quarta-feira, 8 de março de 2017

NADA DE BOM NOS EXTREMOS



É muito provável que o caso do Jaime Nogueira Pinto seja mantido ao lume durante uns dias. Pelo menos até que surja outra notícia que os jornais possam travestir de bombástica. Vivemos nesta utilização de temas, muitos deles banais, para encher os olhos dos que desejam o derramamento de sangue, mesmo que de modo virtual.

O que é sugerido pelo cabeçalho deste escrito é que não existem grandes diferenças no comportamento factual dos elementos que se prontificam a agir, ou promover acções reprováveis, sob qualquer ponto de vista, sem prevalecer a sensatez e o bom relacionamento com quem não comunga exactamente com as nossas preferências.

Infelizmente existe um número de pessoas, cujo comportamento, público ou privado, não é bem aceite pela maioria dos cidadãos. Apesar disso eles, os activistas e provocadores, sabem que lhes é fácil conseguir um grupo de seguidores que, sem grandes convicções ou simplesmente por arrastamento, se encarreguem de dar força aos seus disparates e abusos. Para as pessoas que nem sequer apreciam assistir a estes espectáculos deve-lhes custar aceitar que tais indivíduos mereçam, dado seu comportamento, ser qualificados como pessoas de primeira água.

Tentando separar a palha do grão quanto a génese desta interdição de conferência, com a nada subtil ameaça de activistas que discordavam da sua efectivação, encontramos que ela foi promovida por um grupo de alunos cujo “nome de guerra” nos indica que eram o mais chegados à personalidade e feitos do orador.

Podemos imaginar, sem vontade de ofender, que os organizadores estavam no extremo oposto do leque das simpatias políticas dos grupos de universitários. Sempre foi assim. E oxalá continuem a defender absurdos, enquanto que os sensatos mantêm-se ao largo sem atender a que os neutros, donde, por decisão própria, se encontram, podem ser as vítimas inocentes caso surja um confito violento.

Transformar a indesculpável acção, que provocou a anulação da tal conferência, num sintoma evidente de que estamos às portas de se criar uma ditadura de extrema esquerda é, além de pouco previsível, o modus faciendi que mais convêm aos promotores, nada subterrâneos, da extrema direita. Não podemos nem aceitemos cair nesta dicotomia provocadora.

Os discordantes ao discurso de Jaime Nogueira Pinto podiam ter escolhido outras formas, menos espectaculares mas igualmente inócuas, para expressar a sua oposição. Bastava ocuparem o espaço da sala com os seus partidários e, no instante em que o orador se dispusesse a iniciar o seu discurso, levantarem-se e deixar a sala vazia. Provavelmente o número destes descontentes não seria suficiente para dar azo ao desplante. Se foi este o balanço prévio, como suspeito, estamos felizes e contentes. Mas não teriam evitado o tão almejado discurso. E chegamos à pergunta do milhão: Valia a pena travar esta conferência?

O que me motivou a escrever não foi um reflexo de simpatia ou antipatia pessoal sobre o discursante que não discursou. Aliás, o Professor Doutor tem esta palestra gravada na ponta da língua e está disposto para apresentar os seus pensamentos quanto antes. E já se viu que não era propriamente inédita. Por isso, quem estiver ansioso para ouvir os seus pareceres terá, e teve, mais oportunidades.

Importante é que a cidadania normal, a que não se mete em conflitos, entenda que existem elementos indesejáveis, agressivos, adeptos a fazer mal aos outros, sejam ou não opositores declarados em ambos extremos partidários. Para mostrarem a sua força preferem agir sobre os passivos. Estes, os que com cordura e sensatez optam pelo centro efectivo, sempre foram e serão os alvos procurados pelos activistas.

Mas -o eterno condicional- a atitude contemplativa ou passiva favoreceu, sempre, a que os grupos extremistas, inicialmente sempre pouco numerosos, cresçam com a incorporação de levas sucessivas de indesejáveis, e possam ocupar o poder.

Solução? NÃO EXISTE.

Só uma intensa educação cívica, desde a pré-primária nos pode conduzir a uma convivência pacífica. E isto não interessa a muita gente, como se pode apreciar com o comportamento das claques de muitos clubes ditos desportivos. Que são tudo menos adeptos fieis e seguros do desporto.

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