quarta-feira, 24 de abril de 2019

VERDADES E FANTASIAS SOBRE O 25 de ABRIL




Ao longo destes anos mais recentes temos tido ocasião para ler artigos relatando e comentando, muitas vezes fantasiando, aquilo que originou, consistiu e derivou da revolta corporativista dos oficiais do quadro. E dado que toda a sua génese e evolução esteve envolta num conjunto de forças, nem sempre, ou raramente, paralelas, é fatal que as interpretações difiram entre si, pouco ou muito.

Em primeiro lugar temos a necessidade, honesta, de ponderar o sentimento da população civil não comprometida, que então como hoje, é muito mais numerosa do que os pretensamente ansiosos de se comprometer, em prol da “liberdade e democracia”. A população em geral, e evito dizer “o povo”, pois que este termo o usamos, com excessiva leviandade e até desprezo, como sendo à facção rural, ou equiparável nas cidades, da população.

De facto, como se depreende da observação cuidadosa, o povo, o mesmo povo que se rejeita e do qual fazemos quase todos parte integrante, age e reage como no tempo do Império Romano. Contenta-se com a fatuidade, com aquilo que então se definia como PÃO E CIRCO. Hoje o circo está quase morto; foi substituído, com êxito total, pelo consumismo.

Sem dúvida que este mesmo povo, que era de onde sempre se recrutaram as tropas destinadas a abater ou serem abatidos, ingloriamente apesar das parangonas debitadas pelos governantes, e numa persistência comparável à dos anúncios publicitários de algo dispensável, estava saturado, farto, luctuoso, pela duração da guerra “patriótica” do ultramar, ou usando a terminologia da época, das “nossas províncias ultramarinas”. Mas, mesmo que aparecesse uma Maria da Fonte, o povo pode ser neutralizado com recurso a alguns, relativamente poucos, elementos recrutados entre este mesmo sector social, mas fardados e armados com os impostos pagos pelo mesmo povo. Sempre foi assim e assim continuará.

Mas... insistimos na génese do dito movimento, sem cravos pois que estes incorporaram-se na imagem por decisão gratuita das floristas do Rossio. Quem estava queixoso era o sector, igualmente reduzido, dos oficiais do quadro, os que tinham tirado curso na Escola do Exército e que, durante anos se apoiaram com os oficiais milicianos, recrutados nas universidades, para comandarem os soldados na frente de batalha -que raramente era uma frente definida, mas simplesmente a famosa guerra de emboscadas, de guerrilha, de bate e foge- Como a extensão do conflito implicava ter mais elementos no comando, e os tais do quadro não eram suficientes, foi imprescindível incorporar uns milicianos no estatuto de oficiais intermédios. E aqui é que a porca torceu o rabo!

Enquanto os milicianos iam para o mato, e alguns morriam ou ficavam estropiados, mas não se “sentavam na sua mesa”, figurativamente claro, as coisas tolerava-se com bom humor. Mas o cansaço, fastio ou espírito de rejeição já estava latente em todos os degraus da escala. Uns porque estavam donde não queriam, nem entrava nos seus propósitos de vida. E outros porque sentiam-se em minoria numérica, recordando a boa vida nos quartéis, nos passeios fardados e nas conquistas de saias que a farda proporcionava.

No meio desta salada estava o virus da contra-revolução esquerdista, ou mais concretamente comunista, financiada pela URSS, pois que este partido, extremista e experto no prometer uma utópica igualdade, era o que estava mais organizado e preparado para a luta clandestina, que durava desde décadas em Portugal.

Nesta altura entrou em palco o, posteriormente, famoso actor porno que, segundo dizem, se encarga de organizar o golpe de estado dos militares do quadro. Para figura de proa, escolhida “a dedo” pelos seus analistas ineptos, surgiu o Marechal Spínola, elemento de uma saga de militares profissionais que desde muitos anos atrás prestaram os seus serviços aos governos, inicialmente monárquicos, de Portugal. Além do seu monóculo e do pingalim metido no suvaco direito, mais a sua figura arrogante (como é indispensável num militar profissional) ele completou o seu curriculum publicando e distribuindo, com o consentimento evidente da Censura Marcelista, o seu livro. 

Que poucos leram mas foi encumbrado como a bíblia das escolas, ao prometer um futuro que não era factível, excepto no que respeita à saída, derrotados e abandonados pelos seus apoiantes da NATO, das colónias. Ele, o Marechal, aceitou galhardamente ser colocado como (pretenso) chefe daquele movimento corporativo.

A partir deste momento, e mesmo quando o País esteve pendente do que acontecia no largo do Carmo, e a seguir frente à sede da PIDE, os comunistas, bem reparados e organizados, não tardaram em se fazer donos do jogo. Todos os que estávamos vivos e capazes de pensar no que viamos, fomos avaliando a evolução que teve esta mal chamada revolução democrática.

Muitas fantasias se teceram e continuam a tecer depois de tantos anos. Mas mesmo então se percebia que os EUA não podiam consentir que nesta costa atlântica, incluídos os dois arquipélagos, mesmo cara-a-cara com o seu território, se instalar uma base soviética. NEM PENSAR !

De imediato transferiram, com o título de seu Embaixador, um dos capos mafiosos da CIA, que, já conhecedor do que por aqui sucedia, procurou logo a pessoa que podia utilizar -com ou sem compesações económicas?- para se opor, com algumas possibilidades de sucesso, à outro personagem, mais carismática mas também ainda assustadora para muita gente, que representava a URSS nesta pretendida anexação.

Dou como indiscutível a existência, por trás do pano, de conluios entre Washington e Moscovo para conseguir que em Portugal, se criasse uma nova Cuba, sem se iniciar um período sangrento de luta civil, abafando o forte empenho e introdução, especialmente entre operários e ilustrados adeptos às fantasias de igualdade -sem entender que os homens nunca se comportaram com um bloco igualitário. Sempre houve e haverá “uns mais iguais do que outros”.

E assim estamos hoje. As famílias com poder, e obviamente com dinheiro, do tempo da ditadura por aí andam, e a eles se juntaram uns ambiciosos penetras, sem estatuto próprio mas com os bolsos bem fundos, dispostos a fazer fortuna como sempre se fez, a partir do que se saca dos que labutam, uns mais e outros menos, uns suando e outros olhando. E a roda sempre está girando. Pouco ou nada se pode fazer, é próprio da humanidade.

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