Ao
longo destes anos mais recentes temos tido ocasião para ler artigos
relatando e comentando, muitas vezes fantasiando, aquilo que
originou, consistiu e derivou da revolta corporativista dos
oficiais do quadro. E dado que toda a sua génese e evolução
esteve envolta num conjunto de forças, nem sempre, ou raramente,
paralelas, é fatal que as interpretações difiram entre si, pouco
ou muito.
Em
primeiro lugar temos a necessidade, honesta, de ponderar o sentimento
da população civil não comprometida, que então como hoje, é
muito mais numerosa do que os pretensamente ansiosos de se
comprometer, em prol da “liberdade e democracia”. A população
em geral, e evito dizer “o povo”, pois que este termo o usamos,
com excessiva leviandade e até desprezo, como sendo à facção
rural, ou equiparável nas cidades, da população.
De
facto, como se depreende da observação cuidadosa, o povo, o mesmo
povo que se rejeita e do qual fazemos quase todos parte integrante,
age e reage como no tempo do Império Romano. Contenta-se com a
fatuidade, com aquilo que então se definia como PÃO E CIRCO.
Hoje o circo está quase morto; foi substituído, com êxito total,
pelo consumismo.
Sem
dúvida que este mesmo povo, que era de onde sempre se
recrutaram as tropas destinadas a abater ou serem abatidos, ingloriamente apesar das parangonas debitadas pelos governantes, e
numa persistência comparável à dos anúncios publicitários de
algo dispensável, estava saturado, farto, luctuoso, pela duração da
guerra “patriótica” do ultramar, ou usando a terminologia da
época, das “nossas províncias ultramarinas”. Mas, mesmo que
aparecesse uma Maria da Fonte, o povo pode ser neutralizado com
recurso a alguns, relativamente poucos, elementos recrutados entre
este mesmo sector social, mas fardados e armados com os impostos
pagos pelo mesmo povo. Sempre foi assim e assim continuará.
Mas...
insistimos na génese do dito movimento, sem cravos pois que estes
incorporaram-se na imagem por decisão gratuita das floristas do
Rossio. Quem estava queixoso era o sector, igualmente reduzido,
dos oficiais do quadro, os que tinham tirado curso na Escola do
Exército e que, durante anos se apoiaram com os oficiais milicianos,
recrutados nas universidades, para comandarem os soldados na frente
de batalha -que raramente era uma frente definida, mas
simplesmente a famosa guerra de emboscadas, de guerrilha, de bate e
foge- Como a extensão do conflito implicava ter mais elementos
no comando, e os tais do quadro não eram suficientes, foi
imprescindível incorporar uns milicianos no estatuto de oficiais
intermédios. E aqui é que a porca torceu o rabo!
Enquanto
os milicianos iam para o mato, e alguns morriam ou ficavam
estropiados, mas não se “sentavam na sua mesa”, figurativamente
claro, as coisas tolerava-se com bom humor. Mas o cansaço, fastio
ou espírito de rejeição já estava latente em todos os degraus da
escala. Uns porque estavam donde não queriam, nem entrava nos seus
propósitos de vida. E outros porque sentiam-se em minoria numérica,
recordando a boa vida nos quartéis, nos passeios fardados e nas
conquistas de saias que a farda proporcionava.
No
meio desta salada estava o virus da contra-revolução
esquerdista, ou mais concretamente comunista, financiada pela
URSS, pois que este partido, extremista e experto no prometer uma
utópica igualdade, era o que estava mais organizado e preparado para
a luta clandestina, que durava desde décadas em Portugal.
Nesta
altura entrou em palco o, posteriormente, famoso actor porno que,
segundo dizem, se encarga de organizar o golpe de estado dos
militares do quadro. Para figura de proa, escolhida “a dedo”
pelos seus analistas ineptos, surgiu o Marechal Spínola, elemento
de uma saga de militares profissionais que desde muitos anos atrás
prestaram os seus serviços aos governos, inicialmente monárquicos,
de Portugal. Além do seu monóculo e do pingalim metido no suvaco direito, mais a sua figura arrogante (como é indispensável num
militar profissional) ele completou o seu curriculum publicando e distribuindo, com o consentimento evidente da Censura Marcelista, o
seu livro.
Que poucos leram mas foi encumbrado como a bíblia das
escolas, ao prometer um futuro
que não era factível, excepto no que respeita à saída, derrotados
e abandonados pelos seus apoiantes da NATO, das colónias. Ele, o
Marechal, aceitou galhardamente ser colocado como (pretenso) chefe
daquele movimento corporativo.
A
partir deste momento, e mesmo quando o País esteve pendente do que
acontecia no largo do Carmo, e a seguir frente à sede da PIDE, os
comunistas, bem reparados e organizados, não tardaram em se fazer
donos do jogo. Todos os que estávamos vivos e capazes de pensar no
que viamos, fomos avaliando a evolução que teve esta mal chamada
revolução democrática.
Muitas
fantasias se teceram e continuam a tecer depois de tantos anos. Mas
mesmo então se percebia que os EUA não podiam consentir que nesta
costa atlântica, incluídos os dois arquipélagos, mesmo cara-a-cara
com o seu território, se instalar uma base soviética. NEM PENSAR
!
De
imediato transferiram, com o título de seu Embaixador, um dos capos
mafiosos da CIA, que, já conhecedor do que por aqui sucedia,
procurou logo a pessoa que podia utilizar -com ou sem
compesações económicas?- para
se opor, com algumas possibilidades de sucesso, à outro personagem,
mais carismática mas também ainda assustadora para muita gente, que representava a URSS nesta pretendida anexação.
Dou
como indiscutível a existência, por trás do pano, de conluios
entre Washington e Moscovo para conseguir que em Portugal, se criasse
uma nova Cuba, sem se iniciar um período sangrento de luta civil,
abafando o forte empenho e introdução, especialmente entre
operários e ilustrados adeptos às fantasias de igualdade -sem
entender que os homens nunca se comportaram com um bloco igualitário.
Sempre houve e haverá “uns
mais iguais do que outros”.
E
assim estamos hoje. As famílias com poder, e obviamente com
dinheiro, do tempo da ditadura por aí andam, e a eles se juntaram
uns ambiciosos penetras, sem estatuto próprio mas com os bolsos bem
fundos, dispostos a fazer fortuna como sempre se fez, a partir do que
se saca dos que labutam, uns mais e outros menos, uns suando e outros
olhando. E a roda sempre está girando. Pouco ou nada se pode fazer,
é próprio da humanidade.
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