quinta-feira, 31 de outubro de 2019

MEDITAÇÕES - Sobre a Gaguez





GAGOS NA ASSEMBLEIA DA REPÚBLICA

Um problema da fala que é tão incómodo para quem o padece e sofre como para quem o ouve. E por ser relativamente frequente -até dizem pode ser congénito- encontrasse referenciado nos clássicos ocidentais. Gregos e Latinos tentaram resolver esta situação, em especial quando afectava a personagens que destacavam pelas suas opiniões e por isso mesmo eram procurados a fim de os ouvir. O remédio, de sucesso duvidoso, que nos surge na memória era o de proporem ao discursante que colocasse uns pequenos seixos na boca já antes de iniciar a sua palestra.

Entre nós o tema voltou às páginas e comentários após a eleição de uma deputada que, quando se enerva, não consegue debitar o seu pensamento de uma forma contínua, ou seja, que gagueja, tal como lhes acontece normalmente a quem padece deste problema.

Por muitas recomendações, do tipo social, que se façam entre aqueles que, por reflexo, também se enervam, se sentem incomodados, quando sujeitos a ouvir e interpretar alguém que “fala às prestações” (e dizem que deve cantar “a pronto”) o instinto animal, que insiste em surgir de vez em quando, nos pressiona a rejeitar esta pessoa. A fazer ouvidos moucos ou a virar-lhe as costas o mais discretamente que for possível. Obviamente esta não é uma solução eficaz para o problema pessoal de quem o sofre.

E haverá uma terapêutica da fala que consiga eliminar esta sintomatologia? Parece que existem algumas técnicas, não invasivas, que podem ser eficazes. Para quem esta situação, problemática, o preocupar, mesmo que não a sofra pessoalmente, sugerimos que procure documentar-se com paciência e tentativas persistentes. Há bastantes textos disponíveis, e um deles, que encontrei após vários fracassos, é:

SANDRA MADALENA ESTEVES DE LIMA
Gaguez: estudo de caso.

Monografia apresentada na Universidade Fernando Pessoa, para tese de licenciatura.

Porto 2009


segunda-feira, 28 de outubro de 2019

MEDITAÇÕES - Ainda sobre religiões



O Catolicismo é monoteísta ?

Imagino, com convicção, que bastou este cabeçalho para “inflamar” muitos espíritos. Que só pela sua apresentação constitui uma blasfémia, de tal magnitude que se o tribunal da Santa Inquisição (melhor seria SANTÍSSIMA) estivesse com poder vigente, eu, nesta mesma hora, estaria não só a ferros como pendurado na polé aguardando o dia em que deveria participar, como artista, numa cremação na praça pública.

Outros leitores, mais tranquilos, devem-se inquirir porque motivo, um descrente, ateu convicto, passa tanto tempo entretido com estes assuntos. A única resposta plausível que eu mesmo encontro é que, queiramos ou não, a inércia da religião no nosso modo de vida, no ambiente onde convivemos, é tão forte e influenciável do que gostaríamos. Ou mereceria, para alguns como eu.

Para dar algum seguimento à pergunta inicial é pertinente fazer um esforço para imaginar um recuo até os primórdios da sociedade dos humanos. TODOS reconhecemos que os primeiros bípedes pensantes, merecedores, por mérito próprio, de serem considerados como humanos, não podiam ficar como simples objectos, impávidos, perante os fenómenos atmosféricos, climatológicos, temporais e repetitivos com as estações, que ainda hoje e apesar de tanto (?) conhecimento acumulado, nos podem fazer sentir como simples e indefesos espectadores, sem a mínima capacidade de interagir com a natureza violenta e indomável.

Não é possível negar que, ainda hoje, o homem procure justificações, a ser possível segundo o in completo conhecimento científico ao alcance do cidadão nos tenta ajudar na interpretação do desconhecido. E sempre surgiu a mesma possível resposta: alguma entidade, indefinida, invisível, com a qual não é possível dialogar, mas que, como defesa, se imaginou que era pertinente respeitar e tentar agradar. Estas múltiplas entidades foram adquirindo o estatuto de deuses. Que de imediato se procurou materializar, fosse numa montanha, num rochedo especial, numa nascente, num animal perigoso, ou até um vento dominante, entre outras muitas possibilidades. Foi a génese do animismo. Esta tentativa de encontrar respostas a perguntas impossíveis de obter uma resposta na fase mais primária da cultura humana, deve ser vista como a proto-religião.

A mente humana, que sempre complicou a sua vida tentando descobrir o desconhecido, se encarregou de ampliar e humanizar o modo de tentar invocar e respeitar as forças ocultas. Ultrapassar a veneração de uma montanha ou outro símbolo de visão imediata, não deve ter tardado a ser complementado com a invenção de figuras, fossem humanas ou compostas, ao estilo das famosas esfinges, sereias, centauros, e a hiper quimera. E não se pode deixar de referir a sua conexão com o culto de espíritos, sejam de humanos já falecidos ou de entidades totalmente míticas. Daí ao idolatria.

Passar para o Politeísmo, é uma simples evolução, mas que sempre surgiu acompanhada da estruturação de uma hierarquia à que os muitos deuses “menores” deviam sujeitar-se. Todas as religiões antigas, já estruturadas, seleccionaram uma entidade suprema. Assim aconteceu com o politeísmo egípcio, onde Ra, ou Amon, era o ente magno. A partir destas figuras míticas sempre se criou uma corte celestial com graus mais ou menos bem definidos. Uma hierarquia semelhante à dos exércitos que se criaram com a aglomeração de povos anteriormente isolados e independentes entre si, e que actualmente persiste na cúria católica.

Como a evolução não se consegue parar, do Politeísmo teve que se voltar ao Monoteísmo inicial. Que levado ao extremo rigor implicaria a degradação e esquecimento de todos os deuses menores, o que só é possível se lhes forem retirados todos os seus imaginados poderes, que o homem gosta e teima em invocar pedindo ajuda incorpórea.

