domingo, 28 de abril de 2019

CRÓNICAS DO VALE - cap 74


No sossego do lar


Bom dia, Isabel. Dormiste bem? Eu posso dizer que fiquei como uma pedra, um santo de gesso. Mas só depois de cumprir com o meu, nosso, dever de casal em activo.

- José, o dormir encostada a ti, mesmo quando são noites de calor, é muito bom, reconfortante, e mais quando ao acordar não me aparecem ao pensamento problemas a que dar atenção.


-Não digo que sejam problemas, mas não fixei nada do que me contaste, caso o tenhas feito, das tuas conversas com a esposa do Dr. Cardoso. E creio recordar que havia, pelo menos, dois assuntos que careciam de ser puntualizados. Vou faze-te memória: um era se ficaram em nos juntar numa refeição e o outro estava ligado a se a Drª estaria interessada em visitar a tua estufa para flores e vegetais comestíveis..


- Do terceiro tema,mais complexo e que ficava fora das conversas de casal, e mais concretamente era referente ao sarilho entre familias de etnia cigana, creio que, depois do que me contou o rei Rafael Ortega, tivemos bastante sorte em que, tal como lhes foi proposto, eles arrumassem o problema entre eles. Daí que só resta puntualizar a refeição de convívio, caso a tenham quase que decidida, e depois o ir à estufa.

- Quanto à estufa, propriamente dita lembro que chegamos a entrar naquele espaço e estavas a descrever a complexidade em que te meteste, mas que tivemos que largar a meio porque estava o Ortega à porta.

- Pois José avançando um pouco, que não tudo. A Dra Diana quase que batia palmas. Disse que não tinha criado amizades desde que chegou ao Porto. Encontrou colegas de estudos, mas estão todas muito atarefadas com as aulas, ou com o emprego, ao que se juntam as famílias respectivas, concretamente os filhos em idade escolar, liceal ou já universitários. Dizem-lhe que esperam um encontro informal, seja organizado por uma entidade qualquer, na faculdade ou num edifício oficial, no qual estejam presentes os maridinhos.

Ali seria oportuno fazer as apresentações e quebrar o gelo, como quem diz. Quanto às amigas que ficaram em Coimbra, está convencida de que a Diana foi engolida pelo famoso nevoeiro que sobe do tenebroso Atlântico. Referiu até um anexim: Quem não é visto não é lembrado.

Para marcar o almoço admite que poderá dar notícia dentro e horas ou poucos dias.Tem que combinar a data com o marido, e depois me chamará. Do que não abdica é de visitar o meu projecto de jardim de inverno, que ela também sonha em algum dia, que não imagina quando seja, poder ter uma estufa. Não sabe onde nem quando. É um sonho pendurado no ar, nas núvens.

Sendo assim, ou assim sendo, que vai dar ao mesmo, o mais ajuizado será aguardar esta companhia para ver a dita estufa em pormenor. Assim só terei que explicar uma vez, espero eu!. Certamente que não demorarão a propor a data.

- Isto de conversar no tálamo (leito conjugal para o caso de não te vir a ideia a que se refere) sem pressa de levantar, até porque a Idalina já nos trouxe um enorme tabuleiro com tudo o que entendeu gostariamos de dispor para desdejum, nos pode dar azo a falaricar sobre temas que até podem ser novidade entre nós, pelo menos para ti Isabel.

Quando acordei esta manhã, tinha fresca na memória uma cena com o meu avô Francisco Maragato, o Avô Paco, já velhinho e que já devia sentir os seus dias a terminar.

Um dia, estando eu sentado junto dele petiscando umas ameixas do pomar -por certo eram rainhas cláudias, bem maduras, moles ao tacto e tão doces que até arranhavam na garganta- começou uma história, na voz baixinha, débil, que lhe era normal naqueles anos de velhice, e que me prendeu a atenção, tal era a cara e o sentimento que eu denotava. Pressenti que o que se seguiria seria uma espécie de confissão, de algum assunto que o avô queria deitar para fora antes de morrer.

No próximo capítulo saberemos do segredo do avô Paco.




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