É
muito provável que o caso do Jaime Nogueira Pinto seja mantido ao
lume durante uns dias. Pelo menos até que surja outra notícia que
os jornais possam travestir de bombástica. Vivemos nesta utilização
de temas, muitos deles banais, para encher os olhos dos que desejam o
derramamento de sangue, mesmo que de modo virtual.
O
que é sugerido pelo cabeçalho deste escrito é que não existem
grandes diferenças no comportamento factual dos elementos que se
prontificam a agir, ou promover acções reprováveis, sob qualquer
ponto de vista, sem prevalecer a sensatez e o bom relacionamento com
quem não comunga exactamente com as nossas preferências.
Infelizmente
existe um número de pessoas, cujo comportamento, público ou
privado, não é bem aceite pela maioria dos cidadãos. Apesar disso
eles, os activistas e provocadores,
sabem que lhes é fácil conseguir um grupo de seguidores que, sem
grandes convicções ou simplesmente por arrastamento, se
encarreguem de dar força aos seus disparates e abusos. Para as
pessoas que nem sequer apreciam assistir a estes espectáculos
deve-lhes custar aceitar que tais indivíduos mereçam, dado seu
comportamento, ser qualificados como pessoas de primeira água.
Tentando
separar a palha do grão quanto a génese desta interdição de
conferência, com a nada subtil ameaça de activistas que discordavam
da sua efectivação, encontramos que ela foi promovida por um grupo
de alunos cujo “nome de guerra” nos indica que eram o mais
chegados à personalidade e feitos do orador.
Podemos
imaginar, sem vontade de ofender, que os organizadores estavam no
extremo oposto do leque das simpatias políticas dos grupos de
universitários. Sempre foi assim. E oxalá continuem a defender
absurdos, enquanto que os sensatos mantêm-se ao largo sem atender a
que os neutros, donde, por decisão própria, se encontram, podem ser
as vítimas inocentes caso surja um confito violento.
Transformar
a indesculpável acção, que provocou a anulação da tal
conferência, num sintoma evidente de que estamos às portas de se
criar uma ditadura de extrema
esquerda é, além de pouco previsível, o modus faciendi
que mais convêm aos promotores,
nada subterrâneos, da extrema
direita. Não podemos
nem aceitemos cair nesta dicotomia
provocadora.
Os
discordantes ao discurso de Jaime Nogueira Pinto podiam ter escolhido
outras formas, menos espectaculares mas igualmente inócuas, para
expressar a sua oposição. Bastava ocuparem o espaço da sala com os
seus partidários e, no instante em que o orador se dispusesse a
iniciar o seu discurso, levantarem-se e deixar a sala vazia. Provavelmente o número destes descontentes não seria suficiente
para dar azo ao desplante. Se foi este o balanço prévio, como
suspeito, estamos felizes e contentes. Mas não teriam evitado o tão
almejado discurso. E chegamos à pergunta
do milhão:
Valia a pena travar esta conferência?
O
que me motivou a escrever não foi um reflexo de simpatia ou
antipatia pessoal sobre o discursante que não discursou. Aliás, o
Professor Doutor tem esta palestra gravada na ponta da língua e está
disposto para apresentar os seus pensamentos quanto antes. E já se
viu que não era propriamente inédita. Por isso, quem estiver
ansioso para ouvir os seus pareceres terá, e teve, mais
oportunidades.
Importante
é que a cidadania normal, a que não se mete em conflitos, entenda
que existem elementos
indesejáveis, agressivos,
adeptos a fazer mal aos outros, sejam ou não opositores declarados
em ambos extremos partidários. Para mostrarem a sua força preferem
agir sobre os passivos. Estes, os que com cordura e sensatez optam
pelo centro efectivo, sempre foram e serão os alvos procurados pelos
activistas.
Mas
-o eterno condicional- a atitude contemplativa ou passiva favoreceu,
sempre, a que os grupos extremistas, inicialmente sempre pouco
numerosos, cresçam com a incorporação de levas sucessivas de
indesejáveis, e possam ocupar o poder.
Solução?
NÃO EXISTE.
Só
uma intensa educação cívica, desde a pré-primária nos pode
conduzir a uma convivência pacífica. E isto não interessa a muita
gente, como se pode apreciar com o comportamento das claques de
muitos clubes ditos desportivos. Que são tudo menos adeptos fieis e
seguros do desporto.
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