No mundo ocidental em que nos movemos, os grupos de crentes que, de facto, são adeptos do monoteísmo, são o Judaísmo e o Islão, que sendo primos entre si, como certos números, se guerreiam para se auto-justificar como herdeiros e seguidores fieis das Sagradas Escrituras, concretamente do Antigo Testamento. Ambas religiões são fieis dos profetas e outros homens merecedores de serem recordados, mas o poder total, absoluto, está no seu Jeová ou Alá, que obviamente são ambas a mesma entidade.(1)

Dentro da evolução das teologias temos o Cristianismo, com uma doutrina e umas regras que todos os ocidentais “cristãos” seguimos, uns mais rigorosamente e outros só quando lhes calha a jeito. E dentro deste grande grupo de gentes surgiu o Protestantismo de Martinho Lutero, cuja principal diferença com os Católico Apostólico Romanos é a de não obedecer o Papa de Roma como autoridade gestora e orientadora. Noutro patamar está o de reduzirem o número de entes merecedores de ser referentes.

O protestantismo abdicou de uma longa série de personagens de referência, muitas vezes totalmente míticas, mas que os fieis invocam tal como os romanos faziam com os seus deuses, num politeísmo fundamentalmente idêntico, até porque a muitos Santos, Santas e Santinhos, Beatos, Anjos, Arcanjos, e outros em ininterrupta incorporação, a todos eles lhes são atribuídas capacidades de nos favorecer, seja directamente (?) ou como intermediários (?) para outras entidades em degraus mais elevados no poder celestial.

E assim chegamos ao ponto em que cada um, se teve a paciência de ler o que já sabia, pode, com a mão sobre onde se aloja o coração, opinar se somos, apreciados em conjunto, monoteístas, politeístas ou mesmo idolatras.

Porque insisto em meditar sobre este assunto, que para mim não passa de ser como a famosa lana caprina? Sinceramente não sei, parece uma obsessão. Mas não há dia em que, seja em livros, jornais ou programas da TV não me surja uma incitação para remoer numa coisa que não vale a pena perder tempo e menos de aquecer a mioleira. E a forma de descarregar é escrevendo...

(1) Friamente, neste século XXI, não nos parece absurdo, inconcebível, inaceitável, que duas concepções de religião com os mesmo alicerces sejam a base de uma incompatibilidade a nível factual, universal?

quinta-feira, 24 de outubro de 2019

MEDITAÇÕES - Quem sai aos seus ...




Não degenera, ou não regenera, ou não é de Genebra

Além da versão mais tradicional imagino que existem mais algumas variantes que se metem, insidiosamente, aproveitando a terminação em -era. Deixo aqui duas amostras, e fica ao vosso dispor a possibilidade de juntar outras graçolas para esta máxima.

Este cabeçalho veio à baila como reflexo das listagens de pessoas que me propõem “amizade” no facebook. Habitualmente apresentam-se com o aval nominal de alguns conhecidos mútuos. Alguns deles não passam de companheiros esporádicos, com reduzido contacto biunívoco, e em consequência pouco recordados. Habitualmente, e sem o propósito de os desconsiderar, e até com o receio de errar ao não aceitar a proposta, opto por a anular, sem lhes dar uma oportunidade.

A razão deste mau comportamento (meu) está na convicção de que AMIGOS sempre serão efectivamente poucos, se os calibrarmos pela convicção de que existe um sentimento profundo e biunívoco de nos bateremos na defesa e apoio para um amigo e contar com o apoio dele, mesmo contra o vento e a maré. Por exemplo: de dar o nosso sangue se for necessário numa emergência; o dar mesa e cama numa eventual catástrofe.

Quando me encontro perante a decisão de “aceitar uma amizade” sem ter como base um conhecimento mútuo entre o benemérito proponente e eu mesmo, surge, sempre, uma pequena história que um amigo do meu pai me referiu quando me acompanhava no seu (dele, meu progenitor) funeral. Contava-me que, por mais de uma vez, quando dirigiu-se ao Albert Virella I, pedindo autorização para lhe apresentar uma pessoa que tinha vontade de poder dialogar com ele, a resposta, quase habitual, que o A.V. I lhe dava era que ao longo dos anos de vida que arrastou teve a oportunidade de conhecer muitas pessoas e até de fazer-se amigo, com reciprocidade, de bastantes. Mas que sentia-se velho e que já tinha usado toda a sua capacidade de conhecer mais gente. Que desculpasse a sua brusquidão, mas que lhe garantia que não era por desrespeito ou desprezo pela pessoa que desejava apadrinhar; que não se sentia capaz de iniciar novas amizades.

E assim ficava anulada a proposta. De facto não tardou a falecer e a sua capacidade memorística tinha declinado notoriamente.

Eu, mesmo que aceite a dificuldade para que o próprio possa avaliar a própria decrepitude mental, na sua real dimensão, confirmo que também sinto o peso das falhas de memória, das confusões indesejadas. E, confesso, ainda não perdi a noção do que ele, o meu pai, com o propósito de me alertar dizia seriamente: Podemos ter muitos conhecidos, mas amigos, amigos mesmo, estão sempre num núcleo muito reduzido.

E mantendo-me fiel a este ensinamento familiar, cá dentro de mim, sei que poucos, mesmo poucos, foram os que se mostraram amigos. Os dedos das duas mãos excedem o resultado da avaliação!

segunda-feira, 21 de outubro de 2019

MEDITAÇÕES - Problemas da Terra




Foquemos dois problemas concretos

Os dois capítulos em questão são: Por um lado o muito badalado AQUECIMENTO GLOBAL e, por outro dado a DEGRADAÇÃO DO AMBIENTE. São referidas ambas situações quase sempre em parceria sem uma justificação absoluta. Para nosso azar sentimos que, de facto, complementam-se nos efeitos, mas para bem entender é pertinente reconhecer que são independentes e até um deles é antiquíssimo e o outro é muito recente, pelo menos na magnitude actual.

