Cheguei,
vi, venci
Esta
frase célebre proferida por Júlio César, quando se apresentou
perante o senado de Roma, como início do seu relato de como
conseguiu a pacificação da Gália “em três tempos”, pode
aplicar-se em geral a todos os cidadãos que circulam por aí. Todos,
salvo raras excepções, já estão vocacionados às coisas rápidas,
ao estilo das cápsulas de café.
Uma
das consequências de evolução rapidíssima da vida é que os
quilómetros e outras medidas que desde que há memória se foram
utilizando para nos elucidar sobre a distancia entre dois lugares,
também implicavam a noção do tempo necessário para a deslocação.
Havia, portanto, uma ligação directa entre distância e tempo.
Com
a melhoria das vias de circulação, da se terem construído estradas
que não atravessam populações e que permitem aproveitar quase
continuadamente as capacidades dos veículos que temos a nosso dispor,
esta situação sofreu uma alteração notável, que mentalmente nos
induz a dar menos importância aos quilómetros. Como se agora
fossem, simultâneamente mais longos e mais curtos, do que estávamos habituados. É uma avaliação mental, consequência de comparar os
percursos com o tempo necessário para os completar, antes e depois
da modernização.
Infelizmente
este progresso não se deu na maioria dos percursos ferroviários, o
que teve como consequência a perda de utentes e, mais drasticamente,
o fecho de muitas linhas e ramais que, a partir do século XVIII constituíram a sistema circulatório de Portugal, tal como a rede de
veias e artérias alimenta o nosso corpo. Hoje a rede ferroviária
secundária está tolhida, anquilosada. Quando nos vemos metidos num
comboio que circula por alguma das linhas decimonónicas, o que
sentimos equivale a uma paragem do tempo. Ficamos com a sensação de
que os relógios andam a menos de meio gás. E esta lentidão já
ninguêm a aceita.
Recordo
com certa saudade o tempo em que para fazer um percurso por estradas
antigas, que demorava mais do que o dobro do tempo do que hoje se
necessita para chegar ao mesmo destino, aquela quase aventura rendia
paragens intermédias para abastecer de combustível, descansar,
esticar as pernas, e mesmo a sentar-se para uma refeição completa.
Já se conheciam alguns um locais donde apreciar a boa cozinha, e
até ter uns dedos de conversa com o dono ou dona. Tudo isso
desapareceu. Hoje para-se numa estação de serviço e engole-se
qualquer coisa, sempre delimitados a uma escolha entre reduzidas
opções. E sempre com a pressa em cima de nós. Nem sequer o motor
do carro chega a arrefecer.
Longe está o tempo em que ao programar um passeio, mesmo com uma distancia que hoje avaliamos como de virar a esquina, já se contava
com um intervalo de refeição sem urgência; com uma visita a
locais, monumentos, museus, paisagens, e pontos de interesse, sem ser
a mata-cavalos. Inclusive podia acontecer fazer pernoita, fosse em
casa de familiares ou amigos, ou num estabelecimento hoteleiro, que
hoje já não existe ou foi modernizado sem manter nada do que era, e
muito menos a amabilidade natural de quem não tinha sido formatado
numa escola de hotelaria.
A
modernidade empurra-nos para o domínio do imediatismo. Desde a
comida pré-cozinhada até as diversões de carregar pela boca, que substituíram as feiras tradicionais, mais abrangentes e variadas nos
conteúdos. Mas, sem dúvida, menos capitosas. (embriagador,
estonteante)
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