnologia produtiva para a robótica. Preferem investir fortunas na concepção de máquinas robotizadas, que conseguem fazer muitas funções repetitivas após serem devidamente programadas e munidas de braços mecânicos multi-funcionais, e assim não depender de operários humanos.


O caminho que se está seguindo tem como ramas principais a informática, os serviços automatizados, a programação, robótica e a recurso cada vez mais reduzido a humanos. Tudo tem que estar dependente de máquinas, sejam simples ou muito complexas. Numa primeira análise podemos deduzir que ficam para os humanos aqueles trabalhos mais desagradáveis e sujos. Até as pequenas,ou médias, avarias que acontecem nas casas, cada dia implicam mais dificuldades em conseguir a presença de um profissional habilitado. E se comparecer pode exigir uma remuneração elevada. Daí que, como nos outros países evoluídos, é-se conduzido para solucionar o problema pelas próprias capacidades do residente, entrando no esquema do faça-você-mesmo.


Um exemplo concreto, duma evolução rápida. Uma parte importante da população ainda não entendeu que o deitar resíduos, garrafas e latas vazias, papeis, e outra embalagens na via pública é equivalente a emporcalhar a sua própria casa. Verifica-se que muitas ruas de passagem frequente oferecem, quase que permanentemente, um aspecto imundo. Os residentes não colaboram, voluntariamente, a recolher os lixos deixado por outros, e as Câmaras Municipais, que mantinham equipas de operários para varrer e lavar passeios e pavimentos, reduziram a despesa neste capítulo. Primeiro passo foi contratar estes trabalhos a empresas exteriores, e deixar de ter este pessoal no quadro. A seguir as empresas, seguindo a tónica geral, decidiram adquirir máquinas de varrer e vassouras de sopro que juntam algum lixo mas espalham pelo ar as partículas que seguem o forte débito de ar que serve de vassoura. Não sei, pelo que assisti, se esta táctica é tão eficaz ou mais do que os varredores humanos, mas que fazem muito mai barulho e levantam mais poeirada é um facto. Dizer se ganhamos ou perdemos depende de a quem chegam coroas ao bolso.




terça-feira, 16 de outubro de 2018

MEDITAÇÕES - 26 DAR MILHO



DAR MILHO AOS POMBOS

Por princípio não estou vocacionado a tratar, neste espaço quase público, temas de política nacional. Mas esta relutância não se deve aplicar in eternum, em especial quando os assuntos atingem a maioria dos cidadãos, em favorecimento de uma classe dominante. Aliás, os dominantes nem sequer são homogéneos entre si, pois os há que se movem em compartimentos muito diferentes. Mas o que os une é o facto de, por um lado ou outro, terem uma influência pesada no comportamento de quem, mais ou menos legalmente, nos governa. Apetecia dizer “nos orienta”, mas isso é aceitar uma pressão de nível excessivo.

Nesta altura, e curiosamente coincidindo com a governação vigente além Elvas-Caia, temos um governo em teoria de cariz socialista mas que sendo ambos reféns de outros partidos, que exigem ser compensados pelo seu apoio, seguem uma navegação à vista que não corresponde a nenhum ideário sério e reconhecido. Podemos afirmar que comportam-se mais como governantes conservadores. Os “sócios” tem a governação agarrada por onde mais dói, e por este facto vemos que, apesar de ter a economia nacional em muito pior estado do que aquele que se propagandeia, conseguem algumas benesses para os seus apoiantes, sem se preocuparem do facto de que estas “victórias” causam prejuízo a outros grupos que sentem-se preteridos. E que não deixaremos, todos os que estejam vivos, a pagar com língua de palmo e estômago colado , quando nos colocarem em frente do paredão, metafóricamente falando.

A solução adoptada é clássica e transparente: para dar aquilo que não se tem é necessário ir pescar em toda a população, indiscriminadamente. Assim é possível dar milho a uns pombos, calarem os urros e ameaças por uma temporada, sem garantia de que não retomem as ameaças em breve, e conseguir uma entrada por impostos, directos e indirectos, que compense o rombo daquela cedência.

Até aqui estivemos comentando os acontecimentos que se identificam com as exigências de uma parte dos assalariados. Mas os outros grupos, também dependentes de salário, estão atentos para aplicar as mesmas pressões. Sintomaticamente esta situação se identifica com as camadas mais propícias a serem incitadas, ou seja, aquilo que se denomina como a esquerda do leque social. Os seus representantes, sempre estão dispostos a negar as suas falsas convicções por umas moedas, ou mais solenemente por umas prebendas que não merecem nem fizeram méritos honestos para as justificar.