Qualquer pessoa medianamente ilustrada sabe que as referências geológicas que se tem estudado no nosso planeta nos dizem que esta esfera, irregular e viajante incansável, é uma entidade mutável, com um comportamento mais ou menos previsível mas de cujos efeitos, em geral com libertação de grandes quantidades de energia, o homem não consegue neutralizar, nem sequer de prever e muito menos “domesticar, domar”.

Sem esquecer as enormes alterações na custa terrestre, atribuídos, certamente que com razão, aos movimentos das placas tectónicas, que alteraram notoriamente e de forma ciclópea a orografia. Nem sequer é necessário referir as testemunhas pétreas dos grandes períodos glaciares. Com a arqueologia se verificou que foram bastantes e sucessivos, os períodos de frio intenso e também de aridez. Zonas que actualmente estão áridas estiveram cobertas de vegetação e habitadas por animais até de grande porte, e até de humanos que deixaram gravuras elucidativas da sua presença estável (estável na dimensão da duração das nossas vidas, que naqueles tempos não deviam ultrapassar três ou quatro décadas). Nem podemos esquecer que o eixo de rotação da Terra e até da polarização N-S já ocorreu em várias ocasiões, sem a nossa intervenção!

Não só ocorreram grandes mudanças no longínquo passado. Mesmo nos séculos recentes, em que o testemunho indiscutível deixado pelos nossos antepassados nos elucidam sobre invernos extremamente frios e prolongados, assim como de precipitações intensas (que deram azo à lenda do dilúvio universal) Pela análise das deposições de cinzas nos gelos, de comprovada antiguidade, sabe-se que alguns períodos de glaciação foram causados pela ocultação dos raios solares por extensas e duradouras camadas de cinzas vulcânicas na atmosfera terrestre. Também conhecemos através de testemunhas humanas os efeitos de deslocações das placas tectónicas, causando terremotos devastadores ou maremotos que flagelaram as costas.

Entre umas referências e outras somos levados a admitir que na Terra os humanos podemos influir em pequenas doses, se medirmos pelo que é causado pela natureza. Todavia nos mais recentes tempos, dois séculos concretamente, a humanidade já causou estragos de vulto. O que de facto nos preocupa é que a incúria e insensatez do homem podem causar, não só um extenso e terrível holocausto, que altere profundamente o equilíbrio de vida no planeta, mas, muito mais alarmante, por ser consequência da nossa vida quotidiana, que com a continuação de poluição, nomeadamente de gases de combustão e da indústria química, mais a continua e insistente deposição, totalmente incontrolada, de dejectos não degradáveis, estamos destruindo o ambiente, não só aquele que necessitamos para viver, mas também afectando negativamente a vida animal e vegetal que nos tem acompanhado durante milénios.

Tudo o que deixo escrito aqui é bem conhecido por todos, ou deveria ser. Se para as alterações geológicas quase nada podemos fazer, e mesmo a previsão não é eficaz, existem capítulos com importância indiscutível, nos quais a humanidade tem a obrigação de agir correctivamente.

Um dos que não podemos influenciar é o da convicção generalizada de que os degelos progressivos ocasionarão uma elevação do nível do mar, com a consequência de se reduzir a área habitável nas terras emersas. Este problema excede a capacidade dos humanos para o tentar contrariar. E nem sequer isto é garantido que tal aconteça, pois que existem factores incontroláveis na natureza que influenciaram várias sucessões de ciclos de gelo e degelo sem que o homem tenha tido uma influência notória.

O mais grave é que estamos tão imersos no uso, abuso e deposição invasiva, descontrolada, de materiais não degradáveis. Aí sim que devemos estar mais preocupados. A espiral de consumo que se instalou entre os humanos parece incontrolável. Segue-lhe uma outra espiral progressiva que ameaça transformar tanto os mares como as zonas emersas em lixeiras. Mesmo aqueles materiais que se anunciam como bio-degradáveis não regressam aos componentes iniciais, aos elementos químicos de que partiram. A sua apregoada degradação limita-se a que passarem de objectos macroscópicos para partículas microscópicas, que até são mais difíceis, ou impossíveis, de recolher e eliminar. Chamamos de micro-plásticos.

Este problema da poluição desenfreada, inconsciente ou mesmo consciente, é o actual nó górdio da humanidade. Aquilo que se pensa -numa inconsciência colectiva- que deitamos fora, que nos estorva e procuramos deixar de ter por perto, colocando num lixo que cresce sem parar, persegue-nos como a sombra. Mesmo que se enterre “escondido sob o tapete” ou se tente eliminar por queima, a composição dos seus fumos não são equivalentes aos de uma queima de combustíveis naturais, seja madeira o carvão, devido a que, em muitos deles, se incorporaram compostos potencialmente venenosos.

A RECICLAGEM. A pretensão de resolver o problema da poluição pelos materiais de síntese, digamos plásticos, já inutilizáveis, criando uma rede de reutilização é, por enquanto, uma utopia. O quantitativo de artigos rejeitados diariamente e que “deveriam” ser transformados em coisas úteis é de tal modo enorme que não se consegue encontrar um esquema múltiplo e abrangente, que os consiga eliminar. Pelo menos por enquanto.

Conclusão: Sobre o clima, degelo ou secas, pouco podemos fazer além de tentar repovoar de árvores as zonas que se desertificaram. Mas onde a civilização pecou, onde caiu na sua própria ratoeira, foi na multiplicação do lixo. E, INFELIZMENTE, DE NADA SERVE O TENTAR, INDIVIDUALMENTE, CONTRARIAR ESTE FLUXO. O consumismo baseia-se na facilidade de nos servir com artigos previamente embalados!


quinta-feira, 17 de outubro de 2019

MEDITAÇÕES - Antes de provocar, fazer um balanço.


Valentes, Agressivos, Pacifistas, Resignados.

