segunda-feira, 27 de março de 2017

AS VERDADES SÃO TANTAS


E, entre elas muitas são difíceis de engolir. Defendemo-nos mais facilmente das mentiras do que das verdades. Estas são habitualmente amargas e tiram-nos o sono.

Além desta problemática acontece que muitas das nossas convicções não se aguentam em pé. São fruto daquilo que se diz: engravidar de ouvido.

Encurtando caminho, sinto que as pessoas, catequizadas desde gerações no sentido de que a Pátria, ou País, ou a mãe (que é valorizada da mesma maneira) não podem ser criticadas por alguêm que seja forasteiro. Mesmo que a crítica seja apresentada ao de leve, e, pior se com razões de peso que a justifiquem. (1)

Qualquer tentativa que faça para ver de descarregar a “raiva” que o holandés provocou é, de imediato, rejeitada liminarmente, socorrendo-se de argumentos estereotipados, fornecidos pela manipulação abusiva dos "média", com a colaboração de jornalistas, ignorantes ou vendidos, de comentadores e cidadãos pouco ou nada isentos e correctos no seus discursos.

Os argumentos habituais são simples. Ou mesmo simplórios:

Os europeus do norte são uns invejosos. Cobiçam o nosso clima, o sol, a praia, a comida e a nossa forma de encarar a vida. Apesar disso, ou em conseuência de sermos servis e educados, nos qualificam de calões, mandriões e despesistas. Nesta Europa a que pertencemos devemos ser aqueles que mais nos "colocamos de cócoras"  para lhes agradar. Um excesso de vontade de agradar que os incita a nos desqualificar. 

Exagerando bastante damos a impressão de que nos comportamos como (dizem, e não confirmo que seja verdade) é hábito entre os esquimós. Oferecer as suas mulheres ao forasteiro (será justificado se com isso conseguem contrariar os efeitos da consanguinidade?) 

Malandros, gatunos, vigaristas, aproveitadores sem escrúpulos, existem em todos os paralelos e meridianos. E os países do Norte não escapam à regra. Os “do sul” não temos a exclusividade. CERTO. Mas este facto, nos seus países, quando as faltas são descobertas, parece que tem sido objecto de sanções pesadas. Um detalhe sem impotância quando se compara com os do sul, onde se pede justiça exemplar mas não se aplica. UMA PEQUENA DIFERENÇA.

Dizem que, dada a nossa tendência a malbaratar as ajudas financeiras, que tão generosamente (?) no deram, já não é admissível, pelos habitantes dos seus laboriosos países. Não nos continuar a ajudar. A primeira afirmação não pode ser rebatida. Todos conhecemos as falcatruas cometidas, e “eles” também as conheciam e consentiram tácitamente.

. Quanto à falta de vocação para trabalhar podiamos passar horas debatendo o tema. Aqui se citariam tantos meridionais alí radicados, que trabalham tanto ou mais do que os seus indígenas. E noutra página podiamos referir que nos climas frios, donde a neve está presente durante longas semanas, quem não tomar previdências, trabalhando no duro como a formiga, morrerá de frio. Completa-se a situação referindo que são eles os que estudam e aplicam as evoluções tecnológicas que proporcionam maior produtividade. Diz-se que em Portugal estamos avançaudo neste domínio. Oxalá seja assim.

.  Antes ou depois nos dizem que os empréstimos deram chorudos juros aos bancos  “beneméritos” que agora fingem que nos rejeitam. Aqui temos uma duplicidade, equivalente aos "deelers" que oferecem drogas aos inconscientes a fim de os agarrar. Como acontece sempre que nos põem na mão dinheiro que não suamos, habituamo-nos a gastar à tripa forra, e depois, quando a carteira ficou vazia, pedimos emprestado. As leis dos bancos são claras e duras. Quanto mais aflito está o pedinte, mais alto é o juro aplicado.

.  Afirmam que não produzimos bens e serviços, excepto na hotelaria, que compensem a nossa despesa. Daí que o défecit sempre esté subindo.. Mas então podemos retorquir que eles têm muita culpa nesta situação, que não podemos negar. Quando nos incitaram, quase obrigaram, a desmantelar fábricas, navios e frota de pesca, entre outras actividades que afirmavam ser mais rentáveis nos seus países, dissseram que nos compensariam e que, graciosamente, poderiam servir-nos sem problemas.

Os problemas vieram depois. Mas porque acreditamos nestas fantasias, e destruimos o pouco que tinhamos? Sem previamente ter organizado e em funcionamente ocupações alternativas para os, fatalmente, desempregados?

Concluo com o mesmo sentimento que apresentei dias atrás. O homem pode ter sido rude na linguagem, mas disse uma verdade que não se pode rebater. MATAR O MENSAGEIRO É UMA ATITUDE CRITICÁVEL.

Por mais argumentos e caras feias que se façam, os países do sul da Europa mostraram que, até agora, não conseguiram anular os seus erros. E aqui, para mal dos nossos pecados, os indícios são de que, mal nos apanhem distraidos, os nossos eleitos retomarão o caminho de mais uma derrapagem incontrolável, com a convicção de jamais teremos que pagar a dívida (??) E todos contentes ou patrioticamente ofendidos, sem admitir que aquele que tem a faca e o queijo na mão é que manda. Se não for de uma maneira será de outra, mas que pagaremos, os de sempre, enquanto que os bem colocados comem os melhores e maiores bocados, isso é como que ao dia lhe segue a noite.

Com a ressalva de que, neste filme, à tempestade não lhe segue a bonança.

(1) Antes de que me apontem aquilo que nunca escondi, eu sou um caso anormal no meio onde me inseri. Nasci na Catalunya, no seio de uma família onde só existiam catalães de gema. Mas logo à nascença fui oficialmente colocado numa Espanha que me empurrou à ser visto como mais um espanhol.

Quando a idade e as circunstâncias políticas o permitiram, optei, sem esitar, por requerer a minha transferência oficial para a nacionalidade portuguesa. Fui atendido rápidamente. A partir daquele dia tive o atrevimento de me comportar como um nacional de pleno direito, mesmo que note não ser aceite pelos mais nacionalistas.


Tenham paciência e pensem que eu optei conscientemente e voluntariamente, enquanto que a “eles” lhes foi oferecida de borla, sem serem preguntados, tidos ou achados. Tal como me aconteceu quando as autoridades que mandavam, e conti«nuam a mandar, na Catalunha fizeram de mim um espanhol.

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