Estes teoricamente representantes da população trabalhadora, e mais os simpatizantes honestos, é que merecem se qualificados de esquerdalha, termo despectivo. ofensivo, que não se deve aplicar a quem simplesmente tenha no seu espírito a vocação de ser necessária uma extrema justiça social.

Mas não podemos deixar passar o contraponto, que justificará o identificar os grupos de pressão ligados ao poder e ao capital, que são como irmãos siameses, em conluio com as igrejas de massas. O sempre presente dinheiro, capital se preferirmos, comanda as decisões e dá, ou não, a sua aprovação às políticas governamentais. São os membros da direitalha que decidem o donde e como ir sacar mais dinheiro à população, para pagar aquele milho que se deu a alguns pombos.

Tanto em regimes capitalistas, como o nosso actualmente, como nos falidos socialistas ou comunistas, o esquema funcional é especular. Os truques são idênticos e sempre se baseiam na “compensação por serviços prestados”. O facto de que as remunerações anexas aos lugares de administrador ou equivalente, serem elevadas, correspondendo a muitos salários médios ou mínimos, não preocupa a quem distribui as regalias, pois ele também sabe que terá outra satrapia, possivelmente melhor, quando chegar a sua vez. Já tem o lugar reservado! Tampouco lhes tira o sono o montante de dinheiro que é distribuído entre as centenas, ou milhares, dos e que recebem para nada fazerem. Já fizeram! Se calhar algumas assinaturas.

A sociedade humana, para a definir de alguma forma, é maioritariamente vergonhosa. Razão tinha Diógenes quando passeava em pleno dia, com uma candeia acesa na mão, dizendo que procurava alguém honesto e ainda não o tinha encontrado. Os cínicos, realistas, afirmam, convictamente, que todos tem um preço. Uns vendem-se por dez réis de mel coado, e outros exigem mundos e fundos. Tenho pena de não ter sido eleito para merecer uma boa compensação. Quiçá noutra vida, se houver reencarnação em humano e não num animal, considerado mais irracional do que nós.

sábado, 13 de outubro de 2018

MEDITAÇÕES - 25 BACALHAU



COSTUMES ENRAIZADOS

Muitos costumes que estavam em vigor poucas décadas atrás já caíram no esquecimento. Foram substituídas por outras, que terão um periodo de vigência variável, até que, por sua vez, sejam postas de lado. Não só pela pressão da modernidade e até podemos culpar os novos sistemas de comunicação e “ilustração”, digamos a NET.De qualquer forma sempre se considerou que as modas (*) mudam com bastante rapidez, tal como reza o dicionário, onde refere que corresponde a uma maneira, essencialmente mutável e passageira de se comportar e, sobretudo de se vestir. E eu acrescento, de se pentear, de se comportar, de conviver e também de comer, ou até de se alimentar.

Precisamente ao comparar aquilo que era apresentado nos restaurantes “de primeira linha” e o como se serviam as travessas duas décadas atrás e na actualidade sentimos como a vaidade e a ânsia de imitar as iguarias, em geral copiadas ou sugeridasdesde fora, e que merecem os elogios dos conhecedores (?) estão abastardando a cozinha nacional, mesmo quando sugerem que a respeitam dando um nome que induza ao clássico mas que depressa se verifica não passa de um raminho de salsa para embelezar uma treta que custará bem caro. Por enquanto ainda restam bastantes locais de restauração onde se podem apreciar alguns dos pratos mais apetitosos e afamados da cozinha tradicional portuguesa.

E nesta já reduzida lista de pratos cozinhados “à antiga” alguns dos que lutam pelo lugar de destaque são os que incorporam o famoso bacalhau. Afirma-se que existirem cem maneiras diferentes de o cozinhar e apresentar na mesa, desde o cozido com todos, ao grelhado na brasa, em pastéis, assado no forno, com grão e muitas mais denominações. Quem nos visita e fez os trabalhos de casa já traz no seu ideário que Portugal é a terra do bacalhau. Certo, não vamos discutir isso, e confesso que hoje mesmo, para almoçar, escolhi bacalhau com natas, que não é propriamente uma receita que fosse popular nos anos '50.

