domingo, 31 de maio de 2020

MEDITAÇÕES – Muito fácil criticar



Mais difícil é decidir

Todos nós, como humanos que se prezam, instintivamente sentimos vontade de retorquir, criticar e até, raramente, de apresentar opções que consideramos serem favoráveis. Felizmente não demoramos a ponderar, aplicando instintivamente a nossa visão pragmática de sentir, mesmo que lamentando, não ter possibilidade de as levar à practica. E assim ficamos livres para continuar a dizer pestes, cobras e lagartos, sobre as decisões perniciosas que tomou aquela personagem que criticamos.

Convém ter sempre presente uma máxima bem antiga, que já nos acompanha desde a antiga “democracia” grega. Alerta acerca da impossibilidade factual de agradar em simultâneo a Gregos e Troianos. Mais conhecido e popular por também dar fé da impossibilidade de satisfazer a todos ao mesmo tempo é o rifão Sol na eira e chuva no nabal.

Só aquele que já teve que decidir sobre assuntos complexos, que atingem diferentes grupos de pessoas, seja directamente ou por via de repercussão posterior, previsível ou inesperada, é que mesmo que discorde de certas decisões, opções, distribuição de fundos públicos ou qualquer outra actuação do governo, é provável que não demore a pensar que não desejaria estar no lugar de quem comanda.

Descendo à Terra, ou seja, analisando a vida real e restringindo o nosso horizonte ao que hoje temos como estrutura de governo, ou seja uma República parlamentar com marcações predefinidas para a realização dos comícios para diferentes eleições, é fundamental saber que a maior parte dos grupos partidários, e até dos candidatos individuais, raramente dispõem de fundos suficientes para poder financiar as suas campanhas. O normal é que peçam “donativos” ou contraiam empréstimos junto de entidades bancárias.

E aqui que surge a canga de compromissos monetários, onde reside a mais deplorável pressão para quem é eleito, já que a noção de não há almoços grátis, é recordada de imediato quando se elaboram os programas de governo e, em consequência, o orçamento geral do estado.

Estas competições políticas entre partidos induzem a existencia de analistas para ponderar as possibilidades dos mais importantes concorrentes. Após uma selecção prévia já se prevê quem pode ser o vencedor, sem desprezar alguma surpresa. O habitual é que se tenham concedido empréstimos a mais do que um dos partidos concorrentes. Sem ficar no clássico preto-no-branco o escolhido será pressionado a pagar a totalidade, se não com dinheiro vivo será com a concessão de negócios chorudos, que se supõe não só darem o retorno à entidade financiadora mas, também, que alguma compensação seja oferecida a quem tratou da adjudicação.

Este esquema, que pode parecer irreal, ou especulativo, vai ser acrescentado pela voracidade de uma longa fila de interesseiros, num espectro muito amplo e abrangente. Nesta lista entram familiares, amigos, colegas e outros que não deixam de se manifestar como merecedores de “uma atenção” dados os compromissos, não assinados, que entre eles existem.

Sem pontuar, porque se admite ser uma situação sempre repetida, é fácil discorrer que os dinheiros públicos escorrem dos dedos como se fosse areia seca. Imaginar que um orçamento público possa funcionar de forma blindada contra pressões ocultas, mas sempre existentes, mesmo que umas mais potentes do que outras, é uma utopia impossível de conseguir.

Esta doença interna, sem remédio possível, deve ser a razão de que algumas pessoas a quem se lhes ofereceu um posto importante, com um poder de decisão que sente ser previsível terá pressões e compromissos que lhe podem ser inaceitáveis, apresente uma desculpa, mais ou menos plausível, para não aceitar o lugar. Ou no caso de cair na armadilha por ingenuidade, quando sentir que não pode fazer o que lhe empurram, bata com a porta.

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