Nem sempre quem provoca age por vontade e iniciativa própria. Pode encontrar-se sem o prever no meio da confusão, por uma daquelas causalidades que se definem pela máxima de Estar no local errado e no momento errado. Num caso assim o mais prudente, e se for factível, é desaparecer pela tangente, abandonar a multidão por uma via lateral, e com passo ligeiro. O evitar a pancada se nos falta a vocação de ser uma vítima colateral é o mais aconselhável. Quase que podemos incluir neste grupo de vítimas aqueles que se auto-qualificam de pacifistas, mas que nem por isso fogem dos acontecimentos, e podem arcar com espírito de sacrifício as punições. Entre os que se encontram no seio do grupo sem grande convicção, alguns podem ter caído por indução de algum companheiro ou amigo mais activista

Os valentes efectivos, caracterizam-se por não necessitarem de ter uma convicção bem definida. Vão ao sarilho pelo simples prazer Sado-masoquista de dar e levar. Em contraponto temos os pseudo-valentões, os que atiram a pedra e escondem a mão ou não param de incitar com gritos de encorajamento, mascarados de “palavras de ordem”. Com a sua participação aquecem, sempre desde a retaguarda, longe da pancadaria, os ânimos dos que estão nas primeiras filas.

Restam os que chamarei de resignados. São os que acompanham os bravos convencidos de que aquela provocação, da que se consideram inocentes, não terá as consequências que já estavam perfeitamente definidas pelos dois bandos em oposição. Participam com o convencimento de que aquilo terminará sem problemas, com paz e glória. Uns anjinhos.

Quem organiza uma marcha de protesto certamente que conta com estes grupos bem definidos, mesmo que no grosso da coluna nos possa parecer que todos estão convencidos de que vão dispostos e convictos para tudo. Os responsáveis pelo bom andamento sabem que, no fundo, o seu papel, sem dúvida fundamental, é equivalente ao dos cães pastores. Tem que tratar de aguentar o ímpeto repressivo e evitar a debandada. 

Mesmo que ao chegar ao confronto, no lado oposto carreguem com violência, indiscriminadamente sobre o grupo que os enfrenta, os seus “olheiros” estão sempre atentos para localizar os organizadores, pois sabem que é através das suas indicações que o grupo avança, recua ou se dissolve.

Lamentavelmente verifica-se que as iniciais palavras de ordem de ser uma manifestação pacífica, sem violência, e até com as mãos nuas bem alçadas como demostração de não agressividade, não se pode aceitar como merecedora de crédito quando insistem em avançar sobre o terreno. Para completar o quadro que justifica a repressão existem os provocadores, próprios ou infiltrados desde o outro bando, que com o seu comportamento incitador à agressividade conseguem que aqueles que são os seus parceiros, os do poder estabelecido, tenham uma justificação, sempre preparada, para bater e prender.

É um jogo de guerra a que os componentes das equipas anti-motins são treinados periodicamente. Nas suas manobras de treino formam dois bandos, bem adestrados, para cumprir de modo credível, tanto quanto possível, os papeis que lhes são atribuídos. Ou seja, os polícias ou guardas, já protegidos e armados, seja com bastões ou armas de intimidação, ou mesmo de fogo real, saem para a arena com todas as vantagens. 

Quem está por trás dos protestos, sabe bem como se vão proceder as sucessivas fases, até chegar à desbandada. Mas estes organizadores tudo cuidarão para não ser caçados. Se os identificarem ficará para os momentos de calma, já com a multidão recolhida nas suas casas, a  ocasião de os prender. Por sua vez, estes cabecilhas, tudo farão para passar desapercebidos, com mudanças de local de reunião e descanso, e até de visual. Para os contrariar neste propósito de disfarce, a autoridade conta com os delatores, mais produtivos do que os investigadores. E, mais recentemente, com as gravações de câmaras ocultas e de drones preparados para o efeito.

terça-feira, 15 de outubro de 2019

MEDITAÇÕES - Ninguém aceita ter a culpa




PORQUE ESTE NÍVEL DE ABSTENÇÃO ?

Se (aqueles cuja idade lho permitir), recuarmos à época “áurea” do regime do ESTADO NOVO, que tantas saudades deixou no espírito de muito boa gente, e até pelo que verifiquei também com pessoas descendentes destes saudosos, é possível que nos interroguemos acerca de quais as razões, ou motivos, certos ou simplesmente imaginários, que tem conduzido a um crescendo índice de abstenção nas votações legislativas, e se somarmos os votos em branco e os propositadamente nulos, certamente que nos deixará descrentes sobre a capacidade de raciocínio de muitos cidadãos deste jardim. Dito de outra forma: da carência de memória histórica.

Já não vou sugerir que recordem, mesmo só os mais velhos, de quantos cidadãos tinham o seu nome ausente das listas que davam direito a voto na mesa onde deveriam estar recenseados, nas raras ocasiões em que se pedia a opinião à população. E também recordar, com tristeza, de aqueles que ficaram banidos deste direito por simples delito de opinião, mesmo quando não confirmada com um simil de legalidade mas decidida por uma simples denúncia “bem intencionada”. E, mesmo assim, sabendo que as contagens de votos não tinham a mínima credibilidade.

Possivelmente tampouco recordam como estavam politicamente discriminadas as mulheres, cujo accesso ao voto foi sempre negado enquanto assim entenderam as autoridades “legais”. De como a uma esposa lhe era difícil aceder a um passaporte e ainda mais sair das fronteiras lusas sem a autorização expressa do marido.

A sequência de pensamento nos devia pressionar no sentido de recordar, e PONDERAR, a importância social e cívica dos que foram aprisionados, muitas vezes moídos à pancada, ou mesmo mortos, sem julgamento, ou com julgamentos onde o estado de direito estava simplesmente ausente.