E aqui recordo uma frase castiça, conhecida por todos e que eu considero despeitiva: PARA QUEM É BACALHAU BASTA ! Da qual se pode deduzir que este manjar, de fama “universal”, era visto como um sinal de que a penúria alimentar do povo podia-se considerar como habitual, e daí que uma refeição com bacalhau já seria qualificada de excepcional. Mas este peixe seco, sensaborão, que tem que ser temperado com diferentes aditivos para o tornar apetitoso, desde o manter demolhado com leite cru ou mergulhado numa farta tomatada, entre outras técnicas, continua a ser um dos capítulos importantes nas importações nacionais. Pelo menos após se ter tornado não rentável a pesca com anzol, dado o esgotamento dos pesqueiros pelos arrastões e mais as quotas de reposição impostas.

É um facto histórico que a pesca deste peixe nos mares frios custou muitas vidas entre as populações costeiras de Portugal. Que muitas famílias vestiram luto por filhos, namorados ou maridos, e que nem sequer foi possível recuperar muitos dos corpos. Só por esta razão, que não é de pouca importãncia, este manjar ressequido deveria ser banido, amaldiçoado. E não foi. Porque?

Simplesmente porque era uma das fontes de proteínas (e de espinhas) mesmo quando o cadáver mumificado era de tamanho minorca. E a população rural, ou de baixos recursos nas cidades, poucas opções tinham no sector alimentar. No campo ainda havia a possibilidade de criar aves de capoeira, ou de pelo, que se não eram vendidas no mercado semanal para conseguir algum dinheiro sonante, podiam constituir um luxo nalguma refeição considerada importante, que justificasse o sacrifício de um animal. Restava o porco e a salgadeira, cujas carnes limpas duravam poucos dias, e o que ficava como alimento quotidiano eram os untos e o toucinho. Presunto? Também era reservado para ocasiões especiais, ou comercializado numa emergência.

Restavam poucas fontes de proteinas, e não estava na moda ser vegan por decisão própria. Os pescadores ainda secavam uns sucedâneos do bacalhau, fossem sardinhas, carapaus, chicharros, moreias, polvos ou cações, entre outros. Quem se debruçou sobre a alimentação do povo e a sua influência na saúde e crescimento sabe bem como a altura medida nos mancebos que iam às sortes foi subindo, notávelmente, quando melhoraram as possibilidades alimentares da população em geral. E “em geral” inclusive os mais abastados alimentavam-se com deficiências, apesar de muitos estarem gordos e anafados, mas nem por isso muito saudáveis.



(*) Nos anos '50, no meio rural, que estava pouco imbuído na linguagem da cidade, os conjuntos locais de músicos eram denominados, em certas zonas como sendo um JAZZE e as peças que tocavam eram MODAS.

quarta-feira, 10 de outubro de 2018

MEDITAÇÕES - 24 MITOLOGIA



O UNICÓRNIO (licorne, licórnio)

Tenho uma peça, de entretenimento, que, a partir de um tronco com dois braços, fui incorporando figuras talhadas em madeira. Umas de minha factura e outras encontradas nos montes de sucata familiar e até compradas a preço miserável nalguma feira de velharias.

O que começou sendo um tronco nú hoje tem incorporados mais do que uma dezena de bonecos, incluíndo aves quase que realistas ou sem dúvida fantasticas; répteis agressivos e cães, quase sempre em com a boca aberta e procurando amedrontar. Estas figuras, de pequeno porte, em geral só apresentam a cabeça e pescoço, pois “moram” no interior do tronco, sugerindo que aparecem cá fora movidas pela curiosidade. A composição passa épocas em estado letárgico, e submetida à degradação da intempérie, mesmo quando a coloco debaixo de uma zona coberta.

A questão é que me incitou a escrever é que, metido, por decisão propria, em trabalhos de conservação da casa. Desta feita no exterior imediato, com regularização dos passeios e aplicação de impermeabilizantes, no intuito de colmatar a entrada de humidade na cave, deparei com outras tarefas que estavam esperando ser atendidas. Uma delas era a de recuperar a tal miscelânea de mostros que ainda estavam fixos no referido tronco, e que todos eles careciam de ser restaurados.

Como isto de fazer trabalhos “manueis” é como o coçar, que mal se começa é difícil parar, pensei que era a ocasião de talhar mais algumas figuras. E, se mal pensei, assim levei em frente. Procurei um bocado de madeira, recuperada de umas podas do ano anterior, e olhando para o que me podia sugerir, metí mãos à obra para tentar criar, em miniatura, um pescoço e cabeça de cavalo. Nestas estava quando recordei que o que tinha entre mãos estava dito e feito para vir a ser um unicórnio. Só tinha que criar o dito cujo corno, direito como uma florete, longo e retorcico numa espiral de várias entradas.

