Não que ainda tenha
minimamente uma convicção de que a mudança da contagem dos dias,
meses e anos, implique a possibilidade de implicar umas mudanças,
apreciáveis, na nossa maneira de ser e de nos comportar, ou até na
forma como encaramos e valorizamos, seja positivamente ou
negativamente, os factos que nos chegam e, certamente, nos
influenciam em maior ou menor grau.
Mesmo
assim o ter umas horas de sossego nesta altura de dias curtos e
frios, quase que recluídos nas nossas casas, incita a que se faça
alguma loucura, que descarrilemos abrindo agulha de uma linha que,
de preferência, devia estar fechada ao transito, ou mais
concretamente à possibilidade de ser vista e criticada por
terceiras pessoas. Um descuido qualquer pessoa pode ter de vez em
quando, e este promete ser o meu neste fecho de ano civil, ou
militar.
Optei
por uma tentativa, tanto quanto possível honesta e credível, que
defina a minha forma de ser. Numa espécie de auto-retrato, sem
garantia de ser correcto, já que aceito que todos somos
mentirosos, pois que sempre deturpamos a realidade a nosso respeito,
adoçando-a ou amargando-a, dependendo do estado anímico do
momento.
Uma
troca de mensagens com um familiar "político", não
consanguíneo, incitou-me a que desse mais uma vota na porca que
aperta o torniquete da minha forma de avaliar certas situações.,
comportamentos e grupos sociais diferentes daquele onde estou
situado. Com palavras suaves, mas suficientemente explícitas, sou
acusado de ser discriminatório, de fugir à pressão actual (?) de
nos comportar de forma gentil e amigável para todos os grupos
humanos, rácicos, religiosos, culturais que não coincidam
exactamente com os meus. Pergunto, com voz angelical: Quem jamais
tem pensamentos e comportamentos discriminatórios? Quem pode atirar
a primeira pedra? O difícil é conseguir vencer a repulsa e aceitar
a convivência.
Pessoalmente
e convencido de não estar faltando à verdade, não tenho
preconceitos discriminatórios, agudos, perante raças, cores,
credos e hábitos de outras pessoas, sejam de grupos próximos ao
meu ou mais afastados. Posso conviver e tolerar, sem problemas
mentais com gentes muito diversas, sempre e tanto que não me sinta
potencialmente agredido pelos outros quando eles se comportam de
forma nitidamente agressiva ou discriminatória. Ou seja, a
convivência deponde muito da atitude e comportamento dos
elementos do outro grupo.
Um
exemplo notório é o caso dos membros da tal etnia
cigana. Eles são absurda e totalmente segregacionistas,
embora nas novas gerações se possa notar um esforço visível para
de adaptarem aos costumes dos "paios". Mesmo assim são
gentes que, grupalmente, não nos podem inspirar confiança, e nos
induzem a os ver com uma prudente reserva. Melhor longe que
perto. Aceito que entre os "calé" existem, sem
dúvida, excelentes cidadãos. Mas o facto de que eles prefiram
viver num círculo exclusivo, fechado, nos leva de imediato a
desconfiar. O que não implica que devemos confiar,plenamente, com
todos os membros do "nosso grupo", sabendo que os há tão
velhacos,ou mais, do que o mais rejeitável cigano.
Concretamente
no meu caso pessoal, e por ser de origem catalão, as
diferenças que fui apreciando em relação aos espanhois
castelhanos, acentuaram a adversão geral perante o seu
comportamento grupal perante a Catalunya. Independentemente das
convicções de cada um, o governo central da Espanha, herdeira do
fascismo franquista e com uma monarquia recuperada pela força das
armas, depois de muitos milhares de mortos consequência de um golpe
militar ultra-conservador, conduziu a que os avanços conseguidos no
período republicano, rejeitado pelos católicos extremistas e
militares facciosos, fossem anulados sine die.
Ou
seja, ainda hoje se percebe que a imensa maioria de cidadãos
espanhóis comportam-se, tacitamente, como sendo partidários de
manter, e exigir, um centralismo totalmente unificado, que
se disfarçou com um chamado estado de autonomias, com o
qual se concederam alguns graus de liberdade a determinadas regiões,
sempre e tanto que permaneçam fiéis à indivisibilidade da que
consideram ser UMA NAÇÃO. Isso não os impede a que, de boca
pequena, declarem que a Espanha é um País de Nações !
Podemos
encontrar alguns espanhóis, com fala e sentimentos castelhanos, que
nos digam ser favoráveis a uma mudança no sentido de recuperar
um ESTADO FEDERAL, como se tentou na República
derrubada. Tretas !, por enquanto não se vislumbra
existir um quórum que apoie, firmemente, esta mudança. Que
implicaria a desconstrução da monarquia teatral actual, que é
acusada de ser fonte de negócios prejudiciais para a Nação, e
retomar a República Parlamentária e Federal. Digam
o que disserem estes pretensos contestatários, por enquanto
comportam-se coniventes e agradados com o comportamento do
centralismo, que deve manter a sua bota sobre o povo catalão.
O
argumento de que no espaço geográfico da Catalunha os cidadãos,
indiscutivelmente catalães, são menos do 50% dos residentes, é o
mesmo argumento que foi usado pelos diferentes governos anexionistas
no globo terrestre ao longo da história. Enviam-se colonos
para diluir os naturais.
Por
estas e outras razões, da mesma laia, reneguei do facto de por
nascimento ter sido favorecido com a nacionalidade espanhola. O que
não me impede de ter trato, de igual para igual, com espanhóis não
obcecados com o centralismo oficial e oficioso.