quarta-feira, 15 de maio de 2019

MEDITAÇÕES -Para aqueles dias...


Tratamente para dias negros

Quando rapaz, e já instalados em Portugal, recordo que uma Senhora Amiga, das nossas relações, com a qual dialogavam ela em português lisboeta e a mãe em castelhano, apesar de já ter notado que entre o catalão -sua língua materna e também minha- se encontravam muitas palavras comuns, e com uma pronúncia quase igual, ao contrário do que acontecia com o castelhano, com os seus agressivos J e H aspirados.

Já me desviei do roteiro. Ao que ia! A Amiga, certamente que numa sequência das habituais conversas de esposas, amavelmente se ofereceu para lhe emprestar-lhe um grosso, e famoso, livro de receitas culinárias que ela considerava equivalente a uma Bíblia das Cozinhas. Se o leitor se situar na época em que a acção decorre -anos 50 do século passado-já imaginou que estou referindo o famoso PANTAGRUEL, que depois eu depois o rebaptizei para Pantacruel. Porque fui encarregado de traduzir e escrever à máquina algumas receitas que, entre as duas, entenderam serem importantes. UMA SECA !!!

A razão de que eu lhe mudasse o nome estava em que, visceralmente discordasse das sequelas a muitas receitas, em que se ofereciam sugestões para aproveitar as sobras. Possivelmente com o intuito de agradar o Prof. Doutor António de Oliveira Salazar, que, além de rígido ditador se dizia ser um convicto ferreta, sempre predisposto para aproveitar tudo e inimigo de desperdiçar.

Embirrante e contestatário eu modificava algumas das receitas de aproveitamentos. Debitava uma ladainha de minha lavra que, mais ou menos, continha, além da encomendada preparação do perú assado no Natal, logo na página seguinte: arroz de restos de Peru de Natal, e eu punha mais outras receitas importantes, tais como: sopa de restos de arroz de restos de Peru do Natal, ou: guisado de massa meada com o molho e carcaça do Peru de Natal. Era a minha desforra por ter que traduzir e escrever receitas de cozinha. E são tantas as receitas do Pantagruel com sequelas que me causaram um espanto e uma vontade imensa de gozar com aquela afamada obra literária.

Mas a culinária louca continuou sempre latente em mim. Recordo uma vivência, relativamente recente, mas já com uns 15 anos de adega, que me saiu, espontâneamente ao chegar à caixa de um mini-mercado próximo da nossa residência, onde tinha por missão recompor certas existências.

Coloquei sobre o tapete rolante duas embalagens de leite e uma garrafa de vinho tinto.- A empregada perguntou, solícita, se era tudo. - Desta vez é só isso, mas não pense que é pouco. Com estes ingredientes vou fazer uma coisa muito especial, se quiser dou-lhe a receita. É uma receita bem antiga, dos frades do Clyster em Alcobaça.

Numa panela de tamanhomédio (quatro litros) deitam-se dois litros de leite fresco e põe-se a lume brando. Quando se veja que está quase a subir, mas antes disso, baixar o lume e ir deitando, lentamente, o vinho tinto, e temperando com canela em pó ou bauvnilha cristaliada, a gosto. Mexendo sempre com uma colher de pau para não coalhar. Apagar o lume e deixar arrefecer, tapando com a tampa respectiva. Depois de frio, engarrafar e vedar bem, com lacre se for necessário. E depois de repousar umas semanas, très ou quatro, deitar tudo fora, que deve ser uma porcaria!

As senhoras desculpem. Mas não resisti a esta brincadeira.

E AGORA... TACHIM TACHIM, A NOSSA RECEITA PARA DIAS NEGROS

Infelizmente sempre estamos propensos a problemas de tipo insolúvel,sejam de saúde, familiares ou profissionais, entre outros. A questão está em que nos deprimem, que ficamos mentalmente desmoralizados, e quando não estamos filiados a um psiqiatra que, pelo menos, nos alivie de algum capital, não sabemos como nos safar. É nesta situação que se torna útil a seguinte receita para dias negros.

Ingredientes:
uma colher de sopa, rasa de PACIÊNCIA
dose igual de OPTIMISMO
dose idêntica de RESISGNAÇÃO
mais uma colher de sopa, rasa, de CORAGEM
igual dose de RAIVA
e mais uma de FÉ NO SUPREMO

Juntar tudo numa tigela de vidro, mexer com uma vareta de arame até ficar homogéneo. Não é necessário temperar nem provar com a ponta do dedo indicador, pois que por muito que olhem nada verão. (nem outono, inverno ou primavera)

Se depois deste tratamento não sentirem melhoras e o mal se puder avaliar como de índole profissional, existe uma solução melhor, que funciona bem quando se é “afilhado” de uma personagem política bem situada no esquema. Ele pode ser a solução para todos os seus problemas. Mesmo assim, aconselha-se, encarecidamente, que quando procurarem este padrinho, deixem cair, como quem não quer, uma frase no género: … é que já sabe que eu sei de muitas coisas que não se podem contar... Os efeitos benéficos não devem tardar. É só uma questão de horas, minutos até. Padrinho e afilhado ficarão agarrados entre si, pelos ditos cujos, como dois siameses.

NOTA IMPORTANTE: Se o “padrinho” se atrever a perguntar o que é que sabe? A resposta é um encolher de ombros e faer a sua cara de parvo; ou dizer eu sou como um túmulo do faraó, e faz aquela mímica de quem cose a boca com agulha e linha grossa.preta de preferência, para dar mais peso ao gesto.


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