E aqui está a justificação deste escrito. O animal mitológico denominado unicórno. por ter só um chifre, figura desde muito antigo em lendas, relatos e pinturas. Considerado na Idade Média como símbolo da pureza, castidade e força extrema. Sempre foi pintado como sendo um cavalo branco. À sua insólita portuberância lhe foram atribuídas propriedades fantásticas, ao estilo das que ainda hoje são a causa das matanças de rinocerontes e tatus, para depois no oriente comercializar aos bocados (em pequenas porções e elevado preço) dando azo a que se continue com as falsas propriedades medicinais.

Existem muitos pretensos chifres de unicórnio, sempre vindos dos países nórdicos, e distribuídos por comerciantes de artigos exóticos, como o ambar, seja o de cor cinzento -das baleias; ou cor de mel -resina de coníferas solidificada. São bastantes os templos europeus, que gardam, zelosamente, dentes de narval, dando-lhes significados esotéricos, fantasiosos, que se mantêm desde a antiga idade média. Alguns foram aproveitados para constituírem o fuste de báculos de bispos ou mesmo Papas.

De onde provinham estes longos espetos, sempre retorcidos, e que deviam ser transacionados por quantias importantes? Existiam os tais unicórnios, com corpo de cavalo e um longo chifre na testa? Admito que actualmente todos sabem que este chifre era um dente de um cetâceo com o nome de NARVAL, e que se supõe o utiliza para caçar nas profundidades do oceno ártico, que é o seu “território” preferido. Este mergulhar fundo é comum aos outros cetâceos de grande porte. O curioso é que ao Narval só lhe nasce e cresce, desmedidamente, um só destes dentes na mandíbula superior. Fica excêntrico e não no eixo do seu corpo!

Daí que ao transferir para as lendas, se colocasse o dente, como se fosse um chifre, na testa de um mamífero, uma variante imaginada do cavalo. A partir daí criaram-se e escreveram muitos contos e lendas, referindo habitualmente que este animal era esquivo, difícil de encontrar, mas dócil, manso e desejoso de fazer favores a quem se tornasse seu amigo.

terça-feira, 9 de outubro de 2018

MEDITAÇÕES - 23 NÃO MEXER



NO QUE ESTÁ BEM NÃO SE MEXE.

E a Mãe Natureza nos ofrece muitos exemplos de como deixa de fazer tentativas quando entende que chegou a uma solução satisfactória. Coisa que os humanos raramente decidimos. Temos a mania, em demasiadas ocasiões, de insistir na procura da superação. Com tanto esmero que esta inquietude conseguiu estragar muitas obras que se pode dizer tinham atingido o seu zénite.

Um tema que me atrai a atenção desde muitos anos atrás é o modo como a evolução das espécies considerou que o mecanismo ósseo e muscular de muitos seres vivos, em especial dos quadrúpedes, mas não só, tinha atingido um grau de perfeição que conduziu a o manter imutável desde milénios, ou mesmo milhões de anos. Se recuarmos até o momento em que alguns peixes decidiram deixar as águas para se deslocarem pelo chão firme e respirar directamente do ar e assim conseguir obter o igénio, indispensável para o seu metabolismo, e não aquele que, até então, encontravam dissolvido na água.

Estudando os fósseis que se tem encontrado, nomeadamente aqueles que correspondiam a seres vivendo nas terras emersas, verificamos ser constante que já então os membros anteriores funcionavam, no aspecto mecânico, de modo diferente dos posteriores.

É fácil de ver, olhando para nós mesmos, que se os braços dobram-se pelos cotovelos para baixo e atrás, os posteriores, pernas, dobram em sentido contrário nos joelhos. Estas duas articulações tanto podem manobrar coordenadamente como com independência, agindo em tarefas diferentes consoante as ordens que recebem do centro de comando. Um facto, conhecidomas não valorizado neste aspecto da coordenação, o temos no andar e mais no correr. A progressão no caminho é tarefa das pernas, dos membros posteriores, mas imediatamente, sem depender de uma ordem expressa, os braços movem-se no mesmo ritmo e compasso.

A imensa maioria dos seres terrestres quadrúpedes, incluídos os répteis com pernas, deslocam-se com o mesmo esquema ósseo. O que não é de admirar dado que é ponto assente, na teoria da evolução, que os répteis foram muito anteriores aos mamímeros e até das aves. E aos sáurios prédiluvianos (*) devemos muito do que somos.

