TRATAM-NOS
BEM QUANDO MORTOS ?
Numa
visão imediatista e centrada naquilo com que convivemos, creio que a
maioria dos cidadãos não se preocupa, e estou com eles, com o que
façam com o nosso corpo quando a vida nos abandonar. Antes que se
vocacionem a me ajuizar deixo, mais uma vez, constância de que a
minha vontade é a de ser esturricado, assado como São Lourenço,
mas bem queimado (mais
ou menos, pois além dos 80 e tal % de água, o carbonato (não
cabronato! A não ser em casos muito particulares...!
de
cálcio que compõe o nosso esqueleto, não se decompõe nas
temperaturas que se devem atingir nos fornos crematórios
existentes).
Quanto aos restos que fiquem, e da parte peneirada que entreguem aos
familiares, por mim qualquer local de reciclagem é adequado,
precisamente para iniciar a reciclagem. Lá dizem os anglófonos:
ACHAS PARA AS ACHAS.
E
com a minha vontade expressa tenho notícia de que cada dia mais
cidadãos se decidem por esta opção,nem que seja por uma questão
de higiene ambiental.
Todavia esta practica colide com os costumes mais ou menos arcaicos
que regem no nosso meio. Outros credos ou civilizações ainda
vigentes no planeta já aderiram à cremação
desde séculos. Nalguns casos quando o defunto era homem casado, o
preceito implica que a esposa se imolará na mesma pira! Seria para
satisfazer uma vingança ou para dar saída a um excesso de viúvas?
Mas
limitemo-nos aos costumes ocidentais. O dito progresso tem conduzido
a que as empresas funerárias -antigamente
cangalheiros, que se encarregavam tanto de quem morria como de quem
se matava..- hoje
já embelezam o defunto/a com maquilhagens que não devem ficar atrás
das que os egípcios aplicavam aos seus, pelo menos quando os
descendentes decidiam pagar este tratamento.
E pode perguntar-se: E nós na actualidade? Não conheço o negócio das
funerárias, mas admito que os costumes normais nos USA já se estão
implantado na nossa sociedade. Entre eles o de oferecer um
reconstituinte beberete ou mesmo refeição aos parentes e amigos que
se apresentaram para homenagear o defunto/a, ou para ficar bem visto
perante os familiares. Seja como for que as coisas evoluam, não tardará a se aplicar o esquema de além-atlântico.
Para
já os nossos mortos são, habitualmente, vestidos em fato de passeio
ou mesmo de cerimónia, e calçados de meia e sapato,
nem que sejam uns falsos, de cartão a fingir cabedal. Porque não
nos deixam ir descalços? Será para que não se firam os seus pés
quando entrarem na fase de mortos-vivos?
Ora
bem. Se nos preocupamos em não os enviar para o além a pé
descalço, porque nos fecham os olhos? Não bastará aquele andar
incerto? Teremos que usar uma bengala
de morto ou um andarilho?
Ou andar às apalpadelas? Uma pessoa que os seus conhecidos sempre o
viram com uns óculos
sobre o nariz, devem ficar desconcertados ao ver que, tendo as
pálpebras baixadas -não
por opção própria-
não corresponde fielmente à imagem que traz na sua memória.
No
Antigo Egipto, aqueles que eram momificados, de facto também tinham
os olhos fechados, e vazados e cosidos, para efeitos
da técnica de mumificação. Mas depois, na altura de ficar expostos
no correspondente sarcófago, lhes colocavam uma máscara com olhos
bem abertos. Somos menos que os egipcios?
A
desconsideração na ausência dos óculos correctores,
que para já, na dúvida de se os deixar com o defunto com o
propósito de lhe possibilitar a visão ao perto ou ao longe, nos
levaria a colocar, sempre, uns com lentes progressivas (que
a minha experiência não aconselha serem usados em vida, quanto mais em morto!)
ou bifocais.
E
mais objectos de uso pessoal deveríamos colocar na campa; como era
norma já em tempos históricos. Por exemplo: se era fumador de
cachimbo, aquele que se sabia era seu preferido. Ou se mais
modernaço usava o tal cigarro electrónico
que deita umas fumaradas comparáveis às do vendedor de castanhas
assadas. Deveriam ter à mão, mesmo se esquelética, aquele útil
que em vida lhe era indispensável! Assim como o isqueiro
que tanto estimava. (O
Bic ou equivalente não entra nesta selecção de bens pessoais, por
ser de usar e deitar fora. Lixo!)
E já agora: a tablet
com que estava constantemente a esfregar o dedo, devia ficar com ele,
ou a deixar de herança? E o té-lé-lé, já a caminho de ser
abandonado?
Quando
na antiguidade europeia, ou mediterrânica, era costume colocar uma
moeda na boca do defunto para que com ela pudesse pagar a viagem ao
barqueiro Caronte, o qual se supunha que ia decidir, consoante o valor
da moeda, o local donde deixaria aquela alma para todo o sempre
-Certamente havia locais
classificados em categorias diversas...- O costume de não entregar o corpo sem um mínimo de numerário não se abandonou de imediato, como se comprova nas excavações
de sepulturas relativamente recentes, pelo menos do medievo. Em muitas, é usual
encontrar moedas, além de outros objectos junto das ossadas. Para que
fim os parentes colocavam dinheiro e diversos objectos? Nem todos
deviar ser vistos como ofertas para quem recebesse o morto. Para tal propósito já estava destinada a moeda de Caronte. Era um farnel para os
primeiros tempos no outro mundo ?
NÃO
SEI SE CONSEGUIREI DORMIR DESCANSADO ESTA NOITE, POIS O ASSUNTO
DEIXOU-ME DEVERAS PREOCUPADO.
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