O direito de voto em eleições livres era, juntamente ao direito de opinião e reunião, a bandeira pela qual muitos se sacrificaram. Este pequeno pormenor, era a base fundamental para usufruir um estado de direito democrático. E por esta e outras razões devíamos recordar aqueles que lutaram e sofreram para que todos tivéssemos este direito. O facto de que, como é natural que nos aconteça, desconhecermos os nomes da maioria destes sacrificados cidadãos. Mas tal constatação não justifica para agir com desprezo pelos sofrimentos a que foram submetidos. E é, de facto, um desprezo inaceitável o que se faz ao não participar, conscientemente,nos comícios eleitorais.

Quando, para nos auto-justificar, tentamos neutralizar o desrespeito cívico que se comete no caso de não votar, votar em branco e anulando, propositadamente, o boletim, alegamos que estamos receosos ou pelo menos convictos de que os que saírem eleitos não se comportarão seguindo as regras de honestidade e isenção que, por direito, queremos ser merecedores.

Se de um modo geral admito que os exemplos que se verificaram com os governantes que, com diferentes bandeiras, se encarregaram de gerir o destino do País e dos portugueses, e, mais simples a forma como distribuíram a pouca riqueza que conseguimos criar, mais os fundos de ajuda que nos entregam (a troco de sermos bem comportadinhos, segundo os seus interesses) tornou evidente que honestidade e boas decisões não tem sido o mais usual. Mas... o facto de reconhecer tudo isto não obsta o ser incontestável que temos que nos culpabilizar directamente, pois a sabedoria popular diz que quem cala, consente.

Cada um de nós, por consentimento ou apatia, tem a sua quota parte de culpa neste “fartai vilanagem”.

Admitamos que somos muitos os potenciais eleitores que sofrem dum descrédito acentuado em relação aos elementos humanos que se foram enquistando nos partidos políticos, já “clássicos”. Não nos merecem um crédito mínimo para votar neles. O aumento crescente da abstenção trouxe uma novidade: surgiu uma nova leva de grupos partidários dispostos a revirar este estado de podridão (e lamento ter usado este termo)

Aceitando a dificuldade em alterar o conceito que o nosso cidadão tem como irrecuperável dos elementos da chamada “classe política”, e recordando a sentença popular de que o gato escaldado da água fria foge, permito-me duvidar se será através de novos políticos que nos representem que, finalmente, o país venha a ser bem servido. O que temo é que se cumpra outro aforismo: Mudam as moscas, mas a merda é a mesma.


segunda-feira, 14 de outubro de 2019

MEDITAÇÕES - Uma entrevista falsa




E PIOR, IRREVERENTE E OFENSIVA
(pelo menos para quem exija limites de respeito)

Depois de séculos de tentativas podemos afirmar que, finalmente, e com a prestimosa ajuda de reputados técnicos na NASA e astrónomos independentes, foi possível entrar em contacto directo com o Deus Pai.

Com todo o respeito (e temor) que nos merece, e depois de ter conseguido autorização celestial, deixamos aqui uma transcrição fiel do diálogo que o Nosso Deus Pai teve a amabilidade e bonomia de nos conceder.

    P. Bom dia. Senhor Deus. Perdoe a minha ousadia e falta de cerimónia ao me dirigir a esta entidade tão respeitável. Ou melhor, a mais importante de todo o Universo e parte do exterior.
  • R. De facto são múltiplas as mensagens que me chegam solicitando um contacto directo, tipo diálogo aberto. Mas deve compreender que não é justo abrir um precedente, depois de séculos de mutismo e fechar-me em copas. Seja como for, pergunte o que entende ser de interesse para os humanos que representa, segundo constava no seu pedido de entrevista.
  • P. Muito obrigado. E noto nas suas palavras, que mesmo sem abdicar do seu estatuto excepcional, digamos único, aceita descer a um nível de diálogo sem os artifícios de linguagem próprios das elites ligadas profissionalmente às religiões. Pelo menos no uso e abuso habitual de palavras de difícil interpretação para quem não esteja bem dentro do vocabulário.