Chegados a este ponto é muito interessante que a evolução dos membros motores se tenha mantido nos mesmos moldes. Já nos extremos dos membros existem variantes funcionais notáveis. Mas estas diferenças, como são cascos, unhas, barbatanas, limitam-se a evoluções particulares, sem que alterem a mecânica ossea dos membros. Quando vemos as representações dos mamíferos marinhos, desde os pinípedes (focas e morsas, além de poutros) e os cetáceos (orcas, baleias, cachalotes, golfinhos) confirmamos que as aletas peitorais correspondem, ósseamente, aos braços ou membros anteriores, enquanto que nas barbatanas posteriores estão escondidas as pernas dos terrestres.

Retomando o título: No presente a humanidade deveria agir com muita atenção a fim de não contrariar os designios da natureza. Nem sequer de o tentar, pois tal atrevimento pode sair muito caro no futuro, mais próximo do que imaginamos.

(*) Embora a questão de ter existido um dilúvio universal esteja totalmente aceite como uma metáfora local e temporal, continua-se, por hábito, a nomear desta forma o tempo que existiu antes da extinção dos grandes saurios, e outras espécies.

domingo, 7 de outubro de 2018

MEDITAÇÕES - 22

MARMELOS

Um fruto da família das maçãs, peros, peras e outros frutos de pevide miúda. O marmeleiro é associado, através das suas varas rijas mas flexíveis, como tendo reconhecidas propriedades recuperadoras, no sentido de que manipulados contra as costas de um faltoso o podem corrigir e assim o reconduzir para o grupo dos bem comportados.

Habituei-me a ver os marmeleiros mais como arbustos, dispares das árvores que insistem em manter um aspecto normal, com um tronco único e ramas onde frutificam flores e dão suporte aos frutos. Pelo contrário, os marmeleiros são quase que arbustos, indómitos, com uma multiplicidade de troncos à volta da estaca central e ramas despenteadas, rebeldes, possivelmente porque o homem, o camponés, não se dispos a domestica-lo. Deve ser por esta razão e porque os seus frutos não são os mais cotizados no mercado, que muitas vezes ficam relegados à berma das propriedades, com as funções de constituir uma sebe natural, não totalmente dissuadora, tanto entre propriedades de donos diferentes como nas lindes de caminhos comunais. Esta colocação oferece ao vizinho ou ao passante a possibilidade de pilhar algum fruto sem sentir que esteja cometendo propriamente um furto.

O fruto em si, o marmelo, merece mais estima do que a que sugere o pouco cuidado que se dedica à árvore arbustiva. E, no entanto, dada a sua forma e o ter uma portuberância pouco usual no extremo oposto ao pedúnculo, além de que quando madura emana um perfume cativante, é associado à imagem da mama feminina e daí que na linguagem picaresca se denominem de marmelos os peitos.

Por outro lado temos que os marmelos assados no forno rivalizam com as maçãs, por terem uma textura e um aroma específicos. A sua polpa, quando cozinhada com a adição de açúcar, nos oferece a estimada marmelada -que novamente fica ligada aos peitos das raparigas como prato forte nos namoros, pela possibilidade de excitar tanto a portadora como o manipulador- Esta iguaria tradicional é denominada em castelhano como carne de membrillo, e em catalão como confitura de codony. Em castelhano os atrevimentos de namoro referem-se como pelar la pava.

Quando garoto, escolar, ainda na terra onde nascí, os lápis eram afiados com umas afiadeiras que, maldosamente, tinham o mau hábito de partir a ponta da mina. Os mais habilidosos aproveitavam as lâminas das maquinetas de barbear paternas para afiar os lápis, arriscando-se a cortas os dedos. Eram os únicos instrumentos de corte á nossa disposição. Aos que lhes dávamos outras utilizações, próprias das crianças que éramos.

Fazendo uma vaquinha entre dois ou três colegas juntavamos os poucos céntimos que tinhamos nos bolsos e, numa loja perto da escola, compravamos um marmelo, comunitário. Com a lâmina cortavam-se lascas, que se distrinuiam entre os “sócios”. Em cru e nem sempre com a maturação completa, estas lascas eram muito ácidas, astringentes, e as mastigar e engolir implicava um esforço a raiar no massoquismo. Tal como o jogo do pião ou das bilas era uma brincadeira de época.

