quarta-feira, 22 de maio de 2019

CRÓNICAS DO VALE – Cap. 85


Um passeio tranquilo

  • Antes de ir fechar as persianas dos olhos creio que tínhamos ficado em que estudaríamos o trajecto a seguir no nosso passeio dominical. Mas depois de tantos temas e de bebidas junto à lareira não sei se ainda temos coragem para estudar alternativas.
  • E não estou a referir sem ser aquela espécie de prova de exame a que se sujeitam os novilheiros, ou estagiários para conseguir o canudo de toureiro/espada/matador. Um cerimonial tauromáquico que chamam de alternativa.

  • Amigo Maragato, para o tranquilizar e justificar que sigamos para um banho quente, xixi e cama, confesso que ontem, enquanto as senhoras tratavam das suas conversas, eu preparei um esquema, bem simples e pouco cansativo, para o dia de amanha. E até, para aproveitar dos comentários que sempre nos surgem quando viajamos, pensei em que seria agradável irmos os quatro num só carro. E, se não vos parece mal, iríamos no nosso carro, o dos Cardoso.
  • Por acaso eu também tinha estado meditando acerca de como podíamos aproveitar o tempo num convívio descomprometido. Aceito a sua sugerência, coisa que jamais faço, pois prefiro ser eu a ter a responsabilidade do volante nas mãos. Desta vez, sem exemplo, e atendendo ao que bem pensou o Cardoso, amanhã farei de “pendura”, e deixaremos as damas mais livres para entrarem em assuntos dos que habitualmente dominam e que sabemos não apreciam que os maridos metam a colher. Só mais uma coisa queria que ficássemos de acordo. No fim do périplo e antes de que os amigos rumassem para o Porto, nos faria jeito que deixassem desembarcar os Maragato em Coimbra. Eu cá sei porque nos convêm pernoitar na Lusa Atenas. São coisas minhas que neste momento não vem ao caso.

Para adoçar o caminho para Vale de Lençóis, tenho uma daquelas histórias que se usam para ver se os ouvintes a encaixam num filme ou numa frase tradicional, e que me veio à memória porque se enquadra, tangencialmente, no que está já decidido para amanhã.

Dois casais saem para um passeio domingueiro. Os homens, no banco da frente, falam. voltam a falar, cada vez mais eufóricos e gesticulam a propósito do futebol, penaltis, árbitros e velhacarias dos dirigentes. Enquanto isso as esposas entraram numa de confidências de carácter nitidamente de adultério. Uma não conseguiu aguentar o desejo de contar as suas andanças com um estudante, normalmente à tarde e em horas de expediente. A outra, ouvindo as aventuras da amiga, decidiu também destapar o seu cofre dos segredos. Esta não com um estudante mas com um vizinho divorciado, ou a caminho disso, que lhe ensinou habilidades de cama que o seu Ernesto nem sequer deve saber que existem.

As duas conversas estavam tão interessantes e obsessivas que nenhum deles ouviu o apitar troante do comboio enquanto o carro se dispunha a atravessar a passagem sem guarda. O condutor, num reflexo imediato, viu que de nada valia travar e acelerou com o prego ao fundo. O carro deu um salto de corça, mas a locomotiva apanhou a traseira da viatura. Digamos que o atropelamento cortou o carro em dois troços, como quem corta um bacalhau com aquele facalhão que está na borda do balcão. Os maridos salvaram-se, mesmo à tangente, só com umas cabeçadas no tablier e magoados com o famoso cinto de segurança. Das senhoras é que nem os sapatos se aproveitaram. Ficaram para serem entregues na cozinha do McDonald. FIM.

NOME DO FILME ? Morreram as vacas e ficaram os bois.

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