  • A minha primeira pergunta penso ser de difícil resposta, esperando que não esqueça que ela tem que ser perceptível para os mesmos humanos que a fazem: Qual é a figura simbólica que mais lhe agrada, ou na qual se sente melhor representado? O idoso das barbas brancas, como um Pai Natal do Comércio, um Peixe, como foi usado pelos primeiros cristãos, uma alva pomba como a que o seu eleito Noé soltou, como um drone vivo, para saber se as águas diluviais já tinham descido. Ou será aquele triângulo com um olho incluso, ao jeito de um ovo a cavalo do bife?
  • R. Tenho que responder que nenhuma representação pictórica, escultórica ou escrita me é simpática. Prefiro que admitam ser um Ente. O Ente mais importante do Universo! Incorpóreo. Tem que me conceber como uma ideia a respeitar e obedecer, sem a mínima tentativa de me dar uma figura, que sempre seria banalizar. E isso não me seria aceitável.
  • P. Dentro do meu limitado conhecimento, pois não passo de ser um simples mortal, e longe da necessária erudição, entendo e admito sem qualquer constrangimento, a noção de incorporeidade que prefere. Todavia, existem demasiados textos, considerados credíveis, onde se refere terem podido ver e ouvir as suas manifestações e até conselhos ou ordens, que, como pode tentar compreender, nos deixa bastante confusos sobre se devemos ou podemos aceitar as tentativas de o representar. Pode completar o seu comentário anterior, e assim nos ajudar a entender a divindade?
  • R. Sei, por séculos e milénios de contactos indirectos com os humanos que vocês, homens e mulheres, tem por hábito a obsessão de ver para crer, e que devem ser poucos os que se esforcem por aceitar que o Deus Pai, como se habituaram a me chamar, é simplesmente uma ideia. Uma ideia que vos enviei e que recebem quando nascem. Eu, se insistirem, em me imaginar como visível, perdem o seu tempo. Jamais me viram nem me deixarei ver fisicamente, nem como aquele ectoplasma que inventaram para contentar os crédulos no esoterismo e similares.
  • E tenho que acrescentar que as únicas mensagens que dei a alguns humanos, que por uma análise comportamental escolhi, foram sempre, e assim continuarão a ser, exclusivamente pessoais, e que as possíveis divulgações que os agraciados possam ter feito ou vierem a fazer, não tiveram a minha aceitação. E mais, que na imensa maioria das vezes são completas falsidades e absurdas. Em casos concretos, e excessivamente frequentes, atingem o nível da blasfémia. E como tal merecedoras de castigo. Como disse, e reitero, as minhas mensagens sempre foram, e continuarão a ser, mentais, dirigidas a uma pessoa concreta. Tudo o que sair desta regra é um abuso e uma fraude que não devem aceitar, e muito menos acreditar.
  • P. Senhor Deus, continuo a não saber como me hei de dirigir a si. Se tiver uma proposta agradecerei que ma transmita. Mas agora desejava entrar num tema que considero ser muito melindroso, nomeadamente para si, e peço que desculpe a minha ousadia, própria de um entrevistador. Pode explicar, de uma forma perceptível, a relação que existia, caso existisse, entre Jesus da Nazaré e Jeová?
  • R. Já deve ter imaginado que antes de o jornalista falar eu já entrei no seu pensamento e sabia o que me ia colocar pela frente. Mas já que concedi a abertura deste contacto directo não seria elegante, como dizem os humanos bem educados, que eu fugisse de responder. A vida deste profeta em terras de Judá chamou-me a atenção desde cedo. Sabe que houve centenas de profetas e iluminados, antes e depois de Jesus, e que todos alardeavam de ter contacto directo comigo. Bobos! Eu sabia das suas andanças e profecias e por vezes, sem eles se aperceberam, lhes enviava umas dicas para os ajudar a orientar aquele povo de nómadas rústicos.
  • Os mais difíceis de controlar foram, e continuaram a ser, os profissionais das religiões, os “sábios” que afirmavam poder interpretar as minhas vontades e mensagens. Uns vaidosos e perigosos néscios!. Vontade de os fulminar com raios não me faltou, e se nem sempre o fiz deveu-se ao facto de que, apesar de todo o mal que podiam fazer, ajudavam, sem saberem, a educar aquele povo.
  • Voltando a Jesus. Ele, como todos os humanos, antes e depois dele, era uma criatura de minha feitura, não nego, nem tal seria correcto, pois se até Satanás foi meu filho... Mas Jesus, como outros mais, entrou num caminho de fazer o que entendia, por sua conta e risco, afirmando que era meu filho (não entendia que todos os outros eram, tinham sido, e seriam, igualmente meus filhos) E, para completar a sua imagem pessoal, decidiu alterar as leis que eu tinha deixado bem escritas e meditadas para que o povo de Israel seguisse.
  • Muito do que Jesus fez teve a minha aceitação e até aplauso, para usar uma das vossas expressões. Mas outras... O ajudar a mulher adúltera; desafiar os que jamais tinham pecado antes de poder atirar a pedra que era a pena dos meus mandamentos..., isso e outras acções impróprias de um descendente directo, como o ressuscitar mortos, contrariando a natureza, orientada por mim, levaram a que consentisse na sua morte ignominiosa.
  • Lamento o fim triste que teve, mas por outro lado não me desgostou, antes bem pelo contrário, o facto de surgir, com alguns erros e abusos de interpretação das minhas leis, uma doutrina mais benévola e actualizada do que a que insistiram e insistem em seguir os ortodoxos israelitas. Eu já era demasiado velho para mudar as minhas próprias regras, as que, sinteticamente, dei a Moisés.

E já falei de mais. Mais um erro meu o ter consentido nesta entrevista. Assim pode confirmar que Deus também falha, erra, se engana. É a parte humana do meu espírito. Até porque, consoante  a sociedade evolui o que inicialmente pode ser pecado, pode passar a ser uma simples falta ou até ser bem aceite.

Vocês dizem que aquele que acompanha um coxo acaba por também coxear. E o Deus Pai, depois de tantos séculos de acompanhar os humanos, não consegue, como viu, escapar de errar de vez em quando. E admito que tal me aconteceu  em demasiadas ocasiões. E continuarei a falhar. Mas como não existe uma entidade que me examine as contas... Vantagens e desvantagens de ser o Patrão!


domingo, 13 de outubro de 2019

MEDITAÇÕES - DEUS ERA ZAROLHO ? - segunda parte



Continuação do texto sobre o Olho de Deus


Afinal a chave estava muito perto

Quando editei (em 26 de Set.) a primeira parte em que tentava especular, seriamente e sem propósitos de incomodar a ninguém, sobre a origem da representação do olho de Deus dentro de um triângulo, que sabemos admite ser o símbolo de diversas tríades esotéricas, encalhei no porque se limitou a mostrar um olho (sempre o olho direito) da entidade que, em princípio o homem mortal não estava autorizado a representar, embora já se aceitasse como tal o senhor idoso de barbas brancas.

A negação em não me contentar com um indiferente encolher de ombros, e reconhecendo que tradições, lendas, mitos, rituais e qualquer tema de cuja génese ignoramos, não nos deve satisfazer a indefinida resposta de que aquilo ver desde a névoa dos tempos. Não podemos negar e até conseguir a origem destes “dogmas”, mas isso não nos deve impedir de recuar até onde for possível encontrar uma referencia, mesmo que não escrita, mas credível através de outras vias de estudo da antiguidade.

Sendo assim é pertinente admitir que o início e progresso do conhecimento, e daí da civilização, foi conseguido pela transmissão oral. Aceite esta premisa quando nos dispormos a pretender analisar um tema que pareça afectar o quotidiano, é pertinente recuar até às fontes mais afastadas que nos sejam acessíveis.

