sábado, 2 de maio de 2020

MEDITAÇÕES - A Base das Lages. Mudar a orientação



Alguém o deve ter avisado

Recuando alguns meses, ou até algo mais do que um ano, verificou-se que a política exterior dos EUA estava derivando, rapidamente, para o Oceano Pacífico, abjurando das indiscutíveis ligações históricas e humanas que tem com a Europa. Aquela febre de participar na economia de recuperação da Europa Ocidental após o terminar da Segunda Guerra Mundial, em que os capitalistas americanos, além de se instalar no comando de muitas empresas importantes da Alemanha, também aproveitaram para actualizar, tecnológica e produtivamente as suas próprias indústrias, tanto as pesadas metalo-mecânicas como as transformadoras, e até o incremento da incipiente mecanização da sua agricultura. Entraram com decisão e espírito de “serem compensadas” nos despojos que ficaram após intensos bombardeamentos, mas com uma actuação benfeitora organizada com o Plano Marshall.

Ao logo desta fase de recuperação não só se introduziram na indústria alemã -serve de exemplo a Ford- como não demoraram com as suas propostas de transferência para os USA de muitos técnicos valiosos, não só com promessas de se incorporarem ao alto nível de investigação e programação, como com promessas de apagar do seu curriculum a colaboração -fosse voluntária ou inevitável- com o nazismo. Recordemos o estudo da energia nuclear e da preparação da bomba atómica. Sem esquecer a aeronáutica e a tecnologia base da corrida espacial.

Simultaneamente, e por interesse especial e “benemérito” dos USA, criaram a NATO, como estrutura de defesa e ameaça perante a pressão da URSS. A terra continuou a girar e veio a Perestroika, a queda da URSS, a fuga para não sabiam onde podiam chegar dos países satélites criados quando se ergueu a cortina de ferro, o famoso Muro de Berlim, e outros acontecimentos importantes.

Entretanto a economia, que não tem preceitos nem outro propósito do que lucrar cada dia mais do que na véspera, descobriu a mina que estava à sua espera caso transferissem -como foi feito- a produção dos artigos manufacturados, especialmente aqueles em que o custo da mão de obra era mais elevado, para “sub-sidiárias no Japão e daí para outros países da orla ocidental do Pacífico. Terminando por se concentrar, como era inevitável, na China, que tinha e continua a ter, um enorme e interminável potencial humano para ser adestrado e utilizado, que, com táctica meritória, transferiu parte das encomendas para suas subsidiárias nos países vizinhos. Assim ficaram sossegados.

Os capitalistas americanos -mesmo aceitando sem amor algum, que descendem de europeus- rejeitaram a Europa. Deixaram-na como um dos muitos cantos do globo donde podem passear em férias ou ir caçar talentos. O que estava a dar era o Pacífico; e só estavam no início! Daí que decidissem abandonar a NATO, porque, alegaram eles, não tinham obrigação alguma para sacrificar os seus homens para defender uma zona do globo que, para eles, estava condenada a morrer.

Vai daí que os chineses, que são um povo milenar, e que historicamente e sob alguns aspectos tiveram um avanço cultural importante comparativamente com os europeus ocidentais, não ficaram parados. São relativamente calmos, lentos, meditados, mas persistentes. Sem alarido invadiram inicialmente o pequeno comércio, depois o fabrico de equipamentos especializados e outros de venda sazonal como no ramos do têxtil-de início com marca ocidental, mas de imediato produzindo e comercializando cópias a preço imbatível- A China, com fábricas no seu território ou instaladas em países vizinhos, dominam muita economia.

Todavia os políticos americanos, sempre comandados pelos seus capitalistas e promotores, tem estado obcecados com o que pode acontecer no Oceano Pacífico. Não lhes passava pela cabeça que, fora algumas escaramuças sem importância, nada de grave levaria a um confronto entre os USA e a China comunista, cuja ditadura de partido único deixou de incomodar os ocidentais. Até um dia...

Retomando o referido mais atrás, quando os USA optaram por não se comprometer com a NATO, e entenderam que aquela base atlântica que tinham nas Lages deixara de ser importante, comunicaram para Lisboa que iam desmantelar a base e voltavam para sua casa, indemnizando como entendessem aos ilhéus que lá trabalhavam. Boa tarde e aqui vos deixamos o pastel!

Entretanto um dos organismos internos da União Europeia distribuiu o Atlântico em função das costas que cada um dos seus membros tinham com estas águas. Portugal com os arquipélagos da Madeira e Açores viu-se contemplado com uma enorme área de mar que devia controlar, mas sem capacidade material para impor a sua soberania.

A China já tinha previsto esta situação, e não desvalorizava a importância estratégica e económica que poderiam conseguir caso lhes fosse dada entrada nas Lages. Após ser avaliada a conjuntura encontraram uma fórmula “pacífica” para se instalar no Atlântico.

Com a argumentação de fazerem estudos oceanográficos, dos ventos, das correntes marinhas, marés, da orografia submarina, das fissuras tectónicas e seus vulcões, das espécies biológicas e da poluição, etc. Tarefas para as quais estão sobradamente equipados e preparados. Necessitavam “como pão para a boca” de uma base aérea e um porto, além de uma povoação, de habitantes que “domesticar”. E como as Lages estava sem uso, a China podia arrendar generosamente e com imensa amizade (?)

Recentemente surgiram sinais, que podem ser certos ou falsos, de que alguns pensadores do Pentágono ficaram sumamente alarmados com esta situação e o que poderiam prever. Em consequência, se decidiram alertar o executivo para que agisse “rapidamente e em força” (como fez Salazar com o Ultramar) para evitar que a China, com quem insistem em comercializar e ficar subtil mas efectivamente dependentes, lhes possa cortar a erva debaixo dos seus pés.

Creio que sobre a Base das Lages e de quem a utilizará no futuro próximo podemos ter algumas surpresas, ou confirmar algumas previsões.

1 comentário:




  1. É a geoestratégia! Que os governos ocidentais ignoram. Mas basta recordar um pouco a história e ver o que se passa no planeta para antever alguns dos cenários prováveis.
    "Anónimo identificado"

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