E as memórias sobre marmelos não se ficam por aqui. Em catalão, que tem identica ao português a frase propiciatória para errar do UM TIGRE, DOIS TIGRES, TRÊS TIGRES, existe uma armadilha de pronúncia com marmelos, mas intraduzível. Reza assim LA TIA MARIA COLLIA CODONYS, CODONYS COLLIA LA TIA MARIA, DE GENOLLONS. (*) Tinha que se pronunciar, repetidamente, e muito depressa. Até que a língua se atrapalhasse e em vez de codonys pronunciasse COLLONS.

Uma brincadeira fonética própria da idade em que se inicia a conversa apimentada. Corresponde á habitual pesquisa de palavras “reservadas” quando se maneja um dicionário pela primeira vez. E, em geral, ali não constam, para desconsolo do neófito.

(*) em criança não captava a malandrice de a tia estar ajoelhada enquanto colhia marmelos, que neste caso seriam “tomates”.


MEDITAÇÕES - 21

JÁ CHEGAMOS


Obrigado a todos os que me ignoram. Já chegamos ao zero absoluto, onde o frio é tanto que não é possível sobreviver.

terça-feira, 2 de outubro de 2018

IN ILLO TEMPORE - 3


I
Estive presente no casamento dos meus pais

Um colega de curso, queficou como amigo até hoje, sempre se mostru possuidor de um humor bastante pessoal. Tal como acontece com os bem dispostos não profissionais, repetia as mesmas piadas vezes sem conta. E uma delas era a de afirmar que aquilo que recordava de mais inicial da sua vida foi o ter ido comos seus pais a uma merenda campestre. O que ficou na memória era o facto de ter ido com o pai e voltado com a mãe.


segunda-feira, 1 de outubro de 2018

IN ILLO TEMPORE – 2



Esquecer o passado

Existem grandes verdades, pensamentos profundos, no meio dos ditados populares, ou rifões. Não faço ideia de se as novas gerações ainda entrarm neste campo da cultura, por arrastamento do que ouvem dizer no seio da família. Mas tenho as minhas dúvidas de que tal aconteça. Esta impressão deve-se por ver como, desde muito crianças, mantem-se totalmente alheadas do que as envolve, e mesmo quando estando num grupo, cada um só tem olhos para o pequeno visor que o traz enfeitiçado. Ja vi uma quase bebé, de chucha, que se entretinha dedilhando e esfregando um telemóvel! muito antes de saber falar e de poder entender cabalmente uma conversa de adulto.

O parágrafo anterior surgiu com o propósito de servir de introito ao que um ditado popular, dos bons, nos avisa, sempre e tanto que o interpretarmos pelo conteúdo abrangente e não só pelo que a frase em si nos diz. O ditado é o seguinte: Cada qual diz da feira consoante lhe vai nela.

Traspondo da situação pontual de uma feira para a vida é fácil entender as razões, ou despropósitos, que levam a que os membros das sucessivas gerações não desejem ouvir das agruras porque podem ter passado os seus antecessores. Do passado dos outros, mesmo sendo tão chegados como os seu proprios pais, só lhes agradam as boas lembranças, as agradáveis, aquelas que se podem valorizar como os programas das televisões generalistas. E a realidade nos diz que por cada vivência engraçada, agradável, se o percurso do familiar incluiu tempos magros, tristes, com dificuldades, serão estas situações as que com mais frequência serão recordadas, especialmente quando a idade avançou e se entra na velhice.

Uma referência conhecida é a de que aqueles que estiveram em frentes de combate, que dispararam a matar e sofreram fogo do inimigo, que viram companheiros mortos ou mutilados, raramente estão dispostos a falar destas vivências. Não só porque estas recordações são pesadas, tristes e trazem traumas para a flor da pele quando ele as preferia manter quase que esquecidas, mas que infelizmente as traz sempre presentes, mas porque sente que os ouvintes, sendo de outra geração, não lhe dão a importãncia que merecem. Obviamente não as podem sentir, dado que não as viveram. Pior, preferem não as ouvir ou, em contraponto, só os sádicos é que prestam atenção, uma atenção que o relator não aprecia.

Possivelmente para conseguir que um descendente se interesse, interiormente, pelas vivências penosas dos seus pais seria necessário que estes, fosse com premeditação ou por não conseguir tirar da sua mente sucessos muito anteriores, tenham martelado os ouvidos dos filhos com uma insistência que tornasse impossível manter os ouvidos moucos. O mais normal é que os filhos rejeitem entrar, entender, valorizar, as situações penosas porque passaram os seus progenitores. Para eles, os da actualidade, o pertinente será atender a outro anexim: Burro morto, cevada ao rabo. Ou Passada a festa, esquece o santo.