domingo, 5 de março de 2017

O SÍMBOLO DA SABEDORIA


Na mitologia grega, a sabedoria mereceu o galardão de ter um Deus em exclusividade, neste caso uma deusa. Possivelmente porque já então se valorizava a sagacidade da mulher comparativamente com a força e ímpetu guerreiro dos homens, uma homenagem que é provável fosse herdada de civilizações anteriores, de estirpe mesopotâmica. Esta deusa era conhecida pelo nome de Atena. Sim, como a capital da nação grega.

Na complexa genealogia dos deuses gregos, explícita na sua mitologia, esta deusa Atena era filha de Zeus, o Deus máximo, e da deusa Métis. Quando os romanos se interessaram pela cativante mitologia grega, adaptaram as personagens a uma nomenclatura sua, e daí que Atenas foi rebaptizada com o nome de Minerva.

Antes de prosseguir com a explicitação do símbolo de Atena, e em consequência da sabedoria, dando como certo de que todos os que aprenderam a ler, e fazem uso desta capacidade, sabem a quem foi atribuído ser símbolo desta qualidade (sabedoria) mais rara e menos frequente do que aprioristicamente se julga, vou recordar um curto conto, mais do calibre de uma anedota infantil do que de teor ofensivo ou desrespeitador.

Um sujeito, pressionado por un capricho da esposa, foi dar uma volta pelas lojas de animais tentando comprar um papagaio. Ficou perplexo ao ver que estes pássaros falantes tinham desaparecido do mercado. Disseram-lhe que esta carencia era devida ás rusgas que as autoridades, zelosas com esta coisa da preservação da natureza, faziam ás lojas, onde além de recolher os animais que figuravam nas listas de não passíveis de ser comercializados, ainda impunham pesadas coimas aos comerciantes que apanhassem em falta.

O homem, desesperado, pedia, insistia, para que o orientassem para poder satisfazer o desejo da esposa. Respondiam que só na candonga. No mercado clandestino. Existe mas não o podemos orientar, como pode entender.

Regressando para o seu lar, cabisbaixo e sem ter argumentos que o justificassem perante a esposa, da sua ineficacia para lhe comprar o papagaio que tanto desejava, passou por uma rua onde não circulava desde muitos anos antes. E ali deu de caras com mais uma loja de animais de companhia. Sentindo ser a sua última oportunidade perguntou por um papagaio. O dono, que não devia ter feito bom negócio naquele dia, viu que tinha chegado a possibilidade de ganhar o dia.

Pois o senhor acertou com esta loja. Tenho cá um papagaio da Indonésia, muito raro, que em Portugal, que eu saiba, não é usual as pessoas terem. Só tem o defeito de que ainda não tive tempo para o ensinar, pois trouxeram-no esta manha. Mas afirmaram que com paciência ele pode aprender. Sai uma bocado carote, mas atendendo a que o senhor o procura para satisfazer a esposa, posso fazer-lhe um bom preço, sem ganhar nada.

O cliente levou o passaroco para casa e explicou a aventura à esposa, que já estranhava tanta tardança em chegar a casa. Mas ao ver aquela ave, que lhe disseram ser exótica, deu-se por satisfeita. Lástima que tinha umas penas pouco atractivas. Mas, dadas as dificuldades com que se deparou o marido, contentou-se.

Passadas umas semanas, practicamente um mês, o cliente voltou à loja com a ave. A mulher estava desesperada, abatida e até zangada com a vida, pois não conseguira ensinar nem uma só palavra à ave. A única qualidade que lhe encontrara é que olhava fixamente, que se interessava, e até movia a cabeça de um modo estranho, como se quisesse justificar a sua incapacidade. Com maus modos e gritaria colocou o bicho, mais marido, fora de casa, com ordens de o devolver na loja.

O lojista, quando o viu entrar, não sabia onde se meter, nem sabia se devia ficar de semblante sério ou compungido. Optou por aceitar a devolução, restituir a importância paga e apresentar um veemente pedido de desculpas. Depois do infeliz marido se ter ido embora, desmanchou-se a rir pela partida que tinha feito àquele crédulo. O passaroco não era de facto um papagaio, mas sim um mocho real, por sinal também ave protegida.



Um breve parágrafo pera justificar a escolha da coruja, ou o mocho, como é normal que confundam aqueles pouco versados em ornitologia. O facto de estarem com os olhos bem abertos, interessados pelo que sucede à sua volta e com a capacidade de, sem mexer o corpo, poderem girar a cabeça para cobrir 360 graus, lhe proporcionaram ser considerados como sábios, E daí a sua imagem equivaler a representar tanto Atena como Minerva. 

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