Utilizamos
poucas palavras
Tenho
uma lembrança, muito imprecisa, de ter lido um estudo sobre o uso,
muito restrito, das palavras que temos disponíveis. E um outro,
ainda mais pessimista, que refere ser intensiva a introdução de
termos de outras línguas, nomeadamente do inglês, sem utilizar as
correspondentes palavras de português. Esta segunda constatação
não se pode considerar como novidade absoluta, pois que
anteriormente viveu-se sob uma notória influência do francês tanto
na literatura como na vida social.
Pessoalmente
não me atrevo a dar opiniões sobre o uso da linguagem que se usa
correntemente, dado que admito, sem rebuço, que não estudei
linguística e que não passo de um diletante, e consciente de que ao
utilizar, indiferentemente, três idiomas de raiz latina mas com
grafias dispares, tenho que me socorrer dos dicionários, tanto da
língua portuguesa como dos de sinónimos e antónimos. Estes últimos
pela relutância a referir o mesmo vocábulo se pouco antes já o
utilizei. Manias que sinto não ser só minhas, pois estes tratados
editam-se continuadamente. Não serão só os “fazedores” e os
adeptos das palavras cruzadas que utilizam estes compêndios
O
que se constata de imediato ao procurar a grafia correcta de um termo
é que, de facto, o quantitativo de palavras disponíveis é muito,
muitíssimo até, superior ao que normalmente usamos. Quanto às
compilações de sinónimos e antónimos, a minha apreciação
pessoal é que nem todos eles são efectivamente equivalentes. Sinto
que é notória alguma divergência conceptual que justifica a sua
existência.
Enquanto
escrevia recordei umas vivências familiares, que, por acaso
correspondem à evolução verbal de um irmão, na fase inicial do
seu domínio da oralidade: Uma delas aconteceu quando lhe colocaram
um prato de sopa à frente, para ele comer, como é evidente.
Negou-se redondamente! Não quero esta sopa! Porque? Se sempre
gostas. É que tem um “bocadinho de mocala” (era uma mosquinha
minúscula!)
A
outra lembrança ocorreu na sua primeira sessão de cinema: poucos
minutos de filme passaram e ele levantou-se. Quis sair. Não gostava
daquilo. O que te desagradou? São só palavras, palavras, palavras!
Se
alguma lição se pode tirar destas duas referências é que o
domínio da linguagem, da sua assimilação, análise automática e
compreensão leva o seu tempo. Inicialmente as crianças tem um
vocabulário em arquivo e em uso muito incipiente, e mesmo nem todos
os adultos usam o mesmo vocabulário, e nem sequer é comum a imagem
ou o significado que um mesmo termo induz a todos os cidadãos.
Como
exemplo bem reconhecido é que, no meio das profissões, tanto de
trabalho manual como de nível superior, é habitual a existência de
conjuntos definidos que utilizam linguagens próprias, que para os
não iniciados, leigos no ramo, podem parecer impenetráveis.
Se
não bastasse a “pobreza” da linguagem corrente ainda existe uma
curiosidade de cariz social. Quando no diálogo aberto, quase
informal, se pretende referir algum órgão concreto, especialmente
se tiver um forte sentido sexual, procura-se um pseudónimo,
inocente, que após um uso mais ou menos intensivo, fica tão
interdito como o inicial. E o processo se repete, com a introdução
de outra palavra inócua em aparência mas com uma evidente relação
com a interdita. Deixo ao leitor um exercício engraçado, onde
jogam, além do significado académico (por assim dizer) as
diferenças entre singular e plural.
Uma dica TOMATE.
Sem comentários:
Enviar um comentário