já
à entrada da estufa
E cá estamos, finalmente, à
entrada do meu sonho, que avanço, - como aliás já devem ter
captado- que se não se está a desfazer pelo menos vai dar a tal
Grande Volta. Tentarei
explicar com argumentos válidos, até para mim, mas será quase um
striptease pois que
não duvido de que me sentirei muito desconfortável perante os três,
pois que não só aos Amigos Cardoso que me tenho que confessar como
também ao meu marido José Maragato, que possivelmente já acertou
no sentido que terão as minhas palavras. O “sorriso de
coelho” que lhe ilumina a face
equivale a um discurso bem elaborado.
Mas entremos, sem receio. O que aqui
podem ver corresponde à tentativa de realizar um sonho meu, que
poucas horas antes de agora explodiu, ou implodiu como aqueles
edifícios que com umas tremendas cargas de dinamite caem,
desfazendo-se em bocados. Não é que pretenda arrasar tudo isto,
mas pelo menos reduzir fortemente, aproveitando aquilo que for
possível dentro do realismo e bom senso.
À nossa esquerda temos uma, mesmo
grande, bancada de trabalho, equipada com uma zona de lavagem e
embalagem, além da área destinada à recepção de materiais.
Admito, com uma dose de vergonha, que tudo isto, sem contar os
equipamentos que estavam previstos, excede em muito aquilo que uma
dona de casa NORMAL (e não era o meu caso, infelizmente) poderia
desejar para substituir as antigas lavores femininos, como rendas,
bordados e outras tontices que hoje estão totalmente postas de lado.
Quando
a noite passada vi -por desígnio divino?-, a luz da verdade, ou senti que, como diria um brasileiro, que caí na real, quase
que, de facto, ia tombando do leito conjugal. E não saí disparada
para me desfazer em lágrimas de auto-comiseração, por respeito ao
sono do José.
Numa tentativa de me desculpar
desejava poder enfrentar o José por não me ter alertado sobre o
disparate, dimensional e conceptual, em que me estava a meter. Certo
que ele me deu ”carta branca” para decidir o que entendesse.
Imagino que ele ponderou o acerto com que, bastante antes de nos
conhecermos, eu tinha entrado num território profissional que, para
ele, era desconhecido, mas que eu tinha palmilhado como empregada,
atenta, por conta de outrem. Deve ter pensado que repetiria, neste
capricho, as passadas prudentes que me conhecia. Simplesmente, ele
não ponderou que nesta iniciativa minha não tinha uns conhecimentos
directos onde me apoiar.
Bem.
Desculpem e vamos andando. Perguntem sem acanhamento a que
correspondem as diferentes áreas que se nota estarem em preparação.
Para já, insisto, do que hoje está em fase de estaleiro, que parece
avançado, muito desaparecerá. PORQUE NÃO TINHA SENTIDO, não era
realizável por falta de conhecimentos adequados, tanto em mim mesma
como já tinha entendido que tampouco o José me podia ajudar
cabalmente.
O esquema que o “perito”, filho
da Dona Eudócia, cliente do salão, mais o atrelado que ele
incorporou, implicava, segundo eles, uma pequena área destinada a
dar apoio à cozinha de casa, mais um espaço para flores de corte e
plantas que carecem de estarem resguardadas no inverno, por serem
originárias de zonas mais cálidas, tais como orquídeas, cactos e
outras com lindas flores. Depois, um grande sector preparado para
ter produtos hortícolas que, segundo eles, proporcionariam uma
“rentabilidade assegurada” para a manutenção da estufa,
contando com o aquecimento, as regas automáticas, medidores de
temperatura e humidade do ar e do chão, etc. UMA MARAVILHA !!
Eu
eu, feita tonta, como uma criança a quem se lhe deu uma bicicleta com rodinhas, já me sentia singrar numa aventura “fabulosa”, na
qual não tinha a menor hipótese de conseguir avançar
positivamente. Sendo assim não digo que abandone o prazer de ter
umas alfaces, uns rabanetes e umas couvitas, para “brincar” …
mas isso terá que ser conseguido com a ajuda do feitor, o senhor
Ernesto, que já conhecem, mais o interesse que senti terem as
empregadas da casa, tanto a governanta como a sua ajudante, que hoje,
sem as ter presentes fisicamente, vi se sentiam desanimadas,
abandonadas depois de que uns cavalheiros, desconhecidos mas muito
sabedores lhes tirarem o “nosso” brinquedo. Sentiram-se, e com
razão, postas de lado enquanto antes até traziam sementes ou
plantinhas para o quintal da senhora, que
sentiam também ser delas.
Não
sei se me explico de forma a me entenderem, mas neste momento
sinto-me “nua”. Mas confortável, por voltar a encarreirar num
terreno que não me sentia à vontade. Uma das facetas pesadas que
surgiram esta noite, foi a de querer enfrentar o meu marido para lhe
recriminar o me ter deixado embrulhar insensatamente. Agora, já
desabafada, dou valor à sua coragem em fingir que não via o
desnorte em que eu tinha caído. Ele, extremamente sensato nas suas
coisas, cuidadoso e procurando sempre ponderar as opções, jamais
decidiu meter-se em agricultor nesta propriedade. Nem noutra qualquer,
pois o campo não o apaixona, mesmo que seja de o percorrer e
admirar. Ele diz que em
terra não sabe nadar, e
que outros tem mais conhecimentos, até herdados de gerações
anteriores, daí que perante este handicap a
prudência o orientar, sempre, a pisar terreno que, para ele, fosse
firme.
E
já chega de surpresas. Grandes novidades, inesperadas, terão os
dois “ingrícolas teóricos” quando compareçam à chamada na
segunda feira. Agora mostrarei algumas plantas que foram adquiridas
para me satisfazer, e que terão que ser re-arrumadas num espaço
muito menor, entre os 15 e 20 metros quadrados. Não mais! A decisão
que já está firme é a de reorientar esta tal estufa para uma
dimensão caseira, entre os 15 e 20 metros quadrados. Não mais.
Admitindo poder ter acertos e também erros, mas de pouca monta,
suportáveis sem problemas de maior. Os dois especialistas serão
dispensados, mesmo que isso implique custos.
Quando voltarem a nos visitar terei
um avental e umas luvas próprias preparados para a Diana me
acompanhar e poder levar um bonito ramo para a vossa casa.
- Desculpem eu entrar no momento do fecho. Mas o meu nome foi referido umas poucas de vezes e até admito, com satisfacção, que a Isabel procurou justificar o meu alheamento. Mas sei que tentar argumentos na fase de gestação, ela entusiasmada, não daria bom resultado.
- Mas não resisto em referir que actualmente temos pimentos, de várias cores, beringela e tomate, todo o ano em qualquer loja do ramo, sem citar os hipermercados. Esta actualização irreal do mercado abastecedor nos deve alertar acerca de que a satisfacção de ver crescer algum destes frutos num espaço nosso, implica uma dedicação e uns custos hoje difíceis de justificar. Mesmo atendendo à agressividade que muitos destes alimentos, sejam vegetais de cozinha ou frutas, podem comportar em função dos produtos que se utilizam, precisamente nas estufas industriais, o mais que nós podemos fazer para nos resguardar é recorrer a pessoas das redondezas que ainda tratam dos seus quintais como antigamente.
- - José. Já maçamos excessivamente estes Amigos, vítimas da minha insensatez. Paremos aqui, demos a voltinha e a seguir decidir que fazer amanha, para nos distrair e alegrar.
-
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