Ao longo do nosso percurso como membros da humanidade, reconhecemos que, mesmo sem darmos por isso, nos apoiamos em preconceitos de interpretação e de comportamento difíceis de justificar de um modo racional, mas que estão fixamente impressos nos nossos costumes. Um deles é a ligação, tacitamente aceite, mas de forma sub-reptícia, e até com uma saudável descrença pessoal, de que o lado esquerdo é aziago, enquanto que o lado bom da vida é aquele que nos surge, ou sugere, o lado direito. (1)

Daí o mal querer que existiu, durante milénios, em relação e que às pessoas em que o seu hemisfério cerebral que comanda a habilidade manual, está em oposição ao que é maioritário. Ou seja o oposto entre destros e canhotos. Situação muito evidente na tarefa de escrever. Reconhecemos que se nasce com esta distribuição de capacidades. Que se nasce canhoto. Muito sofreram os canhestros até época recente!

Reconhece-se, sem discussão, que desde a tal “noite dos tempos” as teologias, quando na fase inicial, pretenderam ser aceites pelos cidadãos que se pretendia cativar, era fundamental oferecer uma série de “deuses menores”, de segunda e terceira linha, que subsistissem os que até então eles adoravam ou “obedeciam” após a sabia interpretação dos sacerdotes habilitados para estas interpretações. Mesmo ao religiões que mais se apresentam como monoteístas, prepararam o seu santoral com entes que passaram a ter as mesmas capacidades e atributos do que os deuses da época paga anterior.

Quando referia este pictograma do olho “bisbilhoteiro” ou inquisidor incluído no triângulo, levava o tema para a brincadeira afirmando que quando Jeová adquiriu este costume de vigiar as suas criaturas, e por se terem inventado as fechaduras clássicas por onde espreitar, optaram pelo triângulo. Mas era fatal que chegasse o impulso para que me decidisse a pesquisar alguma tradição antiga que justificasse o símbolo do Deus vigilante, só com um olho, e se observarmos atentamente, caso o pictograma fosse feito com cuidado, o olho que se encontra dentro do triângulo é sempre o direito.

A identificação da origem desta representação do olho inquiridor nem sequer era difícil. Estava latente na memória pessoal, pois tive a oportunidade de verificar directamente nas colecções de objectos do Antigo Egipto, cuja complexa teocracia serviu de base para muitas religiões do próximo oriente, entre elas o judaísmo e posteriormente o cristianismo.

O OLHO DO DEUS HÓRUS

Os egípcios
 não tinham por hábito, nas suas representações pictóricas, mostrar as pessoas de frente. Habitualmente de perfil. Só na escultura é que se mostravam as duas faces simultâneamente. Tanto na representação de deuses -em geral uma composição mista de humano e animal- como dos faraós, só vemos um olho no pictograma, assim como nos baixo relevos.

Já então existia a imaginada relação entre o lado direito e o bem, a sorte, a felicidade e o esquerdo com o aziago, o mal, o sinistro (que é um sinónimo de esquerdo). O Deus Hórus, o grande chefe da complexa família de deuses, era representado, habitualmente por um corpo humano e cabeça de ave de rapina, seja falcão, milhafre ou águia. Tal escolha vinha de que este Hórus era o que tudo via, como acontecia com os falcões, que voando calmamente nas alturas eram capazes de ver uma pequena presa no solo (ter visão de falcão ou de águia).
Todavia a complexa mitologia egípcia refere que Hórus lutou com outro deus e, na refrega, lhe vazaram o olho esquerdo (aqui ficamos a saber que era de facto zarolho) e no seu lugar lhe colocaram uma prótese de vidro (2) O facto de ter só um olho útil não lhe diminuía a sua capacidade de observação, que além disso se considerava benéfica. Pelo contrário, o olho esquerdo, apesar de cego, já era aceite ser aziago.


REPRESENTAÇÃO DO OLHO DE HÓRUS NUM PAPIRO EGÍPCIO

(1) O triângulo sempre representou uma tríade importante; seja terra.mar e ar; luz, trevas e fogo; ou três deidades específicas. A simbologia da maçonaria não dispensa deste símbolo. Que encontra-se, sempre, nas notas de banco dos EUA. E em muitos mais lugares.

(2) É aquele amuleto de vidro azul, com uma pupila e centro preto de visão, que se vende em qualquer lado, nos bazares tanto no Egipto como em todo o próximo oriente.

sexta-feira, 4 de outubro de 2019

MEDITAÇÕES - Greta Thunberg



Aplausos e críticas

Tal como devem ter feito muitos cidadãos, fui seguindo, com alguma atenção, mas não lhe dando a primazia, os ecos da presença desta adolescente no principal areópago internacional, concretamente na Assembleia Geral da ONU em Nova York. Ali e numa só apresentação pública, a Greta condicionou a atenção geral, e as suas palavras tiveram reflexos de cabeçalho em todos os noticiários do mundo. Foi ouvida com mais atenção e expectativa do que vários outros oradores Entre esta plêiade de preocupados denunciantes devemos referir o “nosso” Engenheiro Guterres, que anda pelo globo predicando com muita convicção e prosápia mas, infelizmente, com pouco efeito positivo.

Confesso que não ouvi nem li nada sobre esta rapariga com aquele cuidado e posterior meditação que o tema do seu discurso merecia. Admito que, tendo-se gerado uma atenção alarmista sobre a evolução do ambiente terrestre, que é o nosso suporte de vida, poucos devem ser os que, com alguma convicção, não se sintam preocupados com os sintomas de efeitos perniciosos que a humanidade tem causado sobre o clima, atmosfera, mares e problemas do incremento acelerado que a economia e o “progresso” está carregando sobre o que se prevé pode vir a ser o nosso futuro. Ou pelo menos dos nossos descendentes.

Entremeando com os aplausos e os silêncios comprometidos dos comentadores, sugiram alguns derrotistas, que mesmo com alguma crueldade dispensável, atacaram a referida Greta, com argumentos que, no seu ambiente caseiro certamente não utilizam se tivessem que comentar as ideias verbalizadas pelos seus familiares na faixa etária de Greta.

