quinta-feira, 9 de maio de 2019

O QUE PENSAVA ESCREVER E PORQUE DESISTI



A discordância entre o AT. E o NT.

Ao longo dos anos e como reflexo da noção de incompatibilidade bélica entre os denominados “povos do livro”, que correspondem aos que no campo das convicções religiosas obedecem, com maior ou menor evidência, os ensinamentos que encontram no LIVRO, que não é outro do que o antigo testamento da Bíblia, a parte básica comum nas três religiões que desde os tempos mais recuados se guerreiam sangrentamente.

Judeus, cristãos e muçulmanos, numa ordem cronológica, são os responsáveis por milhões de mortes de inocentes, ou de alguns dos seus fanáticos, sem que, friamente, lhes encontremos motivos sociais suficientes para mínimamente justificar as incompatibilidades.

Analiticamente temos que aceitar que entre as três religiões preponderantes no mundo ocidental, o cristianismo é aquela que mais tentou uma adaptação aos tempos modernos, a se actualizar e oferecer uma doutrina a seguir que se ajuste melhor - ou tanto quanto lhes pareça sem possível- ao pensamento mais livre e democrático -sem nos restringir à política dos ditos políticos- Até hoje já se libertaram de uma parte da teatralidade ancestral, que tanto satisfaz os retrógrados, mas não se decidiu a romper com a totalidade do fausto e sinais de pretensa sobrenaturalidade, para não desiludir os seus mais fervorosos seguidores.

Pelo contrário, e apesar de existirem no seu seio ramos de reformadores, entre Judeus e muçulmanos prevalecem os mais conservadores, muitos ainda na fase medieval do pensamento que rege o seu comportamento.

Pessoalmente, mesmo sendo ateu por convicção, nunca deixei de ter interesse na leitura do Livro que nos condiciona, queiramos ou não. A leitura completa do Antigo Testamento -que sem dúvida é o mais apreciado pelos ortodoxos de cada um dos três ramos- e enfadonha ,por ser excessivamente reiterativa e ligada a épocas e sentimentos que as sociedades modernas não podem aceitar de peito aberto.

Uma das facetas que se tornam desagradáveis é a de promover e justificar a violência contra aqueles que não professam da sua visão do A.T. As guerras e massacres cometidos, e ainda por cometer, com a pretensa justificação de serem contrários à sua fé, não se pode aceitar actualmente. Os tempos mudaram, mas, infelizmente, nem todos os habitantes que já se consideram como elementos da sociedade do século XXI, e não desejam abdicar dos ensinamentos que lhes são inculcados desde crianças.

Tentei, e dessisti, de fazer e oferecer uma compilação exaustiva de todo o sangue derramado no A.T., sem que as justificações de outrora nos satisfaçam. Pelo contrário, todos sabemos que o Novo Testamento é um repositório homogéneo de concordia, perdão, convicção, caridade e fraternidade. Na doutrina que se foi construindo a partir dos relatos dos que acompanharam Jesus na sua passagem entre nós, sempre escritos por outros e a posteriori, observa-se, claramente, uma antítese total entre os ensinamentos exclusivistas, vingativos e cruéis dos textos bíblicos anteriores. O que se pretendeu oferecer à população são regras (nem sempre seguidas) fruto da nova visão de como nos deveríamos comportar.

Esta minha qualificação do cristianismo -e não só minha mas certamente bastante comum na sociedade actual- não anula totalmente a noção de ENTRE O DITO E O FEITO HÁ UM FOSSO, ou que FAZ O QUE EU DIGO E NÃO FAÇAS O QUE EU FAÇO.

As referências mais habituais desta dualidade de critério encontram-se nos conflitos armados, nos quais se pretende liquidar fisicamente o adversário mas sem a preocupação de os convencer e ficar “como irmãos”. Dos dois lados da barricada sempre houve, e haverá, uns profissionais da fé que, com palavras doces, procurarão levantar o ânimo dos seus soldados para que matem, com sanha cruel, aqueles que estão em situação idêntica. Em geral, tanto de um lado como do outro, obrigados mas não convencidos de que morrer e matar possa servir para nada de  bom.

Esta dualidade existente e fomentada entre os humanos sempre me preocupou desde a puberdade, e me afastou da catequização vigente.

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