A
alma, ou o interior inmaterial das pessoas é um espaço fechado,
difícil de perscutar ou mesmo impossível de conhecer na sua
totalidade. Quando algum de nós, seja o próprio ou um desconhecido
sobre quem jamais pusemos a vista em cima, tem o atrevimento de
afirmar que conhece uma pessoa qualquer, seja uma figura pública ou
um familiar chegado, do direito ao avesso, que sabe tudo dela,
incluidos os seus desejos e pensamentos “mais íntimos”, está
cometendo um pecado de vaidade e soberba. Mostra a sua ignorância
relativamente à pessoa em particular e na humanidade em geral.
Ultrapasando
os capítulos mais imediatos devemos aceitar, como um facto
incontestável, que postos a ignorar dos outros nem
sequer nos conhecemos a nós mesmos. Existe uma censura
interna que esta fechada a sete chaves. Algumas delas permanecem num
recanto tão reservado, tão oculto, que nem sequer o indivíduo
dispõe delas com facilidade. Só abrem, automaticamente, nas raras
ocasiões em que o indivíduo perde totalmente o seu autodomínio.
Podemos dizer sem risco de errar que não nos conhecemos.
Esta
ignorância, inevitável e espalhada por todos os cantos, inclui os
membros da família mais chegada. Todos eles, desde irmãos, esposa,
filhos e demais parentes têm, e ainda bem que assim acontece,
gavetas ocultas na sua caixa craneana. Ali guardam pensamentos,
desejos e ansiedades, acções do passado, seja longuinquo ou
recente, e muitas outras referências que preferem esconder, evitando
assim que emerjam sucessos que não querem revelar.
Incluído
na repertório de “pecados” que me comunicaram quando era um
seguidor, involuntário, da catequese católica em que me encontrava
submerso, recordo que se afirmava que podia-se pecar,
gravemente, mesmo que só se violassem as leis de Deus em
pensamento.
Atendendo
à visão de adulto e apesar de agir, mesmo em pensamento, como um
ateu irrecuperável, sinto o dever de afirmar que muito do que se
encontra nos preceitos da religião é não só válido como
fundamental para conseguir conviver com os nossos parceiros neste
“vale de lágrimas”, como basilar se avaliado no capítulo de
ética.
A
minha incompatibilidade reside na deriva que seguiu a máquina
política montada com base em Roma. Sem outra justificação que não
seja a de não resistir ao impulso, humano, de conseguir poder e
riquezas, ou seja, de perseguir afincadamente os bens materiais sob a
máscara do humanitarismo, da bondade e da salvação das almas (?),
depressa arrumou para um canto os ensinamentos de Jesus, de cuja
figura se apropiaram sem pudor, nem respeito pelos fieis que
narcotizaram. Mas isto forma parte de outro filme.
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