Na fase da evolução social acelerada em que nos encontramos, com a influência da informática na educação e evolução do cabaz de conhecimentos que hoje está disponível de qualquer jovem, nem sequer muito ilustrado, não deveria espantar, aos da geração anterior, ou seja aos pais em geral, que a Greta se lançasse, com ímpeto inesperado, a uma acusação generalizada de incompetência e desleixo perante a realidade, dos adultos que lhes deviam garantir a sua sobrevivência e lhes deixar de herança um planeta em melhores condições do quer as actuais, e até das previsíveis se continuarmos a seguir o mesmo percurso suicida.

É curioso, interessante mesmo, ver que uma adolescente, nervosa e exaltada, conseguiu ter um nível de atenção superior ao de outros comentadores anteriores, alguns, como Al Gore, com o apoio de gráficos, vídeos e documentários reais de como os desastres já estão em progressão. Os mais cépticos afirmam que grupos de interesses não definidos se encarregaram da promoção desta rapariga, insinuando que por trás das más novas denunciadas e das previstas existem na sombra, ou mesmo mal camuflados, poderosos preparados para se beneficiar da situação prevista. Para não sermos tildados de ingénuos até podemos aceitar que tais denúncias de caminhar, cegamente, para um abismo quiçá irrecuperável, podem ter cabimento.

Se Greta foi usada com propósitos positivos, dado que os sinais de alarme já não são simples apitos ou sirenes e que esta acção foi, criada atempadamente com a colaboração de um conhecedor da psicologia dos cidadãos em geral, e que tudo não passou de una encenação típica de promoção. Então deveríamos concluir que nesta luta da informação e desinformação não se pode entrar com as mãos limpas, nuas. Seria absurdo respeitar as regras da correcção quando do lado contrário as esquecem.

Pessoalmente aceito a denúncia, e com a convicção de que muitos erros já cometidos serão de difícil correcção.

O que lamento, por não ser justo e porque entra no conceito de que só quem não tem telhados de vidro é que pode tirar pedras, se use, no intuito de denegrir, desacreditar, a denúncia de Greta com o argumento de que esta ainda adolescente sofre de sintomas de autismo. E quero referir que aquilo que se noticiou é que de facto lhe foi diagnosticado um estado leve deste problema. Muito mais extenso na sociedade, pois até é ignorada a sua incidência por não ser considerada como grave e impeditiva. 

quarta-feira, 2 de outubro de 2019

MEDITAÇÕES – Investigar



É possível fazer investigação por conta própria? Quem paga?

Quando já ultrapassei todos os limites do possível e dei mais tombos na vida do que o desgraçado que foi atropelado num carrossel de feira, pensei fazer uma prospecção entre os meus colegas de curso. Mas tudo não passou de uma ideia nada brilhante. Não perguntei a ninguém! Pois, como deveria escrever se fosse coerente, tenho a noção de alguns dos meus estimados colegas, conseguiram chegar ao Paraíso dos químicos-engenheiros, que como sabem é o de poder investigar sem se preocupar por aquelas bagatelas de garantir o seu sustento e o da sua família, caso tivessem o desplante de se meter nesta sarilhada do colocar descendência neste mundo.

Para tentar entrar no campo das “descobertas”, magiquei que havia dois caminhos possíveis, de entrada o ter uma ficha de estudos pelo menos razoável. A seguir ser ciente de que o caminho com maior probabilidade de êxito, é o de entrar na tal “função pública”. E o mais indicado era iniciando o percurso no ensino no mesmo centro onde se formou. Obtido este trabalho, inicialmente não excessivamente bem remunerado mas garantido de por vida, terá que conjugar a tarefa de colaborar na ilustração de sucessivas levas de alunos com os trabalhos de laboratório e “investigação”.

A corrida deve arrancar com a tarefa de procurar tudo o que estiver publicado sobre o tema que pensa abordar, sem descurar a tentativa de utilizar os meios de experimentação existentes no mesmo centro onde lecciona. O local é muito favorável para a pesquisa bibliográfica, nomeadamente através dos artigos publicados nas revistas da especialidade. Sempre mais actuais do que os livros. 

Mas sei que houve uma quantidade, não desprezível, de companheiros de ofício que enveredaram pela indústria transformadora nacional. Não digo que com o propósito altruísta de dar o seu melhor para o progresso económico do País mas, mais pragmaticamente, para garantir o seu sustento e também aos custos implícitos ao decidir criar uma família.

É normal que aqueles que se inscreveram na indústria química, fosse qual fosse o nível hierárquico que conseguissem, tinham a noção de que a sua primeira função na empresa que o decidiu contratar, era a de procurar alcançar bons resultados económicos, tanto no produto final como no rendimento dos equipamentos e do pessoal de quem passou a ser responsável.

Mas como a prudência avisa, não se podiam arriscar em excesso, nem lançar foguetes no ar antes de ser oportuno. O julgamento da sua colaboração (remunerada) seria sempre vista sob os resultados do balanço global. Daí que, experimentações atrevidas quando se conta , com o capital alheio, sempre foram perigosas. A indústria, como outros campos, é um terreno escorregadio e os argumentos de um técnico pesam menos do que os números do balanço.

No meu caso pessoal, e já próximo do fim do curso, e sendo consciênte, já então, de que não me podia considerar como tendo sido um aluno destacado, apesar de conseguir uma nota de curso razoável. Tive a veleidade de tentar fazer um pequeno laboratório, pessoal, privado, numa parte do edifício onde morava com os meus pais. Então verifiquei que o sonho de fazer experiências por conta própria (sem ter as costas quentes por rendimentos pessoais tranquilizadores, como tinham alguns dos reputados sábios e inventores) era uma utopia irrealizável. Um reduzido inventário do equipamento e reagentes que considerei necessário para começar “a brincar” deu com a ideia no canto do impossível, não tinha cabimento. Daí que a já anterior noção que esta via profissional só era viável contando com a tesouraria do “papá estado”, ficou definitivamente definida. E a porta de entrada estava, quase sempre, na possibilidade de conseguir entrar como auxiliar nalguma cadeira.