A
discordância entre o AT. E o NT.
Ao
longo dos anos e como reflexo da noção de incompatibilidade bélica
entre os denominados “povos do livro”, que correspondem aos que
no campo das convicções religiosas obedecem, com maior ou menor
evidência, os ensinamentos que encontram no LIVRO, que não é outro
do que o antigo testamento da Bíblia, a parte básica comum
nas três religiões que desde os tempos mais recuados se guerreiam
sangrentamente.
Judeus,
cristãos e muçulmanos, numa ordem cronológica, são os responsáveis
por milhões de mortes de inocentes, ou de alguns dos seus fanáticos,
sem que, friamente, lhes encontremos motivos sociais suficientes para
mínimamente justificar as incompatibilidades.
Analiticamente temos que aceitar que entre as três religiões preponderantes no
mundo ocidental, o cristianismo é aquela que mais tentou uma
adaptação aos tempos modernos, a se actualizar e oferecer uma
doutrina a seguir que se ajuste melhor - ou tanto quanto lhes
pareça sem possível- ao pensamento mais livre e democrático
-sem nos restringir à política dos ditos políticos- Até hoje já
se libertaram de uma parte da teatralidade ancestral, que tanto
satisfaz os retrógrados, mas não se decidiu a romper com a
totalidade do fausto e sinais de pretensa sobrenaturalidade, para não
desiludir os seus mais fervorosos seguidores.
Pelo
contrário, e apesar de existirem no seu seio ramos de reformadores,
entre Judeus e muçulmanos prevalecem os mais conservadores, muitos
ainda na fase medieval do pensamento que rege o seu comportamento.
Pessoalmente,
mesmo sendo ateu por convicção, nunca deixei de ter interesse na
leitura do Livro que nos condiciona, queiramos ou não. A leitura
completa do Antigo Testamento -que sem dúvida é o mais apreciado pelos ortodoxos de cada um dos três ramos- e enfadonha ,por ser excessivamente reiterativa e ligada a épocas e sentimentos que as
sociedades modernas não podem aceitar de peito aberto.
Uma
das facetas que se tornam desagradáveis é a de promover e
justificar a violência contra aqueles que não professam da sua
visão do A.T. As guerras e massacres cometidos, e ainda por cometer,
com a pretensa justificação de serem contrários à sua fé, não
se pode aceitar actualmente. Os tempos mudaram, mas, infelizmente,
nem todos os habitantes que já se consideram como elementos da
sociedade do século XXI, e não desejam abdicar dos ensinamentos que lhes são
inculcados desde crianças.
Tentei,
e dessisti, de fazer e oferecer uma compilação exaustiva de todo o sangue derramado no A.T.,
sem que as justificações de outrora nos satisfaçam. Pelo
contrário, todos sabemos que o Novo Testamento é
um repositório homogéneo de concordia, perdão, convicção,
caridade e fraternidade. Na doutrina que se foi construindo a partir
dos relatos dos que acompanharam Jesus na sua passagem entre nós,
sempre escritos por outros e a posteriori, observa-se, claramente,
uma antítese total entre os ensinamentos exclusivistas, vingativos e cruéis dos textos bíblicos anteriores. O que se pretendeu oferecer à população são regras (nem sempre seguidas) fruto da nova visão
de como nos deveríamos comportar.
Esta
minha qualificação do cristianismo -e
não só minha mas certamente bastante comum na sociedade actual-
não anula totalmente a noção de ENTRE O DITO E O FEITO HÁ UM
FOSSO, ou que FAZ O QUE EU DIGO E NÃO FAÇAS O QUE EU FAÇO.
As
referências mais habituais desta dualidade de critério encontram-se
nos conflitos armados, nos quais se pretende liquidar fisicamente o
adversário mas sem a preocupação de os convencer e ficar “como
irmãos”. Dos dois lados da barricada sempre houve, e haverá, uns profissionais da fé que, com palavras doces, procurarão levantar o
ânimo dos seus soldados para que matem, com sanha cruel, aqueles que
estão em situação idêntica. Em geral, tanto de um lado como do outro, obrigados mas não
convencidos de que morrer e matar possa servir para nada de bom.
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