Como
nos domesticaram ?
Ontem
editei o meu escrito que bate na mesma tecla, mas noutra escala do
teclado. Hoje reajo ao ver o alheamento absoluto (excepto
um bom e fiel amigo, que não é um bacalhau, e que “milita” num
campo que não é o meu) que se desprezou a minha
tentativa de acordar “o pessoal”. Mesmo assim, e apesar desta
constatação, não abdico de tentar especificar, MAIS UMA VEZ, os já
quase irreversíveis males que estamos causando ao planeta.
Mas,
se por um lado, sinto que não devo baixar os braços na tentativa de
criar um incipiente movimento reactivo, também sinto o impulso de
procurar uma explicação que nos esclareça o como e porque
aderimos, com tanta fruição, ao hábito de esbanjar, muitas das
vezes em bens totalmente supérfluos, num montante monetário
superior ao que produzimos.
Uma
situação que, como temos a obrigação de saber, e deveríamos ter
sempre presente, reflecte-se macroscópicamente na sempre
crescente, em progressão geométrica, dívida pública. Ou,
para que não esteja a par desta linguagem, do deficit
público.
Admito,
mas contrariado, que sendo este um mal estendido a muitos países,
mesmo entre os nossos sócios na UE, a razão nos deve alertar sobre
a mensagem que um ditado popular nos dá: O mal de muitos meu
conforto é, ou o
equivalente: Mal de muitos consolo de parvos.
Os
que pretendem que não nos preocupemos com as grandes dívidas do
orçamento geral do Estado, alegando que ESTAS DÍVIDAS JAMAIS SERÃO
PAGAS, mentem, velhacamente, pois isto não passa de uma fanfarronice
dado que, fingem esquecer, propositadamente, que mais tarde ou mais
cedo chegará a
inevitável INFLACÇÃO.
Há muitas maneiras de apanhar moscas.
Seja por uma desvalorização
da moeda ou por um
aumento constante, em
espiral, dos preços dos bens essenciais.
A
situação actual está simplesmente agarrada ao comércio
consumista, de bens
dispensáveis mas que a publicidade lhes oferece a imagem de serem
imprescindíveis. Tais como a moda nas roupas, viaturas e outros
artigos de ilusória
primeira necessidade,
temos que analisar como e porque esta febre, pestífera, foi
instalada.
Terminada
a segunda guerra mundial e ao longo da “guerra fria”, as famílias
tinham o seu bolso bastante vazio. O mais premente era a alimentação,
o agasalho e a saúde. Por isso se incrementaram os serviços
estatais de saúde. A
maioria das pessoas não podiam sequer sonhar em procurar a medicina
privada, porque não lhes era possível pagar! Tentavam minorar os
sintomas com remédios caseiros, mesmo desconhecendo se eram
indicados naquela situação.
O
vestir estava muito controlado no seio da família: os fatos eram
virados para expor a face do avesso do tecido; calças e saias
perdiam a dobra para as adaptar à altura do utente, ou eram
ajustadas para outro membro da família. Não havia desperdício de
comida; o que sobrava de uma refeição, caso sobrasse!, era
guardado e, se possível reciclado aumentando o seu volume. Sem
me alongar fica a imagem de que na maioria das economias familiares
não se alongava mais o braço do que a manga permitia.
Mas
como a penúria permanente não é agradável e proveitosa para os
industriais, desejosos de recuperar a sua influência na sociedade,
aproveitaram a máquina publicitária, que estava oleada desde que os
conflitos bélicos, e a utilizaram profusamente. Já se tinha
consolidado a noção de que a rentabilidade de uma produção dependia do quantitativo e da aceitação no mercado. Era para ali
que tinham que se orientar e investir.
Quem
consta ter sido o pioneiro na comercialização dos seus produtos
dizem que foi Henri Ford. Quando fez contas ao incremento de produção
dos seus veículos, após a introdução da montagem em série, viu
que tinha que escoar rapidamente os carros que saíam da linha. Daí
que decidiu foi aumentar os salários do seu pessoal fabril e lhes
conceder facilidades de pagamento. Ou seja, os seus operários foram
os que ajudaram a escoar os seus produtos.
A
lição foi aprendida pelos outros industriais, pelo menos os então
actualizados. Não só se decidiram a aumentar salários como a sua
promoção através da
propaganda se tornou mais
extensiva. Era premente, indispensável, alargar o campo da
distribuição e captação de novos clientes, convencendo-os das
excelências, inigualável, dos seus produtos. Que nem sempre eram
novidades em si mesmos, mas que mudavam de cor, de embalagem, mesmo
de nome, mas o conteúdo era sensivelmente igual ao que era antes da
mudança visual.
Esta
receita continua a ser válida, e com mais ou menos artifícios nos
conseguem empurrar a desistir do que já se tinha e comprar o novo.
Mesmo que no fundo é a mesma coisa com outro “penteado”.
E
a população em geral, incluídos os mais letrados ou ilustrados, os
diplomados e os que se consideram intelectuais, que se gabam de estar
vacinados contra os malefícios da publicidade, cedo ou tarde caem
nas mesmas ratoeiras onde tombam aqueles “ignorantes” que tanto
desprezam.
UM ANEXO INESPERADO
UM ANEXO INESPERADO
Um familiar, ainda um par de anos mais
idoso do que eu, depois de ler a minha ultima “meditação” , mandou-me um
comentário, em castelhano, que tomo a liberdade de transcrever,
eliminando algumas passagens de índole pessoal. Diz assim:
Não entendo a burrice dos humanos
actuais. Inutilizaram a juventude no aspecto social. Já parecem
todos norte-americanos. E os pais não sabemos, não podemos ou não
queremos lutar. POR SABER QUE NÃO CONSEGUIRÍAMOS NADA.
Os comandos estão nas mãos de jovens,
que não entendem esta luta que propões. Não conheceram os tempos
passados. Tenho amigos, que foram colegas de trabalho, com idades
entre 45/55 que não compreendem as coisas que escrevemos,
Conclusão: fomos postos de lado já muito antes de agora. Só
incomodamos.
FIM DA TRANSIÇÃO
FIM DA TRANSIÇÃO
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