segunda-feira, 18 de maio de 2020

MEDITAÇÕES – A sociedade está castrada



Como nos domesticaram ?

Ontem editei o meu escrito que bate na mesma tecla, mas noutra escala do teclado. Hoje reajo ao ver o alheamento absoluto (excepto um bom e fiel amigo, que não é um bacalhau, e que “milita” num campo que não é o meu) que se desprezou a minha tentativa de acordar “o pessoal”. Mesmo assim, e apesar desta constatação, não abdico de tentar especificar, MAIS UMA VEZ, os já quase irreversíveis males que estamos causando ao planeta.

Mas, se por um lado, sinto que não devo baixar os braços na tentativa de criar um incipiente movimento reactivo, também sinto o impulso de procurar uma explicação que nos esclareça o como e porque aderimos, com tanta fruição, ao hábito de esbanjar, muitas das vezes em bens totalmente supérfluos, num montante monetário superior ao que produzimos.

Uma situação que, como temos a obrigação de saber, e deveríamos ter sempre presente, reflecte-se macroscópicamente na sempre crescente, em progressão geométrica, dívida pública. Ou, para que não esteja a par desta linguagem, do deficit público.

Admito, mas contrariado, que sendo este um mal estendido a muitos países, mesmo entre os nossos sócios na UE, a razão nos deve alertar sobre a mensagem que um ditado popular nos dá: O mal de muitos meu conforto é, ou o equivalente: Mal de muitos consolo de parvos.

Os que pretendem que não nos preocupemos com as grandes dívidas do orçamento geral do Estado, alegando que ESTAS DÍVIDAS JAMAIS SERÃO PAGAS, mentem, velhacamente, pois isto não passa de uma fanfarronice dado que, fingem esquecer, propositadamente, que mais tarde ou mais cedo chegará a inevitável INFLACÇÃO. Há muitas maneiras de apanhar moscas. Seja por uma desvalorização da moeda ou por um aumento constante, em espiral, dos preços dos bens essenciais.

A situação actual está simplesmente agarrada ao comércio consumista, de bens dispensáveis mas que a publicidade lhes oferece a imagem de serem imprescindíveis. Tais como a moda nas roupas, viaturas e outros artigos de ilusória primeira necessidade, temos que analisar como e porque esta febre, pestífera, foi instalada.

Terminada a segunda guerra mundial e ao longo da “guerra fria”, as famílias tinham o seu bolso bastante vazio. O mais premente era a alimentação, o agasalho e a saúde. Por isso se incrementaram os serviços estatais de saúde. A maioria das pessoas não podiam sequer sonhar em procurar a medicina privada, porque não lhes era possível pagar! Tentavam minorar os sintomas com remédios caseiros, mesmo desconhecendo se eram indicados naquela situação.

O vestir estava muito controlado no seio da família: os fatos eram virados para expor a face do avesso do tecido; calças e saias perdiam a dobra para as adaptar à altura do utente, ou eram ajustadas para outro membro da família. Não havia desperdício de comida; o que sobrava de uma refeição, caso sobrasse!, era guardado e, se possível reciclado aumentando o seu volume. Sem me alongar fica a imagem de que na maioria das economias familiares não se alongava mais o braço do que a manga permitia.

Mas como a penúria permanente não é agradável e proveitosa para os industriais, desejosos de recuperar a sua influência na sociedade, aproveitaram a máquina publicitária, que estava oleada desde que os conflitos bélicos, e a utilizaram profusamente. Já se tinha consolidado a noção de que a rentabilidade de uma produção dependia do quantitativo e da aceitação no mercado. Era para ali que tinham que se orientar e investir.

Quem consta ter sido o pioneiro na comercialização dos seus produtos dizem que foi Henri Ford. Quando fez contas ao incremento de produção dos seus veículos, após a introdução da montagem em série, viu que tinha que escoar rapidamente os carros que saíam da linha. Daí que decidiu foi aumentar os salários do seu pessoal fabril e lhes conceder facilidades de pagamento. Ou seja, os seus operários foram os que ajudaram a escoar os seus produtos.

A lição foi aprendida pelos outros industriais, pelo menos os então actualizados. Não só se decidiram a aumentar salários como a sua promoção através da propaganda se tornou mais extensiva. Era premente, indispensável, alargar o campo da distribuição e captação de novos clientes, convencendo-os das excelências, inigualável, dos seus produtos. Que nem sempre eram novidades em si mesmos, mas que mudavam de cor, de embalagem, mesmo de nome, mas o conteúdo era sensivelmente igual ao que era antes da mudança visual.

Esta receita continua a ser válida, e com mais ou menos artifícios nos conseguem empurrar a desistir do que já se tinha e comprar o novo. Mesmo que no fundo é a mesma coisa com outro “penteado”.

E a população em geral, incluídos os mais letrados ou ilustrados, os diplomados e os que se consideram intelectuais, que se gabam de estar vacinados contra os malefícios da publicidade, cedo ou tarde caem nas mesmas ratoeiras onde tombam aqueles “ignorantes” que tanto desprezam.

UM ANEXO INESPERADO


Um familiar, ainda um par de anos mais idoso do que eu, depois de ler a minha ultima “meditação” , mandou-me um comentário, em castelhano, que tomo a liberdade de transcrever, eliminando algumas passagens de índole pessoal. Diz assim:

Não entendo a burrice dos humanos actuais. Inutilizaram a juventude no aspecto social. Já parecem todos norte-americanos. E os pais não sabemos, não podemos ou não queremos lutar. POR SABER QUE NÃO CONSEGUIRÍAMOS NADA.


Os comandos estão nas mãos de jovens, que não entendem esta luta que propões. Não conheceram os tempos passados. Tenho amigos, que foram colegas de trabalho, com idades entre 45/55 que não compreendem as coisas que escrevemos, Conclusão: fomos postos de lado já muito antes de agora. Só incomodamos.

FIM DA TRANSIÇÃO

Sem comentários:

Enviar um comentário